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A conquista e a [[Colonização europeia da América|colonização da América]] impulsionaram o [[Comércio atlântico de escravos|comércio negreiro]]. As plantações surgidas no [[Caribe]] e a montagem dos sistemas mineradores no [[México]] e nos [[Cordilheira dos Andes|Andes]] estimularam o estabelecimento da ligação direta entre [[África]] e as [[América|Américas]]. A maioria dos africanos desembarcou em portos na América. A colonização da América portuguesa intensificou o fluxo de escravos através do [[Oceano Atlântico|Atlântico]], embora [[Lisboa]] se interessasse mais pelo comércio com o Oriente. No início do século XVI havia predomínio de traficantes lusitanos no litoral africano. Apenas na segunda metade do [[século XVI]] apareceram os reais competidores, os ingleses, cuja expansão marítima ocorreu velozmente após a [[Reforma anglicana|Reforma Anglicana]]. O tráfico dos ingleses e ibéricos abrangia o litoral e estendia até a baía do [[Benim|Benin]].
 
O predomínio luso começou a decair em 1611-1612, com a construção do [[forte de Nassau]], na [[Costa do Ouro (região)|Costa do Ouro]]. Os holandeses depois quando conseguiram instalar dois pequenos fortes na [[ilha de Górea]], na [[Senegâmbia|Senemgâmbia]]. Por fim, os holandeses conseguiram deslocar os portugueses em [[Elmina]] (1637), obrigando-os a fixar a sua atenção nas baías de [[Benim|Benin]] e de [[Biafra]], área que ficou conhecida como Costa dos Escravos. Quase um século mais tarde, em 1721, depois de muitas tentativas mal sucedidas, construíram em Uidá, o forte São João de Ajuda.
 
O forte, ligado administrativamente ao vice-rei do [[Brasil]], proveu apoio decisivo às atividades dos negreiros baianos lá estabelecidos, que financiaram sua construção. Um segundo influxo da presença brasileira deu-se com a chegada de milhares de africanos retornados, muitos dos quais por vontade própria, em um trânsito que, embora tivesse sido mais intenso entre os séculos XVIII e XIX, prolongou-se até o começo do século XX.
 
Os negros africanos eram desumanizados, tornados objetos e comercializados como escravos. Assim, os [[senhores de escravos]] conseguiriam ter maior controle sobre eles, como também sobre a produção. Esses homens e mulheres tirados de seu local de origem, chegavam aos portos brasileiros e eram comprados e levados para trabalhar em lavouras, nos engenhos, nas minas, nas cidades, nas casas dos senhores e até aprendiam pequenos ofícios em que a renda era transmitida ao seu dono, que ficaram conhecidos como [[escravos de ganho]]. Ocorreu dessa forma desde o [[século XVI]], por volta do ano [[1550]] até o [[século XIX]], quando em [[1888]] houve a promulgação da [[Lei Áurea|lei áurea]].
 
=== Estabelecimento na África ===
Houve dois momentos principais em que os ex-escravos retornaram à [[África]]. [[Pierre Verger]] avalia que houve dois tipos de influência nesses momentos. O primeiro momento foi após a [[Revolta dos Malês]] que aconteceu na [[Bahia]] em janeiro de [[1835]], em quemedida repressiva os [[Escravidão|escravos]] que participaram da revolta foram deportados para seu continente de origem. EA volta foi sofrida passivamente e involuntária. Já o segundo momento, foi após a [[Abolição da escravatura no Brasil|abolição da escravidão no Brasil]] em [[1888]]. Mas desde o século [[XVIII]] já haviam [[Escravidão|escravos]] que conseguiam sua [[alforria]] e retornavam ao seu país. Essa volta era voluntária e espontânea ligada à memória da pátria de origem.
 
[[Milton Guran]] calcula que entre 7000 e 8000 são o número de retornados a se instalarem na região nesse segundo momento de chegada maciça dos antigos [[Escravidão|escravos]], a partir de 1835.
 
=== Formação histórica da identidade Agudá ===
Esses africanos retornados aos diversos portos do [[Golfo do Benim|Golfo de Benin]] haviam-se transformado a partir de suas vivências no [[Brasil]], sofrendo processo de colonização urbana, como serviçais domésticos ou como [[escravos de ganho]], de forma que sua referência cultural era, agora, a dos hábitos de seus senhores, procuravam reproduzir na [[África]] o comportamento das elites baianas. Contudo, a assimilação desse comportamento se deu de forma grosseira, porque traziam consigo suas próprias vivências. A cultura agudá passou a ser uma cultura à européia, da mesma forma que se construía no [[Brasil]], mas havia incorporado práticas mais ligadas aos escravos do que a seus senhores no [[Brasil]].
 
Durante a segunda metade do [[século XIX]], esses agudás constituíram uma sociedade à parte, basicamente [[Endogamia|endogâmica]], distinta também pela adesão ao [[catolicismo]] e à instrução escolar, provida em escolas fundadas por eles mesmos, e vedadas aos súditos de [[Abomei|Abomé]]. Nesse momento, a sociedade agudá era composta pelos descendentes dos traficantes de escravos, os escravos retornados, e também seus descendentes e escravos. O novo posicionamento identitário permitiu aos retornados serem [[Cidadania|cidadãos]] de plenos direitos. A [[identidade social]] era construída a partir da noção da diferença e da memória de um [[Património cultural|patrimônio cultural]] comum a se preservar.
 
== Arquitetura ==