Joaquim Marques Lisboa: diferenças entre revisões

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'''Joaquim Marques Lisboa, Marquês de Tamandaré''' ([[Rio Grande (Rio Grande do Sul)|Rio Grande]], {{dtlink|lang=br|13|12|1807}}<ref name="achy">[[Aquiles Porto-Alegre|PORTO-ALEGRE, Achylles.]] Homens Illustres do Rio Grande do Sul. Livraria Selbach, Porto Alegre, 1917.</ref> — [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], {{dtlink|lang=br|20|3|1897}})<ref name="achy" />, foi um militar da [[Armada Imperial Brasileira]] que atingiu o posto de Almirante. Toda sua vida foi dedicada à Marinha do Brasil, inclusive como membro vitalício do Conselho Militar e de Justiça, depois Supremo Tribunal Militar, desde sua criação até 1891, quando o Governo da República concedeu-lhe a exoneração pedida. Herói nacional, é o Patrono da Marinha de Guerra do Brasil e o dia 13 de dezembro, dia de seu nascimento foi instituído, em 4 de setembro de 1925, pelo Ministro da Marinha Almirante [[Alexandrino Faria de Alencar]], como o [[Alexandrino Faria de Alencar|Dia do Marinheiro]] [[Alexandrino Faria de Alencar|.]] Participou da [[Guerra da Independência do Brasil]], [[Guerra da Cisplatina]], da [[Confederação do Equador]] e da repressão às revoltas ocorridas durante o [[Período regencial (Brasil)|Período Regencial]]: a [[Cabanagem]], a [[Sabinada]], a [[Guerra dos Farrapos|Farroupilha]], a [[Balaiada]] e a [[Revolução Praieira|Praieira]]. No plano externo, participou da [[Guerra do Prata]] e, com a eclosão da [[Guerra do Paraguai]], comandou as forças navais em operações na bacia do [[Rio da Prata]], em apoio à [[Batalha do Passo da Pátria]], à [[Batalha de Curuzu]] e à [[Batalha de Curupaiti]]. Sua memória ainda levanta paixões entre os militares da Marinha na atualidade, além de ser uma imagem a ser estudada por civis e militares.<ref name=":3" />
 
==Biografia==
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Joaquim Marques Lisboa era filho do português Francisco Marques Lisboa (nascido na Vila de Famalicão, Província de [[Estremadura]] em 1767) e de Eufrásia Joaquina de Azevedo Lima (nascida em [[Viamão]], Rio Grande do Sul).<ref name=achy/> Era o décimo filho da numerosa prole do casal, sendo um de seus irmãos [[Henrique Marques de Oliveira Lisboa]],<ref>[[Henrique Boiteux|Boiteux, Henrique]], A República Catharinense - Notas para a sua história. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1927. Página 6</ref> que no posto de [[Tenente-coronel|Tenente Coronel]], combateu os [[Guerra dos Farrapos|Farroupilhas]] em [[Laguna (Santa Catarina)|Laguna]].
 
Francisco Marques Lisboa possuía propriedades na cidade de [[Rio Grande (Rio Grande do Sul)|Rio Grande]] e na antiga vila e atual município de [[São José do Norte]], separada de Rio Grande pelo canal que liga a [[Lagoa dos Patos]] ao [[Oceano Atlântico]]. Muito se tem discutido se o futuro Almirante teria nascido não em Rio Grande, mas em São José do Norte. À medida que sua projeção crescia no cenário nacional, exacerbava-se a polêmica, com cada uma das localidades almejando ser a terra natal de Marques Lisboa. Sem a existência cabal de uma certidão de nascimento, acredita-se que ele tenha nascido em Rio Grande pois, em dezembro de 1883, Tamandaré dirigiu-se à Câmara de Vereadores de Rio Grande, declarando ser essa a cidade onde nasceu.<ref name=":4">{{citar web |url=http://www.revistanavigator.com.br/navig6/art/N6_art5.pdf |título=O Despertar|publicado=Revista Navigator |acessodata=24 de abril de 2019}}</ref>
 
Aos 5 anos e em companhia dos pais, viajou para o Rio de Janeiro, onde ficou aos cuidados de sua irmã, Maria Eufrásia, e de seu marido, José Antônio Lisboa, até a conclusão do curso primário, no colégio do Professor Carvalho.<ref name=":2">{{citar livro|título=Marquês de Tamandaré, Patrono da Marinha (Seu Perfil Histórico)|ultimo=Lima|primeiro=José Francisco de|editora=Serviço de Documentação da Marinha|ano=1982|local=Rio de Janeiro|páginas=45|acessodata=04/2019}}</ref> Aos 13 anos, com seus pais, Joaquim regressa à terra natal, no mesmo barco em que viera para a Corte. Em 1821, num dos veleiros do pai e agora sozinho, retorna à Corte, para dar prosseguimento a seus estudos. Em 1822, após muita insistência junto a seu pai, a 22 de novembro, Francisco requer para seu filho a honra de servir, como voluntário na Esquadra que se preparava para lutar contra as forças portuguesas estacionadas na [[Bahia]]. Deferido seu requerimento em 04/03/4 de março de 1823, o jovem Joaquim iniciou sua carreira na incipiente Marinha como Voluntário da Armada Imperial, ainda em formação, a bordo da Fragata ''Niterói'' sob o comando de [[João Taylor|John Taylor]]<ref name="achy" /> , em cujo mastro tremulava o pavilhão do [[Thomas Cochrane, 10º Conde de Dundonald|Almirante Cochrane]].<ref name=":3" />
 
Seu irmão, José Marques Lisboa, funcionário do Ministério dos Estrangeiros e procurador de Joaquim Marques Lisboa, enviou a Cochrane, uma petição em que solicitava se dignasse atestar o tempo em que o voluntário Marques Lisboa servira sob suas ordens e em setembro seguinte, encaminhou um requerimento ao Diretor da Academia Imperial da Marinha, solicitando certidão do tempo em que o mesmo frequentou os estudos acadêmicos desta Corte, sua conduta e seu aproveitamento. De posse dessas duas certidões, José Marques Lisboa dirigiu ao Imperador um requerimento, encaminhando-o também ao Comandante Taylor, no qual ao historiar a fé de ofício do voluntário Marques Lisboa, solicita sua promoção ao posto de Segundo Tenente de Comissão. Assim, a 02/12/2 de dezembro de 1825, Joaquim Marques Lisboa era promovido a Segundo Tenente de Comissão. A necessidade de oficiais brasileiros habilitados para guarnecer os navios da Esquadra que se achavam em águas de [[Montevidéu]], iria dar-lhe a chance de, a 26/01/ de janeiro de 1826, ser efetivado no posto de Segundo Tenente do quadro efetivo dos oficiais da Armada.<ref name=":4" />
 
Casara-se com uma sobrinha e companheira de infância e quase de sua idade, Maria Eufrásia. O casamento aconteceu na Igreja de Nossa Senhora da Glória em 19 de fevereiro de 1839 no Rio de Janeiro. Após a Batalha do Riachuelo, o número de ex-combatentes inválidos chegados à capital foi tomando proporções alarmantes, surgindo assim uma necessidade de ser criado um asilo onde melhor pudessem ser tratados. E foi sua esposa, Viscondessa de Tamandaré que, apesar da situação que o país atravessava, lembrou-se de organizar leilões de prendas obtidas das famílias de suas relações, como também do comércio e de muitas outras pessoas que se dispusessem a ajudá-la nesse patriótico fim. O primeiro leilão foi um sucesso, o que a incentivou a continuar e a conseguir juntar os fundos necessários. Um fato interessante é que uma jovem vinda do Piauí, alistada no Batalhão de Voluntários da Pátria, que seguindo o exemplo de Maria Quitéria queria lutar por seu país. Foi importante ajudante da Viscondessa e seu nome era Jovita Alves Feitosa, que morreu pobre no Rio de Janeiro.<ref name=":2" />
 
[[Tamandaré (Pernambuco)|Tamandaré]], origem de seu título, tratava-se de uma pequena vila e um importante porto de apoio no litoral pernambucano, no qual seu irmão mais velho, Manoel Marques Lisboa no ano de 1824, pegara em armas pela [[Confederação do Equador]] contrário ao Império nascente, e que, após repelir uma invasão imperial na região em 8 de junho de 1824, viria a falecer na segunda tentativa de tomar o local, sendo, porém, esta mais bem sucedida pois a vitória foi conquistada. Durante uma visita do Imperador D. Pedro II, 35 anos depois, ao litoral de Pernambuco, Joaquim Marques Lisboa pediu-lhe para fazer uma parada e transladar os restos mortais de seu irmão Manoel, para o jazigo da família no Rio de Janeiro. D. Pedro concorda e sensibilizado pelo gesto, lhe confere no ano seguinte a honraria de Barão. Após divergências sobre o nome, D. Pedro II, ao lembrar do ocorrido em Tamandaré, deu-lhe o título de Barão de Tamandaré, em memória de seu irmão, e do lugar que fora para ele muito importante, tornando-se um ponto de referência para a amizade dessas duas figuras históricas.<ref>{{citar livro|título=Tamandaré: o príncipe dos mares|ultimo=Fernandes|primeiro=Juca|editora=Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária,|ano=2010|local=São Paulo|páginas=174p|acessodata=07/05/2019}}</ref>
 
No decorrer de sua vida, o Brasil passou de Colônia de Portugal à Reino Unido de Portugal e Algarves, a Império e em 1889, à República. Formou-se um país e Tamandaré foi parte importante de uma geração de marinheiros, guerreiros e estadistas a quem se deve a preservação da maior herança dos brasileiros: um país, rico em recursos naturais, pátria de uma nação unida por uma cultura e um idioma.<ref name=":0" />
 
== Campanhas ==
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Sua carreira, usada como exemplo até os dias atuais, é um excelente material de estudo para melhor compreender o Brasil do século XIX.
 
Ao longo de toda sua vida militar inúmeros fatos beiram o mítico, no entanto muitos autores ressaltam, para além de seus feitos heróicos, que apesar de sua proximidade com o Imperador D. Pedro II nunca galgou cargos políticos, o que era comum a época, atuando de forma exclusiva no campo militar, fato curioso pois lutou pelo Estado Imperial em todas as intervenções militares internas e externas.<ref name=":1">{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/772545444|título=Tamandaré|ultimo=Brazil. Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha.|data=2009|editora=Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha|edicao=1a. ed|local=Rio de Janeiro|isbn=9788570470850|oclc=772545444}}</ref> Seu despertar para a vida no mar se deu após uma viagem sozinho ao Rio de Janeiro a bordo de um navio da Companhia de seu pai, onde desempenhou o papel de piloto auxiliando o capitão, nos ofícios do mar. Na época a política fervilhava num caldeirão, o que deu chance ao jovem rapaz de se alistar como voluntário e iniciar sua jornada na Armada Nacional que o levou até o mais alto posto da hierarquia naval. Mudanças políticas se iniciaram no Reino do Brasil com o retorno do Rei D. João VI para Portugal, deixando seu filho, o Príncipe Regente D. Pedro, em solo brasileiro para governar em nome da coroa. Porém, incomodado com as decisões tomadas pelas Cortes de Lisboa, D. Pedro resolve desobedecê-las, contribuindo para a separação política, com a proclamação da Independência do Brasil, fazendo-se coroar como seu Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo, com o título de D. Pedro I. Como voluntário, a bordo da ''[[Niterói (fragata)|Niterói]]'', tomou parte em vários combates navais no litoral da então província da [[Bahia]], onde teve seu batismo de fogo no dia 4 de maio de 1823, quando a Esquadra brasileira chocou-se com velas inimigas. Dias mais tarde perseguiu os portugueses em fuga, apresando 17 navios inimigos e levando a bandeira imperial até quase a embocadura do Tejo, a bordo da fragata ''Niterói.''
 
Ao retornar da importante missão de que fora incumbida a Fragata ''Niterói'', Marques Lisboa foi matriculado em março de 1824, na Academia Imperial de Marinha. Entretanto, os acontecimentos internos iriam exigir a presença da Esquadra em diferentes pontos do país, com a finalidade de impor a autoridade do Governo Central. Mal refeitos dos desgastes das [[Guerra da Independência do Brasil|Guerras de Independência]], alguns navios seguiram para [[Pernambuco]], para debelar a revolução chefiada por [[Manuel de Carvalho Pais de Andrade|Manoel de Carvalho Pais de Andrade]], que tinha como objetivo, reunir as várias Províncias do Nordeste à proclamar a República e constituir a [[Confederação do Equador]]. Assim que soube que em breve uma Divisão Naval seguiria para o Norte, a fim de reprimir os focos revolucionários manifestados em várias Províncias daquela região do País, Marques Lisboa solicitou ao Almirante Cochrane seu embarque em um dos navios que comporiam a referida Divisão. Apesar da recusa de [[Francisco Vilela Barbosa]], então Ministro da Marinha, Cochrane não se deixou abater e levou tal solicitação diretamente ao Imperador, a quem fez questão de apresentar o jovem Joaquim. Com argumentos bastante consistentes, o Imperador não teve outra alternativa, senão ceder e a 30/07/1824, uma Resolução Imperial chegou a Academia, nomeando o voluntário Joaquim Marques Lisboa para embarcar a bordo do [[Navio-almirante|Capitânia]] da Esquadra, a [[Pedro I (nau)|Nau ''Pedro I'']]. Tendo os revoltosos sido silenciados, a frota continuou na região apagando outros possíveis focos de revolução. Joaquim desempenhou com esmero todas as missões que lhe foram incumbidas.<ref name=":1" />
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*No estado de [[Mato Grosso]], na cidade de [[Barra do Garças]], foi erguido um busto em sua homenagem.
 
== Nobreza, Medalhas e Outros Prêmios<ref name=":3">Lima, José Francisco de (1982). Marquês de Tamandaré, Patrono da Marinha (Seu Perfil Histórico). Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha. 45 páginas </ref> ==
 
* Pelos elevados serviços prestados ao império, foi agraciado com os títulos de [[Barão]] com grandeza (14/03/1860), [[Visconde]] com grandeza (18/02/1865), [[Conde]] (13/12/1887) e [[Marquês]] de Tamandaré (16/05/1888), tendo sido o primeiro oficial da Armada a ganhar um título de nobreza. D. Pedro II escolheu o nome [[Tamandaré (Pernambuco)|Tamandaré]] em honra da praia pernambucana onde esteve de passagem com o futuro Almirante, que pediu ao Imperador o favor de recolher os despojos de seu irmão Manoel Marques Lisboa, enterrado no cemitério daquela localidade.
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== Memória do Mundo da UNESCO ==
O Arquivo da Marinha, possui em seu acervo, uma Coleção catalogada de aproximadamente 1500 documentos de sua correspondência, denominada "Arquivo Tamandaré", que consiste num fundo de 1492 documentos, divididos em 17 livros, sendo uma rica fonte de material histórico sobre o Patrono da Marinha do Brasil. O início da coleta se deu em 1949, quando a Marinha anunciou a compra pelo então Ministério da Marinha, junto à Leon Victor Louis Robichez, viúvo de Luiza Marques Lisboa Robichez, neta do Marquês de Tamandaré, de documentos e objetos; entre eles 153 ofícios do Ministro da Marinha da Guerra do Paraguai, o Encalhe do Jequitinhonha, Diplomas de promoções e nomeações de Joaquim Marques Lisboa entre outros inúmeros documentos de valor incalculável para a Marinha e para a História do Brasil. Esses documentos, muito importantes para a historiografia brasileira, foram apresentados em 2010, a Mesa Diretora do Comitê da Memória do Mundo da UNESCO e, por ele, nominado como "Memória do Mundo-Brasil", passando então, a fazer parte de um Registro do Patrimônio Documental, semelhante ao existente para lugares considerados como de valor universal, incluídos na lista do Patrimônio Mundial da Humanidade, da UNESCO.<ref>{{Citar web|titulo=Registro Nacional do Brasil do Programa Memória do Mundo da Unesco|url=http://mow.arquivonacional.gov.br/index.php/acervos-brasileiros/registro-nacional/122-registro-nacional-do-brasil-do-programa-mem%C3%B3ria-do-munod-da-unesco.html|obra=mow.arquivonacional.gov.br|acessodata=2019-05-23}}</ref>
 
{{Referências|col=2}}