História do tempo presente: diferenças entre revisões

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A discussão em torno da [[biografia]], assim como da incorporação de estudos sobre produção de [[jornalista]]s e [[escritores]] a respeito de [[História|temáticas históricas]], a partir de 1990, seria um dos elementos incorporados ao campo das narrativas e usos do passado.{{Sfn|Schmidt|1997|p=03}} Dentro desse contexto de crescimento e difusão da memória, a partir da década de [[Década de 1980|1980]], se vê também um retorno da biografia e das escritas sobre as trajetórias de vida. Essa questão está ligada ao retorno do sujeito na [[história]],{{Sfn|Avelar|2018}} assim como da própria constituição da [[Nova história|Nova História Política]].{{Sfn|Levillain|2003}} Uma produção determinada como biografia, assim como produções de obras consideradas como históricas por não historiadores, são mecanismos de construção narrativa sobre o passado que mobilizam usos a respeito deste. Livros como [[1808 (livro)|1808]] ou [[1822 (livro)|1822]], de [[Laurentino Gomes]], ou os escritos por [[Eduardo Bueno]] estão nesse debate, já que se referem a mobilizações e estratégias de construção narrativa a respeito do passado,{{Sfn|Paiani|2017|página=100-102}} produzidas em um ambiente e sob uma rede de contatos e a partir de práticas profissionais não acadêmicas.{{Sfn|Bonaldo|2017|p=132}} No caso desses dois autores, é perceptível que suas contribuições são perpassadas pela escrita jornalística, ao tentar transformar o leitor em uma testemunha presencial do passado, buscando eximir o escritor de seu lugar como mediador do passado.{{Sfn|Bonaldo|2017|p=155}} Outro exemplo bastante popular ao discutir esse assunto é a série [[As Ilusões Armadas|As ilusões armadas]], do jornalista [[Elio Gaspari]], que também produz narrativas orientadas pelos princípios jornalísticos.{{Sfn|Ravazzolo|2012|página=107}}
 
Em países como a [[Alemanha]], o [[Brasil]] ou a [[África do Sul]], observam-se os usos de caráter [[Política|político]] dos eventos recentes da história desses países ao se falar de contextos traumáticos ou catastróficos. Em regiões que passaram por [[Nazifascismo|regimes totalitários]] ou [[Ditadura|ditatoriais]], esses debates são suscitados por processos ligados às próprias políticas de reparação materializadas em instituições como as [[Comissão Nacional da Verdade|Comissões da Verdade]]. No caso [[brasil]]eiro, essa discussão é ainda mais visível, pois a criação destas organizações não teve peso [[Direito|jurídico]], no sentido penal, e a intervenção ficou restrita ao processo de construção de narrativas sobre traumas recentes, nesse caso, da [[Ditadura civil-militar brasileira (1964-1985)|ditadura civil-militar brasileira]].{{Sfn|Bauer|2015|página=127}} A própria criação de lugares de memória, como [[acervo]]s, [[Memorial|memoriais]] e [[museu]]s, está atrelada diretamente a noção de usos do passado, pois se refere a processos de construções situados em um [[Presente (tempo)|presente]] que visa narrar um [[passado]] aos olhos da [[contemporaneidade]].{{Sfn|Knauss|2012|pp=152-153}} Um exemplo do debate acerca dos usos públicos e políticos do passado nas discussões públicas sobre a ditadura civil-militar e a constituição de uma memória digital acerca do evento, pode ser visto na própria [[Wikipédia]]. O histórico de edição do verbete [[Ditadura militar no Brasil (1964–1985)|Regime Militar no Brasil]] mostra como pessoas favoráveis ao governo militar no Brasil alteraram a história brasileira para ficar em sintonia com os seus ideais, buscando construir um sentido acerca do passado em um meio de ampla divulgação.{{Sfn|Pereira|2015|páginap=866}} Plataformas virtuais como a Wikipédia são espaços públicos de construção narrativa sobre o passado e de usos públicos e políticos da história.{{Sfn|Bauer|Nicolazzi|2016|p=831}}
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