Søren Kierkegaard: diferenças entre revisões

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Durante as décadas de 1830 e 1840, as ruas de Copenhague eram tortuosas e poucas carruagens passavam por elas. Kierkegaard adorava andar nessas ruas. Em 1848, Kierkegaard escreveu: "Eu tinha verdadeira satisfação cristã no pensamento de que, se não houvesse outro, definitivamente havia um homem em Copenhague com quem todas as pessoas pobres poderiam abordar livremente e conversar na rua; se não houvesse outro, havia um homem que, qualquer que fosse o círculo social que ele mais freqüentava, não evitava o contato com os pobres, mas saudava toda empregada que lhe parecia familiar, todo servo, todo trabalhador comum."<ref>''The Point of View of My Work as An Author'': ''A Report to History'' by Søren Kierkegaard, written in 1848, published in 1859 by his brother Peter Kierkegaard Translated with introduction and notes by Walter Lowrie, 1962, Harper Torchbooks, pp. 48–49</ref> A [[Catedral de Nossa Senhora (Copenhague)|Catedral de Nossa Senhora]] ficava em uma extremidade da cidade, onde o bispo [[Jacob Peter Mynster]] pregava o Evangelho. No outro extremo estava o Royal Theatre, onde Fru Heiberg se apresentava.<ref>{{cite book|title=Søren Kierkegaard|first=Johannes|last=Hohlenberg|others=Translated by T.H. Croxall|publisher= Pantheon Books|year= 1954|oclc=53008941}}</ref>
 
Baseando-se em uma interpretação especulativa de publicações inéditas de Kierkegaard, especialmente um rascunho de uma história chamada ''O Grande Terremoto'',<ref name="Watkin">{{harvnb|Watkin|2000}}</ref> alguns estudiosos argumentam que o pai de Kierkegaard acreditava que havia despertado a ira de Deus e que nenhum de seus filhos sobreviveria a ela. Diz-se que ele acreditava que seus pecados pessoais (como amaldiçoar o nome de Deus em sua juventude<ref name=":1" /> ou engravidar Ane fora do casamento) provocaram essa punição. Apesar de cinco de seus sete filhos terem morrido antes dele, tanto Kierkegaard quanto seu irmão, [[Peter Kierkegaard|Peter Christian Kierkegaard]], sobreviveram por anos depois da morte de Michael.<ref name="GarffBio" >{{harvnb|Garff|2005}}</ref> Peter, que era sete anos mais velho de Kierkegaard, mais tarde, tornou-se bispo em [[Aalborg]].<ref name="GarffBio" /> De acordo com a scholar Julia Watkin, o interesse precoce de Michael na [[Igreja dos Irmãos Morávios]] pode ter-lhe despertado uma profunda sensação dos efeitos devastadores provenientes do pecado.<ref>Outstanding Christian Thinkers, Soren Kierkegaard 1997 p. 8ff – Watkin taught philosophy at University of Tasmania and ran ''The Kierkegaard Research Center''</ref>
[[imagem:Søren Kierkegaard's family2.jpg|direita|250px|miniatura|Quando Michael (Mikael) Kierkegaard morreu em 9 de agosto de 1838, Søren havia perdido além de seus pais, todos os seus irmãos e irmãs, exceto Peter, que mais tarde se tornou Bispo de Aalborg na Igreja Luterana do Estado Dinamarquês.]]
Kierkegaard acreditava que ninguém reteria seus pecados. Mesmo que alguém não acreditasse no perdão do pecado, esse alguém não viveria sua própria vida como uma objeção contra a existência do perdão.<ref>Papers VI B 13 n.d 14-145, Søren Kierkegaard Works of Love, Hong p. 380 (1848), Concluding Unscientific Postscript, Hong p. 226ff, Sickness Unto Death, Hannay p. 154ff</ref> Ele afirmou que [[Catão, o Jovem]] cometeu suicídio antes que [[Júlio César|César]] tivesse a chance de perdoá-lo. Para Kierkegaard, esse medo de não encontrar perdão, de acordo com Kierkegaard, é devastador.<ref>Caesar did many an illustrious deed, but even if nothing were preserved but one single statement he is supposed to have made, I would admire him. After Cato committed suicide, Caesar is supposed to have said, "There Cato wrested from me my most beautiful victory, for I would have forgiven him." ''Stages on Life's Way'', Hong p. 384, 481–485 he wrote more about this in 1847 and linked forgiveness to self-denial. <blockquote>In eternity you will not be asked how large a fortune you are leaving behind-the survivors ask about that; or about how many battles you won, about how sagacious you were, how powerful your influence-that after all, becomes your reputation for posterity. No, eternity will not ask about what worldly things you leave behind you in the world. But it will ask about what riches you have gathered in heaven, about how often you conquered your own mind, about what control you have exercised over yourself or whether you have been a slave, about how often you have mastered yourself in self-denial or whether you have never done so, about how often you in self-denial have been willing to make a sacrifice for a good cause or whether you were never willing, about how often you in self-denial have forgiven your enemy, whether seven times or seventy times seven times, about how often you have suffered, not for your own sake, for your own selfish interests’ sake, but what you in self-denial have suffered for God’s sake. Søren Kierkegaard 1847 ''Upbuilding Discourses in Various Spirits'', Hong p. 223-224</blockquote></ref><ref>Johann Goethe was also very much interested in suicide and wrote about it in his autobiography where he described external methods used for committing suicide ([https://archive.org/stream/autobiographyofg00goet#page/506/mode/1up "Suicide" from ''The Auto-biography of Goethe'']).</ref> Edna Hong, tradutora das obras de Kierkegaard, citou as passagens sobre o perdão em seu livro de 1984, ''Forgiveness is a Work As well, a Grace''.<ref>Edna Hong, ''Forgiveness is a Work as Well as a Grace'', 1984 Augsburg Publishing House p. 58.</ref><ref>Søren Kierkegaard 1847 ''Upbuilding Discourses in Various Spirits'', Hong, pp. 246–247.</ref><ref>Søren Kierkegaard ''Works of Love'', 1847 Hong p. 342-344, 384–385.</ref> Em 1954, [[Samuel Barber]] compôs uma [[cantata]] chamada ''Prayers of Kierkegaard'', baseada em sua ideia de perdão:<ref name='time'>[http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,821049,00.html Review of the premiere of the work in ''Time Magazine'' December 20, 1954]</ref>
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Em 8 de setembro de 1840, Kierkegaard formalizou o pedido de noivado a Olsen. No entanto, Kierkegaard logo se sentiu desiludido com as perspectivas de se casar. Quebrou o noivado a 11 de agosto de 1841, apesar de se acreditar que havia um amor profundo entre eles. Nos seus Diários, Kierkegaard menciona a sua crença de que sua "melancolia" o tornava impróprio para o casamento, mas o motivo exacto para o rompimento do noivado permanece pouco claro.<ref name="GarffBio" /><ref name="HannayBio">(Hannay, 2003)</ref>
 
Ainda em 1841, Kierkegaard escreveu e defendeu a sua dissertação ''[[O conceito de ironia constantemente referido a Sócrates]]'', que foi considerada pelo painel universitário como um trabalho digno de registo e bem estruturado, mas demasiado informal para uma tese acadêmica séria.<ref name="irony">Kierkegaard, 1989</ref> Kierkegaard graduou-se na universidade a 20 de outubro de 1841 com um ''Magister Artium'', que nos nossos dias designaria um ''Philosophiæ Doctor'' (Ph.D.). Com a herança da sua família, no valor de 31 mil [[rigsdaler]]''rigsdalers'' (então moeda dinamarquesa), Kierkegaard pôde custear a sua educação, a sua vida e várias publicações das suas primeiras obras.<ref name="Dru">Dru, 1938</ref>
 
=== Primeira fase como autor e o caso ''Corsair'' (1841–1846) ===
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[[Ficheiro:Søren Kierkegaard i Corsaren.jpg|direita|thumb| A caricatura está fazendo com que ele pareça um corcunda, fazendo um exagero a postura dele. | Caricatura publicada em ''The Corsair'', um jornal satírico.]]
Apesar de Kierkegaard, na sua juventude e nos tempos universitários, ter escrito vários artigos sobre política, a mulher, e entretenimento, muitos académicos, como [[Alastair Hannay]] e Edward Mooney, acreditam que a sua primeira obra digna de nota é a sua tese universitária ''O conceito de ironia, com referência continua a Sócrates'', apresentado em 1841, ou a obra prima e presumivelmente maior trabalho, ''[[Either/or|Enten - Eller]]'', publicado em 1843.<ref name="HannayBio" /><ref name="MooneyF">Mooney, 2007</ref> Ambas as obras, que focaram grandes figuras do pensamento ocidental, [[Sócrates]] na primeira e menos directamente [[Hegel]] e [[Friedrich von Schlegel]] na segunda, mostraram o estilo de escrita único de Kierkegaard. O filósofo adotou o pseudônimo de Victor Eremita, enquanto escrevia ''Enten - Eller'', a obra mais importante de sua própria história literária e filosófica<ref>{{Citation | url = https://books.google.com/books?id=m1EtOAmK0S0C | língua = inglês | titulo = The Kierkegaardian Author: Authorship and Performance in Kierkegaard's Literary and Dramatic Criticism | título-trad = O autor kierkegaardiano: autoria e desempenho na crítica literária e dramática de Kierkgaard | primeiro = Joseph | último = Westfall | ano = [[2007]]}}.</ref>. O livro foi escrito quase na sua totalidade durante a estadia de Kierkegaard em Berlim, tendo sido completado no Outono de 1842.<ref name= "MooneyF" /> Kierkegaard terminou ''Enten - Eller'' com as palavras "...apenas a verdade que é construída é verdade para ti."<ref>{{Citation | titulo = Either/Or | volume = II}}.</ref><ref>Hong p. 354</ref> ''Enten - Eller'' foi publicado a 20 de fevereiro de 1843. Posteriormente publicaram-se ''[[Dois Discursos Edificantes (1843) |Dois Discursos Edificantes]]'' (1843) e ''[[Três Discursos Edificantes (1843)|Três Discursos Edificantes]]'' (1843). Estes discursos foram publicados sob seu próprio nome em vez de um [[pseudónimo]]. Kierkegaard continuou a publicar discursos, escritos sob um ponto de vista [[cristão]], até ter completado a obra ''[[O Conceito de Angústia]]''. Os discursos foram discutidos em relação a ''Enten - Eller'' na obra ''[[Ponto de Vista Explicativo da Minha Obra de Escritor]] e nas entradas do seu Diário.
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== Interpretações ==
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===Por Ernest Gellner===
[[Ernest Gellner]] menciona no seu livro de [[1992]], ''[[Pós-modernismo, Razão e Religião]]'', Kierkegaard para ilustrar o [[fundamentalismo]] religioso. Segundo Gellner, Kierkegaard está associado à ideia de que a religião é, no seu fundamental, não uma persuasão da verdade de uma doutrina, mas sim a dedicação a uma posição que é inerentemente absurda, ou que dá "ofensa", o termo usado por Kierkegaard. Para Kierkegaard, nós obtemos a nossa identidade ao acreditar em algo que ofenda profundamente a nossa mente, o que não é uma tarefa fácil. Para existir, teríamos de acreditar e acreditar em algo que seja ominosamente difícil de acreditar. Esta é a essência do processo existencialista em Kierkegaard, que associa a [[fé]] com a identidade.