Carlos Brilhante Ustra: diferenças entre revisões

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{{Info/Militar
|nome = {{small|Coronel do Exército Brasileiro}} [[Imagem:Coat of arms of the Brazilian Army.svg|25px]]<br>Carlos Alberto Brilhante Ustra
|imagem = UstraComissao.jpg
|imagem_tamanho = 220px
|imagem_legenda = Brilhante Ustra, aos 80 anos, durante depoimento à [[Comissão da Verdade]], em [[Brasília]] (maio de 2013).
|apelido = Doutor Tibiriçá
|nascimento_data = {{dni|lang=br|28|7|1932|si}}
|nascimento_local = [[Santa Maria (Rio Grande do Sul)|Santa Maria]], [[Rio Grande do Sul|RS]]
|morte_data = {{nowrap|{{morte|lang=br|15|10|2015|28|7|1932}}}}
|morte_local = [[Brasília]], [[Distrito Federal|DF]]
|residência =
|nacionalidade = {{BRAn|o}}
|nome_mãe = Cacilda Brilhante Ustra
|nome_pai = Célio Martins Ustra
|unidade = Ex-comandante do [[DOI-CODI]] de São Paulo
|hierarquia = [[FileImagem:Coronel.png|50px]] [[Coronel]]
|influências =
|influenciados =
|prémios =
|principais_trabalhos=
|cônjuge= Joseíta Brilhante Ustra|filhos=|Hierarquia=Coronel
}}
'''Carlos Alberto Brilhante Ustra''' ([[Santa Maria (Rio Grande do Sul)|Santa Maria]], [[28 de julho]] de [[1932]] — [[Brasília]], [[15 de outubro]] de [[2015]]) foi um [[coronel]] do [[Exército Brasileiro]], ex-chefe do [[DOI-CODI]] do [[II Exército]] (de 1970 a 1974), um dos órgãos atuantes na [[repressão política]], durante o período da [[ditadura militar no Brasil]] (1964-1985).<ref name=ditesc>{{Citar livro |autor=[[Elio Gaspari|Gaspari, Elio]]|título=A Ditadura Escancarada |subtítulo= |língua= |formato= |edição= 2|local=Rio de Janeiro |editora= Editora Intrínseca|ano=2014 |página= |páginas=526 |isbn= 978-85-8057-408-1}}</ref> Também era conhecido pelo [[codinome]] '''Dr. Tibiriçá'''.<ref>{{citar web |formato= [[Portable document format|PDF]] | publicado = [[Ministério Público Federal]], Procuradoria da República em São Paulo | url = http://2ccr.pgr.mpf.gov.br/coordenacao/grupos-de-trabalho/justica-de-transicao/denuncias-1/PR-SP-Denuncia-Ustra.pdf | título = Denúncia apresentada pelo MPF contra Carlos Alberto Brilhante Ustra e Dirceu Gravina |local= São Paulo | data = 23 de abril de 2012}}.</ref><ref>{{citar web | url = http://veja.abril.com.br/091298/p_042.html | título = Ex-tenente confessa ter torturado trinta pessoas e começa a romper a barreira de silêncio sobre o assunto |jornal= [[Veja]] | data = 9 de dezembro de 1998}}.</ref>
 
Em 2008, Ustra tornou-se o primeiro militar condenado pela [[Poder Judiciário do Brasil|Justiça Brasileira]] pela prática de [[Tortura no Brasil|tortura]] durante a ditadura.<ref>{{citar web | url = http://www.oab.org.br/Noticia/14836/juiz-condena-coronel-ustra-por-sequestro-e-tortura | título = Juiz condena coronel Ustra por seqüestrosequestro e tortura |jornal= Notícias do Conselho Federal da [[Ordem dos Advogados do Brasil]] | data = 10 de outubro de 2008}}.</ref> Embora reformado, continuou politicamente ativo nos [[clube militar|clubes militares]], na defesa da ditadura militar e nas críticas [[anticomunista]]s.<ref name= Escracho>{{citar web | url = http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2012/04/06/torturadores-acuados-ameacam-jovens-do-escracho/ | título = Torturadores acuados ameaçam jovens do "Escracho" |jornal= [[Conversa Afiada]] | data = 6 de abril de 2012}}.</ref>
 
Ele escreveu dois livros de [[memórias]]: ''Rompendo o Silêncio'' (1987)<ref name=":0" /> e ''[[A Verdade Sufocada]]'' (2006).<ref name=":1" /><ref>{{citar tese|último =Santos|primeiro =Clarissa Grahl dos|título=Das armas às letras: os militares e a constituição de um campo memorialístico de defesa à ditadura empresarial militar|data=2016|url=https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/175898|publicado=Universidade Federal de Santa Catarina|grau=Mestrado em História}}</ref>
 
== Biografia ==
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[[Thomas Skidmore]] descreve em seu livro ''Brasil: de Castelo a Tancredo'' que, em 1986, a então deputada [[Bete Mendes]] reconheceu em Ustra, adido militar no [[Uruguai]] durante o governo [[José Sarney]], o homem que a torturou em 1970. A deputada enviou uma carta ao então presidente Sarney, solicitando que ele fosse exonerado do cargo e pronunciou discurso sobre o assunto no [[Congresso Nacional do Brasil|Congresso Nacional]].<ref name= URUGUAI>{{citar web | url = http://revistaforum.com.br/blog/2012/02/em-busca-de-justica/ | título = ''Em busca de justiça'' |autor=Tatiana Merlino |acessodata=17/04/2017 | data = 9 de fevereiro de 2012 | publicado=''[[Fórum (revista)|Revista Fórum]]''}}.</ref><ref name= ULSTRA1>{{citar web | url = http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u43044.shtml | título = '' ‘Você pode pensar, mas não pode agir’ '' |acessodata=17/04/2017 |lugar=[[Ribeirão Preto]] - [[São Paulo (estado)|SP]] | publicado = [[Folha de S.Paulo|''Folha'']] | data = 2 de dezembro de 2002}}.</ref> No entanto, o general [[Leônidas Pires Gonçalves]], [[Lista de ministros do Exército do Brasil|Ministro do Exército]] à época, manteve Ustra no posto e também avisou que não demitiria nenhum outro militar por acusações de [[tortura]]. Isso tornou Ustra um protagonista da primeira crise militar do [[governo Sarney]].<ref name="ULSTRA1"/>
 
Em resposta a Bete Mendes, em 1987, o coronel lançou o livro ''Rompendo o silêncio'', em que narra sua passagem pelo DOI/CODI, no período de 1970 a 1974, além da [[Operação Bandeirante]] ([[OBAN]]).<ref name=":0" /> Em 2006, lançou o livro ''[[A Verdade Sufocada]]'', em que conta sua versão dos fatos que viveu [[Ditadura militar no Brasil (1964–1985)|durante a ditadura]].<ref>{{citar web |url=http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2405200609.htm |título=''CARLOS ALBERTO BRILHANTE USTRA lança amanhã o livro "A Verdade Sufocada", às 19h, no restaurante Fior D'Itália.'' |publicado=[[Folha de S.Paulo|''ilustrada'']] |autor=Mônica Bergamo (e Ana Ottoni) |data=24 de maio de 2006 |acessodata=17/04/2017}}</ref><ref name=":1" /> O livro possui quatorze edições publicadas (2018) e a soma das tiragens ultrapassaram vinte mil exemplares.{{Carece de fontes|biografia=sim|Brasil=sim|data=fevereiro de 2018}}
 
Ustra morreu em 15 de outubro de 2015, em um hospital de [[Brasília]], em razão de uma pneumonia e de falência múltipla de órgãos. Ele estava internado para tratamento de um [[câncer]].<ref>{{Citar web|URL=http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2015/10/15/morre-coronel-ustra.htm|título=Morre coronel Ustra, ex-chefe do DOI-Codi durante a ditadura|acessadoem=2015-10-15|obra=Notícias|publicado=UOL}}</ref><ref>{{citar web|url= http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2015/10/morre-brilhante-ustra-ex-chefe-de-orgao-de-repressao-na-ditadura.html|título= Morre Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi durante a ditadura|acessodata= 22 de setembro de 2017|publicado= Portal G1|data= 15 de outubro de 2015}}</ref>
 
== Condenação ==
 
Em 2008, por decisão em primeira instância do juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível de São Paulo, o [[coronel]] Ustra tornou-se o primeiro oficial condenado em ação declaratória por sequestro e tortura, mais de trinta anos depois de fatos ocorridos durante a ditadura militar (1964-1985).<ref name=Folha10102008>[http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1010200834.htm Folha: ''Juiz condena Ustra por sequestro e tortura'']</ref><ref name=sentenca>[http://francolinno.wordpress.com/2008/10/10/apos-36-anos-coronel-ustra-e-declarado-torturador-pela-justica/ Após 36 anos- SP: Coronel Ustra é declarado torturador pela Justiça de São Paulo], por Tatiana Farah. (originalmente publicado em ''[[O Globo]]'', 9 de outubro de 2008).</ref>
 
Publicada em 9 de outubro de 2008, a sentença é o julgamento, em primeira instância, ao requerimento de dois ex-guerrilheiros e seus filhos [[Janaína de Almeida Teles]], [[Edson Luis de Almeida Teles]], César Augusto Teles, [[Maria Amélia de Almeida Teles]] e uma quinta pessoa, [[Criméia Alice Schmidt de Almeida]], que acusaram Ustra, agente de órgãos de segurança nos [[anos 1970]], de [[sequestro]] e tortura em 1972 e 1973, requerendo à Justiça que, através de uma ''ação declaratória'', ele fosse reconhecido como torturador.{{Carece de fontes|biografia=sim|Brasil=sim|data=fevereiro de 2018}}
 
Na sentença, ficou reconhecido que o militar, na qualidade de chefe de operações do [[DOI-CODI]] de São Paulo, deveria saber que naquele lugar eram feitas sessões de interrogatório. Baseado em depoimento de [[Persio Arida]] ao final, julgou:{{Carece de fontes|biografia=sim|Brasil=sim|data=fevereiro de 2018}}
{{quote2|Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE o pedido formulado pelos autores César Augusto Teles, Maria Amélia de Almeida Teles e Criméia Alice Schmidt de Almeida.... JULGO IMPROCEDENTE o pedido formulado pelos autores Janaína de Almeida Teles e Edson Luis de Almeida Teles...". |GUSTAVO SANTINI TEODORO Juiz de Direito}}
 
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=== OAB ===
A [[OAB]], no uso de suas atribuições constitucionais, através do [[Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil]], ingressou, em [[agosto]] de 2008, no [[Supremo Tribunal Federal]] ([[STF]]), com uma ação em que solicita àquela Corte para decidir se a [[Lei da anistia]] inclui ou não crimes praticados por militares e policiais. A OAB considera que a lei de 1979 não isenta militares envolvidos em crimes, pois os tratados internacionais, dos quais o Brasil é signatário, dizem que [[crimes contra a humanidade]] perpetrados por agentes da Administração Estatal não prescrevem. Assim, apenas ações praticadas por [[militante]]s sem ligações com o aparelho estatal estariam beneficiados pela anistia.{{Carece de fontes|biografia=sim|Brasil=sim|data=fevereiro de 2018}}
 
A [[OAB]], no uso de suas atribuições constitucionais, através do [[Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil]], ingressou, em [[agosto]] de 2008, no [[Supremo Tribunal Federal]] ([[STF]]), com uma ação em que solicita àquela Corte para decidir se a [[Lei da anistia]] inclui ou não crimes praticados por militares e policiais. A OAB considera que a lei de 1979 não isenta militares envolvidos em crimes, pois os tratados internacionais, dos quais o Brasil é signatário, dizem que [[crimes contra a humanidade]] perpetrados por agentes da Administração Estatal não prescrevem. Assim, apenas ações praticadas por [[militante]]s sem ligações com o aparelho estatal estariam beneficiados pela anistia.{{Carece de fontes|data=fevereiro de 2018}}
 
A OAB pretende abrir a possibilidade de o Brasil revisar as ações praticadas por agentes do Estado, uma vez que estes possuíam em mãos todo o aparato estatal para tais ações, enquanto os que discordavam da ideologia do governo militar eram privados de suas liberdades.<ref name=OABTORTURA>[http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/10/21/materia.2008-10-21.9196185677/view SOALHEIRO, Marco Antônio. ''OAB protocola no STF ação que questiona anistia para torturadores'', Brasília: Agência Brasil, 21 de Outubro de 2008, 17h47]</ref>
 
== Comissão da Verdade ==
Em maio de 2013, Ustra compareceu à sessão da [[Comissão da Verdade]], a primeira aberta ao público em geral e transmitida pela televisão. De posse de um ''[[habeas-corpus]]'' que lhe permitia ficar em silêncio, mesmo assim ele respondeu a algumas perguntas, negando que tivesse cometido qualquer crime durante seu período no comando do DOI-CODI paulista e que recebeu ordens de seus superiores no Exército para fazer o que foi feito, alegando em sua defesa que "combatia o terrorismo".<ref name="oesp">{{citar web|url=http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,nunca-fui-assassino-diz-coronel-ustra-a-comissao-nacional-da-verdade,1030540,0.htm|titulo=Nunca fui assassino, diz coronel Ustra à Comissão Nacional da Verdade|publicado=O Estado de S. Paulo|acessodata=11/05/2013}}</ref> Ustra também negou que qualquer pessoa tivesse sido morta dentro do DOI-CODI, afirmando que todos os mortos o "foram em combate nas ruas".<ref name="oesp"/> Acusou a presidente [[Dilma Roussef]] de participar de quatro organizações terroristas mas, quando questionado sobre a existência dos chamados instrumentos de tortura "[[Pau de arara (tortura)|pau-de-arara]]" e "[[cadeira do dragão]]" nas dependências do órgão, exerceu seu direito de manter-se em silêncio.<ref name=folha>{{citar web|url= http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/05/1276485-nunca-ocultei-cadaver-diz-coronel-ustra-a-membros-da-comissao-da-verdade.shtml|titulo=Ustra rebate acusações de mortes na ditadura e cita atuação de Dilma em grupo terrorista| publicado = Folha de S.Paulo|acessodata=11/05/2013}}</ref>
 
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Um grupo de 150 militantes do [[Consulta Popular#Levante Popular da Juventude|Levante Popular da Juventude]], do Movimento dos Pequenos Produtores e da [[Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra|Juventude do MST]] realizou dia 31 de março de 2014 um "escracho" em frente à casa do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, em um bairro nobre de Brasília.&nbsp;Por meia hora, cantaram músicas do tempo da ditadura, colaram cartazes na vidraça de frente da residência e no portão e escreveram no asfalto que ali morava um torturador.<ref>{{citar web | publicado = O Estado de São Paulo |jornal= Estadão | url = http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,grupo-faz-escracho-em-frente-a-casa-do-coronel-ustra-em-brasilia,1147498,0.htm | título = Grupo faz escracho em frente à casa do coronel Ustra em Brasília}}.</ref>
 
No dia 17 de abril de 2016, durante votação pelo prosseguimento do processo de [[Impeachment de Dilma Rousseff|''impeachment'' contra Dilma Rousseff]], Ustra foi elogiado por [[Controvérsias sobre Jair Bolsonaro|Jair Bolsonaro]] durante o discurso do seu voto, o que causou indignação e protestos no Brasil e no resto do mundo,<ref>{{citar web |url=http://extra.globo.com/noticias/brasil/coronel-ustra-homenageado-por-bolsonaro-como-pavor-de-dilma-rousseff-era-um-dos-mais-temidos-da-ditadura-19112449.html|título=Coronel Ustra, homenageado por Bolsonaro como ‘o pavor de Dilma Rousseff’, era um dos mais temidos da ditadura|autor=Redação |editor=Extra |data=25 de abril de 2016 |acessodata=25 de abril de 2016}}</ref><ref>{{citar web |url=https://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/bolsonaro-critica-fantastico-apos-programa-citar-sua-homenagem-ao-coronel-ustra/ |título=Bolsonaro critica Fantástico após programa citar sua homenagem ao coronel Ustra |autor=Redação |editor=[[Catraca Livre]] |data=18 de abril de 2016 |acessodata=25 de abril de 2016}}</ref><ref>{{citar web | publicado = Folha de S.Paulo |jornal= Folha | url = http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/04/1762909-voto-de-bolsonaro-ganha-destaque-mundial.shtml | título = Voto de Bolsonaro ganha Destaque Mundial}}.</ref> mas também publicidade e aumento nas vendas do livro ''[[A Verdade Sufocada]]''.{{Carece de fontes|biografia=sim|Brasil=sim|data=fevereiro de 2018}}
 
== Livros ==