Guilherme II da Alemanha: diferenças entre revisões

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| local da morte = [[Huis Doorn]], Doorn, [[Utrecht (província)|Utrecht]], [[Países Baixos]]
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'''OGuilherme nomeII''' correto éou '''Wilhelm II''' ([[Berlim]], [[27 de janeiro]] de [[1859]] – Doorn, [[4 de junho]] de [[1941]]) foi o último [[Lista de monarcas do Império Alemão|Imperador alemão]] e [[Lista de monarcas da Prússia|Rei da Prússia]] de 1888 até sua abdicação em 1918 no final da [[Primeira Guerra Mundial]]. Era o filho mais velho do imperador [[Frederico III da Alemanha|FrederickFrederico III]] e sua esposa [[Vitória, Princesa Real do Reino Unido]]. Era neto da rainha [[Vitória do Reino Unido]] e parente de várias casas reais europeias, com o rei [[Jorge V do Reino Unido]] e o imperador [[Nicolau II da Rússia|Nicolau II]] sendo seus primos.
 
WilhelmGuilherme dispensou o chanceler [[Otto von Bismarck]] em 1890 e liderou o [[Império Alemão]] para uma política bélica que ficou conhecida internacionalmente como "Novo Rumo", culminando no seu apoio a [[Áustria-Hungria]] durante a crise política de julho de 1914 que levou à Primeira Guerra. Bombástico e impetuoso, por vezes WilhelmGuilherme pronunciava-se de forma pouco cuidadosa sobre assuntos de grande sensibilidade sem consultar os seus ministros, uma atitude que acabaria por culminar numa [[Caso Daily Telegraph|entrevista desastrosa]] ao ''[[Daily Telegraph]]'' em 1908, que lhe custou grande parte de sua influência, autoestima e manchando sua imagem na Europa. [[Paul von Hindenburg]] e [[Erich Ludendorff]] ficaram como os responsáveis políticos do país durante a guerra e deram muito pouca importância ao governo civil. WilhelmGuilherme era um líder muito pouco eficiente, algo que lhe custou o apoio do exército e levou à sua abdicação em novembro de 1918. Passou os seus restantes anos de vida no exílio nos [[Países Baixos]].
 
== Biografia ==
WilhelmGuilherme nasceu a 27 de janeiro de 1859 no [[Kronprinzenpalais]] em Berlim, sendo o primeiro filho do príncipe [[Frederico III da Alemanha|FrederickFrederico WilhelmGuilherme da Prússia]] (futuro imperador FrederickFrederico III) e da sua esposa, a princesa [[Vitória, Princesa Real do Reino Unido|Vitória do Reino Unido]]. Foi o primeiro neto da rainha [[Vitória do Reino Unido|Vitória]] e do príncipe [[Alberto de Saxe-Coburgo-Gota|Alberto]], mas, ainda mais importante, sendo o primeiro filho do príncipe-herdeiro da Prússia, WilhelmGuilherme passou a ocupar, a partir de 1861, o segundo lugar na linha de sucessão ao trono da Prússia e também, a partir de 1871, ao trono do Império Alemão que, segundo a constituição do mesmo, era governado pelo rei da Prússia. Era parente de muitas figuras da realeza europeia e, antes de rebentar a [[Primeira Guerra Mundial]] em 1914, tinha uma relação de amizade com os seus primos, o czar [[Nicolau II da Rússia]] e o rei [[Jorge V do Reino Unido]].<ref>Carter 2010, passim.</ref> No entanto, era frequente tratar mal os seus parentes.<ref name="McLean 2001, pp. 478–502">McLean 2001, pp. 478–502.</ref>
 
O parto de WilhelmGuilherme foi complicado, uma vez que este ainda se encontrava em posição pélvica, e deixou-lhe o braço esquerdo inválido com [[paralisia de Erb]], o que levou a que o seu braço esquerdo fosse cerca de 15 centímetros mais curto do que o direito, algo que ele tentou esconder durante toda a sua vida com algum sucesso. Em muitas fotos é possível observar WilhelmGuilherme a segurar um par de luvas brancas com a mão esquerda, algo que faz com que o seu braço parecesse mais longo, a segurar a mão esquerda com a direita ou com o braço afetadoafectado a segurar uma espada ou uma bengala para proporcionar o efeito de um membro normal a fazer pose de um ângulo digno. Alguns historiadores sugeriram que esta pequena deficiência afetouafectou o desenvolvimento emocional de WilhelmGuilherme.<ref>Putnam 2001, p. 33.</ref>
 
=== Primeiros anos ===
[[Ficheiro:1874 in altpreußischer Uniform.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|O príncipe WilhelmGuilherme, em uniforme [[Reino da Prússia|prussiano]], em 1874.]]
Desde os seis anos de idade, WilhelmGuilherme recebeu as suas lições e foi fortemente influenciado pelo seu professor Georg Hinzpeter, que tinha então 39 anos.<ref>Clay 2007, p. 14.</ref> Quando era adolescente, foi educado em [[Kassel]], no ''Friedrichsgymnasium'' e na [[Universidade de Bonn]], na qual se juntou à Associação Estudantil de Bonn. WilhelmGuilherme era inteligente e captava as coisas rapidamente, mas as suas capacidades intelectuais eram ofuscadas pelo seu feitio intratável.
 
Como herdeiro da [[Casa de Hohenzollern]], WilhelmGuilherme conviveu desde cedo com a sociedade militar da aristocracia prussiana. Este convívio teve um grande impacto no futuro imperador e, a partir do momento em que atingiu a maioridade, era raro ser visto sem o seu uniforme. A cultura hiper-masculinizada e militar da [[Reino da Prússia|Prússia]] durante este período contribuiu muito para moldar as suas ideias políticas e suas relações pessoais.
 
WilhelmGuilherme via o seu pai, o príncipe-herdeiro FrederickFrederico, com muito amor e respeito. O estatuto do pai como herói das guerras de unificação foi o principal responsável por esta atitude de WilhelmGuilherme enquanto mais novo, uma vez que, nas circunstâncias nas quais foi criado, o contacto emocional próximo entre pais e filhos não era encorajado. Mais tarde, quando começou a confraternizar mais com os opositores políticos do pai, WilhelmGuilherme começou a adoptar uma atitude mais ambivalente em relação a ele, tendo em conta a influência na mãe de WilhelmGuilherme numa figura que devia possuir independência e forças masculinas. WilhelmGuilherme também idolatrava o seu avô, [[Guilherme I da Alemanha|WilhelmGuilherme I]], e foi um dos responsáveis pelas tentativas que se realizaram mais tarde para criar um culto do primeiro imperador alemão como "''WilhelmGuilherme, o Grande''".<ref>Hull 2004, p. 31.</ref>
 
WilhelmGuilherme foi, em vários sentidos, uma vítima da herança das maquinações de [[Otto von Bismarck]]. Antepassados seus de ambos os lados da família tinham sofrido doenças mentais e este facto pode explicar a sua instabilidade emocional. Quando WilhelmGuilherme tinha pouco mais de vinte anos, Bismarck tentou separá-lo dos seus pais (que se opunham a Bismarck e às suas políticas) com algum sucesso. O chanceler pretendia utilizar o jovem príncipe como arma de arremesso contra os seus pais para manter o seu domínio político. Assim, WilhelmGuilherme começou a ter uma relação pouco funcional com os pais, mas principalmente com a sua mãe inglesa. Numa explosão de raiva em abril de 1889, WilhelmGuilherme afirmou furiosamente que "''foi um médico inglês que matou o meu pai e um médico inglês que me deixou aleijado - e tudo isto foi por culpa da minha mãe que nunca deixou os médicos alemães cuidar dela nem da família mais chegada.''"<ref>Röhl 1998, p. 12.</ref>
 
== Herdeiro ao trono ==
[[Ficheiro:Kaiser Wilhelm II..jpg|miniaturadaimagem|direita|WilhelmGuilherme II em 1888, um ano antes de ascender ao trono.]]
O imperador [[Guilherme I da Alemanha|WilhelmGuilherme I]] morreu em [[Berlim]] a 9 de março de 1888 e o pai de WilhelmGuilherme foi proclamado imperador, como FrederickFrederico III. Na altura já sofria de um [[cancro]] na garganta incurável e passou todos os noventa e nove dias de reinado a lutar contra a doença, acabando por morrer. A 15 de junho do mesmo ano, o seu filho de vinte e nove anos sucedeu-o como imperador da Alemanha e rei da [[Reino da Prússia|Prússia]].
 
Apesar de ter admirado Otto von Bismarck quando era mais jovem, a impaciência característica de WilhelmGuilherme não demorou a colocá-lo em oposição ao "''Chanceler de Ferro''", figura dominante na criação do seu império. O novo imperador opunha-se à política estrangeira cuidadosa de Bismarck, preferindo uma expansão vigorosa e rápida para proteger o "''lugar ao sol''" da Alemanha. Além do mais, o jovem imperador tinha chegado ao trono com a determinação de governar além de reinar, ao contrário do avô, que tinha deixado grande parte da administração do reino para Bismarck.
 
Os conflitos entre WilhelmGuilherme II e o seu chanceler começaram quase imediatamente e envenenaram a relação entre os dois homens. Bismarck achava que WilhelmGuilherme era um peso morto que podia ser dominado e mostrou pouco respeito pelas suas políticas no final da década de 1880. A gota de água entre os dois estadistas ocorreu quando Bismarck tentou implementar uma lei abrangente anti-socialista no início da década de 1890.
 
== Separação de Bismarck na política de trabalho ==
Foi durante esta época que [[Otto von Bismarck]], depois de obter a maioria absoluta a favor das suas políticas no [[Reichstag (instituição)|Reichstag]], decidiu tornar as leis anti-socialistas permanentes. O seu Kartell, a maioria da coligação entre o Partido Conservador e o [[Partido Nacional Liberal (Alemanha)|Partido Nacional Liberal]], era a favor de tornar estas leis permanentes com apenas uma excepção: o poder policial para expulsar revoltosos socialistas das suas casas. Este poder tinha sido utilizado de forma excessiva, por vezes contra opositores políticos e o Partido Nacional Liberal não queria aprovar a cláusula de expulsão logo desde o início. Bismarck não queria aceitar um projecto de lei modificado, por isso o Kartell dividiu-se neste problema. Os conservadores apenas aceitariam o projecto de lei integral e ameaçou vetá-lo, o que acabaria mesmo por acontecer.
 
[[Ficheiro:1890 Bismarcks Ruecktritt.jpg|thumb|left|Cartoon satírico publicado na revista 'Punch' que mostra Bismarck como piloto marinho a abandonar um navio observado por WilhelmGuilherme II.]]
À medida que o debate continuava, WilhelmGuilherme começou a interessar-se cada vez mais pelos problemas sociais, principalmente o tratamento dado aos trabalhadores mineiros que fizeram greve em 1889. Seguindo a sua política de participação activa no governo, o ''kaiser'' interrompia sistematicamente Bismarck no Conselho para clarificar qual era a sua posição em relação à política social. Bismarck discordava por completo da política de WilhelmGuilherme e esforçou-se por evitá-la. Mesmo com WilhelmGuilherme a apoiar a cláusula anti-social, Bismarck pressionou-o para apoiar o veto de todo o projecto, mas quando os seus argumentos não conseguiram convencer o ''kaiser'', o chanceler (de forma pouco característica) deixou escapar o seu motivo para querer que o projecto falhasse: queria que os socialistas se revoltassem até ocorrer um confronto violento que poderia ser utilizado como pretexto para os destruir. WilhelmGuilherme respondeu que não queria começar o seu reinado com uma campanha sangrenta contra os seus súbditos. "''Mas seria terrível se tivesse de manchar os primeiros anos do meu reinado com o sangue dos meus súbditos. Todos os que me querem bem farão os possíveis para evitar uma catástrofe dessas. Quero ser le roi des gueux! (o rei da Multidão!) Os meus súbditos vão saber que o seu rei se preocupa com o seu bem-estar.''"<ref>Ludwig 1927, p. 91.</ref>
 
No dia seguinte, quando se apercebeu do seu erro, Bismarck tentou chegar a acordo com WilhelmGuilherme, concordando com a sua política social para trabalhadores industriais e até chegou a sugerir a organização de um conselho europeu para discutir as condições dos trabalhadores dirigido pelo imperador alemão.
 
Apesar disso, uma viragem nos acontecimentos acabou por levar ao seu afastamento de WilhelmGuilherme. Sentindo a pressão e falta de apreço de WilhelmGuilherme e enfraquecido por conselheiros ambiciosos, Bismarck recusou-se a assinar uma proclamação relacionada com a protecção dos trabalhadores juntamente com WilhelmGuilherme, tal como exigia a Constituição da Alemanha. Esta decisão foi um protesto contra a interferência crescente de WilhelmGuilherme na autoridade de Bismarck que nunca tinha sido questionada anteriormente. Bismarck também conspirou discretamente para separar o conselho que WilhelmGuilherme estimava tanto. O golpe final ocorreu quando Bismarck tentou conquistar uma nova maioria parlamentar e o seu Kartell acabou por perder o poder por completo devido ao fiasco do projecto anti-socialista. Os poderes que permaneceram no Reichstag foram o [[Partido do Centro Alemão|Partido Católico de Centro]] e o Partido Conservador. Bismarck queria formar um novo bloco com o Partido Central e convidou [[Ludwig Windthorst]], o líder parlamentar do partido, para discutir uma coligação.
 
WilhelmGuilherme ficou furioso quando soube da visita de Windthorst. Num Estado parlamentarista, o chefe do governo depende da confiança da maioria parlamentar e tem o direito de formar coligações para garantir uma maioria às suas políticas, mas, na Alemanha, o chanceler tinha de depender da confiança do imperador e WilhelmGuilherme acreditava que tinha o direito de ser informado antes de os ministros se encontrarem. Depois de uma discussão acesa na casa de Bismarck sobre a autoridade imperial, WilhelmGuilherme saiu furioso. Pela primeira vez na vida, Bismarck viu-se embrenhado numa situação que não podia utilizar em seu beneficio e escreveu uma carta intensa de demissão, onde depreciava a interferência de WilhelmGuilherme nas políticas estrangeiras e internas e que apenas veio a publico após a morte do chanceler. Quando Bismarck compreendeu que estava prestes a ser dispensado:
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Apesar de Bismarck ter apoiado leis de segurança social históricas, em 1889-90, estava desiludido com a atitude dos trabalhadores. Opunha-se particularmente ao aumento de salários, ao melhoramento das condições de trabalho e à regulação de relações de trabalho. Além do mais, o Kartell, a coligação política mutável que Bismarck tinha conseguido fomentar desde 1867, tinha perdido a maioria no Reichstag. Bismarck também tentou sabotar o conselho que o ''kaiser'' estava a organizar. Em março de 1890, o afastamento de Bismarck coincidiu com a abertura da Conferência dos Trabalhadores em Berlim pelo ''kaiser''.<ref>F 1890, p. 1.</ref><ref>Associated Press 1890.</ref> Assim, na abertura do Reichstag a 6 de maio de 1890, o ''kaiser'' afirmou que o problema que exigia mais atenção era o ''aumento do projecto sobre a protecção dos trabalhadores''.<ref>Gauss 1915, p. 55.</ref> Em 1890, o Reichstag aprovou os Actos de Protecção dos Trabalhadores que melhorou as condições de trabalho, protegeu mulheres e crianças e regulou as relações de trabalho.
 
== WilhelmGuilherme no controle ==
=== Bismarck é dispensado ===
[[Ficheiro:Germany Before the First World War 1890 - 1914 HU68366.jpg|miniaturadaimagem|direita|''WilhelmGuilherme II'', retrato no [[Imperial War Museum]], [[Londres]]]]
Bismarck demitiu-se por insistência de WilhelmGuilherme II em 1890, aos setenta-e-cinco anos de idade, para ser sucedido por [[Leo von Caprivi]] que se tornou chanceler da Alemanha e ministro-presidente da [[Reino da Prússia|Prússia]]. Este, por sua vez, foi substituído por [[Chlodwig Karl Victor zu Hohenlohe-Schillingsfürst|Chlodwig, príncipe de Hohenlohe-Schillingsfürst]], em 1894. Após a dispensa de Hohenlohe em 1900, WilhelmGuilherme nomeou o homem que considerava ser "''o seu próprio Bismarck''", [[Bernhard von Bülow]].
 
Na política estrangeira, Bismarck tinha conseguido obter um equilíbrio frágil entre os interesses da Alemanha, França e Rússia - a paz estava ao seu alcance e Bismarck tentou mantê-la apesar do crescimento de um sentimento popular contra a Grã-Bretanha (devido à questão das colónias) e principalmente contra a Rússia. Agora, com o afastamento de Bismarck, os russos esperavam uma reviravolta na política de Berlim, por isso chegaram rapidamente a acordo com a França, iniciando o processo que, em 1914, deixaria a Alemanha praticamente isolada.<ref>Taylor 1967, pp. 238–39.</ref>
 
Quando nomeou Caprivi e depois Hohenlohe, WilhelmGuilherme estava a iniciar aquele que ficou para a História como "o novo rumo", no qual o ''kaiser'' esperava exercer uma influência decisiva no governo do império. Os historiadores ainda não chegaram a um consenso em relação quanto ao nível de sucesso que WilhelmGuilherme teve ao implementar o "governo pessoal" durante esta época, mas é claro que havia uma dinâmica diferente entre a coroa e o seu político principal (o chanceler) durante a "era guilhermina" (ver [[guilherminismo]]). Estes chanceleres eram mais vistos como criados civis de grande importância do que propriamente estadistas e políticos experientes como Bismarck. WilhelmGuilherme queria impedir o aparecimento de outro Chanceler de Ferro, uma figura que WilhelmGuilherme acabaria por detestar e considerar "um desmancha-prazeres velho e aborrecido" que não tinha permitido que nenhum ministro se aproximasse do imperador a não ser que estivesse na sua presença, estrangulando o poder político efectivo. Após a sua reforma forçada e até à sua morte, Bismarck tornou-se um duro crítico das políticas de WilhelmGuilherme, mas sem o apoio do arbitro supremo de todas as nomeações políticas (o imperador) havia poucas hipóteses de Bismarck poder exercer uma influência decisiva na sua política.
 
Algo que Bismarck realmente conseguiu foi a criação do "mito Bismarck". Tal tratava-se da opinião, defendida por alguns e que seria confirmada por eventos futuros, de que, com o afastamento do Chanceler de Ferro, WilhelmGuilherme II destruiu efectivamente qualquer hipótese que a Alemanha tinha de criar um governo estável e efectivo. Segundo esta opinião, o "novo rumo" de WilhelmGuilherme foi caracterizado mais como um navio de estado alemão a descontrolar-se, acabando por levar a uma série de crises até à carnificina na Primeira e da Segunda Guerras Mundiais.
 
No início do século XX, WilhelmGuilherme começou a concentrar-se mais no seu verdadeiro objectivo: a criação de uma marinha alemã que rivalizasse com a da Grã-Bretanha que pudesse fazer com que a Alemanha se declarasse uma potência mundial. Ordenou que os seus líderes militares lessem o livro do almirante [[Alfred Thayer Mahan]], "''The Influence of Sea Power upon History''" ("A Influência do Poder Marítimo na História"), e passava horas a fazer esboços dos navios que queria construir. Bülow e Bethmann Hollweg, os seus chanceleres leais, tratavam dos assuntos internos e WilhelmGuilherme começou a preocupar outros governos europeus com as suas visões casa vez mais excêntricas sobre a política estrangeira.
 
=== Patrocinador da arte e das ciências ===
WilhelmGuilherme II promovia entusiasticamente as artes e as ciências, bem como a educação pública e o bem-estar social. Patrocinava a [[Sociedade Kaiser Wilhelm|Sociedade Kaiser Guilherme]] para a promoção da investigação científica; criada por doadores privados abastados e pelo estado, incluía vários institutos de investigação dedicados tanto às ciências puras como às aplicadas. A [[Academia de Ciências da Prússia]] conseguiu evitar a pressão do ''kaiser'' e perdeu alguma independência quando foi forçada a incorporar novos programas de engenharia e a premiar novas irmandades nas ciências da engenharia em consequência de um presente oferecido pelo ''kaiser'' em 1900.<ref>König 2004, pp. 359–377.</ref>
 
WilhelmGuilherme II apoiava os modernizadores que tentavam reformar o sistema prussiano da educação secundária que era rígido, tradicional, elitista, autoritário politicamente e inalterado pelo progresso das ciências naturais. Como protector hereditário da [[Ordem Soberana e Militar de Malta|Ordem de São João]], encorajou as tentativas da ordem cristã para colocar a medicina alemã na linha da frente da prática medicinal moderna através do seu sistema de hospitais, irmandades de freiras enfermeiras e lares por todo o [[Império Alemão]]. WilhelmGuilherme continuou a ser protector desta ordem mesmo após 1918, uma vez que a posição estava essencialmente ligada ao chefe da [[Casa de Hohenzollern]].<ref>Clark 2003, pp. 38–40, 44.</ref><ref>Sainty 1991, p. 91.</ref>
 
== Personalidade ==
Os historiadores destacam com frequência o papel da personalidade de WilhelmGuilherme no rumo que o seu governo tomou. Assim, [[Thomas Nipperdey]] conclui que o ''kaiser'' era:
 
{{cquote|''... dotado, de compreensão rápida, por vezes brilhante, com um gosto pelo moderno, por tecnologia, pela industria, pelas ciências, mas ao mesmo tempo era superficial, precipitado, inquieto, incapaz de relaxar, sem um nível profundo de seriedade, sem qualquer desejo por trabalhar muito ou para fazer algo até ao fim, sem qualquer sentido de sobriedade, para o equilibrio e limites ou até para a realidade e problemas reais, incontrolável e com pouca capacidade para aprender com as suas experiências, desesperado por aplausos e pelo sucesso, tal como Bismarck disse quando o kaiser era ainda jovem, queria que todos os dias fossem como o seu aniversário, sentimental e teatral, inseguro e arrogante, com uma auto-confiança infinitamente exagerada e um desejo para se exibir, um cadete juvenil que nunca deixava o tom autoritário dos oficiais da sua voz, e, de forma arrogante, queria deter o papel de senhor da guerra supremo, tinha um pânico medonho de viver uma vida monótona sem qualquer tipo de diversão e, no entanto, não tinha qualquer objectivo, era patológico o ódio que sentia pela sua mãe inglesa.''<ref>Nipperdey 1992, p. 421.</ref>}}
 
O historiador [[David Fromkin]] afirma que WilhelmGuilherme tinha uma relação de amor-ódio com a Grã-Bretanha.<ref>Fromkin 2008, p. 110.</ref> Segundo Fromkin:
 
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=== Relação com os parentes estrangeiros ===
[[Ficheiro:The Nine Sovereigns at Windsor for the funeral of King Edward VII.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|WilhelmGuilherme na companhia de oito soberanos no funeral do rei Eduardo VII em Inglaterra. Na fotografia encontram-se o rei [[Haakon VII da Noruega]], o rei [[Fernando I da Bulgária]], o rei [[Manuel II de Portugal]], o ''kaiser'', o rei [[Jorge I da Grécia]], o rei [[Alberto I da Bélgica]], o rei [[Afonso XIII de Espanha]], o rei [[Jorge V do Reino Unido|Jorge V]] do Reino Unido e o rei [[Frederico VIII da Dinamarca|Frederick VIII da Dinamarca]].]]
 
Como neto da rainha Vitória, WilhelmGuilherme era primo direito do rei [[Jorge V do Reino Unido]], bem como da rainha [[Maria de Saxe-Coburgo-Gota|Maria da Roménia]], a rainha [[Maud de Gales|Maud da Noruega]] e da rainha [[Vitória Eugénia de Battenberg|Vitória Eugénia de Espanha]], assim como da imperatriz [[Alexandra Feodorovna|Alexandra da Rússia]]. Em 1889, a irmã mais nova de WilhelmGuilherme, [[Sofia da Prússia|Sofia]], casou-se com o futuro rei [[Constantino I da Grécia]]. WilhelmGuilherme ficou furioso quando a irmã mais nova se converteu à [[Igreja Ortodoxa Grega]] e tentou bani-la da Alemanha.
 
Contudo, as duas relações mais controversas eram com os seus parentes ingleses. WilhelmGuilherme ansiava pela aceitação da sua avó, a rainha Vitória, e dos seus parentes ingleses.<ref>King, Greg ''Twilight of Splendor: The Court of Queen Victoria During Her Diamond Jubilee Year'' (Wiley & Sons, 2007), pg. 52</ref> Apesar do facto de a sua avó o tratar com cortesia e afeição, os seus outros parentes achavam-no arrogante e insuportável e negavam-lhe aceitação.<ref>King, pg. 52</ref> Tinha uma relação particularmente má com o seu tio [[Eduardo VII do Reino Unido|Bertie]], o príncipe de Gales e, mais tarde, rei Eduardo VII. Entre 1888 e 1901, WilhelmGuilherme nutriu um ressentimento pelo seu tio, um mero herdeiro ao trono, que não o tratava como imperador da Alemanha, mas simplesmente como seu sobrinho.<ref>Magnus, Philip ''King Edward the Seventh'' (E.P. Dutton & Co, Inc., 1964) pg. 204</ref> Pelo seu lado, WilhelmGuilherme zombava do tio com frequência, chamando-lhe "o velho pavão" e dominava-o com a sua posição de imperador.<ref>Magnus, pg. 204</ref> No início da década de 1890, WilhelmGuilherme realizou algumas visitas a Inglaterra para a [[Semana de Cowes]] na [[Ilha de Wight]] e era frequente competir contra o seu tio nas corridas de iate. A esposa de Eduardo, [[Alexandra da Dinamarca|Alexandra]], que era dinamarquesa de nascença, também não gostava de WilhelmGuilherme, tanto como princesa de Gales como depois como rainha, uma vez que nunca tinha perdoado a conquista de [[Schleswig-Holstein]] por parte do [[Reino da Prússia]] à [[Dinamarca]] na década de 1860. Além disso, também não gostava da forma como WilhelmGuilherme tratava a mãe.<ref>Battiscombe, Georgiana, ''Queen Alexandra'' (Constable, 1960) pg. 174</ref> Apesar da fraca relação que mantinha com os seus parentes ingleses, quando recebeu a notícia de que a sua avó Vitória estava a morrer em [[Osborne House]] em janeiro de 1901, viajou para Inglaterra e estava ao seu lado quando ela morreu, tendo ficado no país para o funeral. Também esteve presente no funeral de Eduardo VII em 1910.
 
Em 1913, o ''kaiser'' WilhelmGuilherme organizou um grande casamento para a sua única filha, a princesa [[Vitória Luísa da Prússia|Vitória Luísa]], em [[Berlim]]. Entre os convidados estavam o czar [[Nicolau II da Rússia|Nicolau II]], que também não gostava de WilhelmGuilherme, e o seu primo inglês, o rei Jorge V com a sua esposa, a rainha [[Maria de Teck|Maria]].
 
=== Antissemitismo ===
O biografo Lamar Cecil tinha identificado o "curioso, mas bastante desenvolvimento antissemitismo" de WilhelmGuilherme. Cecil refere que, em 1888, um amigo de WilhelmGuilherme, "declarou que o jovem ''kaiser'' não gostava dos seus súbditos hebreus, uma impressão que se baseava na percepção que estes possuíam uma influência arrogante na Alemanha e que era tão forte que não podia ser ultrapassada." Cecil conclui que:
 
{{cquote|
''Guilherme nunca mudou e, ao longo de toda a sua vida, acreditou que os judeus eram os responsáveis perversos, em grande parte devido à sua importância na imprensa em Berlim e nos movimentos esquerdistas, por encorajar a oposição ao seu reinado. No entanto, havia judeus que pertenciam tanto à classe de homens de negócios ricos, coleccionadores de arte importantes e até fornecedores de bens elegantes nas lojas de Berlim, na sua individualidade, estimavam bastante o kaiser, mas Guilherme impediu-os de ter carreiras no exército e nos corpos diplomáticos e muitas vezes usava uma linguagem abusiva contra eles.''"<ref>LaMar Cecil (1996). [http://books.google.pt/books?id=EP6r7AnfdtIC&pg=PA57&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false Wilhelm II: Emperor and Exile, 1900-1941]. UNC. p. 57.</ref>}}
 
A 2 de dezembro de 1919, WilhelmGuilherme escreveu ao marechal-de-campo [[August von Mackensen]] para denunciar a sua abdicação como "a vergonha mais profunda, mais repugnante alguma vez perpetrada a uma pessoa na História, os alemães fizeram isto a eles próprios", "incitados e enganados pela tribo de Judas (...) que nenhum alemão alguma vez se esqueça disto, nem descanse enquanto estes parasitas não forem destruídos e exterminados do solo alemão!"<ref>John Röhl, The Kaiser and His Court: Wilhelm II and the Government of Germany (Cambridge University Press, 1994), p. 210.</ref> Defendia um "[[progrom]] à la Russe regular, à letra e internacional" como a "melhor cura" e ainda acreditava que os judeus eram um "incómodo do qual a humanidade tem de se livrar de uma maneira ou outra. Acredito que a melhor forma seria com gás!"<ref>Röhl (1994) p. 210.</ref>
 
== Política estrangeira ==
[[Ficheiro:China imperialism cartoon.jpg|miniaturadaimagem|direita|1898 Cartoon da China imperialista: Um oficial mandarim observa impotente a China, representada como uma tarte, prestes a ser disseminada pela rainha [[Vitória do Reino Unido|Vitória]] ([[Grã-Bretanha]]), WilhelmGuilherme II ([[Alemanha]]), [[Nicolau II da Rússia|Nicolau II]] ([[Rússia]]), a [[Marianne]] ([[França]]) e um samurai ([[Japão]]).]]
A política estrangeira sob WilhelmGuilherme II enfrentou vários problemas significativos. Talvez o mais aparente fosse o facto de WilhelmGuilherme ser um homem impaciente, subjectivo nas suas reacções e fortemente influenciado pelos seus sentimentos e impulsos. Era uma pessoa pouco preparada para liderar a política estrangeira num rumo racional. Hoje em dia reconhece-se de forma geral que os muitos actos espetaculares que WilhelmGuilherme realizou na esfera internacional eram muitas vezes encorajados pela elite alemã da política estrangeira. Houve vários exemplos notórios, tal como o [[telegrama Kruger]] em 1896, no qual WilhelmGuilherme deu os parabéns ao presidente [[Paul Kruger]] da [[República Sul-Africana]], pela supressão do [[Raide Jameson]] britânico, revoltando assim a opinião pública britânica.
 
WilhelmGuilherme inventava e espalhava o medo do [[Perigo Amarelo|perigo amarelo]] para despertar o interesse de outros governantes europeus em relação ao perigo que corriam ao invadir a China; mas poucos líderes lhe deram atenção.<ref>Röhl 1996, p. 203.</ref> Sob a liderança de WilhelmGuilherme, a Alemanha investiu no fortalecimento das suas colónias em África e no Pacifico, mas poucas se tornaram lucrativas e foram todas perdidas, anos depois, durante a Primeira Guerra Mundial. Na [[Namíbia]], uma revolta dos nativos contra o governo alemão levou ao [[genocídio dos hererós e namaquas]], apesar de WilhelmGuilherme ter, com o tempo, ordenado que este parasse.
 
Uma das poucas vezes que WilhelmGuilherme teve sucesso na diplomacia pessoal aconteceu quando apoiou o arquiduque [[Francisco Fernando da Áustria]] para o seu casamento com [[Sofia, Duquesa de Hohenberg|Sofia Chotek]] em 1900 contra a vontade do imperador [[Francisco José I da Áustria|Francisco José]].<ref>Cecil 1996, p. 14.</ref>
 
Também conseguiu obter um triunfo na política interna quando a sua filha [[Vitória Luísa da Prússia|Vitória Luísa]] se casou com o [[Ernesto Augusto de Brunsvique|duque de Brunsvique]] em 1913. Esta união ajudou a curar uma zanga entre a [[Casa de Hanôver]] e a [[Casa de Hohenzollern]] que durava desde a anexação do [[Reino de Hanôver]] pela [[Reino da Prússia|Prússia]] em 1866.<ref>Cecil 1996, pp. 9.</ref>
 
=== O discurso do huno ===
[[Ficheiro:Germany GB France.gif|miniaturadaimagem|direita|Um cartoon alemão de 1904 a comentar a Entente cordial: John Bull afasta-se com a Marianne, virando as costas a WilhelmGuilherme II.]]
A [[Levante dos boxers|Rebelião dos Boxers]], uma revolta anti-ocidental na China, foi controlada em 1900 por uma força internacional composta pela Grã-Bretanha, França, Rússia, Estados Unidos da América, Japão e Alemanha. Contudo, os alemães perderam qualquer "prestigio" que poderiam ter ganho pela sua participação quando chegaram já depois de as forças britânicas e japonesas terem conquistado [[Pequim]], o local onde a luta era mais feroz. Além do mais, a má impressão que as tropas alemãs provocaram por terem chegado tarde foi ainda piorada pelo discurso mal pensado do ''kaiser'' para a despedida das tropas, no qual comandou as suas tropas, no mesmo espírito dos hunos, a não mostrar misericórdia na batalha.<ref name="germanhistorydocs.ghi-dc.org">[http://germanhistorydocs.ghi-dc.org/sub_image.cfm?image_id=2178 "O Discurso do Huno": Discurso do ''kaiser'' Guilherme II à Força de Expedição Alemã Antes da Sua Partida Para a China] (27 de julho de 1900)"</ref> WilhelmGuilherme II proferiu este discurso a 27 de julho de 1900. Dirigia-se às tropas alemãs que estavam de partida para suprimir a Rebelião dos Boxers na China. O discurso estava impregnado da retórica fogosa e chauvinista de WilhelmGuilherme e expressava claramente a sua visão do poder imperial da Alemanha. Houve duas versões do discurso. O Ministério dos Negócios Estrangeiros publicou uma versão editada onde omitiu um paragrafo particularmente controverso que viram como um embaraço diplomático.<ref>Dunlap, Thorsten. "''Wilhelm II: "Hun Speech''" (1900)". German History in Documents and Images</ref> A versão editada era a seguinte:
 
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=== Crise marroquina ===
[[Ficheiro:Bundesarchiv Bild 183-R43302, Kaiser Wilhelm II. und Zar Nikolaus II..jpg|miniaturadaimagem|direita|''WilhelmGuilherme II com o seu primo, o czar Nicolau II'', fotografia no [[Bundesarchiv]], em [[Koblenz]]]]
Uma das gafes diplomáticas de WilhelmGuilherme levou à [[Primeira Crise do Marrocos|crise marroquina de 1905]], quando WilhelmGuilherme realizou uma visita espectacular a [[Tânger]], em [[Marrocos]]. A presença de WilhelmGuilherme foi vista como uma afirmação dos interesses alemães em Marrocos, competindo directamente com a França. No seu discurso, o ''kaiser'' chegou mesmo a fazer algumas declarações a favor da independência de Marrocos. Esta atitude levou a uma fricção com a [[França]] que tinha vindo a aumentar os seus interesses em Marrocos e levou também à organização da [[Conferência de Algeciras]] que serviu para isolar ainda mais a Alemanha na Europa.<ref>Cecil 1996, pp. 91–102.</ref>
 
=== O caso ''Daily Telegraph'' ===
Talvez a ''gafe'' que mais prejudicou WilhelmGuilherme, lhe tenha custado mais prestigio e poder e teve um impacto maior dentro da Alemanha do que no resto da Europa. O caso [[Daily Telegraph]] de 1908 foi causado pela publicação em alemão de uma entrevista com um jornal britânico diário que incluía afirmações muito controversas e observações diplomáticas prejudiciais. WilhelmGuilherme tinha considerado a entrevista como uma oportunidade de promover as suas opiniões e ideias sobre a amizade anglo-germânica, mas os seus ataques de raiva emocionais durante a entrevista acabaram por afastar ainda mais não só os britânicos mas também os franceses, os russos e os japoneses. Entre outras coisas, WilhelmGuilherme deu a entender que os alemães não queriam saber dos britânicos; que os franceses e os russos tinham tentado incitar a Alemanha a intervir na Segunda Guerra dos Bôeres e que o aumento da construção naval alemã tinha como alvo os japoneses e não os britânicos. Uma das citações mais memoráveis da entrevista foi: "Vocês, os ingleses, são loucos, loucos, loucos como as lebres em março."<ref>[http://wwi.lib.byu.edu/index.php/The_Daily_Telegraph_Affair Entrevista do ''kaiser'' Guilherme ao Daily Telegraph (28 de Outubro de 1908)]</ref> O efeito na Alemanha foi muito significante com muita a gente a pedir seriamente a abdicação do ''kaiser''. WilhelmGuilherme manteve uma conduta discreta durante muitos meses após o fiasco do Daily Telegraph, mas mais tarde vingou-se ao forçar a demissão do chanceler, o príncipe Bülow, que tinha abandonado o imperador à zombaria do povo quando não editou a transcrição da entrevista antes da sua publicação na Alemanha.<ref>Cecil 1996, vol. 2, pp. 135–7, 143-45.</ref><ref>Donald E. Shepardson, "The 'Daily Telegraph' Affair," Midwest Quarterly (1980) 21#2 pp 207-</ref> A crise do Daily Telegraph magoou profundamente a auto-confiança de WilhelmGuilherme que nunca tinha sido afectada anteriormente. Pouco depois viria a sofrer de uma forte depressão da qual nunca recuperou completamente. Perdeu muita da influência que, até aí, tinha exercido na política interna e externa.<ref>Cecil 1996, vol. 2, pp. 138-41.</ref>
 
Durante os primeiros doze anos de reinado de WilhelmGuilherme, a opinião pública britânica tinha sido bastante favorável em relação a ele, mas tal acabaria por mudar no final da década de 1890. No início da Primeira Guerra Mundial, o ''kaiser'' tornou-se o centro da propaganda anti-alemã como a personificação do inimigo odiado.<ref>Reinermann 2008, pp. 469–85.</ref>
 
=== Expansão naval ===
[[Ficheiro:Edward VII and Willhelm II.jpg|miniaturadaimagem|direita|Eduardo VII e WilhelmGuilherme II em 1910]]
Nada do que WilhelmGuilherme fazia na arena internacional teve mais influência do que a sua decisão de seguir uma política de construção naval massiva. O projecto favorito de WilhelmGuilherme era criar uma marinha poderosa. Tinha herdado da mãe a paixão pela [[Marinha Real Britânica]] que, na altura, era a maior do mundo. Em certa ocasião chegou mesmo a confidenciar ao seu tio, o rei [[Eduardo VII da Grã-Bretanha|Eduardo VII]], que o seu sonho era "ter a minha própria frota um dia". A frustação de WilhelmGuilherme perante o fraco desempenho da sua frota na Revista da Frota durante as celebrações do Jubileu de Diamante da sua avó, a rainha Vitória, juntamente com a incapacidade de exercer uma influência alemã da África do Sul, após o envio do telegrama Kruger, levou WilhelmGuilherme a tomar passos decisivos na construção de uma frota que rivalizasse com a dos seus primos britânicos. WilhelmGuilherme teve a sorte de conseguir obter os serviços do dinâmico oficial [[Alfred von Tirpitz]] a quem nomeou chefe do Ministério da Marinha Imperial em 1897.
 
O novo almirante concebeu aquela que ficaria conhecida como a "Teoria do Risco" ou o [[Plano Tirpitz]], através do qual a Alemanha poderia forçar a Grã-Bretanha a cumprir as exigências alemãs na arena internacional através da ameaça que uma frota de batalha poderosa concentrada no [[mar do Norte]] representava. Tirpitz tinha todo o apoio de WilhelmGuilherme na sua defesa de sucessivos projectos navais em 1897 e 1900, através dos quais a marinha alemã foi aumentada para rivalizar com a do [[Reino Unido]]. A expansão marítima sob as Leis da Marinha acabou por levar a grandes sacrifícios económicos na Alemanha em 1914 uma vez que, a partir de 1906, WilhelmGuilherme tinha empenhado a sua marinha a construir um tipo de navio de combate couraçado muito maior e mais caro.
 
Em 1889, WilhelmGuilherme reorganizou o nível mais alto de controlo da marinha ao criar o [[Cabinet da Marinha (Marine-Kabinett)]], equivalente ao Cabinet da Marinha Imperial que tinha funcionado anteriormente na mesma capacidade tanto para exército como da marinha. O chefe do cabinet era responsável por promoções, nomeações, pela administração e por dar ordens às forças navais. O capitão [[Gustav von Senden-Bibran]] foi nomeado o seu primeiro chefe e permaneceu nesta posição até 1906. O Almirantado Imperial que existia foi abolido e as suas responsabilidades divididas entre as duas organizações. Foi criada uma nova posição (equivalente ao comandante supremo do exército) chamada chefe do alto comando do almirantado (Oberkommando der Marine) e quem a detivesse era responsável pelos destacamentos, estratégias e tácticas dos navios. O vice-almirante [[Max von der Goltz]] foi nomeado em 1889 e permaneceu no posto até 1895. A construção e manutenção e navios, bem como obter mantimentos eram responsabilidades do secretário de estado do Ministério da Marinha Imperial (Reichsmarineamt) reportava ao chanceler e aconselhava o [[Reichstag (instituição)|Reichstag]] em assuntos navais. O seu primeiro nomeado foi o vice-almirante [[Eduard Heusner]] seguido pouco tempo depois pelo vice-almirante [[Friedrich von Hollmann]] entre 1890 e 1897. Cada um destes três chefes de departamento reportava em separado a WilhelmGuilherme II.<ref>Herwig, pp. 21–23.</ref>
 
Além do aumento da frota, em 1895, o [[canal de Kiel]] foi aberto e permitiu movimentos mais rápidos entre o [[mar do Norte]] e o [[mar Báltico]].
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=== A crise de Sarajevo ===
WilhelmGuilherme era amigo do arquiduque [[Francisco Fernando da Áustria]] e ficou profundamente chocado com o seu assassinato a 28 de junho de 1914. WilhelmGuilherme ofereceu-se para apoiar o [[Império Austro-Húngaro]] na sua luta contra a [[Mão Negra]], a organização secreta que tinha planeado o assassinato, e até sancionou o uso de violência por parte da Áustria contra aquela que se pensava ser a fonte do movimento - a [[Sérvia]] (esta atitude é muitas vezes chamada "o cheque em branco"). WilhelmGuilherme queria permanecer em Berlim até se resolver a crise, mas os seus cortesãos aconselharam-no a realizar o seu cruzeiro anual pelo [[mar do Norte]] a 6 de julho de 1914. WilhelmGuilherme fez todos os esforços para se manter informado da crise por telegrama e quando a Áustria entregou o seu [[Ultimato de julho|ultimato à Sérvia]], voltou rapidamente a [[Berlim]]. Chegou à cidade a 28 de julho, leu uma cópia da resposta da Sérvia e escreveu na mesma:
 
{{cquote|''Uma solução brilhante - e em pouco mais de 48 horas! É mais do que podia ter esperado. Uma grande vitória moral para [[Viena]]; mas com isto todos os pretextos para uma guerra caem por terra e é melhor que [o embaixador] Giesl tivesse ficado quieto em [[Belgrado]]. Com este documento, nunca teria dado ordens para a mobilização.''"<ref>Ludwig 1927, p. 444.</ref>}}
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=== Julho de 1914 ===
Na noite de 30 de julho, quando recebeu o documento a informá-lo que a Rússia não iria cancelar a sua mobilização, WilhelmGuilherme escreveu um longo comentário que incluía as seguintes observações:
 
[[Ficheiro:General Hans G. von Plessen.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|O imperador WilhelmGuilherme numa conversa com o general [[Otto von Emmich]]; no fundo encontram-se os generais [[Hans von Plessen]] (no meio) e [[Mariz von Lyncker]] (à direita).]]
 
{{cquote|''... Porque já não duvido que a Inglaterra, a Rússia e a França concordaram entre si, sabendo que as nossas obrigações de tratado nos levam a apoiar a Áustria, a utilizar o conflito Austro-Sérvio como pretexto para encetar uma guerra de aniquilação contra nós (...) o nosso dilema ao manter a fé no velho e honrado imperador foi explorado para criar uma situação que dá à Inglaterra a desculpa que tem vindo a procurar para nos aniquilar com uma falsa aparência de justiça, com o pretexto de que está a ajudar a França e a manter o conhecido Balanço de Poder na Europa, isto é, a jogar com todos os estados europeus a seu favor contra nós.''<ref>Balfour 1964, pp. 350–51.</ref>}}
 
Alguns autores britânicos mais actuais afirmaram que o que WilhelmGuilherme II disse realmente foi:
 
{{cquote|''A crueldade e a fraqueza vão começar a guerra mais assustadora do mundo, cujo objectivo é destruir a Alemanha. Porque não pode haver mais dúvidas de que a Inglaterra, a França e a Rússia conspiraram entre si para encetar uma guerra de aniquilação contra nós''".<ref>Wilmott 2003, p. 11.</ref>}}
 
Quando se tornou claro que a Alemanha iria enfrentar uma guerra em duas frentes e que o Reino Unido iria entrar na guerra se a Alemanha decidisse atacar a França através da Bélgica, que permanecia neutral, WilhelmGuilherme, em pânico, tentou direccionar o ataque principal contra a Rússia. Quando [[Helmuth Johannes Ludwig von Moltke|Helmuth von Moltke]] (o mais jovem), que tinha escolhido o velho plano de 1905, realizado pelo general alemão [[Alfred von Schlieffen|von Schlieffen]] para a possibilidade de uma guerra contra a Alemanha em duas frentes, disse-lhe que tal era impossível. WilhelmGuilherme respondeu: "''O seu [[Helmuth von Moltke|tio]] teria-me dado uma resposta diferente''!"<ref>Ludwig 1927, p. 453.</ref> Também se pensa que WilhelmGuilherme terá dito: "''E pensar que o Jorge e o Nicky me enganaram! Se a minha avó estivesse viva, nunca teria permitido tal coisa.''"<ref>Balfour 1964, p. 355.</ref>
 
No [[Plano Schlieffen|plano original de Schlieffen]], a Alemanha deveria atacar o inimigo supostamente mais fraco primeiro, ou seja, a França. O plano suponha que a Rússia iria demorar muito mais tempo a preparar-se para a guerra. Derrotar a França tinha sido fácil para a Prússia durante a Guerra Franco-Prussiana de 1870. Na fronteira de 1914 entre a França e a Alemanha, um ataque nesta parte mais a sul de França poderia ser travado pelo forte francês construído ao longo da fronteira. Contudo, WilhelmGuilherme II conseguiu convencer von Moltke (o mais jovem) a não invadir também os Países Baixos.
 
=== O ''kaiser''-sombra ===
O papel de WilhelmGuilherme durante a guerra foi perdendo cada vez mais importância, limitando-se a pouco mais do que cerimónias de entrega de prémios e deveres honoríficos. O alto comando continuou com a sua estratégia mesmo quando se tornou claro que o plano Schlieffen tinha falhado. Em 1916, o império tinha-se tornado efectivamente uma ditadura militar liderada pelo marechal-de-campo [[Paul von Hindenburg]] e pelo general [[Erich Ludendorff]].<ref>Craig, pp. 374, 377–78, 393.</ref> Cada vez mais aliendado da realidade e das decisões políticas, WilhelmGuilherme vacilava entre o derrotismo e os sonhos de vitória, dependendo da sorte dos seus exércitos. Apesar de tudo, WilhelmGuilherme continuava a deter a última palavra em assuntos de nomeações políticas e foi apenas depois de dar o seu consenso que se realizaram grandes mudanças no alto comando. WilhelmGuilherme era a favor do afastamento de Helmuth von Moltke, o mais jovem, em setembro de 1914, e da sua substituição por [[Erich von Falkenhayn]]. Em 1917, Hindenburg e Ludendorff decidiram que Bethman-Hollweg já não era aceitável para eles como chanceler e pediram ao ''kaiser'' que nomeasse outra pessoa. Quando perguntou quem iriam eles aceitar, Ludendorff recomendou Georg Michaelis, um homem insignificante que ele mal conhecia. O ''kaiser'' não conhecia Michaelis, mas aceitou a sugestão. Em julho de 1917, depois de saber que o seu primo Jorge V tinha mudado o apelido da família real para Windsor,<ref>The London Gazette: [http://www.london-gazette.co.uk/issues/30186/pages/7119 no. 30186]. p. 7119. 17 de julho de 1917.</ref> WilhelmGuilherme afirmou que tinha planos para ver a peça de [[Shakespeare]] "''As Alegres Comadres de Saxe-Coburgo-Gota''"<ref>O título origina da peça era "As Alegres Comadres de Windsor".</ref>.<ref>[http://books.google.pt/books?id=4QcAVV_jIqYC&pg=PP22&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false Books], Google, 2010-03-23, p. xxiii, ISBN 9780307593023</ref> O apoio ao ''kaiser'' caiu por completo entre outubro-novembro de 1918, no exército, governo civil e entre a opinião pública alemã quando o presidente [[Woodrow Wilson]] deixou bem claro que o ''kaiser'' não poderia participar nas negociações de paz.<ref>Cecil 1996, p. 283.</ref><ref>Schwabe 1985, p. 107.</ref> Nesse ano, WilhelmGuilherme também foi afectado pela pandemia de [[gripe espanhola]], mas sobreviveu.<ref>Collier 1974</ref>
 
== Abdicação e luta ==
[[Ficheiro:Bundesarchiv Bild 183-R12318, Eysden, Kaiser Wilhelm II. auf Weg ins Exil.jpg|miniaturadaimagem|direita|''Kaiser'' WilhelmGuilherme de partida para o seu exílio.]]
 
WilhelmGuilherme estava no quartel-general do Exército Imperial em [[Spa (Liège)|Spa]] (Bélgica), quando foi surpreendido pelas revoltas em Berlim e noutros centros urbanos do império rebentaram em finais de 1918. Os motins entre as fileiras da sua adorada ''Kaiserliche Marine'', a marinha imperial, deixaram-no profundamente chocado. Após o rebentar da [[Revolução Alemã]], WilhelmGuilherme não se conseguia decidir se o melhor seria abdicar ou não. Até certo ponto, aceitou que o mais provável era ter de prescindir da coroa imperial, mas ainda tinha esperanças de conseguir manter o trono da Prússia. Esta crença tornou-se irreal quando, na esperança de preservar a monarquia perante crescente agitação revolucionária, o chanceler, o príncipe [[Max von Baden|Max de Baden]], anunciou que WilhelmGuilherme iria abdicar de ambos os títulos a 9 de novembro de 1918. Até o príncipe Max foi forçado a abdicar do seu título nesse mesmo dia quando se tornou claro que apenas [[Friedrich Ebert]], líder do [[Partido Social-Democrata da Alemanha|Partido Social-Democrata]], conseguia exercer algum tipo de controlo efectivo.
 
WilhelmGuilherme apenas aceitou abdicar depois do substituto de Ludendorff, o general [[Wilhelm Groener]], o informou de que os oficiais e soldados do exército voltariam a marchar ordenadamente sob o comando de [[Paul von Hindenburg]], mas nunca lutariam pelo trono de WilhelmGuilherme na frente doméstica. O último e mais forte apoiante da monarquia tinha sido perdido e, finalmente, até o próprio Hindenburg, defensor da monarquia toda a vida, foi forçado, com algum embaraço, a aconselhar o imperador a desistir da sua coroa.<ref>Cecil 1996, vol. 2 p. 292.</ref>
 
O facto de que o alto comando poderia vir a abandonar o ''kaiser'' um dia tinha sido algo previsto em dezembro de 1897, quando WilhelmGuilherme visitou Otto von Bismarck pela última vez. Bismarck voltou a avisar o ''kaiser'' da influência crescente dos militaristas, principalmente dos almirantes que estavam a pressioná-lo para a construção de uma frota de batalha. O último aviso de Bismarck foi:
{{cquote|''Vossa Majestade, enquanto tiver o presente corpo de oficiais, pode fazer o que desejar. Mas quando tal deixar de ser o caso, será tudo muito diferente para si.''"<ref>Palmer 1976, p. 267.</ref>}}
 
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{{cquote|''[[Batalha de Jena|Jena]] aconteceu vinte anos após a morte de [[Frederico, o Grande]]; a quebra vai acontecer vinte anos depois da minha partida se as coisas continuarem como estão''" - uma profecia que se cumpriu quase exactamente ao mês.<ref>Taylor 1967, p. 264.</ref>}}
 
A 10 de novembro, WilhelmGuilherme (agora chamado WilhelmGuilherme Hohenzollern, cidadão privado) entrou a bordo do comboio que o levou para o exílio nos Países Baixos, um país que se manteve neutral durante a guerra.<ref>Cecil 1996, vol. 2 p. 294.</ref> Quando o [[Tratado de Versalhes]] foi concluído em inícios de 1919, o artigo 227 ordenava expressamente a criminalização de WilhelmGuilherme "''por ofensa suprema contra a moral internacional e santidade dos tratados''", mas a rainha [[Guilhermina dos Países Baixos|Guilhermina]] recusou-se a extraditá-lo, apesar dos pedidos dos Aliados. O rei Jorge V escreveu que via o seu primo como "''o maior criminoso da História''", mas opôs-se à proposta do primeiro-ministro [[David Lloyd George]] para "''enforcar o kaiser''". O presidente dos Estados Unidos da América, [[Woodrow Wilson]], rejeitou a extradição, afirmando que castigar WilhelmGuilherme por ter encetado a guerra iria destabilizar a ordem internacional e colocar a paz em causa.<ref>Ashton & Hellema 2000, pp. 53–78.</ref>
 
Inicialmente, WilhelmGuilherme estabeleceu residência em [[Amerongen]], onde, a 28 de novembro, publicou a sua declaração de abdicação oficial e dispensou os seus soldados e oficiais do juramento que lhe tinham prestado, terminando assim o reinado de quatrocentos anos dos Hohenzollern na [[Reino da Prússia|Prússia]]. Posteriormente, comprou uma casa de campo no município de [[Doorn]], conhecida como ''[[Huis Doorn]]'', a 16 de agosto de 1919 e mudou-se para lá a 15 de maio de 1920.<ref>Macdonogh 2001, p. 426.</ref> Esta seria a sua última casa para o resto da vida. Apesar de ter abdicado, nunca deixou formalmente os seus títulos e tinha esperança de poder regressar à Alemanha no futuro. A [[República de Weimar]] deu permissão a WilhelmGuilherme para retirar vinte-e-três vagões de mobília, vinte-e-sete deles com embalagens de todos os tipos, um deles com um carro e outro um barco do Novo Palácio de Potsdam.<ref>Macdonogh 2001, p. 425.</ref>
 
=== Vida no exílio ===
[[Ficheiro:Bundesarchiv Bild 136-C0804, Kaiser Wilhelm II. im Exil.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|upright=0.7|WilhelmGuilherme, durante o seu exílio.]]
Em 1922, WilhelmGuilherme publicou o primeiro volume das suas memórias<ref>Hohenzollern 1922.</ref> - um volume muito fino onde insistia que não era culpado pelo rebentar da [[Primeira Guerra Mundial|Grande Guerra]] e defendia a sua conduta ao longo do reino, especialmente no que dizia respeito à política estrangeira. Durante os seus vinte anos de exílio, recebeu convidados (frequentemente importantes) e manteve-se informado sobre os acontecimentos na Europa. Deixou crescer a barba e permitiu que o seu famoso bigode perdesse volume. Também aprendeu a falar holandês. O antigo ''kaiser'' também ganhou um gosto por arqueologia durante o tempo em residiu no [[Palácio de Achilleion]] em [[Corfu]], na [[Grécia]], e escavou o local do [[Templo de Artemisa (Corfu)|Templo de Artemisa]] na mesma ilha. Foi uma paixão que durou ao longo de todo o seu exílio. WilhelmGuilherme tinha comprado este palácio, antiga residência da imperatriz [[Isabel da Áustria (1837-1898)|Isabel da Áustria]], após o seu assassinato em 1898. Também fez planos para grandes edifícios e navios de batalha quando estava aborrecido. Durante o exílio, uma das suas maiores paixões era a caça e ensacou milhares de animais, tanto mamíferos como pássaros. Grande parte do seu tempo era passado a cortar madeira e milhares de árvores foram abatidas durante a sua estadia em Door.<ref>Macdonogh 2001, p. 457.</ref>
 
No início da década de 1930, WilhelmGuilherme esperava que, de alguma forma, o sucesso do [[Partido Nazi|Partido Nazi Alemão]] fosse estimular o interesse pela restauração da monarquia na figura do seu [[Guilherme da Prússia (1906-1940)|neto mais velho]] que se tornaria no quarto ''kaiser''. A sua segunda esposa, [[Hermínia Reuss de Greiz|Hermínia]] (ver abaixo), fez vários pedidos ao governo nazi em nome do seu marido. No entanto, [[Adolf Hitler]], que era, ele próprio, um veterano da [[Primeira Guerra Mundial]], e os nazis apenas sentiam desprezo pelo homem que culpavam pela maior derrota da Alemanha e os pedidos foram ignorados. Apesar de ter recebido [[Hermann Göring]] pelo menos uma vez em Door, WilhelmGuilherme começou a desconfiar de Hitler. Quando soube do assassinato da esposa do antigo chanceler [[Kurt von Schleicher]] escreveu:
{{cquote|''Deixamos de viver sob as regras da lei e todos devem estar preparados para a possibilidade de os nazis quererem fazer valer a sua forma de pensar e encostá-los à parede!''".<ref>Macdonogh 2001, pp. 452–52</ref>}}
 
WilhelmGuilherme também ficou chocado com a [[Noite dos cristais]] de 9-10 de novembro de 1938, dizendo: "''Acabei de esclarecer a minha opinião ao Auwi [o seu quarto filho] na presença dos irmãos. Ele teve a coragem de dizer que concordava com as perseguições aos judeus e compreendia o motivo pelos quais estavam a acontecer. Quando lhe disse que qualquer homem decente descreveria estas acções como banditismos, parecia completamente indiferente. Está completamente perdido para a nossa família''".<ref>Macdonogh 2001, p. 456.</ref> Também afirmou: "Pela primeira vez na vida tenho vergonha de ser alemão."
 
Após a [[Invasão da Polônia|vitória da Alemanha sobre a Polónia]] em setembro de 1939, o ajudante de WilhelmGuilherme, o general von Dommes, escreveu em seu nome a Hitler, afirmando que a Casa de Hohenzollern "''permanecia leal''" e chamou a atenção para o facto de nove príncipes prussianos (um filho e oito netos) estarem a combater na frente, concluindo que "''devido às circunstâncias especiais que exigem a residência num país estrangeiro neutro, Sua Majestade vê-se forçado a recusar fazer comentário acima mencionado. Assim, o imperador incumbiu-me de realizar esta comunicação.''"<ref name="Petropoulos 2006, p. 170">Petropoulos 2006, p. 170.</ref> WilhelmGuilherme admirava muito o sucesso que Hitler conseguiu obter nos primeiros meses da [[Segunda Guerra Mundial]] e enviou pessoalmente um telegrama de parabéns na altura da queda de Paris, afirmando: "P''arabéns, venceu utilizando as minhas tropas.''" Numa carta dirigida à sua filha Vitória Luísa, a duquesa de Brunsvique, escreveu triunfalmente: "''Esta é a [[Entente Cordiale]] perniciosa do tio [[Eduardo VII do Reino Unido|Eduardo VII]] reduzida a nada.''"<ref>Palmer 1978, p. 226.</ref> Apesar de tudo, quando os nazis conquistaram os Países Baixos em 1940, WilhelmGuilherme, já debilitado, retirou-se completamente da vida pública. Em Maio de 1940, quando Hitler invadiu os Países Baixos, WilhelmGuilherme recusou um convite de asilo para o Reino Unido de [[Winston Churchill|Churchill]] e preferiu morrer em Huis Doorn.<ref>Martin 1994, p. 523.</ref>
 
Durante o seu último ano em Doorn, WilhelmGuilherme, já idoso, debilitado e com sua saúde mental em estado questionável, acreditava que a Alemanha era a terra da monarquia e, por isso, de Cristo enquanto que a Inglaterra era a terra do [[liberalismo]] e por isso pertencia a [[Satanás]] e ao [[Anti-Cristo]]. Defendia que as classes governantes britânicas pertenciam "''à [[maçonaria]]''" e estavam "''completamente infectadas por [[Judas]]''". WilhelmGuilherme afirmou que "''o povo britânico deve ser libertado do Anti-Cristo Judas. Temos de tirar Judas de Inglaterra tal como este foi expulso do continente.''"<ref name="Röhl, p. 211">Röhl, p. 211.</ref> Acreditava que a Maçonaria e os Judeus tinha sido os responsáveis pelas duas guerras mundiais com o objectivo de criar um Império Judaico mundial com ouro britânico e americano, mas que "''o plano de Judas tinha sido completamente destruído e eram eles próprios quem estava a ser limpo do continente europeu!''". Agora, segundo WilhelmGuilherme, a Europa continental estava "''a consolidar-se e a afastar-se da influência britânica após a eliminação dos britânicos e dos judeus''!". O resultado final seriam "''os Estados Unidos da Europa!''".<ref name="Röhl, p. 211"/> Numa carta dirigida à sua irmã [[Margarida da Prússia|Margarida]] em 1940, WilhelmGuilherme escreveu: "''A mão de Deus está a criar um novo mundo e a fazer milagres (...) Estamos a tornar-nos os Estados Unidos da Europa sob a liderança da Alemanha, um continente europeu unido.''" E acrescentou: "''Os Judeus estão a ser afastados das suas posições nefastas em todos os continentes que levaram à hostilidade durante séculos.''"<ref name="Petropoulos 2006, p. 170"/> Em 1940 também se comemoraria o 100.º aniversário da sua mãe e, sobre esta ocasião, WilhelmGuilherme escreveu de forma irónica a um amigo: "''Hoje é o 100.º aniversário da minha mãe" Ninguém na Alemanha reparou! Não houve "missas" nem (...) nenhum comité para recordar o seu trabalho maravilhoso para o (...) bem-estar do nosso povo alemão (...) Ninguém da nova geração sabe alguma coisa dela.''"<ref>Pakula 1995, p. 602.</ref> Esta simpatia pela mãe contrasta fortemente com o ódio intenso que expressou por ela enquanto esta esta viva.
 
=== Morte ===
[[Ficheiro:Mausoleumwhilhelm.JPG|miniaturadaimagem|direita|Mausoléu onde está sepultado o corpo de WilhelmGuilherme II.]]
WilhelmGuilherme II morreu de uma [[embolia pulmonar]] em Doorn, Países Baixos, a 3 de junho de 1941, aos oitenta e dois anos de idade, a escassas semanas da invasão alemã da União Soviética. Havia soldados alemães a guardar o seu velório. No entanto, Adolf Hitler não terá ficado satisfeito por um antigo monarca ter a honra de ter soldados alemães presentes em tal cerimónia e quase despediu o general que ordenou a sua presença lá quando este foi descoberto. Apesar de não gostar pessoalmente de WilhelmGuilherme, Hitler queria que o seu corpo fosse levado para [[Berlim]] para um funeral de estado, uma vez que WilhelmGuilherme tinha sido o símbolo da Alemanha e dos alemães durante a [[Primeira Guerra Mundial]]. Hitler achava que tal atitude iria mostrar aos alemães a sucessão directa do [[Terceiro Reich]] a partir do velho ''Kaiserreich'' ([[Império Alemão]]).<ref>Sweetman 1973, pp. 654–55.</ref> Contudo, WilhelmGuilherme tinha expressado que não queria regressar à Alemanha enquanto a monarquia não fosse restaurada e os seus desejos foram respeitados, sendo que as autoridades da ocupação nazi se encarregaram de organizar um pequeno funeral militar com a presença de algumas centenas de pessoas, entre as quais se encontrava [[August von Mackensen]], vestido com o seu antigo uniforme de [[hussardo]] imperial, o almirante [[Wilhelm Canaris]] e o Reichskommissar dos Países Baixos, [[Arthur Seyss-Inquart]], juntamente com alguns conselheiros militares. O pedido de WilhelmGuilherme para que a suástica e outros símbolos nazi não fossem exibidos durante as suas exéquias fúnebres foi ignorado e estas surgem em fotografias do funeral tiradas por um fotografo holandês.<ref>Macdonogh 2001, p. 459.</ref>
 
WilhelmGuilherme foi enterrado num mausoléu nos jardins de ''[[Huis Doorn]]'' que, a partir de então, se tornou um local de peregrinação para monarquistas alemães. No aniversário da sua morte, pequenos mas fiéis grupos de monárquicos reúnem-se em Huis Door para prestar homenagem ao último imperador da Alemanha.<ref>Ruggenberg 1998.</ref>
 
== Historiografia ==
Até aos dias de hoje, surgiram três modas que caracterizam os trabalhos escritos sobre WilhelmGuilherme. A primeira surgiu de escritores inspirados na corte que o consideravam um mártir e um herói. Estes aceitavam muitas vezes sem criticas as justificações fornecidas nas memórias do ''kaiser''. A segunda partiu daqueles que consideravam WilhelmGuilherme completamente incapaz de lidar com as grandes responsabilidades da sua posição, viam-no como um governante demasiado imprudente para lidar com poder. Na terceira, que surgiu após a década de 1950, os intelectuais procuraram transcender as paixões da década de 1910 e tentaram retractar WilhelmGuilherme e o seu reinado de forma mais objectiva.<ref>Goetz 1955, pp. 21–44.</ref>
 
A 8 de junho de 1913, antes do início da [[Primeira Guerra Mundial]], o ''[[New York Times]]'' publicou um suplemento especial dedicado ao 25.º aniversário da coroação do ''kaiser''. A manchete principal dizia o seguinte: "Kaiser, governante há 25 anos, louvado como principal instigador da paz". A história que acompanhava este título chamava-o "o factor mais importante para a paz que o nosso tempo consegue mostrar" e declarava que WilhelmGuilherme era responsável por ter salvo muitas vezes a Europa da guerra iminente.<ref>[https://en.wikipedia.org/wiki/Wilhelm_II,_German_Emperor#CITEREFNew_York_Times1913 New York Times 1913]</ref> Até finais da década de 1950, o ''kaiser'' era visto pela maioria dos historiadores como um homem de grande influência. Em parte, tal era uma representação dos oficiais alemães. Por exemplo, o presidente [[Theodore Roosevelt]] acreditava que o ''kaiser'' controlava a política estrangeira da Alemanha porque [[Hermann Speck von Sternburg]], o embaixador alemão em [[Washington]] e amigo pessoal do presidente, lhe apresentava mensagens do [[Bernhard von Bülow|chanceler von Bülow]] como se tivessem sido escritas pelo ''kaiser''. Posteriormente, os historiadores diminuíram a importância do seu papel, argumentando que os oficiais mais experientes aprenderam a controlá-lo. Mais recentemente, o historiador [[John C. G. Röhl]] retractou WilhelmGuilherme como uma figura-chave para a compreensão da imprudência e queda do [[Império Alemão]].<ref>Röhl, p. 10.</ref> Assim, coloca-se o argumento de que o ''kaiser'' teve um papel muito importante na promoção das políticas de expansão naval e colonial que levaram à grande deterioração das relações da Alemanha com a Grã-Bretanha antes de 1914.<ref name="McLean 2001, pp. 478–502"/><ref>Berghahn 2003, pp. 281–93.</ref>
 
==Títulos, estilos e brasões==
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}}
===Títulos e estilos===
*27 de janeiro de 1859 – 9 de março de 1888: "[[Sua Alteza Real]], o príncipe WilhelmGuilherme da Prússia"
*9 de março de 1888 – 15 de junho de 1888: "[[Sua Alteza Imperial e Real]], o Príncipe Herdeiro Alemão, Príncipe Herdeiro da Prússia"
*15 de junho de 1888 – 18 de novembro de 1918: "[[Sua Majestade Imperial e Real]], o Imperador Alemão, Rei da Prússia"
*18 de novembro de 1918 - 9 de junho de 1941: "O Sr. WilhelmGuilherme Hohenzollern"
 
===Brasões===
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!width=20% |[[File:Greater Arms of Prussia.png|center|180px]]
|-
|<center>Brasão de WilhelmGuilherme II como Imperador Alemão</center>
|<center>Brasão de WilhelmGuilherme II como Rei da Prússia</center>
|}
 
== Casamentos e descendência ==
[[Ficheiro:Bundesarchiv Bild 146-1976-116-35, Kaiserin Auguste Victoria, Kaiser Wilhelm II..jpg|miniaturadaimagem|direita|WilhelmGuilherme II com a sua primeira esposa, a princesa Augusta Vitória.]]
WilhelmGuilherme casou-se com a sua primeira esposa, a princesa Augusta Vitória de Schleswig-Holstein, 27 de Fevereiro de 1881. Juntos tiveram sete filhos:
 
# [[Guilherme, Príncipe Herdeiro da Alemanha|WilhelmGuilherme da Alemanha]] (6 de maio de 1882 - 20 de julho de 1951), príncipe-herdeiro da [[Império Alemão|Alemanha]] e da [[Reino da Prússia|Prússia]] desde o nascimento até à implantação da [[República de Weimar]]; casado com a duquesa [[Cecília de Mecklemburgo-Schwerin]]; com descendência.
# [[Eitel Frederico da Prússia|Eitel Frederick da Prússia]] (7 de julho de 1883 - 8 de dezembro de 1942), casado com a duquesa [[Sofia Carlota de Oldemburgo|Sofia Calota Holstein-Gottorp de Oldenburgo]] em 1906 de quem se divorciou em 1926; sem descendência.
#[[Adalberto da Prússia]](14 de julho de 1884 - 22 de setembro de 1948), casado com a princesa [[Adelaide de Saxe-Meiningen]]; com descendência.
#[[Augusto Guilherme da Prússia|Augusto Wilhelm da Prússia]](29 de janeiro de 1887 - 25 de maio de 1949), era membro das [[Sturmabteilung|SA]] e um grande apoiante de [[Hitler]]; casou-se com a princesa [[Alexandra Vitória de Schleswig-Holstein|Alexandra Vitória de Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glücksburg]]; com descendência.
# [[Óscar da Prússia]] (27 de julho de 1888 - 27 de janeiro de 1958), casado com a condessa [[Ina Maria von Bassewitz|Ina-Maria von Bassewitz]]; com descendência;
#[[Joaquim da Prússia]] (17 de dezembro de 1890 - 18 de julho de 1920), considerado para o trono da [[Irlanda]]; casado com a princesa [[Maria-Augusta de Anhalt]]; com descendência.
#[[Vitória Luísa da Prússia]] (13 de setembro de 1892 - 11 de dezembro de 1980), casada com [[Ernesto Augusto de Brunsvique]]; com descendência.
 
A imperatriz Augusta, conhecida pela alcunha carinhosa de "Dona" foi uma companheira constante para WilhelmGuilherme e a sua morte em 11 de Abril de 1921 foi um duro golpe. A sua morte também aconteceu menos de um ano após o seu filho Joaquim se ter suicidado.
 
=== Segundo casamento ===
No mês de Janeiro seguinte, WilhelmGuilherme recebeu uma mensagem de parabéns de um filho do falecido príncipe João Jorge Luís Fernando Augusto WilhelmGuilherme de Schönaich-Carolath. WilhelmGuilherme, na altura com sessenta-e-três anos de idade, convidou o jovem e a sua mãe, a princesa [[Hermínia Reuss de Greiz]], a visitar Door. WilhelmGuilherme achou Hermínia muito atraente e gostou muito da sua companhia. Os dois casaram no dia 9 de Novembro de 1922, apesar dos protestos dos seus apoiantes monárquicos e dos seus filhos. A filha de Hermínia, a princesa [[Henriqueta de Schönaich-Carolath|Henriqueta]], casou-se com o filho do falecido príncipe [[Joaquim da Prússia|Joaquim]], Carlos Francisco José, em 1940, mas os dois acabariam por se divorciar em 1946. Hermínia foi uma companheira constante do imperador até à sua morte.
 
==Ancestrais==