Catão, o Velho: diferenças entre revisões

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'''Marco Pórcio Catão''' (234 – {{AC|149|x}}; {{lang-la|''Marcus Porcius Cato''}}) foi um político e escritor da [[gente (Roma Antiga)|gente]] [[Pórcios|Pórcia]] da [[República Romana]] eleito [[cônsul romano|cônsul]] em {{AC|195|x}} com [[Lúcio Valério Flaco (cônsul em 195 a.C.)|Lúcio Valério Flaco]]. Ficou conhecido como '''Catão, o Velho''', '''Catão, o Censor''', '''Catão Sapiente''' e '''Catão Prisco''' para distingui-lo de seu bisneto, [[Marco Pórcio Catão, o Jovem]].
 
Catão era de uma antiga família [[plebe romana|plebeia]] que havia se destacado no serviço militar, mas que ainda não havia conseguido desempenhar nenhuma função na [[magistratura romana|magistratura política]]. Foi criado segundo as tradições de seus antepassados [[latinos (tribo)|latinos]] e estudou a [[agricultura]], atividade que desempenhava quando não estava em campanha. Apesar disso, Catão chamou a atenção de [[Lúcio Valério Flaco (cônsul em 195 a.C.)|Lúcio Valério Flaco]], que o levou até Roma e ajudou-o, com sua influência, a galgar os diversos degraus do ''[[cursus honorum]]'': [[tribuno]] em {{AC|214|X}}, [[questor]] em {{AC|204|X}}, [[pretor]] em {{AC|198|x}}, cônsul em {{AC|195|X}} (serviram juntos) e, finalmente, [[censor romano|censor]] em {{AC|184|x}}.
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=== Cognome Catão ===
Os homens das três gerações imediatamente anteriores ao nascimento de Catão haviam recebido o nome de "Marco Pórcio" e, segundo [[Plutarco]]<ref name="Plutarco1">[[Plutarco]], ''[[Vidas Paralelas (Plutarco)|Vidas Paralelas]]'', ''Vida de Catão, o Velho'' 1.</ref>, Catão era conhecido originalmente como "Prisco" (''"Priscus"''); apesar disto, adotou posteriormente o [[cognome]] "Catão" (''"Cato"''). Mas é provável que seu [[:wikt:epíteto|epíteto]] mais comum fosse "Prisco" &mdash; utilizado para distingui-lo de seus sucessores, como o célebre [[Catão, o Uticense]] &mdash; já que não existem registros sobre qual teria sido a primeira ocasião na qual se utilizou o sobrenome Catão. Também é possível que ele tenha ganho o apelido durante a sua infância, como símbolo de distinção, pois as qualidades implícitas no significado deste cognome estavam resumidos no obsoleto título de "Sapiente" (''"Sapiens"''), como ele era conhecido em sua velhice e que foi transformado por [[Cícero]] em seu cognome "formal"<ref>[[Cícero]], ''Laelius, sive De Amicitia'' 2.</ref>. Dotado de grande eloquência em suas dissertações e dotado de um grande estilo [[oratória|oratório]]<ref>[[Juniano Justino]] xxxiii.2</ref><ref>[[Aulo Gélio]] XVII 21.</ref>, atualmente ele é mais conhecido como "Catão, o Velho" ou "Catão, o Censor".
 
=== Ano de nascimento ===
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=== Questor ===
Em {{AC|205|x}}, Catão foi nomeado [[questor]] e, no ano seguinte, começou a desempenhar suas funções, marchando com [[Cipião Africano]] até a [[Sicília romana|Sicília]]. Quando Cipião conseguiu, apesar da forte oposição do Senado, obter a autorização para cruzar para o [[norte da África]], Catão e [[Caio Lélio (pai)|Caio Lélio]] foram nomeados para escoltar a frota de transporte. A relação entre Catão e Cipião não revelava simpatia alguma e não existia cooperação entre o [[procônsul]] e o questor, já que, quando Cipião pediu ao Senado a permissão para levar suas tropas para África para atacar os cartagineses em seu próprio território, Fábio Máximo &mdash; o antigo general de Catão &mdash; se opôs e Catão, cuja nomeação tinha por objetivo vigiar as ações de Cipião, aprovou os pontos de vista de seu antigo comandante.
 
Segundo [[Plutarco]], o relaxamento da disciplina entre as tropas de Cipião e os pesados custos provocados pelo general irritaram o austero Catão, o que provocou uma famosa resposta de Cipião: ''"Eu conto as vitórias e não o dinheiro!"''<ref>[[Plutarco]], ''[[Vidas Paralelas (Plutarco)|Vidas Paralelas]]'', ''Vida de Catão, o Velho'' 3: ''"Cipião lhe respondeu (...) que não precisava de um questor tão severo, pois ele devia prestar conta à cidade de suas ações e não do dinheiro"''.</ref>. Depois desta discussão, Catão renunciou ao seu posto e voltou ao Senado, queixando-se formalmente dos gastos exorbitantes do general. Perante esta petição, secundada por Fábio Máximo, uma delegação foi enviada para investigar os gastos de Cipião na Sicília. Os integrantes não encontraram provas de abuso pelo general<ref>[[Plutarco]], ''[[Vidas Paralelas (Plutarco)|Vidas Paralelas]]'', ''Vida de Catão, o Velho'' 3.</ref>. A versão de [[Lívio]] difere da de Plutarco e assegura que as queixas de Catão eram motivadas por incompatibilidades ideológicas com seu comandante. Se a versão de Lívio for a correta, a delegação foi enviada para tratar das queixas dos habitantes de [[Locri]], que haviam sofrido muito sob o comando de um [[legado]] de Cipião, [[Quinto Plemínio]]. Lívio nada diz sobre uma possível ingerência de Catão sobre o tema, apesar de mencionar a amargura revelada pelo jovem questor em sua queixa ao seu aliado, Fábio Máximo, de como Cipião havia corrompido a disciplina militar e sua marcha ilegal a partir da Sicília para tomar Locri<ref>[[Lívio]], ''[[Ab Urbe Condita libri|Ab Urbe Condita]]'' XXIX 19 etc.</ref>.
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Em {{AC|199|x}} Catão foi eleito [[edil curul]]. Com seu colega Hélvio restaurou os jogos plebeus e autorizou que fosse celebrado um banquete em homenagem a [[Júpiter (mitologia)|Júpiter]]. Foi eleito [[pretor]] em {{AC|198|x}} e recebeu a Sardenha como província, para onde partiu à frente de uma força de {{fmtn|3000}} soldados de infantaria e 200 cavaleiros. Ali, Catão teve sua primeira oportunidade de demonstrar ao mundo suas crenças sobre a obrigação de uma estrita moral pública. Ele reduziu os custos das operações navais, viajou por toda a província na companhia de um único assistente e revelou o forte contraste entre seu modo de vida austero e a suntuosidade com a qual viviam os magistrados provinciais de status ordinário. Os ritos religiosos se celebraram com uma razoável economia, a justiça foi administrada com razoável imparcialidade, a [[usura]] foi perseguida com grande severidade e os culpados foram desterrados. A Sardenha havia permanecido em paz por um longo período, mas se acreditarmos a improvável e carente de fontes versão de [[Aurélio Vítor]]<ref>[[Aurélio Vítor]], ''Origo Gentis Romanae'', 47.</ref>, Catão teria subjugado uma revolta na ilha durante seu mandato.
 
== Consulado ({{AC|195|x}}) e proconsulado (194&ndash;194–{{AC|193|x}}) ==
=== ''Lex Oppia'' ===
Em {{AC|195|x}}, Catão foi eleito cônsul com seu amigo de longa data e [[patrocínio na Roma Antiga|patrono]], [[Lúcio Valério Flaco (cônsul em 195 a.C.)|Lúcio Valério Flaco]], que apresentou Catão à sua futura esposa, Licínia, com que ele se casou aos trinta e nove anos de idade. Durante seu consulado dos dois irrompeu uma grande disputa legal que revelou os arraigados ideais conservadores do cônsul. Em {{AC|215|x}}, no auge da [[Segunda Guerra Púnica]], um [[tribuno da plebe]] chamado [[Caio Ópio]] havia aprovado uma lei chamada ''[[Lex Oppia]]''. O objetivo dela era restringir o luxo desmesurado das mulheres romanas instaurando uma série de proibições, entre elas a de vestir jóias de valor superior a uma [[onça (unidade)|onça]] de ouro, a utilização de vestidos multicoloridos e a utilização de veículos para deslocamentos curtos, de menos de uma [[milha romana|milha]], exceto para comparecer a atos religiosos. Com [[Aníbal]] derrotado e a economia da [[República Romana|República]] novamente próspera, principalmente graças à incorporação dos tesouros cartagineses, não havia necessidade de se continuar seguindo a ''Lex Oppia''. Por isso, os tribunos [[Marco Fundânio]] e [[Lúcio Valério]] tentaram [[derrogação|derrogar]] a lei, mas foram combatidos por seus colegas [[Marco Júnio Bruto (tribuno)|Marco Júnio Bruto]] e [[Tito Júnio Bruto]]. Curiosamente, esta disputa legislativa gerou mais interesse que os assuntos administrativos e estatais, que ficaram em segundo plano. As mulheres de meia idade se postaram no Fórum e interpelavam seus maridos, suplicando-lhes que ajudassem a restaurar os direitos das mulheres romanas. Cada vez mais decididas, as [[matrona romana|matronas]] imploraram aos pretores, cônsules e consulares que derrogassem a lei, pressionando de tal modo o Senado que Flaco começou a ter dúvidas, mas Catão se mostrou inflexível e proferiu um grosseiro discurso cujo teor foi preservado por Lívio. Mas, no fim, as mulheres conseguiram o que queriam<ref>[[Lívio]], ''[[Ab Urbe Condita libri|Ab Urbe Condita]]'' XXXIV 1, 8.</ref>. Cansados da persistência das matronas, os tribunos que se opunham retiraram seus vetos e a odiada lei foi derrogada por todas as [[tribo (Roma Antiga)|tribos]]. As mulheres, para celebrar a vitória, desfilaram em procissão pelas ruas da capital ostentando as mais voluptuosas jóias e vestidos que possuíam, finalmente liberados<ref>[[Valério Máximo]] IX 1. §3.</ref>.