Afonso Henriques: diferenças entre revisões

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{{Quote|''Este acto constituía simbolicamente o seu primeiro gesto de emancipação e de oposição aos ricos-homens que apoiavam a causa de D. Teresa, subordinada à política do bispo Gelmirez de Santiago e dos poderosos Travas.''{{Sfn|Baquero Moreno|2006|p=137}}}}
 
==A Batalha de São Mamede, 1128==
{{Artigo principal|vt=s|Batalha de São Mamede}}
[[Ficheiro:Castelo de Guimarães Castelo da Fundação2.JPG|right|350px|thumb|<center>O [[Castelo de Guimarães]]</center>]]
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{{Quote|''Com esta vitória criava-se uma dinâmica que iria conduzir inexorávelmente à independência de Portugal.''{{Sfn|Baquero Moreno|2006|p=138}}}}
 
==AO corteperíodo condal, 1128-1139==
 
{{Quote|''...não usou, entre 1128 e 1139, o título de rei, mas de 'príncipe' ou 'infante', o que significa, decerto, que não podia resolver por si próprio a questão da sua categoria política; isto é, devia admitir que ela dependesse também do assentimento de Afonso VII, que era, de facto o herdeiro legítimo de Afonso VI. Mas também não usou nunca o título de 'conde' que o colocaria numa nítida posição de dependência para com o rei de Leão e Castela.''{{Sfn|Mattoso|2014|p=137}}}}
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Mas contrariamente ao que se costuma relatar, Afonso Henriques nunca foi pressionado para cumprir a palavra dada ao Imperador; aliás essa promessa dos nobres é imediatamente quebrada em 1130 com uma série de invasões da Galiza, que Afonso VII não pôde conter dadas as querelas com o padrasto em Aragão{{Sfn|GEPB|1935-57, vol.17|p=624-629}}.
 
===A corte conimbricense, 1131-1139===
[[File:Coimbra igr sta cruz 1.JPG|300px|thumb|Fachada do [[Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra]].]]
Por forma a afastar-se da grande influência que os magnates portucalenses (sobretudo das cinco linhagens fundamentais, [[Casa de Sousa|Sousa]], [[Casa da Maia|Maia]], [[Casa de Riba Douro|Ribadouro]], [[Casa de Baião|Baião]] e [[Bragançãos|Bragança]]), no momento seus apoiantes, pudessem exercer sobre ele<ref name="NG"/>, Afonso protagoniza, em 1131, uma medida radicalː resolve afastar-se da esfera de influência destes nobres, mais intensa a norte do [[rio Douro]], e estabelecer-se nas margens do [[rio Mondego]], trasladando a corte condal de [[Guimarães]] para [[Coimbra]]. A escolha desta cidade parece ter-se devido a uma maior proximidade com a fronteira com o [[Islão]], proximidade que o infante pretendia diminuir, pela conquista progressiva de território a sul desta cidade. O apoio que Afonso recebe, por esta mesma altura, de alguns aristocratas galegos mostra que o ambiente tenso que se fazia sentir antes de ascender ao poder não era totalmente anti-galego, apesar da luta que anos antes visava tão somente evitar a reintegração do Condado na Galiza<ref name="NG"/>. Outro importante braço militar, criado por esta mesma altura, constitui-se pelos célebres cavaleiros de Coimbra{{Sfn|Mattoso|1998}}.
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Afonso Henriques, no mesmo ano da sua instalação em Coimbra, patrocinou a fundação do [[Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra|Mosteiro de Santa Cruz]]<ref name="NG"/>. Foi a esta instituição que Afonso veio a recrutar vários homens de pensamento necessários à governação, sendo um deles precisamente [[São Teotónio]], um dos fundadores do mosteiro, assim como o célebre [[João Peculiar]]<ref name="NG"/>, que veio a ser [[Arcebispo de Braga]] a partir de 1138, depois de exercer funções episcopais no Porto,e que tentou marcar, como já o antecessor ([[Paio Mendes]]) fizera, uma "libertação" do clero bracarense da [[Arquidiocese de Santiago de Compostela]]<ref name="NG"/>.
 
===FeitosPolítica militaresmilitar, 1128-1139===
 
====Batalha de Cerneja (1137)====
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E todos de espada alçada teriam proclamado a independência de Portugal e do seu rei. É muito provável que Afonso tenha também sido alçado pelos seus cavaleiros sobre o seu escudo, no qual poderiam já apresentar-se as armas reais afonsinas, isto é, carregado de cinco escudetes em cruz cobertos de carbúnculos simbolizadores do granizo do [[São Miguel Arcanjo|Arcanjo São Miguel]]<ref name="NG"/>{{nota de rodapé|Segundo a tradição, a independência foi confirmada mais tarde, nas míticas [[cortes de Lamego]], quando recebeu a coroa de Portugal do arcebispo de [[Braga]], D. [[João Peculiar]], se bem que estudos recentes questionem a reunião destas [[cortes (política)|cortes]].}}.
 
==Ascensão à dignidade régiaː o reconhecimento do reino, 1139-1179==
==A corte régia==
===O Reconhecimento do reino ===
[[Imagem:Manifestis Probatum.jpg|thumb|300px|right|A Bula ''Manifestis Probatum'', que concedeu o tão desejado reconhecimento papal do Reino de Portugal.]]
{{Artigo principal|vt=s|Tratado de Zamora|Manifestis Probatum}}
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Em 1179, a corte portuguesa recebeu a bula papal ''[[Manifestis Probatum]]'', através da qual o [[Papa Alexandre III]] reconhecia, por fim, a independência de Portugal e Afonso Henriques como o seu primeiro rei, louvando a ferocidade com que o rei se batera em defesa da cristandade contra os inimigos da fé, descrevendo como ''intrépido destruidor dos inimigos dos cristãos, diligente propagador da fé, bom filho da Igreja e príncipe católico, exemplo digno de imitação para os vindouros''<ref name="NG"/>.
 
===Política militar interna=, 1139-1169==
[[File:1st portuguese king D. Afonso Henriques (3815475791).jpg|thumb|200px|right|[[Estátua]] de D. Afonso Henriques no [[Castelo de São Jorge]] em [[Lisboa]], réplica da original, feita por [[Soares dos Reis]], que se encontra em [[Guimarães]]]]
Afonso procurou conquistar terreno a sul, povoado então por [[mouros]]: [[Leiria]] em 1135 (1145, conquista final) usando a técnica de assalto; [[Santarém (Portugal)|Santarém]] em 1146 (1147, conquista final), também utilizando a técnica de assalto; [[Lisboa]] (onde utilizou o cerco como táctica de conquista, graças à ajuda dos cruzados), [[Almada]] e [[Palmela]] em 1147, [[Alcácer do Sal|Alcácer]] em 1160 e depois quase todo o [[Alentejo]], que posteriormente seria recuperado pelos mouros, pouco antes de D. Afonso morrer (em 1185).
 
====Batalha de Santarém (1147)====
{{Artigo principal|vt=s|Conquista de Santarém}}
Segundo uma memória do [[Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra]], [[Afonso Henriques]] passeava nos campos do Arnado, perto de [[Coimbra]], com os seus vassalos que lhe eram mais próximos: [[Gonçalo Mendes de Sousa]], [[Pedro Pais da Maia]] e ele, Lourenço Viegas. A fonte conta que o rei terá revelado a estes o segredo das suas intenções de conquista da vila de [[Santarém]]. Esta proposta foi encorajada por eles, que o terão provavelmente acompanhado de perto na conquista da cidade{{Sfn|GEPB|1935-57|p=991-992, vol.19}}.
 
Afonso terá partido de Coimbra com cerca de 250 dos seus melhores homens, e, na noite de 14 de março de 1147{{Sfn|Ribeiro|1976|p=69}}, com o auxílio de escadas, quarenta e cinco cavaleiros escalaram as paredes, mataram os sentinelas mouros e forçaram o seu caminho para o portão, permitindo que o principal exército português entre na cidade. Acordados pelos gritos dos sentinelas, os mouros ainda ofereceram uma forte resistência, mas acabaram por ser derrotados{{Sfn|Ribeiro|1976|p=69}}, e a cidade tomada, pondo assim fim às constantes invasões mouras de [[Coimbra]] e [[Leiria]] que resultavam da sua proximidade desta recém-conquistada cidade{{Sfn|Ribeiro|1976|p=69}}.
 
====Batalha de Sacavém (1147)====
{{Artigo principal|vt=s|Batalha de Sacavém}}
 
====Cerco de Lisboa (1147)====
{{Artigo principal|vt=s|Cerco de Lisboa}}
 
===As Cruzadas como veículo da política militar portuguesa===
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Para além de apoio militar, a Ordem tinha também a função de defender os territórios conquistados aos mouros. De facto, o contributo da Ordem do Templo este esforço de defesa militar levou, sobretudo depois de 1160, à construção de vários fortes e castelos (muitos deles ainda de pé atualmente), com a direção do célebre Mestre [[Gualdim Pais]]<ref name="NG"/>.
 
Em 1169, na sequência do desastre de Badajoz, Afonso Henriques doou à Ordem cerca de um terço das conquistas que viessem a fazer no [[Alentejo]], mas a presença templária nessa região ter-se-á limitado à zona de [[Nisa]] e [[Alpalhão]]<ref name="NG"/> .
===Feitos militares, 1139-1169===
[[File:1st portuguese king D. Afonso Henriques (3815475791).jpg|thumb|200px|right|[[Estátua]] de D. Afonso Henriques no [[Castelo de São Jorge]] em [[Lisboa]], réplica da original, feita por [[Soares dos Reis]], que se encontra em [[Guimarães]]]]
Afonso procurou conquistar terreno a sul, povoado então por [[mouros]]: [[Leiria]] em 1135 (1145, conquista final) usando a técnica de assalto; [[Santarém (Portugal)|Santarém]] em 1146 (1147, conquista final), também utilizando a técnica de assalto; [[Lisboa]] (onde utilizou o cerco como táctica de conquista, graças à ajuda dos cruzados), [[Almada]] e [[Palmela]] em 1147, [[Alcácer do Sal|Alcácer]] em 1160 e depois quase todo o [[Alentejo]], que posteriormente seria recuperado pelos mouros, pouco antes de D. Afonso morrer (em 1185).
 
==Política administrativa interna, 1139-1169==
====Batalha de Santarém (1147)====
{{Artigo principal|vt=s|Conquista de Santarém}}
Segundo uma memória do [[Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra]], [[Afonso Henriques]] passeava nos campos do Arnado, perto de [[Coimbra]], com os seus vassalos que lhe eram mais próximos: [[Gonçalo Mendes de Sousa]], [[Pedro Pais da Maia]] e ele, Lourenço Viegas. A fonte conta que o rei terá revelado a estes o segredo das suas intenções de conquista da vila de [[Santarém]]. Esta proposta foi encorajada por eles, que o terão provavelmente acompanhado de perto na conquista da cidade{{Sfn|GEPB|1935-57|p=991-992, vol.19}}.
 
====Boa relaçãoRelação com judeus====
Afonso terá partido de Coimbra com cerca de 250 dos seus melhores homens, e, na noite de 14 de março de 1147{{Sfn|Ribeiro|1976|p=69}}, com o auxílio de escadas, quarenta e cinco cavaleiros escalaram as paredes, mataram os sentinelas mouros e forçaram o seu caminho para o portão, permitindo que o principal exército português entre na cidade. Acordados pelos gritos dos sentinelas, os mouros ainda ofereceram uma forte resistência, mas acabaram por ser derrotados{{Sfn|Ribeiro|1976|p=69}}, e a cidade tomada, pondo assim fim às constantes invasões mouras de [[Coimbra]] e [[Leiria]] que resultavam da sua proximidade desta recém-conquistada cidade{{Sfn|Ribeiro|1976|p=69}}.
 
====Batalha de Sacavém (1147)====
{{Artigo principal|vt=s|Batalha de Sacavém}}
====Cerco de Lisboa (1147)====
{{Artigo principal|vt=s|Cerco de Lisboa}}
 
===Política interna===
====Boa relação com judeus====
O reinado de Afonso Henriques ficou marcado pela tolerância para com os [[judeus]]. Estes estavam organizados num sistema próprio, representados politicamente pelo grão-[[rabino]] nomeado pelo rei. Um destes grão-rabinos, [[Yahia Ben Yahia]] foi escolhido pelo monarca para a tarefa de coletar impostos no reino. Com esta escolha teve início uma tradição de escolher judeus para a área financeira e de manter um bom entendimento com as comunidades judaicas, que foi seguida pelos seus sucessores.
 
===Política externa, 1146-1169===
====Aliança a Saboia, 1146-1157====
Alguns historiadores sugerem que o casamento de Afonso Henriques estaria relacionado com o plano delineado pelo [[Papa Eugénio III]], antigo monge [[Ordem de Cister|cisterciense]], e pelo seu mentor e abade, [[Bernardo de Claraval]], de lançar a Segunda Cruzada como reacção à tomada de [[Edessa]], na [[Síria]] (1144). Repare-se que [[Mafalda de Saboia]], era aparentada com grandes agentes desta cruzadaː para além de filha do conde [[Amadeu III de Saboia]], um dos barões mais empenhados nessa cruzada<ref name="NG"/>, era também sobrinha de [[Luís VII de França]]. Mesmo que assim não fosse, a proximidade de Saboia à Borgonha, ducado de origem do pai de Afonso Henriques, poderia ter exercido uma influência adicional na opção do rei.<ref name="NG"/>
 
====A Divisão da ''Hispânia''ː os reinos de Leão e Castela, 1157====
Até 1157, os reinos de Leão e Castela estiveram unidos sob a cetro de [[Afonso VII de Leão e Castela]], primo de Afonso Henriques, que retomou inclusivamente o título do avô, ''Imperador da Hispânia''. Contudo, a morte do Imperador neste ano de 1157 viria a alterar uma vez mais a política peninsular e as circunstâncias. Os reinos foram divididos pelos dois filhos mais velhos de Afonso VIIː o [[Sancho III de Castela|infante Sancho]] reinaria sobre o [[Reino de Castela]], e o [[Reino de Leão]] ficaria sob a alçada do [[Fernando II de Leão|infante Fernando]].
 
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Esta campanha teve como resultado um [[tratado de paz]] entre ambos os reinos, assinado em [[Pontevedra]], em virtude do qual Afonso foi libertado, com a única condição de devolver a Fernando cidades estremenhas (da [[Estremadura (Espanha)|Estremadura]] espanhola) tais como [[Cáceres (Espanha)|Cáceres]], [[Badajoz]], [[Trujillo (Espanha)|Trujillo]], [[Santa Cruz de la Sierra (Espanha)|Santa Cruz]] , [[Monfragüe]] e [[Montánchez]], que havia conquistado a Leão. Estabeleciam-se assim as [[fronteira]]s de [[Portugal]] com [[Reino de Leão|Leão]] e a [[Galiza]]. E mais tarde, quando os muçulmanos sitiaram [[Santarém (Portugal)|Santarém]], o leonês auxiliou imediatamente o rei português.
 
====A aliança com Aragão, 1160-1185====
 
Esteve ainda presente, nos finais de janeiro de 1160, em [[Tui]], junto do monarca de Portugal, nas conversações entre o este e o conde [[Raimundo Berengário IV de Barcelona]], para a negociação do casamento da [[Mafalda Afonso, Infanta de Portugal|infanta Mafalda]] com o futuro [[Afonso II de Aragão]], negociação que não chegou a realizar-se dado ter falecido a infanta, nesse mesmo ano{{Sfn|GEPB|1935-57, vol.17|p=887-889}}. Em 1162, assiste, na [[Igreja de Santa Cruz de Coimbra]], à dadiva, pelo monarca, de grandes privilégios ao mosteiro{{Sfn|GEPB|1935-57, vol.17|p=887-889}}.
 
==APeríodo finalː a regência dos filhos, 1169-1185==
 
==A regência dos filhos, 1169-1185==
Após o [[Cerco de Badajoz]] de 1169, na qual Afonso teria ficado gravemente afetado em resultado de uma ferida numa perna<ref name="Infopédia"/> é instaurado um conselho de regência para governar em nome do rei incapacitado. A regência ficou a cargo dos filhos do rei que ainda se encontravam, àquela data, no reino: os infantes [[Sancho I de Portugal|Sancho]] e [[Teresa de Portugal, Condessa da Flandres|Teresa de Portugal]]. Também surge com bastante frequência na documentação desta altura, com eles, um bastardo, que adquiria aqui um estatuto equivalente ao de infante legítimo: [[Afonso de Portugal, Grão-mestre do Hospital|Fernando Afonso]]. Apesar de ser Sancho a cabeça da regência, várias confirmações deste ainda em vida de Afonso Henriques denunciam a presença forte deste bastardo e o desejo, por parte da nobreza de corte, de inutilizar Fernando e consolidar a regência de Sancho.{{Sfn|Castro|1997|pp=298-299}}. Em setembro de 1172 Fernando passa a servir o regente, segundo uma doação a [[Monsanto]] nessa data, na qual Afonso I sugere pela primeira vez uma sucessão por via feminina em Teresa.{{Sfn|Castro|1997|p=300}} A partir de 1173, Afonso Henriques parece concretizar em parte esta possibilidade ao entregar a regência conjunta do reino a Sancho e Teresa, declarando-os co-herdeiros e com casa própria.{{Sfn|Castro|1997|p=301}}