Astacidea: diferenças entre revisões

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A região do abdome é a região mais posterior, e possui apêndices que recebem o nome de pleópodes <ref name=":2" />. No grupo dos Astacidea, de forma geral, eles não apresentam o primeiro par de pleópodes bem desenvolvido<ref name=":1" />, enquanto que os quatro demais pares de pleópodes apresentam anatomia semelhante entre si, auxiliando no posicionamento e locomoção do animal <ref name=":0" />. A região do abdome termina em um leque caudal, uma estrutura de anatomia semelhante a um leque, que é muito importante na natação, principalmente em situações de fuga. O leque caudal é formado pela estrutura do télson, prolongamento rígido ao final do abdome, que sustenta os urópodes, estruturas achatadas ligadas ao télson, bem desenvolvidas nos Astacidea <ref name=":0" />.
 
== Fisiologia ==
 
=== Órgãos Sensoriais ===
Os Astacidea apresentam uma grande variedade de estruturas receptivas que permitem a eles a percepção e compreensão do mundo que os rodeia, essencial para a sua sobrevivência. Como uma das estruturas principais, relacionados com a recepção de informações luminosas, têm-se a presença de um par de olhos compostos suspensos por um pedúnculo, e podem se movem em quase todas as direções graças à músculos oculares <ref name=":0" />. Um detalhe interessante nos olhos desses crustáceos é a capacidade de alterar sua sensibilidade à luz, dependendo da quantidade de luz do ambiente em que se encontram, pela mobilização dos pigmentos presentes nos olhos, em que: em condições de baixa luminosidade, os pigmentos se retraem, permitindo uma maior captação de luz de todas as direções, permitindo que o animal enxergue mesmo em condições de baixa luminosidade; já em condições de alta luminosidade, os pigmentos se separam em cada olho, permitindo uma captura de imagem, permitindo melhor acuidade e detecção de imagens em movimento <ref name=":3">{{Citar periódico|ultimo=Gherardi|primeiro=Francesca|ultimo2=Souty-Grosset|primeiro2=Catherine|ultimo3=Vogt|primeiro3=Günter|ultimo4=Diéguez-Uribeondo|primeiro4=Javier|ultimo5=Crandall|primeiro5=Keith A.|titulo=Infraorder Astacidea Latreille, 1802 p.p.: the freshwater crayfish|url=http://dx.doi.org/10.1163/9789004187801_011|publicado=Brill|paginas=269–423|isbn=9789004187801}}</ref>. Além disso, é sabido também da capacidade desses animais de enxergar cores, pois é conhecido que apresentam pelo menos dois receptores que distinguem cores, porém ainda não é totalmente conhecido o espectro de observação <ref name=":3" />.
 
Outra classe de receptores bem importantes, é a de mecanorreceptores, com funções táteis e hidrodinâmicas, que recobrem praticamente todo o corpo do animal <ref name=":3" />. Como os tipos principais de receptores, há as cerdas sensoriais, que se espalham por quase toda a superfície do corpo, associadas à recepção de sinais de intensidade média <ref>{{Citar periódico|ultimo=Breithaupt|primeiro=Thomas|ultimo2=Tautz|primeiro2=Jürgen|data=1990|titulo=The Sensitivity of Crayfish Mechanoreceptors to Hydrodynamic and Acoustic Stimuli|url=http://dx.doi.org/10.1007/978-3-0348-5689-8_12|local=Basel|publicado=Birkhäuser Basel|paginas=114–120|isbn=9783034856911}}</ref>; há também os estatocistos, órgãos localizados na parte basal das antênulas, que consiste em uma câmara quitinosa que contém um estatólito, composto de pequenos grãos de sal, no seu interior, que tem função principal de manutenção do equilíbrio e percepção da força da gravidade; como outro tipo importante, estão os receptores hidrodinâmicos, essenciais na percepção da direção do fluxo de água, vital para atividades como natação, fuga e predação <ref name=":3" />.
 
== Comportamento ==
 
=== Construção de galerias ===
[[Ficheiro:Burrowing Crayfish in his burrow.jpg|miniaturadaimagem|Lagostim dentro de sua toca (Vale notar que ele mantém o interior da construção alagado).]]
Um hábito apresentado por grande parte das lagostas e lagostins desse grupo é a escavação e construção de tocas, que podem ir de simples buracos com uma abertura de entrada e saída próximos a rochas, à construção de estruturas mais complexas <ref name=":4">{{Citar periódico|ultimo=Lopez|primeiro=Glenn|data=2017-12|titulo=Lifestyles and Feeding Biology. The Natural History of the Crustacea, Volume 2. Edited by Martin Thiel and Les Watling. Oxford and New York: Oxford University Press. $175.00. xv + 567 p. + 8 pl.; ill.; index. ISBN: 978-0-19-979702-8. 2015.|url=http://dx.doi.org/10.1086/694965|jornal=The Quarterly Review of Biology|volume=92|numero=4|paginas=471–472|doi=10.1086/694965|issn=0033-5770}}</ref>. A construção dessas tocas é um importante comportamento para a sobrevivência das lagostas e lagostins, atuando como refúgio contra mudanças de condições do ambiente (como variações extremas de temperatura ou de regime de água), esconderijo contra predadores, e abrigo em fases do ciclo de vida delicadas para a sobrevivência do animal, como fase reprodutiva e de muda <ref name=":5">{{Citar periódico|ultimo=Peay|primeiro=Stephanie|data=2003|titulo=Biology of freshwater crayfish, edited by D. Holdich. Blackwell Publishing Ltd., Oxford, 2002, 720pp. ISBN 0-632-05431-X.|url=http://dx.doi.org/10.1002/aqc.557|jornal=Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems|volume=13|numero=4|paginas=371–372|doi=10.1002/aqc.557|issn=1052-7613}}</ref>.
[[Ficheiro:Homarus gammarus – Carantec.jpg|miniaturadaimagem|''Homarus gammarus'' deixando sua toca construída abaixo de uma formação rochosa.]]
Para as espécies lagostim de água doce, onde esse comportamento é mais bem estudado, uma grande quantidade das espécies conhecidas apresenta a construção de tocas, e até galerias, como uma característica presente <ref name=":4" />. A complexidade da construção das tocas varia não só dependendo do hábito da espécie, mas da condição ambiental que o indivíduo está inserido, levando em conta as condições ambientais locais e a densidade populacional. Podem apresentar hábito solitário, quanto ao convívio nas tocas, ou podem compartilhar a toca com um parceiro <ref name=":4" />. Geralmente, elas são classificadas em três categorias gerais <ref name=":4" /><ref name=":5" />:
 
# Espécies que passam quase toda a sua vida dentro dos abrigos, e sai em raras ocasiões, na procura de alimento e de parceiros, chamados de Enterradores primários. Geralmente, as tocas construídas por essas espécies podem ser bem complexas, sendo um bom exemplo dessa categoria o ''Procamburus hagenianus'', que pode construir tocas que variam de 0,9 a 4,5 metros de profundidade.
# Espécies que constroem suas tocas em regiões que sofrem inundações sazonais, em que os animais se enterram principalmente quando a água regride.
# Espécies que se enterram somente em momentos específicos do ciclo de vida, como em situações de seca ou com a chegada do inverno. Nesse grupo, é observado que algumas espécies conseguem fazer tocas muito complexas, cavando abaixo do nível da água, e formando galerias que se estendem para todos os lados [1].
 
Em espécies de lagostas marinhas, como a ''Homarus vulgaris'', a lagosta europeia cava suas tocas próximas de regiões rochosas . O mesmo é observado na espécie Homarus americanus, que se enterra em depressões de solos lamacentos, em que é possível a construção de tocas mais permanentes, próximas a terrenos rochosos. Nessas espécies, essas escavações conseguem ser feitas desde as fases juvenis <ref>{{Citar periódico|ultimo=Dybern|primeiro=B. I.|data=1973-03|titulo=Lobster burrows in Swedish waters|url=http://dx.doi.org/10.1007/bf01609529|jornal=Helgoländer Wissenschaftliche Meeresuntersuchungen|volume=24|numero=1-4|paginas=401–414|doi=10.1007/bf01609529|issn=0017-9957}}</ref>.
 
=== Agonismo ===
[[Ficheiro:LobsterFight.ogv|miniaturadaimagem|Dois ''Homarus americanus'' juvenis com comportamento agonista. É possível visualizar tanto comportamento de ameaça, quanto de luta propriamente dita.]]
A interação agonística, ou seja, o encontro agressivo entre dois indivíduos no estabelecimento de uma hierarquia social é um comportamento observado em diversos grupos, e dentre as lagostas e lagostins ele é bastante visto na natureza <ref name=":6">{{Citar periódico|ultimo=Callaghan|primeiro=David T.|ultimo2=Dew|primeiro2=William A.|ultimo3=Weisbord|primeiro3=Cassidy D.|ultimo4=Pyle|primeiro4=Greg G.|data=2012|titulo=The role of various sensory inputs in establishing social hierarchies in crayfish|url=http://dx.doi.org/10.1163/1568539x-00003033|jornal=Behaviour|volume=149|numero=13-14|paginas=1443–1458|doi=10.1163/1568539x-00003033|issn=0005-7959}}</ref>. Esse tipo de interação geralmente se deve a disputa de recursos do ambiente, como alimento ou parceiros sexuais. O padrão observado em algumas espécies de Astacidea, como ''Nephrops norvegicus, Homarus americanus'' e ''Faxonius rusticus'', apresentam esse tipo de comportamento, e o recurso principal disputado é o espaço para a formação de tocas, essencial para a sobrevivência e reprodução de indivíduos dessas espécies <ref name=":7">{{Citar periódico|ultimo=Sbragaglia|primeiro=Valerio|ultimo2=Leiva|primeiro2=David|ultimo3=Arias|primeiro3=Anna|ultimo4=Antonio García|primeiro4=Jose|ultimo5=Aguzzi|primeiro5=Jacopo|ultimo6=Breithaupt|primeiro6=Thomas|data=2017-10-19|titulo=Fighting over burrows: the emergence of dominance hierarchies in the Norway lobster (Nephrops norvegicus)|url=http://dx.doi.org/10.1242/jeb.165969|jornal=The Journal of Experimental Biology|volume=220|numero=24|paginas=4624–4633|doi=10.1242/jeb.165969|issn=0022-0949}}</ref>. Outro recurso importante, de elevada taxa de disputa é a seleção de parceiros sexuais, mas essa seleção também tem direta relação com a presença e qualidade da toca que o macho possui. No caso da ''Homarus americanus'', a seleção da toca está relacionada principalmente ao tamanho, em que indivíduos de maior hierarquia social apresentam tocas maiores, capazes de comportar o macho e a fêmea <ref name=":7" />.
 
O estabelecimento de uma alta posição hierárquica está relacionado com um conjunto de características morfológicas e comportamentais, que vão desde tamanho, sexo, tamanho das quelípedes e estado físico até conhecimentos acerca dos valores dos recursos e de posses <ref name=":8">{{Citar periódico|ultimo=Gherardi|primeiro=Francesca|ultimo2=Souty-Grosset|primeiro2=Catherine|ultimo3=Vogt|primeiro3=Günter|ultimo4=Diéguez-Uribeondo|primeiro4=Javier|ultimo5=Crandall|primeiro5=Keith A.|titulo=Infraorder Astacidea Latreille, 1802 p.p.: the freshwater crayfish|url=http://dx.doi.org/10.1163/9789004187801_011|publicado=Brill|paginas=269–423|isbn=9789004187801}}</ref>. Como vantagens observadas ao alcançar um status mais elevado na hierarquia há a manutenção de maiores distâncias entre outros indivíduos da mesma espécie, característica essa relacionada com a obtenção mais facilitada de certos recursos, como maiores tocas, e maior número de parceiros e de alimento <ref name=":8" />.
 
Em muitos grupos de animais, o status pode ser percebido e comunicado através os mais diferentes tipos de sinalizações. Nas lagostas e lagonstins, os feromônios parecem ser o principal mecanismo de informação de status, em que apenas utilizando o “olfato” um indivíduo consegue determinar a dominância exercida por outro, mecanismo esse importante na prevenção de um possível conflito <ref name=":6" />. Como fonte principal desses feromônios, observa-se que eles vêm principalmente da urina que é excretada, um modo presente em grande parte dos Astacidea <ref name=":6" />.
 
Em ''Orconectes virilis'', foram observados quatro tipos principais de comportamentos relacionados ao encontro de dois indivíduos <ref name=":8" />:
 
# Evitar o conflito, em que o animal recua diante de um outro de maior dominância.
# Ameaça, pela colocação das quelas em posição de ataque
# Ataque, que corresponde a uma investida unilateral, geralmente utilizando os quelípedes
# Luta, em que ambos os envolvidos travam suas quelas, e usam suas pernas para se alavancar contra o oponente. É o comportamento de maior gasto energético.
 
==Descrição==