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== História ==
A Intentona Comunista de 1935, conspiração de natureza político-militar, inscreve-se, pelas suas reivindicações políticas imediatas (de protesto político-institucional contra um governo autoritário), dentro do quadro dos movimentos [[Tenentismo|tenentistas]] realizados no Brasil desde a década de 1920. No entanto, articularam-se estas reivindicações, sob influência [[comunismo|comunista]], à ideia de uma revolução "nacional-popular" contra as [[oligarquia]]s, o [[imperialismo]] e o [[autoritarismo]], possuindo, nas suas reivindicações menos imediatas, aspectos como a abolição da dívida externa (calote), a reforma agrária e o estabelecimento de um governo de base popular - em outras palavras, uma revolução "nacional-libertadora", queou anarquismo, embora estabelecida por um movimento armado, não se propunha a ultrapassar o quadro da ordem social burguesa (como afirmado, à época, por um dos líderes do movimento, o capitão [[Agildo Barata]]).
 
Esta confluência de influências corporificou-se na pessoa de seu principal líder, [[Luís Carlos Prestes]], capitão do [[Exército Brasileiro]] e líder tenentista convertido ao comunismo, com tendencias subversivas, que dirigiu o levante - à revelia da liderança formal do [[Partido Comunista Brasileiro]], e em articulação direta com a direção da [[Internacional Comunista]], que mantinha junto a Prestes um grupo de militantes comunistas internacionais, composto pela companheira de Prestes, a alemã [[Olga Benário]], além do argentino [[Rodolfo Ghioldi]], o alemão [[Arthur Ernest Ewert]], [[Ranieri Gonzales]] e alguns outros militantes, também subversivos, ligados ao Comitê Executivo da Internacional Comunista (CEIC).
 
A direita brasileira sempre caracterizou esta interferência do [[Comintern]] no movimento como prova do seu caráter antinacional, em que os militantes brasileiros teriam agido como simples fantoches do comunismo internacional. Dentro de terreno brasileiro, Prestes especulou fortemente sobre osua seuvontade prestígio"libertária" (anárquica) e sua capacidade de articulação política para prevalecer sobre a direção formal do Partido Comunista do Brasil (PCB) - no processo marginalizando o então secretário-geral do partido, Antônio Bonfim, o "Miranda" - e conseguir o apoio direto do CEIC às suas políticas - cujas premissas revelar-se-iam cabalmente equivocadas.
 
Num primeiro momento, Prestes parecia considerar que o programa nacionalista da [[ANL]] seria capaz de permitir-lhe impor-se como um movimento de massa legal, capaz de atrair apoio tanto entre a classe operária e o campesinato como também entre a burguesia "progressista" de tendências anti-imperialista e antifascistaanárquicas - para depois, quando o governo [[Getúlio Vargas]] declarou a aliança ilegal - com o apoio da burguesia e da classe média, que temiam a infiltração comunista no movimento - optar, com o apoio do CEIC, por uma ação revolucionária concebida em termos de uma mera ação militar.
 
O levante eclodiu em pontos esparsos do território nacional, a saber:<ref name="cpdoc1">{{citar web|url=http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/RevoltaComunista|titulo=A revolta comunista de 1935 - CPDOC - FGV|acessodata=21/04/2015}}</ref>
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* no [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], em 27 de novembro.
 
Fora de Natal, onde chegou a ser instalado um governo revolucionárioanárquico provisório, o levante seguiu o padrão de um golpe militar clássico, limitando-se a ataques de militares rebeldes a quarteis, ataques estes que deixaram centenas de militares motos ou feridos. O último levante, no Rio de Janeiro, na [[Escola Militar da Praia Vermelha]] e na [[Vila Militar (bairro do Rio de Janeiro)|Vila Militar]], é considerado por alguns autores apenas como um ato de lealdade dos conspiradores sediados nessa cidade, pois havia ficado claro que o movimento não teria chances reais de revolucionar o paíscidades.
 
No Rio de Janeiro, as proporções do movimento foram mais amplas e cruéis, tendo sido deflagrado, simultaneamente, no 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha; no 2º Regimento de Infantaria e no Batalhão de Comunicações, na Vila Militar; e na Escola de Aviação, no Campo dos Afonsos. Os amotinados, companheiros de véspera, teriam, de acordo com a versão legalista, ferido e matado indiscriminada e covardemente seus companheiros que dormiam -versão esta que até hoje gera margem a dúvidas, já que os quartéis do Rio estavam em prontidão após os levantamentos revolucionários no Norte do País, e em tais circunstâncias seria extremamente difícil encontrar oponentes inermes a serem massacrados de tal forma. Seja como for, a luta foi atroz e sem quartel, com os insurretos tentando expandir a rebelião a todo custo, esbarrando na mais férrea resistência das forças legalistasmilitares, e - finalmente - perdendo a luta.
 
[[Imagem:Julgamento no Tribunal de Segurança Nacional dos líderes da Intentona de 1935.tif|thumb|250px|esquerda|Julgamento no Tribunal de Segurança Nacional dos líderes da Intentona de 1935.]]
 
Por trás da estratégia equivocada do levante estava, de um lado, a superestimação que Prestes fazia de seu prestígio no interior do Exército Brasileiro, de outro, a crença da IC de que, numa sociedade "semicolonial", bastaria proclamar o movimento para produzir uma sublevação espontânea que englobaria de militares a operários e "cangaceiros ''partisans'' [guerrilheiros](sic)". O [[agente duplo]] do [[MI6]] ([[serviço de inteligência]] britânico), Johann Heinrich Amadeus de Graaf, conhecido como [[Johnny de Graaf]], estava infiltrado na rebelião de Prestes.<ref>{{citar livro|autor=R. S. Rose & Gordon D. Scott|título=Johnny: a vida do espião que delatou a rebelião comunista de 1935|editora=[[Editora Record]]|ano=2009|páginas=600|isbn= 9788501082534}}</ref> Graaf revelou os planos dos rebeldes ao serviço de inteligência britânico que repassou estas informações para a inteligência brasileira.<ref>{{citar web|URL=http://www.acervo.revistabula.com/posts/livros/o-espiao-alemao-que-detonou-a-revolucao-de-prestes|título=Revista Bula: O espião alemão que detonou a revolução de Prestes|autor=Euler de França Belém|data=|publicado=16 de novembro de 2010|acessodata=19 de março de 2017}}</ref> Prestes também teria sabotado o próprio levante despropositadamentepropositadamente, uma vez que enviara ao comandante do Grupo de Obuses de São Cristóvão [[Newton Estillac Leal]] um convite para participar do golpe e, tais fatos fizeram com que o Governo tomasse conhecimento da rebelião mesmo antes dela acontecer.<ref>{{Citar livro|autor=William Waack |título=Camaradas |subtítulo=Nos arquivos de Moscou: a história secreta da revolução brasileira de 1935 |editora=Companhia das Letras |ano=1993 |páginas=225 |isbn=978-85-7164-342-0 }}</ref>
 
O episódio mais dramático do levante comunista foi a tentativa de conquistar o Regimento de Aviação no [[Campo dos Afonsos]], à época integrante do exército (a [[Força Aérea Brasileira]] só seria criada em 1941), visando obter aeronaves para bombardear a cidade do Rio de Janeiro.
 
As unidades legalistas da Vila Militar, conseguiram instalar peças de [[artilharia]] para bombardear a pista e evitar que aviões decolassem. O assalto final foi realizado com uma carga de infantaria com apoio da artilharia, que retomou as instalações revoltadas.
 
Uma vez reprimido e derrotado , o movimento foi submetido a intensa desmoralização- a começar pelo nome pejorativo e desqualificante que recebeu ("Intentona", ou "intento louco") - por parte das cúpulas militares; como lembra o militar esquerdista [[Nelson Werneck Sodré]] nas suas memórias, a participação intensa de oficiais e suboficiais nas fileiras dos insurretos alertou o exército para a necessidade de cerrar fileiras ideológicas, e de expurgar "influências exógenas" no interior da oficialidade militar nas três décadas seguintes. Tal cisão ideológica viria a expressar-se nas disputas políticas no interior do [[Clube Militar]] da década de 1950, no [[movimento dos sargentos]] da década de 1960, e daí até o [[Golpe de 1964]], após o qual quaisquer traços de esquerdismocomunismo organizado foram eliminados das fileiras militares.
 
[[Imagem:Monumento intentona comunista 1935.jpg|thumb|250px|direita|[[Monumento aos mortos na Intentona Comunista]] ([[praça General Tibúrcio (Rio de Janeiro)|praça General Tibúrcio]], [[Urca]]).<ref>[http://www.agr.eb.mil.br/index.php/comunicacao-social/131-restauracao-do-monumento-da-intentona-comunista-e-de-placas Arsenal de Guerra do Rio] - ''Restauração de Monumento da Intentona Comunista pela Seção de Fundição do Arsenal de Guerra do Rio.'' Acessado em 17/10/2018.</ref>]]
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Diferentemente dos golpes tenentistas, que haviam criado divisões temporárias entre legalistas e insurretos, superáveis posteriormente por anistias e reorganizações de carreira, o movimento de 1935 criou uma clivagem político-ideológica até hoje não superada, em que os insurretos tiveram negada a sua própria condição de membros da corporação militar, com sua ação política sendo duradouramente criminalizada e estigmatizada como traição e ato hostil à hierarquia militar.<ref name="cpdoc2">{{citar web|url=http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/AConjunturaRadicalizacao/O_anticomunismo_nas_FFAA|titulo=O anticomunismo nas Forças Armadas - CPDOC - FGV|acessodata=21/04/2015}}</ref> A Intentona Comunista gerou, nos meios militares, um forte [[anticomunismo]] e foi um dos fatores que contribuíram para implantação do [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]] em [[1937]].<ref>{{citar livro|autor=Maud Chirio|título=A política nos quartéis: Revoltas e protestos de oficiais na ditadura militar brasileira|editora=Zahar|ano=2012|páginas=|id=pág. 243 ISBN 9788537808306}}</ref>
 
Até o governo do presidente [[Fernando Henrique Cardoso]], anualmente, na data de 27 de novembro, eram realizadas comemorações públicas pelo [[Exército Brasileiro]], no [[Cemitério de São João Batista (Rio de Janeiro)|Cemitério de São João Batista]], no Rio de Janeiro, em homenagem aos militares legalistas mortos durante a intentona, que se caracterizavam pela intensidade das manifestações anticomunistas da cúpula militar a que davam oportunidade, daí terem sido interrompidas as solenidades quando do fim da [[Guerra Fria]] e da consolidação do regime constitucional restabelecido em 1985. O monumento aos mortos legalistas do movimento foi erguido na [[Praia Vermelha (Rio de Janeiro)|Praia Vermelha]] em 1940, sendo [[Conservação e restauro|restaurado]] em 2018.<ref>[[Exército Brasileiro]] - [http://www.eb.mil.br/web/noticias/noticiario-do-exercito/-/asset_publisher/MjaG93KcunQI/content/restauracao-de-monumento-da-intentona-comunista-pela-secao-de-fundicao-do-arsenal-de-guerra-do-rio ''Fundição do Arsenal restaura monumento histórico .''] Acessado em 17/10/2018.</ref>
 
No início de 1936, tentando encontrar responsáveis pelo fracasso do levante, Prestes mandou matar, covardemente, a moça de 18 anos [[Elza Fernandes]], namorada do secretário-geral do PCB. Prestes suspeitava que ela fosse informante da polícia, o que mais tarde provou-se um engano. O jornalista [[William Waack]] alegou que Olga não se opôs à decisão.<ref name="epoca">{{citar notícia|url=http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG65925-6011-326,00.html|titulo=Entrevista com o autor de Camaradas|ultimo=Mendonça|primeiro=Martha|coautores=Martins, Elisa|data=13 de agosto de 2004|obra=[[Revista Época]]|acessodata=26 de dezembro de 2008}}</ref>
 
A repressão ao movimento permitiu que o [[Congresso Nacional do Brasil|Congresso Nacional]] decretasse o Estado de Guerra, com uma erosão decisiva nas liberdades e garantias individuais liberais-democráticas, o que preparou o caminho para que [[Getúlio Vargas]] decretasse o [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]] em 1937, reforçado pelo chamado [[Plano Cohen]].
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== Controvérsia a respeito das versões sobre as mortes durante a revolta ==
Segundo a professora Marly Vianna, doutora em história pela USP e professora da Universidade Federal de São Carlos além de autora do livro ''Revolucionários de 35'', apenas duas mortes ocorreram no episódio que envolve o levante do 3ºRI e estas seriam do major Misael Mendonça (legalista) e o segundo-tenente Tomás Meireles (revolucionárioanarquista). <ref name="grabois">{{citar web|url=http://grabois.org.br/portal/cdm/noticia.php?id_sessao=72&id_noticia=4247|titulo=A ANL e o Levante de 1935 – Entrevista com Marly Vianna|acessodata=19/04/2015}}</ref> Segundo ela, a versão de que os militares anarquistas revolucionários teriam assassinado covardemente oficiais legalistas enquanto dormiam é mentirosa, tendo sido inclusive tema de um discurso do então senador [[Jarbas Passarinho]] no [[Congresso Nacional do Brasil|Congresso Nacional]] para, em nome de famílias de oficiais mortos, declarar que não estavam dormindo, pois esta versão seria prejudicial para sua imagem e memória. Segundo a mesma ainda, essa versão falsa teria sido plantada pela polícia de [[Filinto Müller]]. O historiador [[Hélio Silva]] diz o mesmo em seu livro ''O Ciclo de Vargas: 1935 - A Revolta Vermelha''. <ref name="dhnet1">{{citar web|url=http://www.dhnet.org.br/memoria/1935/livros/insurreicao/13.htm|título=A Revolta Comunista de 1935 em Natal|acessodata=21/04/2015}}</ref><ref name="dhnet2"></ref> Segundo o [[historiador]] [[Glauco Carneiro]], esta ação fez centenas de vítimas.<ref>{{citar livro|autor=Glauco Carneiro|título=História das revoluções brasileiras, Volume 1|editora=Edições O Cruzeiro, pág. 424|ano=1965|páginas=|id=}}</ref>
 
== Ver também ==