Decápodes: diferenças entre revisões

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Os quelípodes são adaptados às preferências e hábito de cada espécie. Decápodes que raspam [[Alga|algas]] de rochas ou se alimentam de detritos da superfície da areia e lodo, geralmente apresentam quelípodes com dedos no formato de colher. Os que se alimentam de [[moluscos]] possuem [[Quelípode|quelípodes]] dimórficos. A quela robusta e modificada para esmagar tem dentes rombudos, parecidos com molares, que são adaptados para quebrar conchas, ao passo que a quela cortante é mais delicada e adaptada para cortar carne. <ref name=":43"> BRANCO, Joaquim Olinto; VERANI, José Roberto. Dinâmica da alimentação natural de Callinectes danae Smith (Decapoda, Portunidae) na Lagoa da Conceição, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, v. 14, n. 4, p. 1003-1018, 1997 </ref>
 
Detritívoros e [[Suspensívoro|suspensívoros]] se alimentam de partículas pequenas de alimento. Muitos decápodes são [[filtradores]] que passam a corrente de água através de uma malha de cerdas, que é utilizada para coletar partículas orgânicas em [[suspensão]]. Uma corrente própria de alimentação pode ser gerada pelos crustáceos, que também podem tirar vantagem de corrente já existente. <ref name=":2" />
 
=== Digestão ===
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== Trocas gasosas ==
 
As [[Brânquia|brânquias]] são compostas por um eixo central, correndo canais branquiais aferentes e [[eferentes]], em que se arranjam extensões ou ramos laterais. O [[sangue]] de decápodos possui [[hemocianina]] dissolvida em seu [[Plasma (sangue)|plasma]], e segue a partir do canal aferente para o interior dos respectivos filamentos, voltando então para o interior do canal eferente. <ref name=":46"> GOODMAN, Saul H.; CAVEY, Michael J. Organization of a phyllobranchiate gill from the green shore crab Carcinus maenas (Crustacea, Decapoda). Cell and Tissue Research, v. 260, n. 3, p. 495-505, 1990. </ref> As respectivas estruturas para trocas gasosas surgem a partir da parede corporal ou próximo ao ponto de ligação do respectivo apêndice, recebendo diferentes nomes conforme sua localização. <ref name=":47"> Hobbs, H. H., & Lodge, D. M. (2010). Decapoda. Ecology and Classification of North American Freshwater Invertebrates, 901–967. doi:10.1016/b978-0-12-374855-3.00022-4 </ref> O representante com maior número de brânquias é o [[camarão]] [[Penaeidae|peneídeo]] ''Benthesicymus'', com 24, mas o comum é a redução desse número nos demais decápodos.
 
Para que ocorram efetivamente as trocas gasosas é necessária a produção de uma corrente ventilatória, através dos batimentos de um escafognatito ou alça branquial com forma de remo, projetado a partir da segunda maxila. A água é puxada para frente e a corrente flui para fora. Em camarões a água pode entrar na câmara branquial por qualquer ponto ao longo das bordas ventrais e posteriores da [[carapaça]]. Nos demais [[Decapoda|decápodos]] a carapaça geralmente se encaixa de maneira mais firme e assim a entrada da água se limita pelas margens posteriores da carapaça e ao redor das pernas.
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O estatocisto e suas cerdas são estruturas do [[Exosqueleto|exoesqueleto]] que são substituídas, junto com o estatólito, a cada [[Ecdise|muda]]. O estatólito não é de origem [[Epiderme|epidérmica]], portanto, não precisa ser reconstruído após a ecdise.
 
Caranguejos e alguns outros decápodes possuem estatocistos capazes de detectar aceleração em diferentes direções. Esses [[Estatocisto|estatocistos]] possuem cerdas adicionais, distantes dos [[Estatólito|estatólitos]], os quais são flexionadas pela [[inércia]] da água da cavidade do [[estatocisto]]. Por exemplo, em situação de repouso, a cutícula e água do interior do [[estatocisto]] estão estacionárias e os neurônios, na ausência de estímulos, enviam constantes sinais tônicos ao [[cérebro]]. Caso a cabeça se movimente, a cutícula do [[estatocisto]] acompanha o movimento na mesma velocidade que a cabeça, mas a água se movimenta depois. Isso faz com que as cerdas se movimentam através da água e acabam sendo flexionadas pela resistência inicial oferecida por ela. Os neurônios alteram a taxa de propagação dos sinais que são enviados ao cérebro, o qual interpreta isto como uma aceleração.
 
== Sistema endócrino e neurossecretor ==
Os sistemas [[Sistema endócrino|endócrinos]] e neurossecretor dos [[crustáceos]] e [[insetos]] são os mais bem conhecido dentre os [[invertebrados]], contudo, o grupo dos decápodes foi o mais bem estudado. Eventos de duração prolongada ou contínua, como [[Ecdise|muda]], [[reprodução]] e [[Dispersão biológica|dispersão]] de [[Cromatóforo|cromatóforos]], são controlados por [[hormônios]]. A maioria desses hormônios é produto de neurossecreção, liberados pelos [[Axónio|axônios]] de [[Neurónio|neurônios]] secretores. Alguns [[Órgão|órgãos]] endócrinos que são controlados pelo [[sistema nervoso]] também produzem alguns hormônios. Esses hormônios são liberados no [[sangue]] e são transportados até seus órgãos-alvo. O sistema neurossecretor mais importante dos decápodes se localiza no pedúnculo ocular, que possui [[olho composto]] em seu ápice, e dentro do pedúnculo, está o [[nervo óptico]] e vários conjuntos de células neuronais secretoras <ref name=":50"> Smith, G., & Naylor, E. (2009). The neurosecretory system of the eyestalk of Carcinus maenas (Crustacea: Decapoda). Journal of Zoology, 166(3), 313–321. doi:10.1111/j.1469-7998.1972.tb03101.x </ref> Os hormônios sintetizados por células neurossecretoras do órgão X são liberadas pelos axônios para dentro da glândula do seio e depois para a hemocele. A circulação de sangue distribui esses hormônios até seus tecidos-alvo.
 
Os órgãos [[Endócrino|endócrinos]] conhecidos nos crustáceos são o órgão Y, os [[Ovário|ovários]], e a glândula androgênica. O órgão Y, que se localiza no [[cefalotórax]], é controlado parcialmente por hormônios da glândula do seio e distribuído pela corrente sanguínea. Um dos hormônios secretados pelo órgão Y é a ecdisona, envolvido no processo de muda e é muito semelhante ao que está presente nos [[insetos]].
 
== Cromatóforos ==
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O cromatóforo dos crustáceos é uma célula com grânulos de pigmento [[intracelulares]] e com processo citoplasmáticos ramificados. As [[Célula|células]] ocorrem em grupos, mas geralmente como unidades independentes, formando órgãos cromatofóricos multicelulares com cooperação entre as células. Os grânulos de pigmento migram do interior de cada célula para alterar o impacto visual do órgão inteiro. Quando os grânulos disponíveis estão dispersos e ocupando o máximo da superfície, seu impacto visual é o maior possível. Quando eles estão concentrados na forma de uma pequena mancha no centro do órgão, o impacto é minimizado. <ref name=":52"> McNamara, J. C. (1980). Ultrastructure of the chromatophores of Palaemon affinis Heilprin (crustacea: decapoda). The structural basis of pigment migration. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, 46(2), 219–229. doi:10.1016/0022-0981(80)90032-5 </ref>
 
São conhecidos cromatóforos com pigmentos [[branco]], [[vermelho]], [[amarelo]], [[azul]], [[marrom]] e [[preto]]. Os pigmentos vermelhos, amarelos e azuis são derivados de [[caroteno]] obtido na própria [[alimentação]]. Já a cor avermelhada tão marcante em caranguejos, lagostas e camarões é resultado de um [[carotenoide]]. No [[Exosqueleto|exoesqueleto]] dos animais vivos, esse carotenoide está conjugado com uma [[proteína]] e apresenta coloração azul. A fervura [[Desnaturação|desnatura]] a proteína e altera a cor para vermelho. Por fim, pigmentos marrons e pretos são frutos das [[Melanina|melaninas]]. Em alguns camarões, um mesmo cromatóforo pode ter um ou mais pigmentos diferentes, os quais podem migrar independentemente uns dos outros. Quase sempre, entretanto, a maioria dos cromatóforos é [[monocromática]].
 
O tipo mais comum de mudança rápida de cor é o simples clareamento ou escurecimento característico de muitos caranguejos <ref name=":53"> SOKOLOWICZ, Carolina C.; AYRES-PERES, Luciane; SANTOS, Sandro. Diel activity and digestion time of Aegla longirostri (Crustacea, Decapoda, Anomura). Iheringia. Série Zoologia, v. 97, n. 3, p. 235-238, 2007. </ref>, incluindo o chama-maré ''Uca'', os quais são mais escuros durante o [[dia]] e mais claros durante a [[noite]]. O ritmo é [[endógeno]] e persiste na ausência de estímulos ambientais. Entretanto, há casos de crustáceos que são capazes de mudança de cores mais elaboradas, apresentando uma ampla variação de tonalidades. O movimento dos pigmentos nos cromatóforos é controlado por hormônios provenientes da glândula do seio. <ref name=":54"> SANTOS, Marcel José Martins dos; PINHEIRO, Marcelo Antonio Amaro. Ablação ocular no camarão Macrobrachium rosenbergii (De Man)(Crustacea, Decapoda, Palaemonidae): Efeitos sobre a reprodução, pigmentação epidérmica e atividade alimentar. Revista Brasileira de Zoologia, p. 667-680, 2000. </ref>
 
== Ritmos fisiológicos ==
A migração dos pigmentos nos [[Cromatóforo|cromatóforos]], nos [[Omatídeo|omatídeos]] e outros processo fisiológicos frequentemente evidencia uma atividade rítmica nos [[Crustáceo|crustáceos]]. Esses ritmos são controlados por relógios biológicos e têm sido estudados em várias [[Espécie|espécies]], em particular, no [[caranguejo]] ''[[Carcinus maenas|Carcinus meanas]]'', e no caranguejo [[Chama-maré|chama-maré,]] Uca. <ref name=":53" />Ambos vivem em superfícies planas arenosas e na zona entremarés de praias protegidas, mas ''[[Carcinus]]'' é ativo durante a maré alta enquanto ''Uca'' é ativo quando o substrato fica exposto durante a maré baixa. Mediante a dispersão e concentração de pigmentos dos [[Cromatóforo|cromatóforos]], ambas as [[Espécie|espécies]] se tornam mais claras à [[noite]] mais escuras durante o [[dia]]. O ritmo endógeno persiste quando os [[Caranguejo|caranguejos]] são mantidos constantemente em claro ou escuro. A remoção dos pedúnculos oculares, os quais secretam o hormônio de controle dos [[Pigmento|pigmentos]], interrompe o ritmo em ''Carcinus'' e reduz sua amplitude em ''[[Uca]]''. <ref name=":54" />
 
A atividade locomotora em ambos os [[Caranguejo|caranguejos]] segue a variação da maré e é regulado por um relógio biológico relacionado ao ciclo lunar. Após cerca de uma [[semana]] sob condições constantes, o ritmo é perdido. Ele pode ser restaurado pela simples imersão de ''Uca'' em água do mar ou submetendo ''Carcinus'' a temperaturas mais baixas.
 
Ritmos semelhantes estão sendo observados em outras [[Espécie|espécies]] de [[Crustáceo|crustáceos]], como o siri azul (''Callinectes sapidus'') e a baratinha-da-praia (''Ligia excotica'').
 
== Reprodução ==
A maioria dos decápodes é [[Dioicia|dioica]], embora alguns sejam [[Hermafrodita|hermafroditas]]. <ref name=":55">OCAÑA, Frank A.; ORTIZ, Manuel; APÍN, Yanet. Nuevos registros de crustáceos marinos (Amphipoda, Isopoda, Decapoda) de aguas cubanas/New records of marine crustacean (Amphipoda, Isopoda, Decapoda) from Cuban waters. Revista de Investigaciones Marinas, v. 30, n. 3, p. 245-248, 2011. </ref> A transferência de [[Espermatozoide|espermatozoides]] é indireta e acontece a partir da produção de espermatóforos, envolvendo comumente a [[cópula]]. Já a [[Fecundação|fertilização]] pode ser tanto interna quanto externa.
 
Em geral, os machos decápodes possuem um par de [[Testículo|testículos]] que estão conectados aos [[Gonóporo|gonóporos]] por um par de dutos espermáticos. Os [[Gonóporo|gonóporos]] estão localizados no oitavo segmento torácico. Já os testículos estão localizados em posição dorsal no tórax e/ou abdome e apresentam variedade morfológica dentro dos grupos. O grau de desenvolvimento do duto espermático também varia em função, principalmente, da extensão de envolvimento desse na formação do [[espermatóforo]]. Os [[Espermatozoide|espermatozoides]] não possuem uma parte mediana nem [[flagelo]], como o [[humano]], e apresentam forma que lembra uma tachinha ou estrela.
 
É possível encontrar [[Organismo|organismos]] nesse grupo que apresentam [[pênis]], mas não são usados como estrutura introdutória. Ao invés disso, os [[Pleópode|pleópodes]] mais anteriores (primeiros segmentos abdominais), chamados de gonópodes, são modificados para atuarem como estruturas para a transferência indireta dos [[Espermatóforo|espermatóforos]] para a [[fêmea]]. Os pênis, com os gonóporos em suas extremidades, normalmente, transferem os espermatozoides dos testículos para os gonópodes ou, em situações mais raras, diretamente para a fêmea (não sendo esse caso o mais comum). Por exemplo, muitos [[Brachyura|branquiúros]] apresentam o primeiro [[pleópode]] em forma de um tubo longo, fino e aberto em ambas as extremidades; enquanto o segundo [[pleópode]] é longo, semelhante a um êmbolo fino que se encaixa dentro desse tubo. O [[pênis]], curto e flexível nesse grupo, deposita o espermatóforo na base do tubo e o êmbolo desliza dentro do tubo, transferindo, assim, o espermatóforo para a [[fêmea]]. <ref name=":2" />
 
As fêmeas quase sempre possuem um par de ovários, localizados dorsalmente no [[tórax]] e [[Abdómen|abdome]] e conectados ao exterior por um par de [[Oviduto|ovidutos]]. Os [[Oviduto|ovidutos]] abrem-se ventralmente no sexto segmento torácico. Na condição mais primitiva, os [[Espermatóforo|espermatóforos]] são simplesmente grudados no corpo da [[fêmea]], mas na maioria dos decápodes eles são injetados para dentro de um receptáculo seminal interno ou externo, no qual ficam armazenados, às vezes por até muitos anos, até que aconteça de fato a [[fertilização]]. Os receptáculos seminais podem ser simples invaginações do [[Exosqueleto|exoesqueleto]] (estruturas externas) ou representados por uma dilatação do oviduto (estruturas internas). Nos decápodes com [[fertilização]] interna (braquiúros), os espermatóforos são depositados diretamente dentro de um receptáculo seminal interno. Já nos organismos em que ocorre [[fertilização]] externa (maioria dos decápodes), os [[Espermatóforo|espermatóforos]] são colocados na superfície ventral da [[fêmea]] ou em um receptáculo externo e a [[fertilização]] ocorre à medida que os [[Óvulo|óvulos]] vão sendo liberados pelo gonóporos. <ref name=":2" />
 
Os decápodes [[Aquático|aquáticos]] se atraem por meio de sinais olfativos ([[Feromônio|feromônios]]) e tácteis, enquanto [[Espécie|espécies]] terrestres usam sinais tanto visuais quanto auditivos. É comum ocorrer rituais de corte pré-copulatórios. Em muitos decápodes a transferência de [[Espermatóforo|espermatóforos]] do [[macho]] para o receptáculo seminal da [[fêmea]] só é possível durante um breve momento imediatamente após a [[fêmea]] ter sofrido uma [[ecdise]], quando sua cutícula ainda está mole. Em muito [[Brachyura|braquiúros]], o [[macho]] carrega a [[fêmea]] enquanto espera o momento da muda que se aproxima. Ele a solta enquanto ela muda e a [[cópula]] ocorre em seguida.
[[Ficheiro:Caranguejo_chama-maré.jpg|miniaturadaimagem|Alvaro E. Migotto. '''Caranguejo chama-maré'''. Banco de imagens ''Cifonauta''. Disponível em: <nowiki>http://cifonauta.cebimar.usp.br/photo/5306/</nowiki> <ref>{{citar web|url=http://cifonauta.cebimar.usp.br/photo/5306/|titulo=Cifonauta Cebimar|data=19/01/2004|acessodata=24/06/2019|publicado=Cifonauta Cebimar|ultimo=Migotto|primeiro=Alvaro}}</ref>Acesso em: 2019-06-24.]]
Sinais visuais e acústicos são de especial importância para a atração nas espécies terrestres. Por exemplo, o caranguejo semiterrestre chama-maré (''Uca'') exibe um [[comportamento]] de corte elaborado que tem sido estudado. Os [[Macho|machos]] atraem as [[Fêmea|fêmeas]] para seus abrigos nos quais deverá ocorrer o [[Cópula|acasalamento]]. As [[Fêmea|fêmeas]] permanecem nos abrigos enquanto incubam os ovos até a eclosão das [[Larva|larvas]]. Os [[Macho|machos]] desse grupo de [[Caranguejo|caranguejos]] usam o quelípode maior e muito desenvolvido para atrair as [[Fêmea|fêmeas]] e defender seus abrigos contra outros machos. Encontros entre machos dão origem a combates altamente ritualizados, nos quais a quela maior é posicionada como um escudo. Os movimentos de combate envolvem variações de empurrões. <ref name=":2" />
 
O [[macho]] de chama-maré atrai a [[fêmea]] movimentado a quela maior em um padrão que é específico para cada [[espécie]]. [[Macho|Machos]] podem também atrair as [[Fêmea|fêmeas]] com sinais acústicos que são produzidos com o batimento da quela maior contra o substrato ou flexionando rapidamente as pernas locomotoras. O número de batidas em série e o intervalo entre as séries são específicos para cada [[espécie]]. Os sons são transmitidos na forma de vibrações através do [[sedimento]]. As [[Fêmea|fêmeas]] podem detectar esses sinais a até um metro de distância por órgãos especializados localizados nas pernas.
 
Durante a [[cópula]], os camarões orientam-se tipicamente em ângulos retos, de tal forma que as respectivas regiões genitais nas superfícies ventrais de cada um fiquem em aposição. O primeiro e o segundo pleópodes do macho encontram-se modificados e são usados na transferência do espermatóforo para um receptáculo localizado entre as pernas torácicas da fêmea. <ref name=":2" />
 
Em lagostins e [[Lagosta|lagostas]], o [[macho]] vira a [[fêmea]] de cabeça para baixo e imobiliza os quelípodes dela com os seus próprios. Nos lagostins, os gonópodes são inseridos dentro do receptáculo seminal e os [[Espermatóforo|espermatóforos]] são conduzidos pelos [[Suco|sulcos]] presentes nos próprios gonópodes. Caso o receptáculo seminal esteja ausente, como acontece nas [[Lagosta|lagostas]], os [[Espermatóforo|espermatóforos]] são presos ao corpo da [[fêmea]], particularmente nas bases dos dois últimos pares de pernas. Esses [[Espermatóforo|espermatóforos]] se apresentam como manchas de [[cor]] escura e visíveis nas fêmeas da lagosta do gênero ''Panulirus''. Os [[Anomura|anomuros]] ermitãos precisam sair, em parte, de suas conchas para acasalarem. Os parceiros fazem contato entre suas respectivas superfícies ventrais e os [[Espermatóforo|espermatóforos]] e [[Óvulo|óvulos]] são liberados ao mesmo tempo.
 
Durante a cópula dos [[Caranguejo|caranguejos]] [[Brachyura|braquiúros]], um dos indivíduos fica sob o outro, de forma que suas superfícies ventrais fiquem em posições opostas. O [[Abdómen|abdome]] do [[macho]], que costuma estar flexionado sob o cefalotórax, é distendido para expor os gonópodes, esses conduzem os [[Espermatóforo|espermatóforos]] são depositados no receptáculo seminal. Em [[Espécie|espécies]] sem receptáculos seminais, os ovos são depositados logo após a [[cópula]]. Em [[Espécie|espécies]] com um receptáculo seminal interno e [[Fecundação|fertilização]] interna (como os [[Brachyura|braquiúros]]), a abertura do receptáculo é selada por um tampão e a [[fertilização]] pode não acontecer antes de um ou mais anos após a cópula.
 
== Regulação hormonal e desenvolvimento ==
Embora o [[sexo]] dos organismos seja determinado geneticamente na maioria dos [[Crustáceo|crustáceos]], muitas etapas da [[reprodução]], como a [[maturação]], manutenção e funcionamento das gônadas e o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, estão sob controle hormonal. <ref name=":47" />
 
A glândula do seio libera o hormônio inibidor da gônada (GIF) que inibe a maturação dos [[Óvulo|óvulos]] durante os períodos não reprodutivos do ano. Durante a estação reprodutiva, o hormônio liberado é o hormônio estimulador da gônada (HEG) a partir de comandos do sistema nervoso central. Na presença desse segundo hormônio, o nível de HIG no sangue diminui e o desenvolvimento dos [[Óvulo|óvulos]] começa. Ao mesmo tempo, e também sobre a influência do HEG, o ovário produz um terceiro hormônio que induz alterações anatômicas secundárias necessárias que estão associadas com a incubação dos ovos, como o desenvolvimento de cerdas ovígeras ou o desenvolvimento dos oostegitos nos peracáridos. Essas características surgem com a muda seguinte.
 
Nos [[Malacostraca|malacóstracos]], o desenvolvimento dos testículos e dos outros caracteres sexuais nos machos é controlado por hormônios produzidos em uma massa de tecido [[Sistema endócrino|endócrino]] secreto que é chamado de glândula androgênica. Essa glândula se localiza no final do canal deferente ou, até mesmo, nos próprios [[Testículo|testículos]]. Ela é inibida por neurossecreções via glândula do seio, mas é estimulado por neurossecreções do [[cérebro]]. Ao ser estimulada, a glândula androgênica secreta o hormônio androgênico, o qual induz à [[espermatogênese]] e ao desenvolvimento das estruturas reprodutivas dos machos. Também estimula o comportamento reprodutivo do [[macho]] e o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários. A remoção dessa glândula leva à perda das características masculinas e a conversão dos testículos em tecido ovariano. Ao passo que se a glândula for transplantada para uma [[fêmea]], os [[Ovário|ovários]]. <ref name=":2" />
 
== Desenvolvimento ==
Camarões peneídeos primitivos e táxons relacionados liberam seus ovos diretamente no [[oceano]] e os abandonam. Mas, em todos os outros decápodes, os ovos são aderidos e incubados nas [[Fêmea|fêmeas]]. Em [[Fêmea|fêmeas]] de caranguejos, o abdome, que comumente está flexionado firmemente, é distendido para dar espaço à massa de ovos.
[[Ficheiro:Homarus_gammarus_zoea.jpg|miniaturadaimagem|184x184px|Fase larval Zoéa da espécie ''Homarus gammarus'' (Malacostraca, Decapoda, [[Nephropidae]]).]]
O estágio de [[eclosão]] varia muito nos decápodes. Nos camarões primitivos, que liberam os ovos direto na água, a forma de [[eclosão]] é uma larva náuplio ou metanáuplio. Já em todos os outros decápodes, os ovos são incubados nos [[Pleópode|pleópodes]] das [[Fêmea|fêmeas]] e, nas espécies marinhas, a eclosão da larva ocorre no estágio de protozoé ou zoé. Os estágios de zoé da maioria dos caranguejos são facilmente reconhecíveis pela presença de um espinho rostral muito longo e algumas vezes por um par de espinhos laterais na margem posterior da [[carapaça]]. Ao menos em algumas [[Espécie|espécies]], os [[Espinho|espinhos]] parecem contribuir para a redução da [[predação]] das larvas por pequenos peixes. O estágio de pós-larva dos [[Caranguejo|caranguejos]] é uma megalopa com todos os pares de apêndices já presentes. <ref name=":2" />
 
Muitos decápodes com larvas planctônicas habitam águas costeiras rasas, [[Estuário|estuários]] ou [[Manguezal|manguezais]] durante a fase adulta ou no estágio de jovem. Por exemplo, os [[Estuário|estuários]] e os [[Manguezal|manguezais]] são berçários para muitas espécies de camarões [[Penaeidae|peneídeos]]. Há uma tendência de abreviação da fase larva nos decápodes que habitam oceanos frios ou profundidades abissais. Nos decápodes estritamente dulciaquícolas, o desenvolvimento é direto e estágios larvais geralmente são ausentes.
 
O desenvolvimento em quase todos os [[Anomura|anomuros]] e [[Brachyura|braquiúros]] terrestres ocorre no mar. Carregando os ovos em desenvolvimento no [[Abdómen|abdome]], a fêmea migra para a costa e entra na água para liberar as zoés recém-eclodidas. O desenvolvimento nesse caso é direto nos [[Caranguejo|caranguejos]] potamídeos terrestres, os quais são independentes do [[oceano]], mas voltam à água doce para se reproduzir.
 
== Muda e crescimento ==
Muitos [[crustáceos]], como os lagostins, [[lagosta]] ''[[Homarus]]'' e as cracas, sofrem mudas e crescem durante a vida toda, embora os períodos de intermuda tornem-se progressivamente mais longos. <ref name=":56">Freeman, J. A., & Bartell, C. K. (1975). Characterization of the molt cycle and its hormonal control in Palaemonetes pugio (decapoda, caridea). General and Comparative Endocrinology, 25(4), 517–528. doi:10.1016/0016-6480(75)90162-8 </ref> Tais [[Crustáceo|crustáceos]] podem ter uma vida longa e outros podem se tornar bastante grandes. Em outros, como alguns [[Caranguejo|caranguejos]], os processos de muda e crescimento cessam após determinado número de ínstares, quando o indivíduo atinge a maturidade sexual ou um determinado tamanho.
 
Os processos [[Fisiologia|fisiológicos]] envolvidos na muda são regulados por interações hormonais e são semelhantes àquelas que ocorrem nos [[insetos]]. Um órgão produz [[Ecdise|ecdisona]], que atua nas [[Célula|células]] [[Epiderme (pele)|epidérmicas]] e cecos digestivos, iniciando a pró-ecdise. A produção de [[Ecdise|ecdisona]] é inibida por um hormônio liberado pela glândula do seio, a ação desse hormônio é uma importante diferença com relação ao controle da muda nos [[insetos]], nos quais o corpo cardíaco estimula, ao invés de inibir, a produção de ecdisona. <ref name=":2" />
 
A regulação dos hormônios da muda, e consequentemente de todo o ciclo de muda, depende de estímulos diferentes que atuam no [[sistema nervoso central]]. Nos lagostins, os quais mudam [[Sazonal|sazonalmente]], o fotoperíodo (duração do dia) é o fator de controle,enquanto no caranguejo ''Carcinus'', o crescimento dos tecidos é o fator de controle.
 
== Biodiversidade de Decapoda ==