Quilombo dos Luízes: diferenças entre revisões

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* A festa de Sant’Ana (veja abaixo)
 
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==== A Festa de Sant'Ana ====
Uma importante festividade religiosa que continua a ser praticada no Quilombo dos Luízes é a Festa de Sant’Ana,<ref>{{Citar web|url=http://www.incra.gov.br/festa-tradicional-e-realizada-em-quilombo-dentro-de-belo-horizonte|titulo=Incra {{!}} Festa tradicional é realizada em Quilombo dentro de Belo Horizonte|acessodata=2019-01-06|obra=www.incra.gov.br}}</ref> que contém vários elementos associados à [[roça]] ou área rural. A comunidade herdou de Anna Apolinária uma imagem de Santa’ Ana feita à mão. A imagem é o símbolo desta manifestação cultural, que agrega membros da família de várias regiões, além de vizinhos.
 
Antes do dia da Festa, que normalmente acontece no dia 26 de julho, a comunidade já inicia as muitas preparações necessárias para a mesma. Estas preparações incluem a decoração do espaço e o preparo das comidas. Além disso, uma semana antes do dia 26, os familiares começam a se encontrar para rezar o terço e no dia 26 organizam a missa conga, uma tradição de matriz africana que conta com a presença de padres que realizam a missa. No final, os Luízes servem uma tradicional refeição coletiva. A Festa é um importante momento de reunião da família, renovando seus laços e sua força.
 
== Urbanização, Gentrificação e Conflitos Territoriais ==
A cidade de Belo Horizonte foi fundada como capital do estado de Minas Gerais durante a [[Primeira República Brasileira|Primeira República]], e foi desenhada com traçados lineares simétricos e largas avenidas de acordo com a ideologia republicana, em particular o [[positivismo]]. Gradualmente, a cidade foi chegado ao quilombo, começando pela canalização do córrego Piteiras para a abertura da Avenida Vila Lobos no seu local, nos termos dos princípios sanitaristas da época. Os Luízes foram testemunha e participaram destes processos de surgimento do atual bairro do Grajaú. Uma após a outra, as ruas do bairro foram asfaltadas e cada vez mais moradores foram chegando à área da Fazenda Piteiras.
 
Com o aceleramento do desenvolvimento industrial da capital e a inauguração da Av. Silva Lobo, na década de 1970 o bairro do Grajaú entra em um processo acelerado de urbanização, [[gentrificação]] e crescimento demográfico. Muitas das novas ruas e propriedades dos recém-chegados moradores invadem o território tradicional dos Luízes e é neste momento que começa a luta pela terra da comunidade. Inicialmente, esta luta se dá pela resistência da tia Cordelina ou tia Nina, seguida por outras que a sucederam e que se encontram firmes na luta contra as invasões por indivíduos, empresas e imobiliárias. A luta dos Luízes, portanto, resiste à desigualdade que marca suas relações com os invasores e as relações de poder estabelecidas. No contexto atual, a comunidade sofre com os efeitos da segregação sócio-espacial e da discriminação racial no Grajaú.
 
Este processo de invasão causou uma diminuição do território de 18.000 m² a 6.000 m² e afetou demasiadamente as atividades tradicionais e de subsistência da família, tornando inviável por exemplo muito da sua produção agrícola. Apesar disso, os quilombolas continuam a praticar e cultivar muitas destas atividades, como descrito acima.
 
=== Titulação como quilombo ===
Devido aos crescentes conflitos territoriais causados pelas invasões em seu território, os Luízes iniciaram seu reconhecimento e titulação como quilombo em 2004. Seu Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) ficou pronto em 2008,<ref>{{citar web|url=https://jus.com.br/artigos/17043/a-posse-de-terras-quilombolas-na-regiao-metropolitana-de-belo-horizonte/2|titulo=A posse de terras quilombolas na região metropolitana de Belo Horizonte|data=01/07/2010|acessodata=01/01/2019|publicado=JUSBrasil|ultimo=Stanley Rocha Souza, et al|primeiro=Adriano}}</ref> confirmando que a comunidade é um grupo étnico descendente de escravos, possuidor de uma história e tradição cultural única e com uma relação especial com seu território.
 
Logo após a publicação do RTID, porém, o quilombo sofre mais uma invasão em um território já irregularmente ocupado. O Relatório Antropológico oficial dos Luízes havia identificado esta área como uma ocupação irregular de não-quilombolas em território tradicional que deve, portanto, ser removida e devolvida aos quilombolas como parte do processo de titulação. Porém, em 2009, a construtora Patrimar consegue comprar esta área e inicia logo depois a construção do atual prédio Greenwich Village,<ref>{{Citar web|url=https://www.otempo.com.br/capa/economia/pr%C3%A9dio-constru%C3%ADdo-no-graja%C3%BA-%C3%A9-alvo-de-disputa-de-quilombola-1.689153|titulo=Prédio construído no Grajaú é alvo de disputa de quilombola|data=2013-07-30|acessodata=2019-01-06|obra=Economia|ultimo=TEMPO|primeiro=O.|lingua=en}}</ref> que inclui unidades comerciais. Em resistência a esta invasão, os Luízes procuram a Defensoria Pública da União (DPU) e o Ministério Público Federal (MPF). Apesar de ambos órgãos federais defenderem a causa do quilombo,<ref>{{Citar web|url=http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/docs/sentenca-quilombo-dos-luizes|titulo=Sentença Quilombo dos Luízes|data=|acessodata=2019-01-06|obra=www.mpf.mp.br|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref> não foi possível reverter a construção do prédio e ele se encontra hoje dentro do território quilombola. Esta situação atrasou ainda mais o processo de titulação dos Luízes, gerando inúmeros impasses e complicações.
 
Em 2017, a comunidade recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial da cidade de Belo Horizonte<ref>{{Citar web|url=https://prefeitura.pbh.gov.br/noticias/comunidades-quilombolas-sao-declaradas-patrimonio-cultural|titulo=Comunidades Quilombolas são declaradas patrimônio cultural|acessodata=2019-01-06|obra=Prefeitura de Belo Horizonte|lingua=pt-br}}</ref> e seu processo de demarcação pelo INCRA continua. {{referencias}}
[[Categoria:Belo Horizonte]]