Panteão egípcio: diferenças entre revisões

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Os textos mitológicos narram os deuses se comportando como seres humanos. Eles sentem emoção, podem comer, beber, lutar, chorar, adoecer e morrer.<ref>{{harvnb|Meeks|Favard-Meeks|1996|pp=63, 70–72, 80}}</ref> Alguns têm traços de caráter únicos.<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|p=31}}</ref> Set é agressivo e impulsivo, e [[Tot]], patrono da escrita e do conhecimento, está propenso a discursos longos. No entanto, geralmente, os deuses se assemelham mais a arquétipos do que personagens bem desenhados.<ref>{{harvnb|Meeks|Favard-Meeks|1996|pp=101–102, 107}}</ref> Diferentes versões de um mito poderiam retratar diferentes divindades desempenhando o mesmo papel arquetípico, como nos mitos do [[Olho de Rá (mitologia egípcia)|Olho de Rá]], um aspecto feminino da divindade solar que foi representado por muitas deusas.<ref>{{harvnb|Graves-Brown|2010|pp=161, 169}}</ref> O comportamento mítico das divindades é inconsistente, seus pensamentos e motivações raramente são declarados.<ref>{{harvnb|Assmann|2001|p=112}}</ref> Os mitos, em sua maioria, carecem de personagens e enredos altamente desenvolvidos porque seu significado simbólico era mais importante do que uma narrativa elaborada.<ref>{{harvnb|Tobin|1989|pp=38–40}}</ref>
 
O primeiro ato divino é a criação do cosmos, descrito em vários [[Mitos de criação do Egito Antigo|mitos dade criação]]. Eles se concentram em diferentes deuses, cada um dos quais pode atuar como deuses criadores.<ref>{{harvnb|David|2002|pp=81–83}}</ref> Os oito deuses do [[Ogdóade]], que representam o caos que precede a criação, dão origem ao deus do sol, que estabelece a ordem no mundo recém-formado; [[Ptá]], que encarna o pensamento e a criatividade, dá forma a todas as coisas imaginando e nomeando-as;<ref>Lesko, Leonard H., "Ancient Egyptian Cosmogonies and Cosmology", in {{harvnb|Shafer|1991|pp=91–96}}</ref> Atum produz todas as coisas como [[Emanacionismo|emanações]] de si mesmo;<ref name="Allen 443">{{harvnb|Allen|1999|pp=44–54, 59}}</ref> e Ámon, de acordo com a teologia promovida por seu sacerdócio, precedeu e criou oos outros deuses criadores.<ref>Lesko, Leonard H., "Ancient Egyptian Cosmogonies and Cosmology", in {{harvnb|Shafer|1991|pp=104–106}}</ref> Essas e outras versões dos eventos da criação não eram vistas como contraditórias. Cada um dá uma perspectiva diferente sobre o complexo processo complexo pelo qual o universo organizado e suas muitas divindades emergiram do caos indiferenciado.<ref>{{harvnb|Tobin|1989|pp=58–59}}</ref> O período após a criação, no qual uma série de deuses governagovernam como reis sobre a sociedade divina, é o cenário para a maioria dos mitos. Os deuses lutam contra as forças do caos e entre si antes de se retirarem do mundo humano e instalarem os reis históricos do Egito para governar em seu lugar.<ref>{{harvnb|Pinch|2004|pp=76, 85}}</ref>
 
Um tema recorrente nos mitos é o esforço dos deuses em manter oa poder''maat'' e protegê-la contra as forças da desordem. Eles lutam batalhas cruéis comcontra as forças do caos, provenientes no início da criação. Ra e Apep, lutando entre si a cada noite, continuam esta luta até o presente.<ref>{{harvnb|Meeks|Favard-Meeks|1996|pp=16–17, 19–22}}</ref> Outro tema proeminente é a morte e o reavivamento dos deuses. O exemplo mais claro onde um deus morre é o [[Mito de Osíris|mito do assassinato de Osíris]], no qual esse deus é ressuscitado como governante do Duat.<ref>{{harvnb|Meeks|Favard-Meeks|1996|pp=21–22, 78–80}}</ref>{{Nota de rodapé|Os textos egípcios não afirmam expressamente que Osíris morra, e o mesmo acontece com outros deuses. Os egípcios evitaram declarações diretas sobre eventos não auspiciosos, como a morte de uma divindade benéfica. No entanto, o mito deixa claro que Osíris é assassinado, e outras evidências, como a aparição de cadáveres divinos no Duat, indicam que outros deuses também morrem. No período tardio (c. 664–323 aC), vários locais em todo o Egito eram considerados os locais de sepultamento de divindades específicas.<ref name="Hornung 152">{{harvnb|Hornung|1982|pp= 152–162}}</ref>}} Também se diz que o deus do sol envelhece durante sua jornada diária através do céu, afunda-se no Duat à noite e surge como uma criança ao amanhecer. No processo, ele entra em contato com a água rejuvenescedora de [[Nun]], o caos primordial. Textos funerários que descrevem a jornada de Rá através do Duat também mostram os cadáveres de deuses que são animados junto com ele. Em vez de serem imortais, os deuses periodicamente morreram e renasceram, repetindo os eventos da criação e, renovandodesse assimmodo, renovando o mundo inteiro.,<ref name="Hornung 152"/> Masentretanto, sempre foi possível que esse ciclo fosse interrompido e que o caos voltasse. Alguns textos egípcios mal compreendidos chegam a sugerir que essa calamidade está destinada a acontecer - que o deus criador, um dia, dissolverá a ordem do mundo, deixando apenas ele mesmo e Osíris em meio ao caos primordial.<ref>{{harvnb|Dunand|Zivie-Coche|2004|pp=66–70}}</ref>
 
=== Localizações ===
 
[[File:Edfu Temple 032010 21 d2.jpg|alt=|thumb|right|Divindades personificando [[Nomo|províncias]] do Egito.]]
 
Deuses estavam ligados a regiões específicas do universo. Na tradição egípcia, o mundo inclui a terra, o céu e o Duat. Ao redor deles está a escuridão sem forma que existia antes da criação.<ref name="Hornung 166">{{harvnb|Hornung|1982|pp=166–169}}</ref> Dizia-se que os deuses, em geralnormalmente, moravam no céu, embora se dissesse que os deuses cujos papéis estavam ligados a outras partes do universo viviam justamente nesses lugares. A maioria dos eventos da mitologia, estabelecidos em um tempo antesanterior daa retirada dos deuses do reino humano, ocorre em um cenário terrestre. As divindades, por vezes, interagem com os que estão no céu. O Duat, ao contrário, é tratado como um lugar remoto e inacessível,. e osOs deuses que ali habitam têm dificuldade em se comunicar com os do mundo dos vivos.<ref name="Meeks and Favard-Meeks 81">{{harvnb|Meeks|Favard-Meeks|1996|pp=81–82, 87–90}}</ref> ODa mesma forma, o espaço fora do cosmos também é ditose estarencontra muito distante. Ela tambéme é habitadahabitado por divindades, algumas hostis e outras benéficas para os outros deuses e seu mundo ordenado.<ref>{{harvnb|Hornung|1982|pp=178–182}}</ref>
 
Após os tempos mitológicos, dizia-se que a maioria dos deuses viviam no céu ou invisivelmente presente no mundo. Os templos eram seus principais meios de contato com a humanidade. Todos os dias, acreditava-se, os deuses moviam-se do reino divino para seus templos, seus lares no mundo humano. Lá, eles habitavam as [[Ídolo|imagens de culto]], e as estátuas que representavam divindades, e permitiampermitindo que os humanos interagissem com eles nos rituais do templo. Esse movimento entre os reinos, às vezes, era descrito como uma jornada entre o céu e a terra. Como os templos eram os pontos focaisde foco das cidades egípcias, o deus no templo principal da cidade era a [[Divindade tutelar|divindade protetora]] da cidade e da região circundante.<ref name="Assmann 17">{{harvnb|Assmann|2001|pp=17–19, 43–47}}</ref> As esferas de influência das divindades na Terra centraram-se nas cidades e regiões que presidiram.<ref name="Hornung 166">{{harvnb|Hornung|1982|pp=166–169}}</ref> Muitos deuses tinham mais de um centro de culto, e seus laços locais mudaram com o tempo. Eles poderiam estabelecer-se em novas cidades, ou a sua gama de influência poderia se contrair., Portantoportanto, o principal centro de culto de uma divindade em determinados tempos históricos não é necessariamente o seu lugar de origem.<ref>Silverman, David P., "Divinity and Deities in Ancient Egypt", in {{harvnb|Shafer|1991|pp=38–41}}</ref> A influência política de uma cidade poderia afetar a importância de sua divindade patronal. Quando os reis de [[Tebas (Egito)|Tebas]] assumiram o controle do país no início do [[Império Médio]] (2055–1650 AC), eles elevaram os deuses protetores de [[Tebas (Egito)|Tebas]] — primeiro [[Montu]], o deus da guerra [[Montu]] e, depois Ámon — à proeminência nacional.<ref>{{harvnb|David|2002|pp=154–155}}</ref>
 
=== Nomes e epítetos ===
Na crença egípcia, os nomes expressam a natureza fundamental das coisas a que se referem. De acordo com essa crença, os nomes das divindades, geralmente, estão relacionados a seussuas papéisfunções ou origens. O nome da deusa predatória [[Sekhmet]] significa "um poderoso", o nome do misterioso deus Ámon significa "um oculto", e o nome de [[Nekhbet]], que era adoradoadorada na cidade de [[El Kab|Nekheb]], significa "ela de Nekheb". Muitos outros nomes não têm certopossuem significado claro, mesmo quando os deuses que os portam estão intimamente ligados a um único papel. Os nomes da deusa do céude [[Nut]], edeusa do deuscéu, dae terrade [[Geb]], deus da terra, não se assemelham aos termos egípcios para o céu e a terra.<ref name="Hornung 66">{{harvnb|Hornung|1982|pp=66–68, 72}}</ref>
 
Os egípcios também criaram falsas [[Etimologia|etimologias]], dando mais significado aos nomes divinos.<ref name="Hornung 66">{{harvnb|Hornung|1982|pp=66–68, 72}}</ref> Uma passagem nos [[Textos dos Sarcófagos]] traz o nome do deus funerário [[Sokar]] como ''sk r'', significandoque significa "limpeza da boca", para vincular seu nome com o seu papel no ritual da [[Abertura da boca|Abertura da Boca]],<ref>Graindorge, Catherine, "Sokar", in {{harvnb|Redford|2001|pp=305–307|loc=vol. III}}</ref> enquanto um dos [[Textos das Pirâmides|Textos da Pirâmide]] diz que oseu nome é baseado emnas palavras gritadas por Osíris em um momento de aflição, conectando Sokar com a mais importante divindade funerária.<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|p=210}}</ref>
 
Acreditava-se que os deuses tinham muitos nomes. Entre eles, havia nomes secretos que transmitiam suas verdadeiras naturezas mais profundamente do que outros. Conhecer o verdadeiro nome de uma divindade era ter poder sobre ela. A importância dos nomes é demonstrada por um mito no qual Ísis envenena o deus superior Rá e se recusa a curá-lo, a menos que ele revele seu nome secreto para ela. Ao aprender o nome, ela diz a seu filho, Hórus, e aprendendo isso eles ganharam maior conhecimento e poder.<ref>{{harvnb|Meeks|Favard-Meeks|1996|pp=97–100}}</ref>
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=== Relacionamentos ===
As divindades egípcias estão conectadas em um conjunto complexo e mutável de relacionamentos. As conexões e interações de um deus com outras divindades ajudaram a definir seu caráter. Assim Ísis, como mãe e protetora de Hórus, era uma grande curandeira, bem como a padroeira dos reis. Tais relações eram o material de base a partir do qual os mitos eram formados.<ref>{{harvnb|Assmann|2001|pp=101, 112, 134}}</ref>
[[Ficheiro:Ramesses-Ptah-Sekhmet.jpg|alt=|direita|miniaturadaimagem|Os deuses [[PtahPtá]] e [[Sekhmet]] ao lado do rei, que assume o papel de seu filho, [[Nefertum]].<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|p=75}}</ref>]]
Relacionamentos familiares são um tipo comum de conexão entre os deuses. Divindades freqüentemente formam pares masculinos e femininos. Famílias de três divindades, com pai, mãe e filho, representam a criação de uma nova vida e a sucessão do pai pela criança, um padrão que conecta as famílias divinas à sucessão real.<ref>{{harvnb|Traunecker|2001|pp=57–59}}</ref> Osíris, Ísis e Hórus formaram a família por excelência desse tipo. O padrão que eles estabeleceram ficou mais difundido ao longo do tempo, de modo que muitas divindades em centros de culto locais, como PtahPtá, [[Sekhmet]], e seu filho [[Nefertum]] em Memphis e Ámon, Mut e Khonsu em Tebas, foram reunidas em tríades familiares.<ref>{{harvnb|Dunand|Zivie-Coche|2004|pp=29–31}}</ref><ref>{{harvnb|Meeks|Favard-Meeks|1996|p=184}}</ref> Conexões genealógicas como essas são mutáveis, de acordo com as múltiplas perspectivas da crença egípcia.<ref>{{harvnb|Hornung|1982|p=146}}</ref> Hathor poderia atuar como mãe de qualquer criança divina, incluindo a forma infantil do deus sol, embora em outras circunstâncias ela fosse filha do deus sol.<ref>{{harvnb|Pinch|2004|pp=137–138}}</ref>
 
Outros grupos divinos eram compostos de divindades com papéis inter-relacionados, ou que juntos representavam uma região do cosmos mitológico egípcio. Havia conjuntos de deuses para as horas do dia e da noite e para cada região do Egito. Alguns desses grupos contêm um número específico e simbolicamente importante de divindades.<ref name="Wilkinson 742">{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=74–79, 83–85}}</ref> Deuses emparelhados às vezes têm papéis similares, assim como Ísis e sua irmã [[Néftis]] em sua proteção e apoio a Osíris.<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=18, 74–75, 160}}</ref> Outros pares representam conceitos opostos, mas inter-relacionados, que fazem parte de uma unidade maior. Ra, que é dinâmico e produtor de luz, e Osíris, que é estático e envolto em trevas, se fundem em um único deus a cada noite.<ref>Englund, Gertie, "The Treatment of Opposites in Temple Thinking and Wisdom Literature", in {{harvnb|Englund|1989|pp=77–79, 81}}</ref> Grupos de três estão ligados à pluralidade no pensamento egípcio antigo, e grupos de quatro conotam completude.<ref name="Wilkinson 742">{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=74–79, 83–85}}</ref> Os governantes do final do Novo Império promoveram um grupo particularmente importante de três deuses, acima de todos os outros: Ámon, Ra e PtahPtá. Essas deidades representavam a pluralidade de todos os deuses, assim como seus próprios centros de culto (as principais cidades de Tebas, [[Heliópolis (Egito)|Heliópolis]] e Mênfis) e muitos conjuntos tríplices de conceitos no pensamento religioso egípcio.<ref>{{harvnb|Assmann|2001|pp=238–239}}</ref> Às vezes Set, o deus patrono dos reis da [[XIX dinastia egípcia|Décima Nona Dinastia]]<ref>{{harvnb|David|2002|p=247}}</ref> e a corporificação da desordem no mundo, foram acrescentados a esse grupo, que enfatizava uma única visão coerente do panteão.<ref>Baines, John, "Society, Morality, and Religious Practice", in {{harvnb|Shafer|1991|p=188}}</ref>
 
Nove, o produto de três e três, representa uma multidão, então os egípcios chamavam vários grandes grupos de "[[Enéade]]",{{Nota de rodapé|A palavra egípcia para "grupo de nove" era psḏt. O termo derivado grego "ennead", que tem o mesmo significado, é comumente usado para traduzi-lo.<ref name="Wilkinson 742">{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=74–79, 83–85}}</ref>}} ou conjuntos de nove, mesmo que tivessem mais de nove membros. O enéade mais proeminente foi o Enéade de Heliópolis, uma extensa família de divindades descendentes do deus criador Atum, que incorpora muitos deuses importantes.<ref name="Wilkinson 742">{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=74–79, 83–85}}</ref> O termo "enéade" foi freqüentemente estendido para incluir todas as divindades do Egito.<ref name="Meeks and Favard-Meeks 34">{{harvnb|Meeks|Favard-Meeks|1996|pp=34–36}}</ref>
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As formas em que os deuses são mostrados, embora sejam diversas, são limitadas de várias maneiras. Muitas criaturas que são difundidas no Egito nunca foram usadas na iconografia divina. Outros poderiam representar muitas divindades, muitas vezes porque essas divindades tinham características importantes em comum.<ref name="Traunecker 46">{{harvnb|Traunecker|2001|pp=46, 54}}</ref> Touros e carneiros eram associados com virilidade, vacas e falcões com o céu, hipopótamos com proteção maternal, felinos com o deus sol e serpentes com perigo e renovação.<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=170, 176, 183, 200}}</ref><ref>{{harvnb|Pinch|2004|pp=115, 198–200}}</ref> Animais que estavam ausentes do Egito nos estágios iniciais de sua história não foram usados ​​como imagens divinas. Por exemplo, o cavalo, que foi introduzido apenas no [[Segundo Período Intermediário]] (1650–1550 AC), nunca representou um deus. Da mesma forma, as roupas usadas pelas divindades antropomórficas na maioria dos períodos mudaram pouco dos estilos usados ​​no Antigo Império: um kilt, barba falsa e, freqüentemente, uma camisa para deuses masculinos e um vestido comprido e justo para as deusas.<ref name="Traunecker 46">{{harvnb|Traunecker|2001|pp=46, 54}}</ref>{{Nota de rodapé|Roupas divinas às vezes eram afetadas por mudanças no vestuário humano. No Reino Novo, deusas eram retratadas com o mesmo cocar em forma de abutre usado por rainhas naquele período,<ref name="Traunecker 46">{{harvnb|Traunecker|2001|pp=46, 54}}</ref> e nos tempos romanos, muitos deuses apotropaicos eram mostrados em armaduras e montados a cavalo como soldados.<ref>{{harvnb|Frankfurter|1998|p=3}}</ref>}}
 
A forma básica antropomórfica varia. Os deuses em formas infantis são retratados nus, assim como alguns deuses adultos quando seus poderes de procriação são enfatizados.<ref>{{harvnb|Meeks|Favard-Meeks|1996|p=60}}</ref> Certas divindades masculinas recebem pesadas barrigas e seios, significando androginia, prosperidade e abundância.<ref>{{harvnb|Traunecker|2001|p=45}}</ref> Enquanto a maioria dos deuses masculinos tem a pele vermelha e a maioria das deusas é amarela - as mesmas cores usadas para retratar homens e mulheres egípcios - alguns recebem cores de pele incomuns e simbólicas.<ref>Robins, Gay, "Color Symbolism", in {{harvnb|Redford|2001|loc.=vol. I|pp=291–293}}</ref> Assim, a pele azul e a figura barriguda do deus [[Hapi]] alude à inundação do Nilo que ele representa e à nutritiva fertilidade que trouxe.<ref>{{harvnb|Pinch|2004|p= 136}}</ref> Algumas divindades, como Osíris, PtahPtá e Min, têm uma aparência "mumiforme", com seus membros firmemente envoltos em tecido.<ref>{{harvnb|Traunecker|2001|pp=48–50}}</ref> Embora esses deuses se assemelhem a múmias, os primeiros exemplos antecedem o estilo de mumificação envolto em tecido, e essa forma pode, em vez disso, remontar às representações mais antigas e sem fronteiras das divindades.<ref>{{harvnb|Hornung|1982|p=107}}</ref>
 
<div>Alguns objetos inanimados que representam divindades são extraídos da natureza, como árvores ou emblemas em forma de disco para o sol e a lua.<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=169, 236, 241}}</ref> Alguns objetos associados a um deus específico, como os arcos cruzados representando Neith (<hiero>R24</hiero>) ou o emblema de Min, (<hiero>R22</hiero>), simbolizava os cultos dessas divindades nos tempos pré-dinásticos.<ref>{{harvnb|Wilkinson|1999|pp=251–252}}</ref> Em muitos desses casos, a natureza do objeto original é misteriosa.<ref>Silverman, David P., "Divinity and Deities in Ancient Egypt", in {{harvnb|Shafer|1991|p=22}}</ref> Nos períodos dinásticos e pré-dinásticos, os deuses eram frequentemente representados por padrões divinos: pólos encimados por emblemas de divindades, incluindo formas de animais e objetos inanimados.<ref>{{harvnb|Wilkinson|1999|pp=168–170}}</ref>
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Diz-se que o ''ba'' de um deus deixa periodicamente o reino divino para habitar nas imagens daquele deus.<ref name="Teeter 49">{{harvnb|Teeter|2011|pp=39–45}}</ref> Ao habitar essas imagens, os deuses deixaram seu estado oculto e assumiram uma forma física.<ref name="Assmann 17">{{harvnb|Assmann|2001|pp=17–19, 43–47}}</ref> Para os egípcios, um lugar ou objeto que era "sagrado", era isolado e [[Purificação ritual|ritualmente puro]] e, portanto, adequado para um deus habitar.<ref>{{harvnb|Traunecker|2001|p=30}}</ref> Estátuas e relevos do templo, bem como animais sagrados particulares, como o touro [[Ápis]], serviram como intermediários divinos dessa maneira.<ref>{{harvnb|Meeks|Favard-Meeks|1996|pp=125–126, 129}}</ref> Sonhos e transes forneceram um local muito diferente para interação. Nestes estados, acreditava-se, as pessoas podiam aproximar-se dos deuses e, por vezes, receber mensagens deles.<ref>{{harvnb|Teeter|2011|p= 101}}</ref> Finalmente, de acordo com as crenças da vida após a morte do Egito, as almas humanas passam para o reino divino após a morte. Os egípcios, portanto, acreditavam que na morte eles existiriam no mesmo nível que os deuses e entenderiam completamente sua natureza misteriosa.<ref>{{harvnb|Tobin|1989|p=54}}</ref>
 
[[File:Flickr - archer10 (Dennis) - Egypt-10C-024.jpg|alt=|thumb|right|[[Ramsés II]] (secundo segundo da direita) com os deuses PtahPtá, Ámon e Rá no santuário do Grande Templo em [[Abu Simbel]]]]
 
Os templos, onde os rituais do estado eram realizados, estavam cheios de imagens dos deuses. A imagem mais importante do templo era a estátua de culto no santuário interior. Essas estátuas eram geralmente menores que o tamanho natural e feitas dos mesmos materiais preciosos que se dizia que formavam os corpos dos deuses. Muitos templos tinham vários santuários, cada um com uma estátua de culto representando um dos deuses de um grupo como uma tríade familiar.<ref name="Teeter 49">{{harvnb|Teeter|2011|pp=39–45}}</ref>{{Nota de rodapé|Nenhuma estátua sobrevivente de divindades é conhecida, com certeza, por imagens de culto, embora algumas tenham as características certas para terem servido a esse propósito.<ref>Kozloff, Arielle P., "Sculpture: Divine Sculpture", in {{harvnb|Redford|2001|loc.=vol. IIIpp=242–243}}</ref>}} O deus principal da cidade foi concebido como seu senhor, empregando muitos dos residentes como servos em sua casa divina que o templo representava. Os deuses residentes nos templos do Egito representavam coletivamente todo o panteão.<ref>{{harvnb|Assmann|2001|pp=27–30, 51–52}}</ref> Mas muitas divindades - incluindo alguns deuses importantes, bem como as que eram menores ou hostis - nunca receberam seus próprios templos, embora algumas estivessem representadas nos templos de outros deuses.<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=42, 162, 223–224}}</ref>