Civilização asteca: diferenças entre revisões

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=== Migração mexica e fundação de Tenochtitlan ===
 
Nas fontes etno-históricas do período colonial, os próprios mexicas descrevem sua chegada ao Vale do México. O [[etnônimo]] "asteca" (''Nahuatl Aztecah'') significa "povo de Aztlan", sendo [[Aztlan]] um lugar mítico ao norte. Daí o termo foi aplicado a todos aqueles povos que reivindicaram serem herdeiros deste lugar mítico. As histórias de migração da tribo mexica contam como eles viajaram com outras tribos, incluindo a [[tlaxcaltecas]], [[tepanecas]] e [[acolhuas]], mas que eventualmente sua divindade tribal [[Huitzilopochtli]] disse que eles deveriam se separar das outras tribos astecas e assumirem o nome de "mexicas".{{sfn|Smith|1984}} Na época de sua chegada, havia muitas cidades-Estados astecas na região. As mais poderosas eram Colhuacan ao sul e [[Azcapotzalco]] a oeste. Os tepanecas de Azcapotzalco logo expulsaram os mexicas de [[Chapultepec]]. Em 1299, o governante de Colhuacan, Cocoxtli, deu-lhes permissão para se estabelecerem nos barracos vazios de Tizapan, onde foramacabaram eventualmentesendo assimilados pela cultura de Culhuacan.{{sfn|Smith|1984|p=173}} A nobre linhagem de Colhuacan traçava suas raízes até a lendária cidade-estado de Tula e, ao se casar com famílias colhua, os mexicas agora se apropriaram desta herança. Depois de viver em Colhuacan, os mexicas foram novamente expulsos e foram forçados a se mudarem.{{sfn|Smith|1997|p=44-45}}
 
De acordo com a lenda asteca, em 1323, os mexicas tiveram uma visão de uma [[águia]] empoleirada em um cacto de [[Opuntia|figo-do-diabo]], enquanto comia uma [[cobra]], indicando o local onde eles deveriam construir seu assentamento. Os mexicas fundaram [[Tenochtitlan]] em uma pequena ilha pantanosa no [[Lago Texcoco]], o lago interior da Bacia do México. O ano de fundação é geralmente tido como 1325. Em 1376, a dinastia real dos mexicas foi fundada quando [[Acamapichtli]], filho de um pai mexica e de uma mãe colhua, foi eleito como o primeiro ''[[Huey Tlatoani]]'' de Tenochtitlan.{{sfn|Townsend|2009|p=60–62}}
 
=== Primeiros governantes mexicas ===
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Nos primeiros cinquenta anos após a fundação da sua dinastia, os mexicas eram afluentes de [[Azcapotzalco]], que havia se desenvolvido para uma grande potência regional sob o governante [[Tezozomoc]]. Os mexicas forneciam os guerreiros [[tepanecas]] para suas campanhas de sucesso na conquista da região e recebiam parte dos impostos das cidades-Estados conquistadas. Desta forma, a posição política e a economia de [[Tenochtitlan]] cresceram gradualmente.{{sfn|Townsend|2009|p=63}}
 
Em 1396, com a morte de [[Acamapichtli]], seu filho [[Huitzilihuitl]] (náuatle: "Pena do beija-flor") tornou-se governante; por ser casado com a filha de Tezozomoc, a relação com Azcapotzalco permaneceu próxima. [[Chimalpopoca]] (náuatle: "Ela fuma como um escudo"), filho de Huitzilihhuitl, tornou-se governante de Tenochtitlan em 1417. Em 1418, Azcapotzalco iniciou uma guerra contra os acolhuas de [[Texcoco]] e matou seu governante, Ixtlilxochitl. Embora Ixtlilxochitl fosse casado com a filha de Chimalpopoca, o governante mexica continuava apoiando Tezozomoc. Tezozomoc morreu em 1426 e seus filhos começaram uma luta pelo governo de Azcapotzalco. Durante esta luta pelo poder, Chimalpopoca morreu, provavelmente morto pelo filho de Tezozomoc, Maxtla, que o via como um adversário.{{sfn|Townsend|2009|p=64–74}} [[Itzcoatl]], irmão de Huitzilihhuitl e tio de Chimalpopoca, foi eleito o próximo ''[[tlatoani]]'' seguinte. Os mexicas estavam agora em guerra aberta com Azcapotzalco e Itzcoatl solicitou uma aliança com [[Nezahualcóyotl]], filho do governante da região, Ixtlilxochitl, contra Maxtla. Itzcoatl também se aliou ao irmão de Maxtla, Totoquihuaztli, governante da cidade tepaneca de [[Tlacopan]]. A [[Tríplice Aliança Asteca|Tríplice Aliança]] de Tenochtitlán, Texcoco e Tlacopan sitiou Azcapotzalco e, em 1428, destruiu a cidade e sacrificou Maxtla. AtravésCom destaesta vitória, Tenochtitlan converteu-se na cidade-Estado dominante no Vale do México e a aliança entre as três cidades-estadosEstado forneceu a base sobre a qual o [[Império Asteca]] foi construído.{{sfn|Townsend|2009|p=74–75}}
 
Itzcoatl procedeu assegurando uma base de poder para Tenochtitlan, conquistando as cidades-Estado no lago do sul - inclusive Culhuacan, [[Xochimilco]], Cuitlahuac e Mizquic. Estes estadosEstados tinham uma economia baseada na agricultura ''[[chinampa]]'' altamente produtiva, cultivando extensas terras de solo rico no raso lago Xochimilco. Itzcoatl empreendeu então conquistas adicionais no vale de Morelos, enquanto submetia a cidade-Estado de Cuauhnahuac (hoje [[Cuernavaca]]).{{sfn|Townsend|2009|p=78–81}}
 
=== Primeiros governantes do Império Asteca ===
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[[Imagem:Axayacatl.jpg|thumb|upright|[[Axayácatl]] no [[códice Azcatitlan]]]]
 
Em 1469, o próximo governante seguinte foi [[Axayácatl]] (náuatle: "Máscara da Água"), filho de Tezozomoc e [[Atotoztli]], filha de Moctezuma I.{{sfn|Diel|2005}} Ele empreendeu uma bem -sucedida campanha de coroação ao sul de Tenochtitlan contra os [[zapotecas]] no [[Istmo de Tehuantepec]]. Axayácatl também conquistou a cidade mexicana independente de [[Tlatelolco]], localizada na parte norte da ilha, onde Tenochtitlan também estava localizada. O governante de Tlatelolca, Moquihuix, era casado com a irmã de Axayácatl e seus alegados maltratosmaus tratos a ela foram usados como uma desculpa para incorporar Tlatelolco e seu importante mercado diretamente sob o controle do ''tlatoani'' de Tenochtitlan.{{sfn|Townsend|2009|p=99}}
 
Axayácatl conquistou então áreas no centro de Guerrero, o vale de Puebla, na costa do golfo, e contra os [[otomis]] e [[matlatzinca]]s no vale de Toluca, que era uma zona de segurança contra o poderoso Estado de [[Tarasco]] em Michoacan, contra o qual Axayácatl se virou em seguida. Na grande campanha contra os [[tarascos]] (''Nahua Michhuahqueh'') em 1478-79, as forças astecas foram repelidas por uma defesa bem organizada. Axayácatl foi derrotado em uma batalha em Tlaximaloyan (hoje Tajimaroa), perdendo a maioria de seus 32 mil homens. Ele escapou de volta para Tenochtitlan com os remanescentes de seu exército.{{sfn|Townsend|2009|p=99–100}}
 
Em 1481, com a morte de Axayácatl, seu irmão mais velho, [[Tízoc]], foi eleito governante. A campanha de coroação dele contra os otomis de Metztitlan fracassou quando ele perdeu a grande batalha e conseguiu apenas 40 presos a serem sacrificados para sua cerimônia de coroação. Ao demonstrar fraqueza, muitas das cidades tributárias se rebelaram e, consequentemente, a maior parte do curto reinado de Tízoc foi gasto na tentativa de sufocar as rebeliões e manter o controle das áreas conquistadas por seus predecessores. Tízoc morreu repentinamente em 1485 e foi sugerido que ele foitenha sido envenenado por seu irmão e líder de guerra, [[Ahuitzotl]], que se tornou o próximo ''tlatoani'' seguinte. Tízoc é conhecido principalmente como o homônimo da [[Pedra de Tízoc]], uma escultura monumental (''Nahuatl temalacatl''), decorada com a representação das conquistas dele.{{sfn|Townsend|2009|p=100–01}}
 
==== Ahuitzotl ====
[[Imagem:Ahuitzotl.jpg|thumb|[[Ahuitzotl]] no [[Códice Mendoza]]]]
 
O próximo governante seguinte foi Ahuitzotl (em náuatle, "Monstro da Água"), irmão de Axayácatl e Tízoc e líder de guerra sob o governo do último. Sua campanha de coroação bem -sucedida suprimiu as rebeliões no vale de Toluca e conquistou [[Jilotepec]] e várias comunidades no norte do Vale do México. Uma segunda campanha de 1521 para a costa do golfo também foi altamente bem -sucedida. Ele iniciou uma ampliação do Grande Templo de Tenochtitlán, inaugurando -o novo templo em 1487. Para a cerimônia de inauguração, os mexicas convidaram os governantes de todas as suas cidades, que participaram como espectadores da cerimônia em que um número sem precedentes de prisioneiros de guerra foi sacrificado (algumas fontes indicam que 84 mil prisioneiros foram sacrificados ao longo de quatro dias). Provavelmente, o número real de pessoas sacrificadas foi muito menor, mas ainda assim foram vários milhares. Ahuitzotl também construiu uma arquitetura monumental em locais como Calixtlahuaca, Malinalco e Tepoztlan. Depois de uma rebelião nas cidades de Alahuiztlan e Oztoticpac no norte de Guerrero, ordenou que toda a população fosse executada e repovoada com pessoas do Vale do México. Ele também construiu uma guarnição fortificada em [[Oztuma]], para defender a fronteira contra o estado de Tarasco.{{sfn|Townsend|2009|p=101–10}}
 
=== Governantes astecas finais e a conquista espanhola ===
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[[Imagem:Cortez & La Malinche.jpg|thumb|esquerda|A reunião de [[Moctezuma II]] e [[Hernán Cortés]], com sua tradutora cultural [[La Malinche]], 8 de novembro de 1519, conforme descrito no ''[[Lienzo de Tlaxcala]]'']]
 
[[Moctezuma II]] Xocoyotzin é conhecido na história do mundo como o governante asteca quando os [[Império Espanhol|invasores espanhóis]] e seus aliados indígenas começaram a [[conquista do Império Asteca]] em uma campanha de dois anos (1519-1521). O início de seu reino não indicava a sua fama futura. Ele sucedeu ao governo após a morte de Ahuitzotl. Moctezuma Xocoyotzin (náuatle: "Ele franze a testa como um lorde, o filho mais novo"), era filho de Axayacatl e um líder de guerra. Ele começou seu governo conforme a tradição, ao conduzir uma campanha de coroação para demonstrar suas habilidades como líder. Ele atacou a cidade fortificada de Nopallan em Oaxaca e submeteu a região ao império. Um guerreiro eficaz, Moctezuma manteve o ritmo de conquista estabelecido por seu antecessor e submeteu grandes áreas em Guerrero, Oaxaca, Puebla e até mesmo ao sul, ao longo das costas do Pacífico e do Golfo, ao conquistar a província de Xoconochco, em Chiapas. Ele também intensificou as "Guerras das Flores" travadas contra Tlaxcallan e Huexotzinco, além de garantir uma aliança com Cholula. Ele também consolidou a estrutura de classes da sociedade asteca, tornando mais difícil para os plebeus (''nahuatl macehualtin'') aderir à classe privilegiada dos ''pipiltin'' através do mérito em combate. Ele também instituiu um código sumptuáriosuntuário restrito, limitando os tipos de bens de luxo que poderiam ser consumidos pelos plebeus.{{sfn|Townsend|2009|p=110}}
[[Imagem:Leutze, Emanuel — Storming of the Teocalli by Cortez and His Troops — 1848.jpg|thumb|esquera|Em 1521, soldados espanhóis liderados saquearam [[Tenochtitlán]]]]
[[Imagem:El suplicio de Cuauhtémoc.jpg|thumb|''O martírio de Cuauhtémoc'', pintura do {{séc|XIX}} de [[Leandro Izaguirre]]]]
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Quando as tropas astecas destruíram um acampamento espanhol na costa do golfo, Cortés ordenou que Motecuzoma executasse os comandantes responsáveis ​​pelo ataque e ele obedeceu. Neste ponto, o equilíbrio de poder havia mudado para os espanhóis, que agora mantinham Motecuzoma como prisioneiro em seu próprio palácio. Quando essa mudança de poder mostrou-se clara para os súditos de Motecuzoma, os espanhóis tornaram-se cada vez mais indesejados na capital e, em junho de 1520, eclodiram hostilidades que culminaram no massacre no Grande Templo e em uma grande revolta dos mexicas contra os espanhóis. Durante os combates, Moctezuma foi morto, ou pelos espanhóis, que o teriam matado enquanto fugiam da cidade, ou pelos próprios mexicas, que o consideravam um traidor.{{sfn|Townsend|2009|p=220–36}}
 
[[Cuitláhuac]], um parente e conselheiro de Motecuzoma, o sucedeu como ''[[tlatoani]]'' e montou a defesa de Tenochtitlan contra os invasores espanhóis e seus aliados indígenas. Ele governou apenas 80 dias, talvez morrendo na epidemia de [[varíola]], embora fontes antigas não tenham dado uma causa para a sua morte.{{sfn|Schroeder|1997|p=56–57}} Ele foi sucedido por [[Cuauhtémoc]], o último ''tlatoani'' mexica independente, que continuou a defesa feroz de Tenochtitlan. Após o [[Cerco de Tenochtitlan|cerco e destruição completa da capital asteca]], ele foi capturado em 13 de agosto de 1521, o que marcou o início da hegemonia espanhola no centro do México. Os espanhóis mantiveram Cuauhtémoc em cativeiro até que ele serfoi torturado e executado sob as ordens de Cortés, supostamente por traição, durante uma fracassada expedição a [[Honduras]] em 1525. Sua morte marcou o fim de uma época tumultuada na história política asteca.{{sfn|Restall|2004|p=149-152}}
 
=== Período colonial ===
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A [[Cidade do México]] foi construída sobre as ruínas de Tenochtitlán, substituindo e cobrindo gradualmente o lago, a ilha e a arquitetura da antiga capital asteca.{{sfn|Mundy|2015|p=''passim''}}{{sfn|Rodríguez-Alegría|2017}}{{sfn|Mundy|2014}} Após a queda de Tenochtitlán, os guerreiros astecas foram alistados como tropas auxiliares ao lado dos aliados espanhóis de Tlaxcalteca e as forças astecas participaram de todas as campanhas subsequentes de conquista no norte e no sul da [[Mesoamérica]]. Isto significou que aspectos da cultura asteca e da língua náuatle continuaram a se expandir durante o início do período colonial, quando as forças auxiliares astecas fizeram assentamentos permanentes em muitas das áreas que foram colocadas sob domínio da coroa espanhola.{{sfn|Matthew|2007}}
 
A dinastia dominante asteca continuou a governar a comunidade indígena de San Juan Tenochtitlan, uma divisão da Cidade do México espanhola, mas os governantes indígenas subsequentes eram em sua maioria fantoches instalados pelos invasores. Um deles foi [[Andrés de Tapia Motelchiuh]], que foi nomeado pelos espanhóis. OutrosOutras antigosantigas cidades-Estado astecas também foram estabelecidas como cidades indígenas coloniais, governadas por um líder indígena local. Este cargo era muitas vezes inicialmente ocupado pela linha dominante indígena hereditária, com o governador sendo o ''tlatoani'', mas as duas posições em muitas cidades náuatles se separaram ao longo do tempo. Os governadores indígenas estavam encarregados da organização política colonial dos índios. Em particular, eles permitiram o funcionamento contínuo do tributo e do trabalho obrigatório dos nativos em geral para beneficiar os detentores espanhóis de ''[[encomiendas]]'', que eram concessões privadas de trabalho e tributo de comunidades indígenas a espanhóis, o que substituiu os senhores astecas pelos espanhóis. No início do período colonial, alguns governantes indígenas conseguiram bastante riqueza e influência e puderam manter posições de poder comparáveis ​​às dos ''encomenderos'' espanhóis.{{sfn|Lockhart|1992}}
 
==== Declínio populacional ====
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Após a chegada dos [[europeus]] no México e a conquista dos nativos, as populações indígenas diminuíram significativamente. Isto ocorreu em grande parte como resultado das [[epidemia]]s de [[vírus]] trazidos para o continente contra o qual os nativos não tinham [[imunidade]]. Entre 1520 e 1521, um surto de [[varíola]] varreu a população de Tenochtitlán e foi decisivo na queda da cidade; outras epidemias significativas ocorreram em 1545 e 1576.{{sfn|McCaa|1995}}
 
Não há consenso geral em relação ao tamanho da população do México no momento da chegada dos europeus. As primeiras estimativas deram números populacionais muito pequenos para o Vale do México. Em 1942, Kubler estimou um número de 200.000 mil pessoas.{{sfn|Kubler|1942}} Em 1963, Borah e Cook usaram listas de tributos pré-conquista para calcular o número de indígenas no México central, estimando uma população entre dezoito e trinta milhões de pessoas, o que foi altamente criticado por confiar em suposições não comprovadas.{{sfn|McCaa|1997}} O arqueólogo William Sanders baseou uma estimativa em evidências arqueológicas de habitações, chegando a uma estimativa entre 1 milhão e 1,2 milhão de habitantes no Vale do México.{{sfn|Sanders|1992}} Whitmore usou um modelo de simulação computacional baseado em censos coloniais para chegar a uma estimativa de 1,5 milhão de pessoas para a região em 1519 e uma estimativa de dezesseis milhões para todo o México.{{sfn|Whitmore|1992}} Dependendo das estimativas da população em 1519, a escala do declínio no {{séc|XVI}} varia de cerca de cinquenta por cento a cerca de noventa por cento — com as estimativas de Sanders e Whitmore sendoestão em torno deste último valor.{{sfn|McCaa|1997}}{{sfn|Morfín|2016|p=189}}
 
==== Continuidade e mudança social e política ====
[[Imagem:JoseSarmientoyValladares,condedeMoctezuma.jpg|thumb|esquerda|José Sarmiento de Valladares, [[Ducado de Moctezuma de Tultengo|Conde de Moctezuma]], [[Lista de vice-reis da Nova Espanha|vice-rei do México]]]]
 
Embora o Império Asteca tenha caído, algumas das suas maiores elites continuaram a manter o ''status'' na era colonial. Os principais herdeiros de Moctezuma II e seus descendentes mantiveram-se em uma classe social elevada. Seu filho, [[Pedro Moctezuma]], gerou um descendente que se casou com a aristocracia espanhola. A partir de então, uma nova geração viu a criação do título, [[Conde de Moctezuma]]. De 1696 a 1701, o [[vice-rei do México]] detinha o título de Conde de Moctezuma. Em 1766, o título se tornou uma [[grandeza]] da [[Espanha]]. Em 1865, (durante o [[Segundo Império Mexicano]]) o título, que era detido por Antonio Maria Moctezuma-Marcilla de Teruel e Navarro, 14.º Conde de Moctezuma de Tultengo, foi elevado ao de um [[duque]], tornando-se assim Duque de Moctezuma, sendo que ''[[Ducado de Moctezuma de Tultengo|Tultengo]]'' foi novamente adicionado em 1992 por [[Juan Carlos I]].{{sfn|Chipman|2005|p=75-95}} Duas das filhas de Moctezuma, Doña Isabel Moctezuma e sua irmã mais nova, Doña Leonor Moctezuma, receberam extensas ''encomiendas'' perpétuas de Hernán Cortes. Doña Leonor Moctezuma casou-se em sucessão de dois espanhóis e deixou suas ''encomiendas'' para sua filha decom seu segundo marido.{{sfn|Himmerich y Valencia|1991|p=195-96}}
 
Os diferentes povos [[náuatles]], assim como outros povos indígenas mesoamericanos da [[Nova Espanha]] colonial, foram capazes de manter muitos aspectos de sua estrutura social e política sob o domínio espanhol. A divisão básica que os espanhóis faziam era entre as populações indígenas, organizadas sob a ''Republica de indios'', separada da esfera hispânica, a ''República de españoles'', que incluía não apenas os europeus, mas também africanos e castas de mestiços. Os espanhóis reconheceram as elites indígenas como nobres dentro do sistema colonial, mantendo a distinção social da era pré-conquista, além de usarem estes nobres como intermediários entre o governo colonial espanhol e suas comunidades indígenas. Isto dependia de sua [[Cristianização|conversão ao cristianismo]] e da lealdade contínua à coroa espanhola. As comunidades náuatles coloniais tinham considerável autonomia para regular seus assuntos locais. Os governantes espanhóis não compreenderamcompreendiam inteiramente a organização política indígena, mas reconheciam a importância do sistema existente e de seus governantes de elite. Eles reformularam o sistema político utilizando as ''[[altépetl]]'' (ou cidades-EstadosEstado) como a unidade básica de governança. Na época colonial, as ''altépetl'' foram renomeadas para ''cabeceras'' ou "cidades-chefe" (embora eles frequentemente mantivessem o termo ''altépetl'' na documentação de idioma náuatle), com assentamentos periféricos chamados ''sujetos'', que eram governados pelas ''cabeceras''. Os espanhóis criaram conselhos municipais de estilo ibérico, ou ''[[Cabildo colonial|cabildos]]'', que geralmente continuavam a funcionar como o grupo dominante de elite da era pré-conquista.{{sfn|Lockhart|1992|p=30-33}}{{sfn|Ouweneel|1995}}
 
O declínio demográfico causado pelas doenças epidêmicas resultou em muitas mudanças populacionais nos padrões de assentamentos e na formação de novos centros populacionais. Estes eram frequentemente reassentamentos forçados sob a política espanhola de congregação. As populações indígenas que viviam em áreas de baixa densidade populacional foram reassentadas para formar novas comunidades, o que facilitava a aproximação dos esforços de evangelização e de exploração do trabalho indígena pelo Estado colonial.{{sfn|Haskett|1991}}{{sfn|Gibson|1964|p=''passim''}}
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[[Imagem:Codex Mendoza folio 60r.jpg|thumb|esquerda|Fólio do ''Codex Mendoza'' mostrando a criação e educação de meninos e meninas astecas, como eles foram instruídos em diferentes tipos de trabalho, e como foram punidos por mau comportamento]]
 
O padrão da família asteca era bilateral, contando parentes do lado dos pais e mães da mesma família, e a herança também era passada tanto aos filhos quanto às filhas. Isso significava que as mulheres podiam possuir propriedades, assim como os homens, e que as mulheres, portanto, tinham uma boa dose de liberdade econômica de seus cônjuges. No entanto, a sociedade asteca era altamente marcada pelo gênero, com papéis separados para homens e mulheres. Esperava-se que os homens trabalhassem fora de casa, como fazendeiros, comerciantes, artesãos e guerreiros, enquanto se esperava que as mulheres assumissem as responsabilidades da esfera doméstica. As mulheres podiam, no entanto, trabalhar fora de casa como pequenas comerciantes, médicas, sacerdotes e parteiras. A guerra era altamente valorizada e uma fonte de alto prestígio, mas o trabalho das mulheres era concebido metaforicamente como equivalente à guerra e igualmente importante para manter o equilíbrio do mundo e agradar osaos deuses. Essa situação levou alguns estudiosos a descrever a ideologia de gênero asteca como uma ideologia não de uma hierarquia de gênero, mas de complementaridade de gênero, com os papéis de gênero sendo separados, mas iguais.{{sfn|Burkhart|1997}}
 
Entre os nobres, as alianças matrimoniais eram frequentemente usadas como uma estratégia política, com nobres menos importantes casando-se com filhas de linhagens mais prestigiosas, cujo status era herdado por seus filhos. Nobres eram também poligâmicos, com senhores com muitas esposas. A [[poligamia]] não era muito comum entre os plebeus e algumas fontes a descrevem como sendo proibida.{{sfn|Hassig|2016}}
 
===''Altépetl'' e ''calpolli''===
A principal unidade da organização política asteca era a cidade-estadoEstado, em náuatle chamada de ''[[altépetl]]'', que significa "montanha de água". Cada ''altépetl'' era liderada por um governante, um ''[[tlatoani]]'', com autoridade sobre um grupo de nobres e uma população de plebeus. Uma ''altépetl'' incluía uma capital que servia como centro religioso, o centro de distribuição e organização de uma população local que frequentemente vivia espalhada em pequenos assentamentos ao redor da capital. Uma ''altépetl'' era também a principal fonte de identidade étnica para os habitantes, embora fosse frequentemente composta por grupos que falavam diferentes línguas. Cada ''altépetl'' via-se como estando em um contraste político a outras ''altépetl'', e a guerra foi travada entre estadosEstados ''altépetl''. Na bacia do México, uma ''altépetl'' era composta de subdivisões chamadas ''calpolli'', que serviam como principal unidade organizacional para os plebeus. Em Tlaxcala e no vale de Puebla, uma ''altépetl'' foi organizada em unidades ''teccalli'' encabeçadas por um senhor (''tecutli''), que controlaria um território e distribuiria os direitos de terra entre os plebeus. Uma ''calpolli'' era ao mesmo tempo uma unidade territorial onde os plebeus organizavam o trabalho e o uso da terra, já que a terra não era propriedade privada, e frequentemente uma unidade de parentesco como uma rede de famílias que eram ligadas através de casamentos. Os líderes da ''calpolli'' podiam ser ou se tornar membros da nobreza, e, nesse caso, eles podiam representar seus interesses no governo altepício.{{sfn|Lockhart|1992|p=14–47}}{{sfn|Townsend|2009|p=61–62}}
 
No vale de Morelos, o arqueólogo [[Michael E. Smith]] estimou que uma ''altépetl'' típica tinha entre dez e quinze mil habitantes e cobria uma área entre setenta e cem quilômetros quadrados. No vale de Morelos, os tamanhos das ''altépetl'' eram um pouco menores. Smith argumentou que a ''altépetl'' era principalmente uma unidade política, composta por uma população leal a um senhor, e não como uma unidade territorial. Smith fez essa distinção pois, em algumas áreas, pequenos assentamentos com diferentes alianças altépetis foram intercaladas.{{sfn|Smith|2008|p=90–91}}
 
=== Tríplice Aliança e Império Asteca ===
[[Imagem:Aztec Empire 1519 map-pt.svg|thumb|upright=1.5|Mapa indicando a extensão máxima atingida pelo Império Asteca]]
 
O Império Asteca foi governado por meios indiretos. Como a maioria dos impérios europeus, era etnicamente muito diversificado, mas diferentediferentemente da maioria dos impérios europeus, era mais um sistema de [[tributo]]s do que um sistema único de governo. O etno-historiador Ross Hassig argumentou que o império asteca é mais bem entendido como um império informal ou hegemônico porque não exerceu autoridade suprema sobre as terras conquistadas; apenas esperava que os tributos fossem pagos e exercia força somente na medida em que era necessário para garantir o pagamento de tributos.{{sfn|Hassig|1988|p=17-19}}{{sfn|Berdan|1996b|p=209-216}} Foi também um império descontínuo, pois nem todos os territórios dominados estavam conectados; por exemplo, as zonas periféricas do sul de Xoconochco não estavam em contato direto com o centro. A natureza hegemônica do império asteca pode ser vista no fato de que os governantes locais geralmente foram restituídos em seus cargos uma vez que sua cidade-estadoEstado foi conquistada, e os astecas geralmente não interferiam nos assuntos locais, desde que os pagamentos de tributos fossem feitos e as elites locais participavam voluntariamente. Essa conformidade foi assegurada pelo estabelecimento e manutenção de uma rede de elites, relacionadas por meio de casamentos mistos e diferentes formas de trocas.{{sfn|Berdan|1996a|p=209-216}}
 
No entanto, a expansão do império foi realizada através do controle militar das zonas fronteiriças, em províncias estratégicas, onde foi adotada uma abordagem muito mais direta à conquista e ao controle. Essas províncias estratégicas estavam frequentemente isentas de exigências tributárias. Os astecas até investiram nessas áreas, mantendo uma presença militar permanente, instalando governantes fantoches ou até mesmo deslocando populações inteiras do centro para manter uma base de apoio leal.{{sfn|Smith|1996|p=141-147}} Desta forma, o sistema asteca de governo distinguia entre diferentes estratégias de controle nas regiões externas do império, longe do centro do vale do México. Algumas províncias foram tratadas como províncias tributárias, que forneceram a base para a estabilidade econômica do império, e províncias estratégicas, que serviram de base para uma maior expansão.{{sfn|Berdan|1996b|p=7}}
 
Embora a forma de governo seja muitas vezes referida como um império, na verdade a maioria das áreas dentro do império foram organizadas como cidades-estadosEstados, conhecidas como ''altépetl'' em náuatle. Estas eram pequenas sociedades governadas por um líder hereditário (''tlatoani'') de uma legítima dinastia nobre. O período asteca inicial foi uma época de crescimento e competição entre as ''altépetl''. Mesmo depois que a confederação da Tríplice Aliança foi formada em 1427 e começou sua expansão através das conquistas, a ''altépetl'' continuou sendo a forma dominante de organização no nível local. O papel eficiente da ''altépetl'' como unidade política regional foi amplamente responsável pelo sucesso da forma hegemônica de controle do império.{{sfn|Smith|2000}}
 
== Economia ==
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[[Imagem:The_Florentine_Codex-_Agriculture.tiff|thumb|Ilustração do ''Florentine Codex'' mostrando o cultivo de milho, o principal alimento, com o uso de ferramentas simples]]
 
Como todos os [[Mesoamérica|povos mesoamericanos]], a sociedade asteca foi organizada em torno da agricultura do milho. O ambiente úmido no vale do México, com seus muitos lagos e pântanos, permitiu a agricultura intensiva. As principais plantações, além do milho, eram feijões, abóboras, pimentões e amaranto. Particularmente importante para a produção agrícola no vale foi a construção de [[chinampa]]s nos lagos, ilhas artificiais que permitiram a conversão das águas rasas em jardins altamente férteis que poderiam ser cultivados durante todo o ano. As chinampas são extensões de terras agrícolas feitas pelo homem, criadas a partir de camadas alternadas de lama do fundo dos lagos, além de matéria vegetal e outra vegetação. Esses canteiros foram separados por canais estreitos, o que permitiu que os agricultores se movessem entre eles por intermédio de canoa. As chinampas eram terras extremamente férteis e produziam, em média, sete safras anuais. Com base nos rendimentos atuais das chinampas, estima-se que um hectare dela alimentaria vinte indivíduos, ao passo quelogo nove mil hectares poderiam alimentar 180. 000.{{sfn|Noguera|1974}}
 
Os astecas intensificaram ainda mais a produção agrícola através da construção de sistemas de irrigação artificial. Enquanto a maior parte da agricultura ocorreu fora das áreas densamente povoadas, dentro das cidades havia outro método de agricultura (de pequena escala). Cada família tinha a sua própria horta, onde plantavamplantava milho, frutas, ervas, remédios e outras plantas importantes. Quando a cidade de [[Tenochtitlán]] se transformou num grande centro urbano, a água lhe era fornecida por meio de aquedutos de nascentes nas margens do lago e a população organizou um sistema que coletava lixo humano para ser usado como fertilizante. Através da agricultura intensiva, os astecas conseguiram sustentar uma grande população urbanizada. O lago também era uma rica fonte de proteínas na forma de animais aquáticos, como peixes, anfíbios, camarões, insetos e ovos de insetos, e aves aquáticas. A presença de tais fontes variadas de proteína significava que havia pouco uso da carne de animais domésticos (somente perus e cães eram mantidos), e os estudiosos calcularam que não havia escassez de proteína entre os habitantes do vale do México.{{sfn|Townsend|2009|p=171–79}}
 
=== Artesanato e ofícios ===
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[[Imagem:Tlatelolco Marketplace.JPG|thumb|Modelo diorama do mercado asteca em [[Tlatelolco]]]]
 
Os produtos forameram distribuídos através de uma rede de mercados; alguns mercados eram especializados em uma única mercadoria (por exemplo, o mercado de cães de [[Acolman]]) e outros mercados em geral, com presença de muitos produtos diferentes. Os mercados eram altamente organizados com um sistema de supervisores que cuidavam de que apenas os comerciantes autorizados pudessem vender seus produtos e puniam aqueles que enganavam seus clientes ou vendiam mercadorias precárias ou falsificadas. Uma típica cidade teria um mercado semanal (a cada cinco dias), enquanto cidades maiores mantinham mercados todos os dias. Cortés indicou que o mercado central de Tlatelolco, cidade irmã de Tenochtitlan, era visitado por 60. 000 pessoas diariamente. Alguns vendedores nos mercados eram pequenos vendedores; os fazendeiros podiam vender alguns de seus produtos, os oleiros vendiam suas vasilhas e assim por diante. Outros fornecedores eram comerciantes profissionais que viajavam de mercado para mercado buscando lucros.{{sfn|Hirth|2016}}
 
Os [[pochteca]]s eram comerciantes especializados organizados em guildas exclusivas. Eles faziam longas expedições para todas as partes da Mesoamérica, trazendo de volta bens de luxo exóticos, e serviam como juízes e supervisores do mercado de Tlatelolco. Embora a economia do México asteca fosse comercializada (em seu uso de dinheiro, mercados e comerciantes), a terra e a mão de obra não eram geralmente mercadorias à venda, embora alguns tipos de terra pudessem ser vendidos entre nobres.{{sfn|Hirth|2016|p=18, 37-38}} No setor comercial da economia, vários tipos de dinheiro estavam em uso regular.{{sfn|Hirth|2016|p=Ch.2}} Pequenas compras forameram feitas com grãos de cacau, que tiveram que ser importados de regiões de planície. Nos mercados astecas, um pequeno coelho valia 30 feijões, um ovo de peru custava 3 feijões e um tamal custava um único feijão. Para compras maiores, comprimentos padronizados de tecido de algodão chamados de ''quachtli'' foram usados. Havia diferentes graus de ''quachtli'', variando em valores de 65 a 300 grãos de cacau. Cerca de 20 ''quachtli'' poderiapoderiam sustentar um plebeu por um ano em Tenochtitlan.{{sfn|Smith|1997|p=126}}
 
=== Tributo ===
[[Imagem:Codex Mendoza folio 47r.jpg|thumb|Um fólio do ''Codex Mendoza'' mostrando o tributo pago a Tenochtitlan em mercadorias comerciais exóticas pelo ''altepetl'' de Xoconochco na costa do Pacífico]]
 
Outra forma de distribuição de bens foiera feita através do pagamento de tributo. Quando um ''altépetl'' era conquistado, o vencedor impunha um tributo anual, geralmente pago na forma de qualquer produto local que fosse mais valioso ou precioso. Várias páginas do ''[[Codex Mendoza]]'' listavam cidades tributárias juntamente com os bens que forneciam, que incluíam não apenas luxos como penas, roupas adornadas e miçangas de [[Pedra verde|pedras verdes]], mas também produtos mais úteis, como tecidos, lenha e comida. O tributo era geralmente pago duas vezes ou quatro vezes por ano em épocas diferentes.{{sfn|Berdan|1997}}
 
Escavações arqueológicas nas províncias governadas por astecas mostraram que a incorporação ao império teve custos e benefícios para os povos provinciais. Do lado positivo, o império promoveu o comércio, e os produtos exóticos, da obsidiana ao bronze, conseguiram chegar às casas dos plebeus e dos nobres. Parceiros comerciais também incluíram o povo inimigo conhecido como [[Purépechas]] (também denominados de Tarascans), que serviram como uma fonte de utensílios de bronze e jóiasjoias. Do lado negativo, o tributo imperial impôs um ônus aos lares mais comuns, que tiveram que aumentar seu trabalho para pagar sua parcela de tributo. Os nobres, por outro lado, muitas vezes se beneficiaram sob o domínio imperial por causa da natureza indireta da organização imperial. O império teve que confiar nos reis e nobres locais e ofereceu-lhes privilégios para ajudar na manutenção da ordem e do tributo.{{sfn|Smith|2005b}}
 
== Urbanismo ==