Lexicografia: diferenças entre revisões

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'''Lexicografia''' é a técnica de redação e feitura de [[dicionário]]s. Faz muito tempo que existem dicionários de um tipo ou de outro, mas a maneira como se faziam dicionários na [[Antigüidade]] e na [[Idade Média]] era muito diferente da que prevaleceu nos tempos modernos. Para começar, os primeiros dicionários eram geralmente bilíngües, glossários que ofereciam traduções de palavras de uma [[língua]] para outra. O período [[idade Média|medieval]] conheceu a produção de dicionários monolíngües, mas geralmente estes dicionários (do tipo [[tesauro]] ou [[thesaurus]]) não adotavam um arranjo por ordem alfabética; ao contrário, as palavras eram agrupadas conforme o sentido (palavras que diziam respeito às atividades da fazenda, nomes de frutas, e assim por diante). Os primeiros dicionários alfabéticos do inglês não eram completos: eram, ao contrário, compêndios de “palavras complicadas”, isto é, de palavras obscuras e difíceis, freqüentemente de origem latina.
 
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== '''PROFESSOR LUCIANO PONTES, DOUTOR EM LINGUÍSTICA, PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO CEARÁ - UECE, E DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA-UNIFOR''' ==
== '''EM BREVE NESSE ESPAÇO TEREMOS EXCELENTES TEXTOS DO PROFESSOR DR. LUCIANO PONTES.''' == ==
 
 
'''1.Léxico e dicionário'''
 
INTRODUÇÃO
No Brasil, atualmente, proliferam as obras lexicográficas utilizáveis no ensino do português como língua materna, que, apesar de suas deficiências e insuficiências, continuam tendo grande aceitação a julgar pelo sucesso editorial de que gozam. O boom editorial deste tipo de obras justifica-se principalmente pela ênfase que os Parâmetros Curriculares Nacionais de língua portuguesa proporcionam ao dicionário escolar como apoio didático fundamental.
Também justifica tal proliferação a política do Ministério de Educação e Cultura (MEC) em distribuir gratuitamente nas escolas o dicionário escolar, incentivando o mercado editorial a lançar várias publicações como obra de referência. Dentro desta mesma política, o MEC tem sugerido a implantação de disciplinas ligadas ao léxico nos cursos de Letras
Diante deste quadro, torna-se necessário qualificar e preparar professores para trabalhar dicionários em sala de aula. Pois o que se tem hoje são profissionais incapazes de incentivar os alunos a ler ou consultar dicionários. Coloca-se então a formação do professor sobre lexicografia escolar como algo muito importante, cabendo ao professor de língua várias tarefas. Segundo Gregório Salvador (apud Hernandez, 1989:35), as principais tarefas do professor de língua consistem em manusear todos os tipos de dicionários, ilustrar e informar sobre eles, criticá-los, assinalar as vantagens e inconvenientes, guiar o aluno no oceano lexicográfico. Logo ensinar pressupõe uma boa formação na área para puder atingir um dos objetivos principais da didática de línguas, qual seja o de orientar adequadamente o aluno no manuseio do dicionário.
Cabe ao professor então fazer o aluno explorar todo o potencial que apresenta este tipo de obra cujo emprego não deve ser exclusivo da disciplina de Língua Portuguesa, mas que se estenda às demais disciplinas escolares e âmbitos da vida. Pois os estudantes aprendem não somente sobre a língua, mas também sobre dicionários, sobre conhecimentos enciclopédicos e científicos. Para tanto, a fim de usar eficientemente e eficazmente dicionários contemporâneos, os usuários precisam ter a compreensão detalhada daquilo que os dicionários de hoje procuram oferecer e de como se estruturam. Somado a isso, precisa desenvolver, ainda, um senso crítico em relação ao dicionário até para conhecer seus limites.
Para atingir esse objetivo, o professor há de conceber o dicionário como um gênero definido pelas características que lhes são peculiares. Abad Nebot((2000:354)categoriza o dicionário como um gênero ou subgênero especial precisamente porque um dicionário responde a características próprias, o que fazem diferente de qualquer outra obra escrita. Concebendo-o, assim, é necessário levar o aluno, a partir de uma metodologia eficaz, desenvolver estratégias específicas para sua leitura. Observam-se características bem marcantes no dicionário, além das citadas em nota de rodapé, como as entradas dispostas, em geral, numa perspectiva vertical e organizadas alfabeticamente ou por campos; e as informações sintáticas, semânticas e pragmáticas ordenadas, numa perspectiva horizontal, com o fim de expressar os usos da língua e o espírito da cultura de um povo.
Conhecidas essas características, se torna mais fácil o aluno esgotar o potencial de informações que o dicionário comporta, não o resumindo na simples função de tira-dúvidas, o que limita extremamente seus usos em sala de aula, quando ele, como gênero didático pode resolver uma enormidade de questões relativas à língua, à cultura e a conhecimentos científicos.
Neste estudo, vale a pena discutirmos então sobre como os dicionários escolares se apresentam em sua constituição. Além de sugerir algumas mudanças possíveis nos produtos lexicográficos à luz de novos achados da Metalexicografia moderna
Nosso objetivo principal é então o de ilustrar um estudo crítico-comparativo com base nos dicionários mais adotados na escola, como Rocha(2005), Ferreira(2005), Bueno(2000), Mattos(2005), Kury (2001), Sacconi(2001) e Luft (2005), Aulete(2005), Cegalla(2005), Hoauiss (2005). Nossa pesquisa se restringe então ao estudo do dicionário escolar, observando suas especificidades no tocante à forma composicional, ao estilo, ao conteúdo temático, o qual se distinguem de outros tipos de dicionários, em função da idade, da instrução e das necessidades dos leitores
O trabalho se organizará em três partes. Na primeira, situaremos o leitor em relação a conceitos fundamentais das áreas voltadas para o léxico. E na segunda parte, apresentaremos a estrutura dos dicionários escolares brasileiros. E na ultima apresentaremos aspectos semióticos presentes em ssua composição.
1. As ciências do léxico
 
Aqui léxico de uma língua se define como um conjunto de palavras, vistas em suas propriedades, tais como as categorias sintáticas, as categorias morfossintáticas, aspectos pragmáticos diversos, informações etimológicas. Além disso, as palavras têm uma representação fonológica e uma representação semântica e estão associadas a um étimo.
O léxico de uma língua é uma entidade ilimitada em várias dimensões, segundo Mateus e Villalva (2006, p.61). Para as autoras, é “Ilimitada no tempo, porque integra todas as palavras, de todas as sincronias, da formação da língua à contemporaneidade; ilimitado no espaço, dado que compreende todas as palavras de todos os dialetos; e irrestrita, na adequação ao real, dado que inclui as palavras de todos os registros de língua.”
O léxico, no entanto, não se constitui apenas de palavras, mas também de unidades ainda menores e que servem para formar novas palavras. Os radicais, os prefixos, os sufixos são alguns dos tipos de unidades menores que a palavra, se juntam para formar, por exemplo, neologismos que os falantes conseguem interpretar porque conhecem as partes que o constituem. Por outro lado, como ressaltam Mateus e Villalva, na mesma obra: ”é no léxico que cabe o registro de expressões sintáticas cuja interpretação requer uma aprendizagem específica”. As autoras se referem às fraseologias, no seu sentido mais amplo.
O léxico se classifica em dois tipos, o geral e o de especialidade. O primeiro integra as palavras que podem ser utilizadas em qualquer contexto discursivo. O léxico de especialidade só encontra adequação em contextos de comunicação sócio-profissional e técnico-cientifico.
São muitas as disciplinas que estudam o léxico. A Lexicologia é uma delas, a par da Lexicografia Teórica, da Lexicografia Prática, da Terminologia, só para citar algumas.
A Lexicologia é a disciplina responsável pelo estudo das palavras de uma língua, em discursos individuais e coletivos. Para Lehmann e Martin-Berthet (1998: xiii ), a Lexicologia tem por tarefa estabelecer a lista de unidades que constituem o léxico e descreve as relações entre estas unidades.
Seu campo de estudo compreende questões relativas à morfologia lexical e à semântica lexical, uma vez que o léxico, não é apenas uma lista de palavras, mas se organiza a partir de dois planos, do sentido e da forma. Krieger e Finatto (2004:45) reconhecem a relação intima entre a Lexicologia e a Gramática, em especial com a Morfologia, envolvendo a problemática da composição e derivação das palavras, da categorização léxico-gramatical; bem como vincula-se aos enfoques sobre a estruturação dos sintagmas, além das relações com a Semântica.
Haensch e Omuñeca(2004:34) ampliam mais ainda o campo da Lexicologia, quando afirmam: “...é uma disciplina que combina em si elementos de etimologia, historia das palavras, gramática histórica, semântica, formação de palavras...”
Esta disciplina tem crescido bastante e redimensionou-se graças à Lingüística moderna, sobretudo com as contribuições da Sociolingüística, da Pragmática, da Lingüística Cognitiva, dentre outras. Com tais contribuições, por exemplo, os estudos do léxico passaram a ser considerados a partir de corpora, formados por anúncios, notícias, textos conversacionais (em registros diversos), veiculados em variados suportes textuais. Desses corpora, emergem sentidos, revelam-se aspectos gramaticais e textuais nunca antes discutidos. Esta é a razão pela qual temas de morfologia relacionados a neologismos, estrangeirismos, questões de formação de palavras, ou aspectos relativos à semântica, como metáfora, polissemia, sinonímia, etc., tornaram-se hoje da maior importância para os estudos lingüísticos modernos.
Uma outra disciplina destinada ao estudo do léxico é a Lexicografia. Esta tem base nos estudos apresentados para o léxico pela Lexicologia . Hernández ( ) define a Lexicografia como disciplina do âmbito da Lingüística Aplicada que se preocupa com os problemas teóricos e práticos que dá suporte a elaboração de dicionários. Para ele, há uma Lexicografia Prática e uma Lexicografia Teórica (ou Metalexicografia). A primeira define-se como uma disciplina que diz respeito ao fazer lexicográfico, à confecção de dicionários.
 
Vale assinalar que a Lexicografia Prática avançou muito graças às contribuições de novas disciplinas teóricas e tecnológicas. Por isso os dicionários então deixaram de ser normativos, para serem mais descritivos, preocupados com os usos de língua e com a educação lingüística de um povo.Para tanto, passaram a explorar o potencial da Informática, mas isso, conforme Pascual(1996:198) “não dispensa de aplicar aos dicionários os resultados da teoria lingüística e da técnica lexicográfica...”., porque afinal de contas, segundo Zampolli( citado por Pascual,1996:198), “ o lexicógrafo é a peça mais importante”.
A Lexicografia Teórica, segundo Porto Dapena (2002:23), é uma disciplina que tem o produto (ou o próprio dicionário) como objeto de estudo e contempla os seguintes campos de ação:
 
A pesquisa da história da Lexicografia.
Teoria da organização do trabalho lexicográfico
Princípios da Lexicografia monolíngüe e plurilíngüe
Estudo crítico dos dicionários
Reflexões sobre a tipologia dos dicionários
Teoria do texto lexicográfico
Reflexões sobre a metodologia de elaboração do dicionário: recolha dos dados, processamento dos dados, uso de ferramentas para a sua produção.
 
As pesquisas no âmbito da Lexicografia Teórica servem de fundamentos sólidos para o fazer lexicográfico e para as discussões relativas à Lexicografia Aplicada. Este ramo dá conta dos estudos do dicionário em sala de aula. O que mais tem se estudado nesta área são as atitudes e as crenças dos alunos diante do dicionário, dificuldades de uso, as estratégias de leitura, etc.
A Lexicografia discursiva, desdobramento da Lexicografia teórica, tem base nos postulados da Análise do Discurso Francesa. Seus seguidores vêem, nos dicionários, discursos. Ao tomar o dicionário como discurso, Orlandi(2002:105) afirma:
 
“ .... podemos ver como se projeta nele uma representação concreta da língua, em que encontramos indícios do modo como os sujeitos – como seres histórico-sociais, afetados pelo simbólico e pelo político sob o modo do funcionamento da ideologia - produzem linguagem”.
 
Por isso observa-se à luz da Lexicografia Discursiva nos discursos aspectos relativos à sociedade e ao modo de vida de uma época.
Nunes (2003:11) vai nessa mesma direção quando afirma que o dicionário “coloca em circulação modos de dizer de uma sociedade”, expressos sobretudo nas definições lexicográficas, nos exemplos de uso e, inclusive, nas decisões tomadas em relação à escolha que o dicionarista faz pelas entradas para compor a nomenclatura do dicionário.
Outro ramo da Lexicografia, que está se desenvolvendo bastante, é a Lexicografia Computacional, disciplina que se encarrega da construção dos denominados dicionários eletrônicos. Esses produtos são estruturados e armazenados em suporte magnético e que se caracterizam, segundo Ortiz (2005), pela multifuncionalidade, quer dizer, eles têm a capacidade de serem aplicados a diferentes fins, sem que haja necessidade de modificar sua estrutura ou conteúdo.
Há, ainda, a Lexicografia Pedagógica (ou Didática), disciplina definida a partir de duas características fundamentais: a escolha de um público definido e de um fim específico. Os dicionários produzidos com tais fins tentam, segundo Humble(1998:66), ”resolver os problemas de um grupo de aprendizes bem definidos, sejam eles iniciantes ou avançados; sejam de uma determinada área de estudo; ou simplesmente de uma determinada língua materna”.
Além das disciplinas referidas, tem-se a Terminologia que, por definição, é uma área cujo interesse são os itens léxicos que representam os sentidos produzidos no interior dos diversos domínios, os quais se tornam importantes na medida em que se encontram nos discursos quotidianos de uma sociedade. Esta se desdobra, ainda, a partir das pesquisas desenvolvidas no âmbito do léxico, em vertentes concebidas em perspectivas diversas. A Terminologia, por exemplo, pode ser abordado com base na Lingüística Cognitiva (nesse caso, tem-se a Terminologia Sociocognitiva), com base na Sociolingüística (tem-se a Socioterminologia), com base na Pragmática (tem-se a Teoria Comunicativa da Terminologia e a Terminologia Textual). Há, pois, como se vê, um número de disciplinas muito elevado para dá conta dos fenômenos relativos ao léxico, demonstrando, assim, a importância dessa área de estudo nos meios acadêmicos hoje.
As várias disciplinas elencadas acima se definem isoladamente como campos distintos, mas se situam muito próximas entre si, por isso as disciplinas do léxico servirão, todas, de base para o trabalho que desenvolveremos aqui.
 
2. Do interesse hoje pelas disciplinas do léxico
 
Pelo reconhecimento hoje do léxico no funcionamento da linguagem, diversas disciplinas, lingüísticas ou próximas a ela, tem-se debruçado sobre questões relativas à palavra, sob perspectivas e abordagens distintas.
Entre as disciplinas lingüísticas que estudam o léxico ( além das ditas ciências do léxico, referidas acima), estão a Lingüística Aplicada, a Lingüística textual, a Análise do Discurso, a Análise Conversacional, a Lingüística Cognitiva ( só para citar algumas disciplinas ).
Além dessas, outras áreas relacionadas à cultura, ao processamento de informação e a linguagem reconhecem a importância dos estudos do léxico, como a Biblioteconomia, a Psicologia, a Antropologia, a Lingüística Computacional, etc
Na Antropologia, o estudo do léxico é fundamental, já que os antropólogos não podem descrever uma cultura sem fazer referência ao vocabulário que as pessoas usam ( ou usavam) ao participar de atividades próprias de sua cultura.
No âmbito da Psicologia, os pesquisadores se encarregam de estudar o desenvolvimento e a organização do léxico mental do falante. As investigações que se centram no estudo da organização da memória há de estudar também a organização da informação léxica e conceitual, assim como a forma que acessamos a informação e a usamos para construir um discurso coerente. Também o estudo das redes neurais facilitaram, nos últimos anos, modelos mais detalhados sobre o acesso à informação léxica e outros processos da linguagem natural.
No âmbito computacional, os dicionários se consideram hoje em dia a base fundamental na construção de sistemas computacionais para possibilitar a interação entre a máquina e o homem.
Hoje há um interesse muito grande em relação ao estudo do léxico, por isso cresce o volume de pesquisas na área e os cursos universitários, Letras em particular, vêm paulatinamente incluindo em sua grade curricular uma disciplina que possa trabalhar o léxico.
Para Ávila Martin (2000: 23-24), este interesse somente foi possível por várias razões do tipo conjuntural, como as seguintes :
 
a) o aumento do número de estudantes de Letras;
b) o desenvolvimento da Lingüística,e de ramos como a Lingüística Aplicada, a didática de línguas estrangeiras ;
c) a execução dos grandes projetos lexicográficos.
 
Também razões teóricas mais profundas movem o interesse pelas ciências do léxico:
 
a) o declive da lingüística de componente sintático, que tem como componente fundamental a frase;
b) o retorno aos posicionamentos que têm redescoberto o vocabulário, o que não quer dizer que houve o desaparecimento das pesquisas em sintaxe, mas a recuperação dos estudos lexicais.
c) O reconhecimento da língua como uso. O uso passou a ser a base de reflexões das disciplinas lingüísticas e de áreas afins, como a Lexicologia.
Tendo base no uso, as disciplinas do léxico crescem em status a cada dia, pois assumem a concepção de palavra, funcionando discursivamente em contextos reais de comunicação. Uma outra forma de conceber a palavra, é considerar-se que a própria palavra é uma forma de ação, hipótese que fundamenta a pragmática lingüística, mais especificamente, a teoria dos atos de linguagem ( Kerbrat-Orecchioni)
Diante das novas abordagens lexicológicas, cabe aqui discutir um pouco sobre o que venha a ser dicionário no sentido de concebê-lo em várias dimensões.
 
3. Dicionário: o que é
 
Segundo Auroux (1992: 65), o dicionário (ao lado da gramática), como tecnologia, descreve e instrumentaliza uma língua, o qual é ainda hoje um dos pilares de nosso saber metalinguístico. Por isso é fundamental que os estudos relativos ao dicionário sejam levados a efeito urgentemente, e reconhecido como um objeto multifacetado, de que resulta várias formas de o examinar e sob várias perspectivas.
Como repertório de palavras, se organiza, na maioria das vezes, através da ordem alfabética por razões de comodidade de consulta. Nele há informações gramaticais, semânticas, pragmáticas, discursivas e sócio-culturais. Desse modo, encontram-se no dicionário aspectos relativos ao gênero gramatical das palavras, sua forma gráfica e sonora, sua etimologia, sua significação, seus valores expressivos, seu modo de emprego, seu grau de especialização em função dos diferentes níveis da língua, etc.
Alvar Ezquerra (1993:168) identifica dois tipos de informações no dicionário, explícita e implícita. Pertence à informação explícita tudo aquilo que o lexicógrafo afirma por meio de enunciados; e à implícita, informações, como, por exemplo, culturais, ideológicas, etc presentes em citações, exemplos e ilustrações. A inclusão ou não, na nomenclatura, de determinadas entradas pode ser uma decisão motivada por razões ideológicas.
Pela capacidade de informar, o dicionário pode ser compreendido como uma obra didática, cuja missão, como afirma Hernandez ( 1989,32), é a de proporcionar informação ao usuário com o fim de facilitar a comunicação lingüística, e cumpre com esta missão
... desde o momento em que o usuário se acerque a ele para ver como se escreve uma palavra, que significa, se pode ser utilizado num sentido determinado, ou em uma construção qualquer, etc”(Alvar Ezquerra....)
 
O didatismo do dicionário faz que este seja um instrumento pedagógico da maior importância, desde que cumpra convenientemente suas funções, entre tantas, a de auxiliar o aluno no desenvolvimento de habilidades de leitura, escrita e comunicação oral.
Para conceber dicionário, Vilela (1995:78) reconhece, ainda, aspectos culturais em sua definição, quando o apresenta como
(.....) o conhecimento genérico culturalmente partilhado por uma comunidade lingüística e codificado no léxico, ou é a codificação desse saber, concebido de forma estática, em suporte papel ou eletrônico, arquivando esse saber e que pode ser consultado por pessoas ou por máquinas.
 
Aliás hoje são unânimes os lexicógrafos que reconhecem o dicionário como objeto cultural. Krieger (1993:10), por exemplo, é mais uma, entre tantos que define o dicionário como sendo um texto que fala da cultura, revelando um universo semântico-cultural através das unidades lexicais que o compõem. Segundo Finatto(1996:97), é possível reconhecer no dicionário indicativos sobre a cultura e valores ético–ideológicos de uma sociedade em determinado período de sua história.
Para comprovar esta afirmação, Finatto( 1996:98) analisou a unidade lexical mulher em dicionários de língua e percebeu algumas nuances valorativas vinculadas à sua significação, inclusive, associadas ao discurso machista.
Podemos, ainda, conceber o dicionário enquanto gênero textual, e, como tal, permite leituras. Mais que isso. Auxilia a produção de outros textos. Por esta razão, segundo Sobrinho, (2000:81) na escola, os dicionários devem ser lidos e não apenas consultados para se localizar respostas. Nebot (200:354) refere ao dicionário como um gênero ou subgênero especial precisamente porque um dicionário responde a umas características próprias que o fazem diferente de qualquer outra obra escrita.
Jean y Claude Dubois (1971:50), abrangendo vários aspectos, define dicionário. Em primeiro lugar, consideram-no objeto manufaturado cuja produção responde à exigência de informação e comunicação. Tem também objetivo pedagógico, posto que é instrumento de educação permanente. Por outro lado, o dicionário está ligado ao desenvolvimento da comunicação escrita e falada. É também objeto sócio-cultural. O dicionário se realiza como um texto, um discurso sobre as línguas e a cultura. Daí poder considerá-lo práxis ou produto, segundo o ponto de vista que se adote. Como produto comercial, muitas decisões são tomadas em função de economia de espaço, determinando regras essenciais a confecção desse tipo de obra. Tem caráter pragmático, desenvolvendo-se em função dos usuários, pois os receptores do dicionário são os que determinam o uso que se faz dele. Ainda, segundo os mesmos teóricos ( op.cit.: 51), o dicionário é uma instituição social e, como tal, pode autorizar ou desautorizar o uso de determinados fatos de língua pela comunidade. Por isso a norma representada no dicionário é concebida como uma imagem ideal, que deverá ser proposta no ensino. O dicionário deve, desse modo, assumir a função de definir a norma lingüística. Logo o dicionário constitui uma referência.
Neves (1996: 196) assim se expressa em relação à autoridade do dicionário” É uma obra de respeito dentro de qualquer sociedade”. Por isso, quando se diz que o dicionário ensina “significa afirmar que a resposta que dá não é simplesmente uma informação, mas uma ordem que deve ser executada. (Ávila Martin, 2000:27).
Podemos enumerar, resumindo o que foi apresentado sobre dicionário, os seguintes traços, que fazem do dicionário uma palavra bastante abrangente:
 
1) repertório de palavras;
2) conjunto de informações gramaticais, semânticas e pragmáticas;
3) representante de um conhecimento genérico-culturalmente partilhado;
4) texto materializado em um gênero
 
E caracteriza-se o dicionário por:
 
 Ter um caráter intertextual, na medida em que suas informações são extraídas de outros textos, as quais, nos verbetes, se apresentam sobretudo nos paradigmas, denominados exemplos de uso (abonações) e definições;
 Ser polifônico, pois muitas vozes se entrecruzam no seu discurso. Daí que Fiorin (1993,100), referindo-se ao Dicionário de Usos, de Borba, coloca: “O DUP levará em conta a pluralidade de usos, na medida em que seu corpus não se constitui apenas da ‘obra dos bons autores’ mas incorpora a fala dos novos atores da palavra operando com o discurso jornalístico, o discurso político,etc.”
 Ser ideológico. É o dicionário um poderoso veículo ideológico. “Em realidade, cada dicionário é fruto de uma ideologia, expressa voluntariamente ou não em suas páginas, que transmite a seus leitores” (Ezquerra,1993). “Pois ninguém informa friamente, ao contrário, explica, esclarece, persuade, impõe, dá instruções (Borba.op. cit.). Os aspectos ideológicos determinam a seleção dos termos para compor a nomenclatura do dicionário, mas expressa-se também através de marcas de uso, das definições e dos exemplos.
 Ter um discurso aparentemente transparente, pela definição mais ou menos considerada como ‘boa’, ‘sem restrições de uso’, intercambiável de um dicionário a outro. Muitos repetem definições de um para outro dicionário. E nos dicionários especializados, procura-se, em determinados modelos teóricos, uma definição universal. Diante dessa “transparência”, o leitor do dicionário não pode ser ingênuo. Devemos ficar atentos para aquilo que Mazière (1989, 59) coloca: “..através de um discurso muitas vezes percebido como transparente, diz seu assujeitamento cultural até pela forma sintática de sua escrita”.
 Ser um texto multimodal, isto é, composto por mais de um modo de representação. Em uma página do dicionário, além do código escrito, outras formas de representação como a cor e o tamanho da letra, a diagramação da página, a formatação do texto, ilustrações visuais, etc interferem na mensagem a ser transmitida. Dessa forma a multidimensionalidade de representações justifica-se em razão de ter o texto lexicográfico uma função essencial, a de ensinar.
Os lexicógrafos são unânimes em colocar a importância de aspectos semióticos na organização de dicionários.
Haensch e Omuñeca (2004:201) salientam os referidos aspectos, ao afirmar:
 
“A tipografia é, em geral, a apresentação de um dicionário devem ser claras e agradáveis para o usuário. Para distinguir os elementos que integram um verbete, se usam diferentes tipos de letras; por exemplo, negrito para o enunciado do lema que encabeça o verbete, cursiva para as explicações metalingüísticas (marcas ortográficas e lexicográficas ) e letra normal para a língua objeto( a que é objeto de descrição ). Esta tipografia é muito usual.”
Sobre tais aspectos, acrescentam, ainda:
 
Em alguns dicionários , por exemplo, no Pequeno Larousse Ilustrado 2001, os lemas que encabeçam cada verbete aparecem em maiúscula, o qual tem dois inconvenientes : o primeiro inconveniente é que não aparecem, em geral, os signos diacríticos (acento gráfico, dieresis); o segundo é que não se distinguem as grafias com maiúscula das grafias com minúscula.
 
Esses são alguns pontos que se destacam como significativos como formas de representação e dizem respeito a multidimensionalidade do texto lexicográfico.
 
 ser uma obra didática, pelo caráter explicativo e informativo que ele se reveste, para, entre outras finalidades, prestar às consultas e às leituras e informar as pessoas de aspectos sócio-culturais e científicos de uma época. Sendo um texto didático, realiza-se como gênero textual, pois se define pelas características peculiares de composição, estilo, conteúdo temático e propósitos específicos, como vem se afirmando a respeito de gênero. Rey-Debove(1994:44), parece conceber o dicionario como gênero quando afirma que o dicionário é, pois, “ao mesmo tempo, uma obra de consulta na qual se exercem escolhas e um texto que tem autores e uma retórica” .Desse modo, há de salientar características do dicionário especiais: é um texto fechado, formado por uma mensagem produzida em uma só direção, do autor ao usuário, e tem caráter metalingüístico constituído de dois níveis, um enunciado definicional ( por outros denominado metalíngua de conteúdo) e metalíngua do signo. Esta alude ao referente da entrada e não ao seu significado, e o enunciado definicional diz respeito ao significado do definido.
O dicionário é, então, como se pode vê, um termo, conceitualmente, que abrange uma multidimensionalidade, pois representa ao mesmo tempo obra de natureza pedagógica, produto comercial e um testemunho da cultura.
Como se visualizam nele esses vários pontos de vista , não se tem apenas um tipo de dicionário. Noutras palavras, observa Porto Dapena(2002:42)
:
.... em realidade não existem tipos puros, senão que todo dicionário, segundo os aspectos sob os quais se considere, pode pertencer ao mesmo tempo a várias classes.
 
Dependendo da predominância de um desses aspectos, podem-se ter tipos de dicionários diversos, com funções e finalidades as mais variadas.
A seguir apresentaremos uma proposta que leva em consideração vários aspectos, sem a pretensão de trabalhar a partir de apenas um critério. Partiremos do principio de que não há um tipo puro na caracterização de um determinado dicionário. Por isso, a seguir falaremos dos vários tipos de dicionário.
 
4.Tipos de Dicionário
 
Como dissemos anteriormente, os dicionários são numerosos e diversos, daí a necessidade de categorizá-los em tipos. Porém há várias tentativas de classificação de dicionário a partir de critérios os mais diversos ou de um só critério.
Apesar das várias tentativas de classificação, poucas contemplam a figura do usuário como ponto de partida. Aliás, as questões entre dicionário e usuário sempre têm sido deixadas de lado. As necessidades de consulta ao dicionário, como observa Hernández (1998:50), “fossem reconhecidas, seriam notáveis os progressos, sobretudo da Lexicografia didática”. Com efeito, todas as decisões tomadas pelos lexicógrafos para a produção de dicionários são tomadas a partir de um grupo de usuário concreto, o qual condiciona a escolha do corpus documental, determina uma macroestrutura particular ( determinado número de entradas e determinado principio de ordenação) e uma microestrutura específica ( determinada seleção e organização da informação em cada entrada).
Há pelo menos 3 tipos de grupos de usuários, segundo Hernández (2000:94) para quem os dicionários são dirigidos:
 
1. Os que possuem um bom conhecimento e domínio do idioma (falantes nativos ou bilíngues.
2. Aqueles usuários que se encontram em período de aprendizagem da língua materna.
3. usuários que se encontram em período de aprendizagem de língua estrangeira.
 
Tal distinção é necessária, porque existem hoje nos países de ponta em Lexicografia Pedagógica alguns tipos de dicionários cujos destinatários são bem definidos: dicionários infantis, dicionários monolíngües para estrangeiros, dicionários gerais monolíngües que vão dirigidos a um público com conhecimento e domínio do idioma. Enfim, A Lexicografia Moderna exige uma determinação exata dos usuários potenciais de dicionários.
Considerando os tipos de usuários apresentados acima, podemos reconhecer os seguintes tipos: os dicionários gerais, dicionários escolares, dicionários de aprendizagem e dicionários especiais..
Sintetizaremos, em um quadro abaixo, adaptado , os tipos de dicionários vistos em função dos usuários a que se destinam, depois do que desenvolveremos definições e caracterizações de cada tipo de per si.
 
 
 
 
 
TIPOLOGIA DOS DICIONARIOS SEGUNDO OS GRUPOS DE USUÁRIOS
 
1
 
Usuários com certa competência idiomatica
DICIONÁRIOS GERAIS
 
2
Usuários que se encontram em período de aprendizagem da língua
 
____________________________________________________________
Como 1º língua ( materna )
DICIONÁRIO ESCOLAR INICIAL
DICIONÁRIO ESCOLAR
____________________________________________________________
Como 2º língua ( estrangeira )
DICIONÁRIO BILíNGÜE
DICIONÁRIO SEMIBILíNGüE
DICIONÁRIO MONOLÍNGüE
3.
Dicionários que não se destinam a grupos especiais de usuários
 
DICIONÁRIOS ETIMOLÓGICOS
DICIONÁRIO DE DÚVIDAS
DICIONÁRIO DE SINÔNIMOS
........................................................
 
Quadro 1: a tipologia de dicionários escolares,segundo os grupos de usuários.
 
4.1. Dicionários gerais, obras que podem apresentar uma extensa macroestrutura e uma microestrutura não tão exaustiva. A microestrutura, neste tipo de dicionário, não pretende explicitar informações consideradas desnecessárias ao pressupor o lexicógrafo que o usuário compartilha com ele os mesmos conhecimentos sobre a língua.
São estas, como se pode deduzir, obras decifradoras mais que facilitadoras da codificação. Ou seja: os dicionários gerais servem mais para a leitura, mas não ajudam o usuário nas tarefas relativas à produção de texto. O usuário desse dicionário possui um bom conhecimento e domínio do idioma, o qual se caracterizam como falantes nativos adultos.
Mas na escola eles têm sua importância para os aprendizes, pelo menos, para o ensino médio. Pois, ao finalizar seus estudos deveriam ser capazes de reconhecer e manejar os grandes dicionários de uma língua, posto que estes serão para sempre seus pontos de referência para ampliar e reciclar, em qualquer fase de sua vida, seus conhecimentos lexicais e em grande parte morfológicos e gramaticais (Carreter apud Ávila Martin,2000)
 
4.2. Dicionários escolares, obras monolíngües usadas por escolares que se encontram em fase de aprendizagem de sua própria língua. Aqui cabe uma subclassificação. Para Ávila martin (2000), há vários tipos de dicionários, se considerarmos como critério de classificação o grau de instrução e idade do aprendiz. É evidente que não é o mesmo um dicionário destinado ao ensino infantil e um dicionário destinado ao ensino fundamental ou ao ensino médio. Daí poder se falar então de dicionário infantil e dicionário escolar propriamente dito.
4.2.1.Hausmann (1989, apud Ávila Martin, 2000) define o infantil como obras destinadas a crianças de menos de 10 anos, que empregam uma tipografia chamativa, contém ilustrações, prescindem das definições convencionais, não empregam abreviaturas e apresentam exemplos em forma de contos ou narrativas. Haensch e Umuñeca apontam as seguintes características para tal tipo de dicionário: 1. uso de letras grandes em livros de tamanho grande; 2. muitos desenhos em cor, algumas vezes fotografias. A ilustração é um elemento básico desse tipo de obra; 3.seleção de um vocabulário reduzido; 4.o grupo de usuário são um crianças até os 8 anos.
4.2.2.Haensch e omuñeca (2004) definem o dicionário escolar propriamente dito, a partir de características bem marcantes. Segundo esses autores, os dicionários escolares hoje apresentam verbetes com toda sorte de informações que vão além da pura definição: ampliação paradigmática que situa a palavra descrita dentro do sistema léxico da língua (sinônimos, antônimos, famílias de palavras) e ampliação sintagmática que descreve o uso contextual das palavras: sintagmas lexicalizados, regime preposicional, valências verbais, colocações, modismos,etc
Ávila Martín (2000:68) sugere que o dicionarista escolar deva delimitar quais as necessidades do aluno para identificar, além do significado léxico, informações ortográficas, sintáticas, morfológicas, etimológicas, entre outras possíveis.
Mas, um dicionário escolar não deve ser excessivamente extenso. Segundo Haensch(1982:127), um dicionário escolar é uma obra de consulta que não deve causar angústia ao aluno com excesso de materiais e que, ademais, há de ser econômico.
Vale salientar, ainda, que uma concepção moderna de dicionário escolar combina um duplo caráter para atender às necessidades do usuário: por um lado, deve caracterizar-se como normativo e por outro deve caracterizar-se como descritivo. Como normativo, e até prescritivo, na medida em que tenta incluir numerosas indicações sobre o uso correto das palavras consignadas, quadros de informação gramatical, palavras ou acepções ditas erradas, etc. Por outro lado, como descritivo, tenta incluir palavras estrangeiras adaptadas ou de uso mais ou menos freqüentes, a incorporação de termos procedentes de gírias, de linguagens técnicas e até de falas dialetais. Em síntese, o dicionário escolar deve conjugar uso e norma.
Segundo Haensch e Omeñaca(2004:162), um dicionário para receber o nome de escolar deveria ter as seguintes características:
 
1.Seleção reduzida, mas acertada, do léxico que descreve, tendo em contas as necessidades do usuário, e não simples redução de um dicionário geral mais extenso.
2.Definições claras e simples, feitas com um léxico que há de figurar no mesmo dicionário, ou, ainda melhor segundo autores, juntar em anexo um vocabulário definidor limitado( defining vocabulary). Para Marin (1991:68), tal vocabulário consta de umas duas mil palavras com o fim de superar a obscuridade de muitas definições dos dicionários gerais, de onde partem os dicionários escolares.
3.O máximo de ampliação paradigmática e de indicações sintagmáticas.
4.Outras indicações úteis, por exemplo, restrições de uso são necessárias.
5.Exemplos de aplicação em forma de frases não muito curtas com um contexto suficiente.
6. Ilustrações que completem a informação verbal, e não somente decorativas.
7.A presença de compostos freqüentes e modismos usuais, ilustrando-os com exemplos.
 
Acrescente-se, ainda, segundo Pérez(2000):
 
8. a inclusão de esquemas, ilustrações, gráficos, mapas,além disso, de apêndices de caráter variado. ((2000:42)
9. no caso de máximo rigor, se parte sempre de um corpus próprio, reunido a partir de todo tipo de materiais léxicos, para poder dispor de informação direta sobre o uso real da língua(p.172).
10.a distinção de dicionários escolares entre aqueles usados no Ensino Fundamental e aqueles usados no Ensino Médio.Essa distinção diz respeito ao âmbito microestrutural e macroestrutural.
11.a ordenação das palavras é – praticamente sempre- alfabética em sentido estrito.
12. disposição tipográfica há de permitir uma legibilidade ótima e uma fácil localização de lemas, acepções,...
13. É importante que se ofereçam instruções claras sobre o uso do dicionário e aclarações sobre o significado das abreviaturas e dos sinais gráficos.
14. a numeração de cada acepção, quando mais de uma.
 
Em síntese, o dicionário para o uso escolar deve cumprir as funções de produção (as de construir os enunciados de que se compõem os textos), por exemplo, a indicação de regime de verbos, construções particulares de certas lexias ou a especificação relativas aos conectores textuais); e, ainda, as funções de decodificar informação ( as de entender os significados e sentidos das palavras dos textos), por exemplo, paráfrases, analogias, exemplificação.
No Brasil, os dicionários escolares, sobretudo os de Borba( ), o tem recebido influências principalmente da Lexicografia anglo-saxônica .
 
4.3. Dicionários de aprendizagem ( leaner’s dictionary), obras que podem ser classificadas em monolíngüe, bilíngüe e semibilíngüe.
4.3.1.Os bilíngües são dicionários usados pelos que se iniciam, em um primeiro momento, a aprendizagem de línguas estrangeiras. Esses repertórios permitem ao estudante decodificar enunciados da segunda língua que esteja aprendendo, mas que não garantem a correta codificação de mensagens por razões bem conhecidas.
Um bom dicionário bilíngüe é mais adequado para as atividades de compreensão que para atividades de produção. Os dicionários bilíngües são muito mais utilizados, sobretudo, no ensino elementar, como afirma Garcia. Além de serem rápidos e fáceis em seu manuseio apresentam outras vantagens.
Os dicionários bilíngües permitem contrastar semântica, sintática, pragmática e culturalmente uma noção em duas línguas diferentes, pelo que se introduz o estudante na língua estrangeira através de conceitos ligados a língua materna ( Bogaards apud Garcia, 16). Tal função não pode ser desempenhada pelo dicionário monolíngüe.
 
4.3.2.Os dicionários monolíngües para estrangeiros (DMA) devem ser distintos dos dicionários monolingues para nativos. Os DMA são ideais para usuários estrangeiros. Apresentam definições que são autênticas explicações, pois são mais claras que as dos monolingues para nativos inclusive em geral constam informações elementares, que podem ser supérfluas em muitos casos para um falante nativo. Devem incluir exemplos que permitem o uso da palavra e aclare o seu significado.
Hoje espelhado pela lexicografia anglo-saxônica propõem-se para tal dicionário definições frásticas , contendo nelas informações valenciais e colocacionais. As informações sintáticas neste tipo de dicionário são do âmbito da regência (regime preposicional). Além das notas de uso,, podem-se encontrar nesses dicionários ilustrações, como informações enciclopédicas e ilustrações, abrangendo figuras, desenhos, quadros, etc., sinônimos, antônimos. As definições são claras, apresentam suficientemente exemplos autênticos ou adaptados de preferência, registram um apêndice gramatical, com os paradigmas dos verbos regulares e irregulares.
Dependem para a elaboração dos DMA da existência de vocabulários fundamentais, o que talvez, segundo Campos Souto(2003:75), justifique a tardia aparição destes inventários em Espanha, pois até 1995 não se tinha publicado dicionário desse tipo.
Em relação ao vocabulário usado na produção da definição, alguns autores, segundo Sabater(1997:7), costumam propor a inclusão de um vocabulário definidor controlado para clarear as definições. Mas este não é o único procedimento para o lexicógrafo atingir este objetivo. Para Sabater, há pelo menos três posicionamentos possíveis: 1)Em primeiro lugar, cabe mencionar a escola em que é contra qualquer tipo de controle de vocabulário. Considera-se que restringir as definições é um modo de proceder artificial e evita a precisão; 2) A segunda escola se mostra a favor seleção de um vocabulário restrito e adequado, indispensável para os redatores de dicionários ;3) uma tendência distinta às anteriores é a opção que escolheu os lexicógrafos de Cobuild. Esses autores julgam problemáticos os vocabulários de definição porque consideram que apresentam dificuldade no momento de explicar o significado das palavras incluídas na lista , que podem ser aquelas de âmbito mais freqüente. Partindo desse motivo, é que se inclinam por escolher outra alternativa para facilitar a compreensão, que consiste em incluir cada lema em sua própria definição e explica-lo a partir de seu uso na produção.
Todos os lexicógrafos, ao seu modo, buscam conseguir definições simples e claras para os usuários, “especialmente os não nativos no caso nos dicionários de aprendizagem”, observa Sabater( 1997: 8).
No dicionário de aprendizagem, palavras populares, regionais e gírias são essenciais na formação de sua nomenclatura. As palavras tabus referidas ao metabolismo e aos órgão sexuais, é importante, enfantizam Haensch e Omeñaca, porque permite ao usuário saber quando não deve usá-las.
4.3.3. Os semibilíngües funcionam como obras alternativas. Concretamente, em um dicionário deste tipo, as palavras estão definidas de forma muito simples na língua que se está aprendendo. Também, se apresenta o lema contextualizado através de exemplos como em um dicionário monolíngüe) e se incluem equivalentes para cada entrada ( como em um dicionário bilíngüe).
Na opinião de Laufer Y Hadar (1997), este tipo de dicionário é o mais apropriado, para todos os níveis e para as atividades tanto de compreensão como de produção. ( Garcia)
Os dicionários didáticos, como já afirmamos antes, têm uma organização bastante peculiar e um estilo particular, determinados pelo tipo de destinatário. As especificidades se dão no plano da macroestrutura – cujo desing se adaptará as necessidades do aprendiz, graduando a quantidade e a qualidade do léxico inventariado -; e no plano da microestrutura - que haverá de ter-se em conta de maneira especial as características concretas do destinatário para a seleção e disposição do conjunto de informações que compõem o verbete .( Fernandez , op. cit :23)
 
4.4.Dicionários especiais não se voltam para grupos concretos de usuários, pois sua finalidade é a de dar resposta a questões muito específicas que não estejam relacionadas com os processos de codificação e decodificação. São exemplos, os dicionários de rimas, de sinônimos, de gírias, etc.
Como se vê, tal classificação de dicionário tem em vista o usuário, a partir de fatores etários e de escolaridade. Obviamente a classificação se centra na idéia de que o dicionário é um texto. Como conseqüência, pressupõe leitor e leituras
 
5. Uma classificação do dicionário escolar com base na quantidade de conteúdo e graus de escolarização do usuário:
Apresentaremos, agora, de forma mais detalhada, uma proposta de classificação do dicionário escolar, com base em Ávila Martín(2000), seguindo os critérios graus de escolarização e número de entradas(ver quadro 2). A terminologia usada em sua categorização reflete a realidade escolar espanhola:
 
 
Usuários numero de entradas
dicionários infantis 6 a 8 anos 1000 a 2000
Primaria 8 a 12 anos 10000 a 20000
Secundária 12 a 16 anos 20000 a 40000
Bachilerato + de 16 anos + de 40000
 
Quadro 2: proposta de Ávila Martin para o dicionário escolar espanhol.
 
A classificação de Ávila Martin representa a produção dos dicionários editados na Espanha, adequando-se às etapas educativas cuja terminologia reflete a educação oficial espanhola. Mas também leva em conta o perfil do usuário do dicionário, em relação aos conhecimentos que eles têm sobre dicionário e sobre língua e suas necessidades de consulta.
Os dicionários infantis são destinados às crianças de iniciação escolar, na fase em que estão adquirindo habilidade leitora. Esses dicionários se baseiam fundamentalmente nas imagens, e só no final incluem uma lista de palavras, com ou sem definição, dependendo das concepções pedagógicas do autor da obra. É o momento de começar a praticar a ordenação alfabética, e naturalmente as devem estar adaptadas ao nível dos usuários e reproduzir ao máximo a metalinguagem natural. Nestas primeiras etapas, se prefere, portanto, a ordenação temática, inclusive a explicação das palavras podem estar dentro de uma narração ou conto.
Os dicionários destinados à etapa de primaria são o de mais recente aparição no mercado espanhol. Estas obras simplificam ao máximo as informações que veiculam; todas incluem indicações de tipo gramatical, ainda que seja exclusivamente a categoria das palavras. Mas seria interessante, já que nessa etapa a criança está aprendendo a ler e a escrever, serem incluídas as indicações sobre ortografia, pronunciação, uso, etc, pois lhes podem servir de ajuda. Lamentavelmente nem todos os dicionários os incluem. Campos Souto(2003:75) acredita que a inclusão do conteúdo enciclopédico em dicionários para o ensino primaria deve ter um peso maior em relação aos outros tipos, para facilitar a compreensão dos usuários.
Os dicionários destinados especificamente à etapa de secundaria, isto é, às crianças entre doze e dezesseis anos, são os que acrescentam o adjetivo escolar ao titulo. Também podemos encontrar muita diferença no número de entradas que contemplam, ainda que estejam entre vinte mil e quarenta mil.
No Brasil, o MEC, em 2006, apresenta uma classificação ( ver quadro 3 e 4), dentro dos critérios ideais, para os dicionários escolares, de certa forma, semelhantes à apresentada para a Lexicografia didática espanhola. Esperamos que no futuro os dicionários escolares venham adequar-se aos critérios propostos pelo órgão responsável pela avaliação dos materiais didáticos, o PNLD, mas isso só é possível se as características do usuário ideal do dicionário, ainda que realizada em tese, determinar as características essenciais e acessórias dos dicionários. “Sem a elaboração de um modelo, a organização do dicionário e a seleção de seu conteúdo ocorrem o risco de não se adequar aos objetivos e necessidades de seu público”( Damin, 55). Em nosso país, torna-se difícil ou quase impossível avaliar determinados dicionários escolares porque não se distinguem das demais obras lexicográficas ou apenas são reduções de uma obra geral, sem se destinar-se um leitor concreto.
Cabe então a questão: como avaliar um material didático sem considerar o publico a que se destina o produto.........
Público-alvo Acervos Ensino Fundamental
de oito anos Ensino Fundamental
de nove anos
Turmas em fase de alfabetização Acervo 1 Composto por dicionários de Tipo 1 e Tipo 2 1ª e 2ª séries 1º ao 3º ano
Turmas em processo de desenvolvimento da língua escrita Acervo 2 Composto por dicionários de Tipo 2 e Tipo 3 3ª e 4ª séries 4º e 5º anos
Quadro 3: classificação de dicionários escolares, segundo o MEC
Caracterização dos Tipos de Dicionários
Dicionários de tipo 1
- mínimo de 1000, máximo de 3000 verbetes;
- proposta lexicográfica adequada à introdução do alfabetizando ao gênero dicionário.
Dicionários de tipo 2
- mínimo de 3.500, máximo de 10.000 verbetes;
- proposta lexicográfica adequada a alunos em fase de consolidação do domínio da escrita.
Dicionários de tipo 3
-mínimo de 19.000 e máximo de 35.000 verbetes;
- proposta lexicográfica orientada pelas características de um dicionário padrão , porém adequada a alunos das últimas séries do primeiro segmento do Ensino Fundamental.
Quadro 4: caracterização dos tipos de dicionário
 
A partir desta proposta, pesquisas como a de Damin (2005) e outras de base empírica que venham a ser realizadas no sentido de delinear um perfil do usuário, possam vir ajudar aos lexicógrafos elaborar dicionários adequados às necessidades do usuário–consulente, por graus de escolarização, faixa etárea, etc
 
5. Outros tipologias de dicionário
Outras tipologias de dicionários são apresentados pelos teóricos. Baseiam-se nos mais diversos critérios. Apresentamos aqui algumas classificações a partir dos seguintes critérios: ordenação de materiais, tipo de suporte(papel ou eletrônico), sistema lingüístico em que se baseiam os dicionários ,etc:.
5.1. ordenação de material (forma de acesso): Quanto á ordenação do material lexicográfico, classificam-se os dicionários em onomasiológicos e semasiológicos.
 
5.1.1. dicionário onomasiológico. Este tipo de dicionário parte de conceitos ou de determinados temas, para os significantes lingüísticos que os correspondem. O dicionário onomasiológico organiza os conceitos em campos conceituais, ao invés de ordenar alfabeticamente. Noutras palavras, esse tipo de dicionário organiza seus materiais em grupos de palavras afins, encabeçado cada um deles por uma palavra que serve de ponto de referência
Hernández (28:989) define o dicionário onomasiológico como aquele que permite mostrar o modo exato ou as formas variadas de mostrar algo, e responde o desejo de achar o vocábulo que designa uma coisa com exatidão ou o mais apropriado para expressar uma idéia. Baseia-se na classificação ideológica do léxico, daí denominar-se também ideológico.
Mais objetivamente o dicionário onomasiológico organiza seus materiais em grupos de palavras afins, encabeçado cada um deles por uma palavra que serve de ponto de referência.
No século XVII, Comenius elaborou o primeiro dicionário onomasiológico. Hoje um dos melhores dicionários desse tipo é o Dicionário Ideológico de la Lengua Española de Julio Casares (Madrid, 1942). Em português, temos o Dicionário Analógico da Língua Portuguesa (Idéias afins), de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, Brasília. Editora Coordenada, 1974 Este autor estrutura os conceitos e signos léxicos de acordo com o seguinte esquema classificatório: I: Relações abstratas/ II: Espaço/ III: Matéria/ IV: Intelecto/ V: Vontade/ VI: Afeições.
Entre os dicionários onomasiológicos, distinguimos o analógico, o ideológico puro e por familia de palavras. O primeiro parte de uma seleção de conceitos e agrupa por ordem alfabética o vocabulário que lhes corresponde. Em um índice alfabético paralelo se dão todos os vocábulos que figuram nestes agrupamentos, remetendo a estas.
a) o dicionário ideológico baseia-se apenas em um sistema de conceitos, sem considerar a ordenação alfabética. Como variante deste tipo de dicionário, temos o dicionário por imagem que registra sistematicamente uma série de figuras de um tema determinado com os nomes de cada uma de suas partes.
b) como outra versão do dicionário onomasiológico, podemos citar o analógico. Este tipo de dicionário é definido por Hausmann (apud Walker,59) como:” a versão alfabética do dicionário ideológico. A entrada “deve ser uma palavra de grande potência onomasiológica, ou seja, uma palavra da qual se pode supor que ela será escolhida como entrada para uma consulta”. Por isso, tal dicionário é muito vantajoso na produção de texto, afirma Walker(, 50). Em um índice alfabético paralelo, se dão todos os vocábulos que figuram nestes agrupamentos, remetendo a estas.
c) o Dicionário de família de palavras se classifica o léxico não pela ordem alfabético-semasiológica, mas por uma ordem semasiológica baseada na formação de palavras, reunindo em família as palavras que têm um elemento em comum, geralmente o radical ou a raiz. Assim, por exemplo, se reúnem em português todas as palavras derivadas do verbo... Ver Haensc
 
5.1.2.dicionário semasiológico. Este tipo de dicionário parte do significante léxico para indicar conteúdos realizados (discurso individual ou coletivo) ou virtuais (sistema individual ou coletivo). Neste tipo de dicionário se explica, quase sempre, o conteúdo dos significantes léxicos. Dá-se, ainda, em geral, uma série de indicações complementares: pronúncia, grafia, regência, contextos, etc. Organizam-se em ordem alfabética. Deste tipo, o Aurélio é um bom exemplo.
5.1.3. dicionário inverso. Outra forma de ordenar a entrada é aquela que aparece no dicionário inverso. Este registra as unidades léxicas em ordem alfabética, mas do final de cada palavra até seu começo. No fundo, se constitui como listas de palavras, uma vez que não fazem referência a nenhum significado. Os dicionários de rima é um bom exemplo deste tipo.
 
5.2.número de línguas. Classifica-se também o dicionário de acordo
com o número de línguas que entram em sua nomenclatura.Pode ser monolíngüe (ou unilíngüe) e plurilíngües que, por sua vez, se subdividem em bilíngües (duas línguas) e multilíngües (mais de duas línguas).
5.3.conteúdo do dicionário. Sobre o ponto de vista do conteúdo, os dicionários podem classificar-se em dicionário de língua, enciclpédia e dicionário enciclopédico.
 
5.3.1. dicionário de língua. Este tipo de dicionário nos fala do conjunto das palavras de uma ou várias línguas e dá a definição delas. Rey-Debove (1971:71), numa posição radical, define dicionário de lingua como aquele que descreve o signo em estado puro, sem relação com a coisa.
São características importantes deste tipo de dicionário: a) sua nomenclatura apresenta todas as classes de palavras, geralmente, com exceção dos nomes próprios, tanto de lugares como de pessoas, e indica-se a classe de palavra de cada item lexical. b) os signos se descrevem linguisticamente : pronúncia, paradigmas de flexão etc. c) as informações sobre o uso dos signos no nível pragmático são necessárias : para cada signo e cada acepção utiliza as marcas de dialeto geográfico ou social, de estilo, etc; d) as definições contidas em seus verbetes consiste em uma caracterização semântica da palavra, a qual se definira pelas diferenças significativas em relação às unidades do sistema do léxico (Porto Dapena,2002:47). As diferenças semânticas se situam internas a palavra, posição defendida, aliás pela Semântica Estrutural.
O discurso do dicionário de língua se define como metalingüístico ( discurso sobre as palavras), enquanto que o da enciclopédia não o é.
 
5.3.2. Enciclopédia. Obra lexicográfica que define conceitos, descreve objetos e narra fatos ou processos mediante descrição enciclopédica . (Sousa,1995:174). Na enciclopédia, pois, as palavras servem de chave de acesso a informação sobre o mundo,
São características da enciclopédia: a) em sua nomenclatura não aparecem as classes de palavras fechadas ( preposições, conjunções, pronomes, artigos, etc) mas somente os nomes das coisas (conceitos,abstratos, pessoas, ferramentas, animais, fatos culturais,etc); b) as enciclopédias incluem desenhos, diagramas, fotografias, elementos que tem a ver com os referentes; c) podem ser traduzidos para outras línguas.
Na prática, a fronteira entre dicionário de língua e enciclopédia nem sempre é fácil traçar. Na verdade, o que ocorre é um contunuo, em cujo extremo se situam esses dois tipos de dicionário e, no centro, se encontra o dicionário enciclopédico , que passaremos conceituar.
 
5.3.3.dicionário enciclopédico. Dicionário em que os verbetes aparecem entrecruzados, com indicações semasiológicas e onomasiológicas, enciclopédicas e outras indicações lingüísticas (etimológicas, fonéticas, gramaticais e até estilísticas).. E, pois, um produto mixto, no dizer de Lara ( apud Hernandez,66,1994), pois combinam o tratamento característico dos signos nos dicionários de língua com informações acerca das coisas designadas por esses signos.
O dicionário enciclopédico nos fala do conjunto das coisas duma civilização e que dá a definição delas. Sua nomenclatura é essencialmente nominal e inclui especificamente nomes próprios e ilustrações com legenda nominal. Neste tipo de dicionário, se tratam as palavras gramaticais de maneira lingüística e os nomes de maneira parcialmente enciclopédica .( Rey, apud Hernandez, 1994:67)
Como se vê, normalmente, um dicionário enciclopédico dá, em principio , a maioria das informações que um de língua , como a pronúncia em alguns casos, as formas plurais irregulares, a conjugação dos verbos, os sinônimos e antônimos , etc e mais: informações sobre as coisas,e os conceitos. Acrescente-se a isso informação cientifica, geográfica , política , histórica , topográfica com vocação universal ( Sousa,1995:136). Trata-se, então, de uma obra heterogênea , que participa das qualidades de de um verdadeiro dicionário e de uma verdadeira enciclopédia ( Hernandez,1994,67)
Esta obra é destinada ao grande público, não especializado, de cultura mediana.
São características do dicionário enciclopédico, segundo Sousa( 1996:136):
 
1. seu conteúdo se apresenta organizado em ordem alfabética
2.Os verbetes de certa entidade vão assinados pelos seus redatores.
3.Os diretores e organizadores da obra são especialistas em Lexicografia
4.inclui biografias de cientistas, técnicos , artistas, personagens populares, etc. assim como nomes geográficos
5.ilustra-se com fotografias , desenhos, esquemas, mapas, planos, etc.
6.os verbetes de extensão podem ir acompanhados de uma bibliografia proporcional a extensão e a qualidade do tema tratado.
7. Os verbetes se interrelacionam mediante adequadas remissões de uns a outros para completar a informação acerca de um tema.
8.Prever-se a publicação de suplementos para atualizar a materia
 
Além dessas, acrescentamos:
 
9. Nestes dicionários não há separação entre palavras da lingua comum e as terminologias
10. Incluem elementos que provem do conhecimento cientifico
 
Os dicionários enciclopédicos são híbridos, por isso tem “a macroestrutura de um dicionário, mas também características de enciclopédia ...” (Bejoint 2000 apud Welker,2004, 46)
Com efeito, parece difícil ou impossível hoje, separar em categoria estanques o dicionário de língua, dicionário enciclopédico e enciclopédia. Talvez seja melhor considerar a questão do enciclopedismo em graus, do mais ao menos grau de enciclopedismo.. Dicionários de língua puros são raros, o que existe é dicionário mais ou menos enciclopédico. Os dicionários lingüísticos ou definitórios foram arquitetados, pelos estruturalistas, mas que hoje cedem lugar aos dicionários enciclopédicos. Basta consultar a entrada mormismo no minidicionário aurélio (2001), para observar o quanto o verbete tem de enciclopedismo, até porque as informações desta natureza são importantes para o aluno compreender melhor suas lições escolares. Para Hernandez, não há limites precisos entre os tipos de obras referidas e inclusive defende a inclusão de dados enciclopédicos nos dicionários escolares, pois pode ajudar o estudante a construção de sentidos :
 
O dicionário de língua pode ser uma obra de maior ou menor conteúdo enciclopédico e a enciclopédia pode possuir mais ou menos caráter lingüístico ; as diferenças só são de grau e unicamente dependem da finalidade e orientação que se lhe quer dar. ( Hernández, 1994:64)
 
Nos dicionários culturais de língua , por exemplo, há conteúdos marcados enciclopedicamente porque provém da heterogênea configuração da língua socialmente considerada e respondem às necessidades de informação relativas ao conhecimento das coisas. (Hernandez,1994:66)
Para Lexicografia contemporânea, afirma ( Martin), o significado de uma palavra tem um caráter histórico e antropológico cujo principal objetivo e organizar o sentido do mundo real para a comunidade lingüística . Desse modo o autor vem se contrapor a concepção de língua , vista apenas em sua relações internas. Também não é mais possível entender que os conceitos na língua são construídos a priori em relação a forma, numa visão estática de linguagem.
Finalmente, vale colocar, ainda, alguns pontos em favor do dicionário enciclopédico:
 
1 A descrição do objeto é inseparável da definição do nome ( Haiman, apud Bosque,1982:115) :
2. Entre as finalidades que persegue o dicionário, figura a de ajudar o sujeito a reconhecer ou identificar as unidades que o constituem, o usuário deverá reconhecer o significado dos componentes da definição, em termos mais simples que a unidade léxica que se analisa.( Bosque,1982:112)
3. A hiper-especialização da informação é problemática por vários motivos: Em primeiro lugar, a complexidade da definição não supõe uma vantagem considerável para o usuário . Em segundo lugar, as definições lexicográficas deveriam, frente ás enciclopédias, refletir o caráter esteriotipado que muitos conceitos possuem na consciência do falante ordinário. O substituir tais protótipos ou esteriótipos por descritores hiper-especificos não facilitaria ao trabalho de reconhecimento.( Bosque,1982:112)
Podemos concluir com Weinreich(apud Bosque, 1982:116: “Cremos, em resumo, que o lexicógrafo não pode deixar de incorporar aos dicionários as definições enciclopédicas posto que isso só redunda em beneficio para o usuário ”, sobretudo para o usuário-escolar.
 
5.3.4. a função que os dicionários desempenham( papel do emissor ou do receptor). Quanto às funções que os dicionários desempenham, os dicionários podem ser classificados em dicionários de produção e dicionário de recepção.
a) o dicionário de produção (ou ativo ) serve para auxiliar a produção de textos. Neste tipo de dicionário, as indicações sobre o uso contextual das palavras, exemplos de aplicação, regência, restrições de uso ( notas de uso), etc, são essenciais.
b) o dicionário de recepção( ou passivo), ao contrário, serve, em primeiro lugar, para compreensão escrita ou oral. Sua função é dar ao leitor/ouvinte o máximo de informações para entender um texto. Por isso, trata-se, na maioria dos casos, de dicionários de definição.
Hoje em dia, muitos dicionários pretendem cumprir, de uma só vez, as funções de um dicionário de recepção e de produção, os quais supõem, evidentemente, que sua microestrutura seja muito completa.É o caso dos dicionários escolares e de aprendizagem.
 
5.3.4.. Seleção do léxico. Classificando os dicionários segundo a seleção do léxico que registra, temos :
 
a) dicionário geral. Dicionário em que pretende aproximar-se do ideal de descrever é documentar o léxico de uma língua .” Ainda assim, este ideal è sempre intangível, já que o léxico cresce em progressão geométrica hoje em virtude da grande aceleração das mudanças socioculturais e tecnológicas. A rigor, nenhum dicionário por mais volumoso que seja, dará conta integral do léxico de uma língua de civilização.( Biderman,,133)
b) dicionário especial: o que descreve unidades léxicas selecionadas por algumas de suas características. São exemplos deste tipo: dicionário de dialetos, dicionário popular, dicionários técnicos e científicos, de hipocorísticos, de anglicismos, de galicismos.
c) dicionário especializado(ou terminológico), aquele que registra a terminología de uma ciência, técnica ou arte. Este tipo de dicionário pode organizar-se, do ponto de vista da ordenação dos verbetes, alfabeticamente ou por campos conceituais. Do ponto de vista da microestrutura, os paradigmas se organizam horizontalmente (no verbete) bem diferente(inclusive a formatação ) da do dicionário geral. Faz parte da microestrutura, em geral, termo, entrada, definição, contexto, remissivas Observe um exemplo de verbete extraído de Farias e um outro, extraído de Alves, respectivamente:
 
De Alves (1998):
 
euro sm
Moeda que será implantada na Europa a partir de 1999 e terá circulação livre por todos os países pertencentes à União Européia.
Declarações do ministro da Fazenda bittânico , Gordon Brown, de que o Reino Unido não vai aderir ao “ euro” ( a moeda única européia) em 1999 provocaram confusão nos meios político e financeiro de Londres no fim-de-semana. Brown, mudando declarações anteriores, afirmou ser “pouco provável” que o Reino Unido adote a nova moeda em 1999, ano de sua implantação .(FSP,20-10-97, p.1.12, c.3)
Sin. moeda única européia
Cf. União Européia
No verbete proposto por Alves, sua microestrutura se constitui de uma entrada, seguida de uma definição, de um contexto, sinônimo e remissiva.
Rayon s. m. s.
VER raion
Nota: Empréstimo do inglês.
 
Como se observa nos exemplos acima, a constituição do verbete, bem como sua disposição, a ordem dos paradigmas, os símbolos se apresentam diferentes do verbete que faz parte do dicionário geral. Em relação à macroestrutura, o dicionário terminológico também se distingue dos outros tipos de dicionários, em geral, se organiza onomasiologicamente em oposição aos dicionários escolares, por exemplo, que se organizam semasiologicamente.
Apesar de, em termos clássicos, as fronteiras rígidas entre os dicionários de língua comum e de língua de especialidade se façam rigidamente, hoje as diferenças não sejam tão claras assim. Fernández- Sevilla, em 1974, com muita lucidez, já assinalara tal fato, quando coloca que não existe um limite claro entre o vocabulário de língua especializada e de língua comum- “pois de fato se produz uma simbiose entre ambos - e, portanto, não parece adequado , ao menos do ponto de vista prático, negar o caráter lingüístico de um dicionário que estuda os termos de tipo cientifico ou técnico. (p.119-120). Também do ponto de vista teórico não se sustenta a distinção, se concebermos a língua como uso. Sendo assim, as obras lexicográficas e terminológicas, respectivamente, apoiadas na língua comum e na língua de especialidade, também não podem ser vistas tão rigidamente distintas. Por isso poderão ter pontos comuns e pontos diferentes, em relação a sua organização e sua constituição.
5.3.5.Sistema lingüístico em que se baseiam os dicionários.
A classificação dos dicionários diz respeito ao conjunto de materiais recolhidos para sua elaboração. O que colocamos tem base em Haensch e Omeñaca(2004,62):
 
a) o dicionário se baseia em um corpus formado por um conjunto enorme de textos escritos e orais, às vezes, completados pelos resultados de pesquisas orais e escritas( geralmente com ajuda de questionários). Os trabalhos de Atlas, por exemplo, podem ser importantes para esta complementação.
 
b) O dicionário se aproveita de dicionários de outros dicionários e, por isso, carece
de originalidade, a não ser que se acrescentem muitos materiais novos e se
eliminem palavras desusadas. Desse modo, é necessário averiguar:
 
- se uma unidade léxica se usa ainda ou já caiu em desuso;
- se a unidade em questão não mudou de registro( nível de estilo), já que uma palavra coloquial pode passar para o nível padrão e uma gíria pode passar para o nível coloquial
- se a finalidade do dicionário justifica a inclusão de uma unidade léxica ou sua rejeição, atendendo a razões diversas: espaço disponível, freqüência no uso atual, grupo de destinatário, etc
 
c) Um dicionário pode basear-se também em um dialeto, quer dizer, no sistema lingüístico individual de uma pessoa. Este é o caso de de vocabulários que registram o léxico usado por um romancista, por exemplo.em todas as sua obras ou em uma delas.
d) Um dicionário pode basear-se também na soma de idioletos de um
grupo de pessoas. O dicionário acadêmico é um bom exemplo deste tipo de dicionário
 
5.3.6. atitude lingüística
 
a) Dicionário descritivo. Este tipo de dicionário registra uma seleção representativa do léxico usado realmente, sem critério purista ou restritivo( Sousa,1995). Por isso, segundo Haensch (1997:54) , o dicionário descritivo compara-se a uma fotografia ou a uma gravação de som, registrando a realidade da língua com seus “barbarismos”, estrangeirismos, neologismos, etc.
O dicionário de uso é um tipo de dicionário descritivo. Este é de caráter descritivo e sincrônico. Apóia-se nas contribuições da Semântica, das teorias sintáticas e da Pragmática. Seleciona as palavras mais freqüentes. Buscam registrar palavras que cumprem uma função no sistema lingüístico e que estão determinadas pelo uso. Desse modo, a tendência purista cede lugar ao critério do uso, seja este o padrão culto ou não. A partir dessa nova concepção, os dicionários passam a incluir neologismos e estrangeirismos, pois considera-se que tais palavras cumprem uma função legítima na língua e estão aprovadas pelo uso.
Consideram-se os usos nas modalidades falada e escrita de uma comunidade em um momento determinado, sem levar em conta critérios puristas nem normativos.
O dicionário de uso caracteriza-se como um dicionário de lingua. Alem de conter as informações deste, sua microestrutura contempla, ainda, uma parte sintagmática e uma parte paradigmática. A parte sintagmática trata sobre o uso contextual das unidades léxicas, compreendendo exemplos de uso, construções, fraseologias, modismos, valências verbais, regime preposicional( disposto a), etc. A parte paradigmática, por outro lado, situa as palavras-entrada dentro do sistema léxico da língua, assinalando sinônimos, antônimos, palavras da mesma família ou remetendo a elas.
b) Dicionário normativo (prescritivo).O dicionário normativo preocupa-se com o “bom uso”. Dito de outra forma: dicionário que se registra o léxico que se considera padrão ( Sousa,1995). Em geral se caracteriza por constar em sua microestrutura exemplos extraídos dos clássicos e apresenta muitas marcas de restrições de uso. Não há registro de gírias , palavrões , estrangeirismos e neologismos.
MalKiel (apud Walker,2004: 183) apresenta a seguinte classificação para os dicionários normativos: 1) a obra e elaborada com intenções normativas, quer mostrando extratos de discurso exemplares ou simplesmente omitindo fatos lingüísticos inadmissíveis, quer chamando a atenção para os “erros”.quer indicando as formas corretas; 2.) a norma transmitida pelo dicionário pode representar o gosto do(s) autor(es) ou a opinião de uma instituição reconhecida; 3) a norma expressa pode restringir-se a nomenclatura ( por exemplo, exclusão de estrangeirismos) ou dizer respeito também à ortografia, ortoepia ou sintaxe; 4) a norma é baseada no uso dos melhores autores do passado ou do presente, ou os dicionários dispensam tais modelos.
São considerados dicionários normativos os que pertencem a este tipo: os dicionários acadêmicos, os dicionários escolares, os dicionários de dúvidas e dificuldades, os dicionários de pronúncia, os dicionários ortográficos.
Aqui vale a pena comentar sobre a clássica distinção entre dicionário descritivo e normativo. Hoje tal distinção não é tão rígida , uma vez que o dicionário é inerentemente normativo. Haensch (1997:54), por exemplo, afirma lucidamente que qualquer dicionário, normativo ou descritivo, bom ou mau, pelo mero fato de sua publicação e difusão produz, até certo ponto, um efeito normativo. Por esta razão, WalKer fala de vários tipos de normatividade. Na verdade, pode-se considerar a normatividade nos dicionários como questão de graus. Como afirma Ávila Martin(2000:39) “ ...não há uma separação estrita entre os aspectos descritivo e normativo, que podem aparecer mesclados (....), embora junto com os dicionários puramente descritivos ( dicionários de uso), existam dicionários cuja finalidade é claramente normativa ( prescritiva)”. Assim o dicionário de dificuldades, de duvidas ou ortográfico, por exemplo, e do tipo prescritivo; já o dicionário escolar tem traços normativos e descritivos, definindo-se como uma obra mista.
Para WelKer, temos vários tipos de normatividade: (1) a intenção de ser normativo é explicitada; (2) tal intenção é velada; (3) o dicionário quer ser descritivo, mas sem revela-lo, privilegia certos usos; (4) o dicionário descritivo escolhe, declaradamente, o registro neutro de uma norma culta.
Se considerarmos desse modo, muitas vezes se torna difícil classificar determinados dicionários como normativo ou descritivo. A meu ver, é possivel, de forma geral, caracteizar os normativos como tendo base na norma normativa, e os descritivos, na norma normal, concebida por Coseriu.
Portanto, para reconhecer a normatividade como constitutiva do discurso dicionaristico, isso só é possível se considerarmos todos os tipos de normas, as já referidas anteriormente. No caso dos dicionários de uso, por exemplo, podemos caracteriza-los como normativo ( norma normal), quando se observam indicações do tipo no interior do verbete, como afirma Welker(2000:195): “ se você quer mostrar que você é culto- ou que pertence a determinada classe social – deve usar tal ou tal estrutura.Sem ordenar, obviamente.. Em outros termos, Ignácio ( 1996:119) reconhece a norma normal nos dicionários descritivos, quando afirma:
Em principio, um dicionário de usos não tem evidentemente, como objetivo precípuo prescrever o uso da língua, mas sim descrever a maneira como a língua esta sendo usada. No entanto, o usuário que se propõe consultar um dicionário normalmente o faz para se inteirar da maneira correta, ou usual, passa a assumir também uma função normativa.
 
De onde se pode concluir que mesmos os dicionários de uso de certo modo são normativos, pois “ Há que assinalar que todos os dicionários , pelo mero fato de codificar e difundir um determinado tipo de vocabulário já produz um efeito normativo (Ávila Martin,2000: 45). E quando se falar de normatividade, que se reconheça graus, sem visar distinguir rigidamente de per si os tipos descritivo e normativo.
Alguns lexicógrafos implicitamente já observa graus de normatividade. Podemos citar Quemada que classifica os dicionários normativos ( em oposição aos socioculturais ) em três tipos:descritivo, normativo e corretivo. Exclui da lista os escolares, pois para ele os caracterizam como sococulturais.
Com base nestes elementos, propomos três tipos de dicionário, tendo em vista as variedades de norma referidas:
 
a)dicionário normativo, que tem por objetivo estabelecer um modelo léxico , baseando-se para isso nos textos dos bons escritores e de pessoas cultas em geral. Apresenta, pois, um uso ideal, com base em critérios puristas. (Porto Dapena,2002: 67).
 
b)dicionário normativo e de norma de uso ( híbrido), aquele que se define pelo fato de registrar marcas ou observações normativas e apresentar, por exemplo, definições construídas com palavras usuais e uma nomenclatura extraída de um corpus.O dicionário hibrido, desse modo, conjuga uma função de descrição e uma função de prescrição, ou seja, ele assume um papel normativo e deve refletir as verdades socialmente admitidas pelo uso.
c) dicionário normal, do tipo de uso, se baseia em uma norma real. Ou seja, não se preocupa pela correção ou incorreção, mas pelo uso real do vocabulário, sem considerar quaisquer critérios puristas.
 
Do exposto,, pode-se afirmar que os dicionários não se classificam como normativo e descritivo, de forma estanque, mas deve ser tratados num contínuo, considerando uma escala que considera graus de normatividade: do mais normativo para o menos normativo ou descritivo. O dicionário escolar entendemos entrar nesta escala: o dicionário de Sacconi(2001), por exemplo, classifica-se como extremamente normativo ou do tipo corretivo, para Quemada( ); já Ferreira(2005), se pode vê-lo como menos normativo.Borba ( 2004), por exemplo, caracteriza-se como descritivo, com base em corpus previamente construído para sua produção.
5.3.7.Quanto ao suporte. Se atendermos a natureza do suporte, os dicionários podem ser:
 
a).dicionário convencional, ou estático, é aquele que tem forma de livro, o suporte mais tradicional e mais antiga dos dicionários.
2.dicionário eletrônico, ou dinâmico, classifica-se por sua vez em on line e off line.
 
Os dicionários off line são aqueles que têm forma de CD-ROM ou disquete. Esta última forma foi substituída praticamente pelo CD-ROM, pois a capacidade e as funções deste suporte superam em muito as que proporcionam o disquete. O CD oferece ao usuário grandes vantagens, entre as quais destaca a capacidade de armazenamento muito superior ao que oferece o dicionário de papel e uma rapidez no acesso.
Os dicionários on line, por outro lado, se consultam em rede( on line), na Internet, que oferece ao usuário enormes vantagens pela facilidade que supõe o acesso em qualquer momento a múltiplos repertórios das mais variadas áreas ou domínios. A rede nos permite consultar um número amplíssimo de dicionários, glossários , vocabulários, etc, que estão em constante atualização. Mas apresentam também desvantagens, principalmente no que diz respeito a dois pontos: custo alto do produto e acesso apenas por computadores.
Leffa(2007) apresenta, entre outras características especificas ao dicionario eletrônico, as seguintes :
 
o dicionário eletrônico é extremamente
maleável: pode ser facilmente compactado, ampliado e atualizado,
sem grandes custos de produção. Além de textos e imagens
pode incluir também animação, som e vídeo. Tem finalmente a
característica da invisibilidade, só aparecendo ao usuário quando
solicitado e mesmo assim mostrando apenas o verbete ou o dado
solicitado, ocultando todo o resto dentro do computador ou no suporte
que o sustenta. É impossível perceber um dicionário eletrônico
em toda sua extensão.
 
E mais adiante o mesmo autor coloca:
 
Em um dicionário eletrônico, devidamente instalado e considerando um texto exibido na tela do monitor, a busca pode ser feita de modo quase instantâneo, com um ou dois cliques do
mouse. Na medida em que o texto digital, pelo seu baixo custo
de produção, permite a segmentação do verbete em inúmeros
subverbetes, é possível criar uma entrada para cada expressão
idiomática, facilitando ainda mais a busca da informação específica desejada pelo usuário. Os dicionários eletrônicos também
podem ser sensíveis ao contexto (PRÓSZÉKY & KIS,
2002), detectando no texto a expressão idiomática ou qualquer outro segmento para exibi-los ao leitor.
 
O autor caracteriza, distinguindo os dois tipos fundamentais, o eletrônico e convencional e apresenta, ainda, a vantagem pedagógica daquele sobre este ultimo, qual seja a de facilitar a consulta sem que o consulente se afaste do texto que está lendo.
No Brasil, hoje em dia, os dicionários de língua podem se apresentar de varias formas. Os dicionários mais utilizados estão ainda em suporte livro, a forma mais antiga e mais comum; e em suporte eletrônico offline, mais raramente. Do último caso, temos as variedades de dicionário principalmente em CD e em livro. O miniAurélio( 2005), por exemplo, já aparece em dois suportes, em livro e em CD.
Como se vê, as classificações se cruzam sempre num ponto. Assim o dicionário escolar se caracteriza por ser normativo, ao mesmo tempo produtivo e receptivo, semasiológico, eletrônico ou não e assim por diante. O dicionário não é puro, pelo contrário é o resultado da mistura de vários tipos, delineados aqui.