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A gravação havia sido anunciada ainda no outono de 1971 por Aretha para a revista [[Ebony]], da qual afirmou "não querer soar falsa sobre isso, por eu sentir um real parentesco com [[Deus]], e é o que me ajudou a me tirar dos problemas que enfrentei".<ref name=":1">{{Harvnb|Bego|2012|p=112}}</ref> Ela ainda afirmou estar bem e com saúde, e afirmou que a razão para isto era que "durante os anos, não importa quanto sucesso eu tenha alcançado, nunca perdi minha fé em Deus".<ref name=":1" /> Entretanto, Jerry Wexler, um dos produtores do disco, afirmaram que originalmente a cantora estava "aterrorizada" com a ideia de membros da religião batista verem o projeto como ofensa. No livro ''The Queen of Soul'', escrito por Mark Bego, ele ainda disse que Franklin, "vinda de uma família da igreja, tinha muitos escrúpulos em fazer e eu podia a entender. Houve um grande sentimento neste momento sobre as pessoas que deixaram a igreja e estavam cantando a música do diabo. Havia vergonha e culpa, e você não podia voltar atrás. Quando [[Sam Cooke]] se tornou ''[[Música pop|pop]]'', ele nunca voltou atrás e fez outra nota de gospel".<ref name=":2">{{Harvnb|Bego|2012|p=116}}</ref> Ele ressaltou que a cantora "não queria opróbrio da igreja, afinal, ela é uma pessoa profundamente religiosa, e foi educada no ministério, e havia todas as pessoas do evangelho ao seu redor, as 'Claras Wards' e os '[[James Cleveland|James Clevelands]]'. Ela tinha muitos escrúpulos em entrar e fazer música na igreja, enquanto aqui ela estava cantando ''[[blues]]'' e ''[[jazz]]'' — 'profanando', por assim dizer".<ref name=":2" />
 
Ensaios para o dia dos registros oficiais começaram ainda no final de 1971. Este processo começou com Cleveland, Franklin e pelo coro local chamado para a apresentação, o The Southern California Community Choir. Durou por algumas semanas, antes que a seção rítmica se juntasse a eles. Uma matéria intitulada de "Aretha retorna ao gospel" e feita pela ''Soul'', uma revista sobre entretenimento negro baseada em Los Angeles, explicou este processo de aprimoramento antes que as gravações realmente começassem.<ref name=":5">{{Harvnb|Cohen|2011|p=80}}</ref> No artigo, Cleveland disseafirmou que o processo tinha começado dois meses antes do registro em áudio, quando a Atlantic informouhavia informado que a artistaAretha o convidou para que eles gravem juntos, o que ele afirmou ser "mais do que apenas um gesto amigável". Ele acrescentou que ela tinha sido mencionada sobre isso por ele há muitos anos, mas parecia que o mesmo "nunca soube que isso realmente aconteceria".<ref name=":5" /> O diretor do coro, Alexander Hamilton, descreveu como foi ensaiar os mesmos para o evento, dizendo que este tipo de canto "é o mais difícil, porque requer precisão. Na música gospel, falamos muito sobre o espírito de Deus. Alguns tendem a levar isso movendo-se com o espírito para dizer como que você pode apenas fazer o que você sente, ou ir do jeito que você sente vontade de ir". Além disso, afirmou que James trouxe para os coristas o seu conhecimento próprio em ter trabalhado com coros, e disse que ele fez isso por muitos anos "sabendo o que funciona e o que não funciona".<ref>{{Harvnb|Cohen|2011|pp=82—83}}</ref>
 
Após a chegada da maior parte da seção rítmica na igreja algumas semanas depois para ensaios, o coro já estava de forma decorada. Nestes, estavam Chucky Rainey, que tocou o [[baixo elétrico]], e Bernard Purdie, que tocou a [[Bateria (instrumento musical)|bateria]]. O último afirmou que o grupo, no primeiro ensaio, havia começado a performar "Wholy Holy", de Marvin Gaye, com Franklin. O guitarrista Cornell Dupree disse que a preparação foi "com alma, e nenhuma pressão sob qualquer pessoa — sempre em frente: você toca, sente, vê onde você vai e faz o seu trabalho".<ref>{{Harvnb|Cohen|2011|p=83}}</ref><ref name=":4" /> Todavia, o baixista reconheceu que Cleveland "falava demais, e isso é um músico falando. Muita explicação disso, muito disso", afirmando que o pregador "teve que garantir que todos entendessem que aquilo era sua igreja, que ele estava no comando. Ele estava tentando proteger o seu chão, mas eu não me queixo sobre isso. É uma coisa, nós estávamos em Los Angeles e o que mais vamos fazer? Você quer que isso seja tão bom quanto possivelmente pode".<ref name=":6">{{Harvnb|Cohen|2011|p=84}}</ref> Rainey também notou que Hamilton parecia estar assumindo uma grande parte da responsabilidade durante esses ensaios, comentando que "James iria pedir Alexander Hamilton para fazer algo aqui, fazer algo lá e é tudo sobre Hamilton enquanto Cleveland levou o crédito. [...] Você não lembra-se de trinta rostos, mas você se lembra do diretor de coro. Um diretor de coral basicamente sabe mais sobre música do que qualquer um".<ref name=":6" />
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Cohen conta em sua obra sobre o álbum que a empresa de Wally Heider tornou-se a equipe para um desempenho confiável no campo crescente da [[gravação multicanal]] "remota" na Califórnia, tendo feito sessões como a do disco ''Otis Redding Live'' na Sunset Strip. Meses antes da sessão inicial, a empresa havia se mudado para um estúdio móvel integrado com dezesseis canais, em contrapartida ao padrão que a empresa tinha na época — apenas oito.<ref>{{harvnb|Cohen|2011|p=86}}</ref> Ray Thompson projetou a sessão de gravação para Heider, e o produtor e arranjador Arif Mardin também estava no caminhão que levava o equipamento. Wexler parecia estar em perpétuo movimento ao longo do filme — presumivelmente correndo do caminhão para a igreja —, mas ele disse numa entrevista que seu papel durante o gravação foi limitada, e afirmou que "não havia nada que eu realmente tivesse que fazer a não ser sentar lá e ser uma testemunha. Lembre-se, estes eram serviços oficiais da igreja. Eu não poderia parar e dizer: 'Vamos ensaiar aquelas oito barras novamente'. Tinhamos que ir para frente. Nós não paramos para qualquer coisa, exceto se eles parassem por conta própria".<ref>{{harvnb|Cohen|2011|pp=86–87}}</ref>
 
Ainda comentando sobre a gravação, ele disse que estava apenas interessado em "trazer para a casa uma boa ''master'' do LP", então ele considerou o diretor Sydney Pollack para documentar com sua equipe de filmagem em "uma reflexão tardia". Considerando que era Aretha, os congregantes aceitaram as câmeras de cinema, luzes e o que parecia ser uma equipe de filmes desalinhada. Hamilton disse que o coro e os músicos foram capazes de contornar todos eles, comopois eles sabiam que este era um tipo diferente de situação. Ele afirmou:<ref>{{harvnb|Cohen|2011|p=87}}</ref>
{{Cquote|A única coisa que você não quer é as coisas com as luzes e o diretor para distraí-lo de fazer o que você é capaz de fazer. Ele tinha uma câmera na piscina batismal, atrás da filmagem do coro. Isso foi OK para ser feito? Nãoooo. As boas irmãs e irmãos da igreja teriam ficado bravos! Normalmente, alguém subindo lá com uma câmera, elesseria seriam batizadosbatizada de verdade!}}
 
Cleveland começou ambas as noites com alguns observações de abertura, como as realizações de Franklin como cantora, e um lembrete de que, apesar das câmeras, "todos deveriam estar conscientes de que estão em uma igreja". Isso foi seguido de um instrumental de "On Our Way" por Ken Lupper, bem como o processional coral entrou cantando a marcha tradicional.<ref name=":0">{{harvnb|Cohen|2011|pp=87–88}}</ref> Wexler descreveu os trajes do coro e como elas realmente pareciam diferentes. Como a abordagem da música de Cleveland, os cantores evitaram uma vestimenta tradicional, sendo "um pouco mais longe do que apenas roupas modernas, ou como o ''glamour'' dos Ward Singers e Gay Sisters". O uniforme de todos os coristas foram coletes de prata, e as camisas pretas "pareciam ser emprestadas por Hamilton"; ele mesmo posteriormente disse que isso resultou de uma conversa, da qual Cleveland insistiu que eles "competem contra outros coros, e eles tiveram que ofuscar visualmente seus rivais tanto como fora deles". Segundo o livro ''33⅓'', foi uma lição de Cleveland que Franklin nunca perdeu, uma vez que "suas roupas brilhavam enquanto caminhava os corredores em direção ao púlpito para ela começar a cantar".<ref name=":0" />
 
== Composição ==
O álbum começa com uma música que Franklin cantou no final da segunda noite, que foi "Mary, Don't You Weep". A canção é principalmente tirada do [[Novo Testamento]] no capítulo de João (11: 1–45), onde [[Jesus]] levanta [[Lázaro]] dos mortos diante de suas irmãs [[Maria de Betânia|Maria]] e [[Marta de Betânia]]. No LP, a longa introdução de Cleveland tornou-se abreviada nas palavras "senhorita Aretha Franklin".<ref name=":7">{{Harvnb|Cohen|2011|pp=90–91}}</ref> A partir deste momento, o coro repete lentamente a linha "''Oh, oh, Maria''" com a precisão rítmica que os ensaios de Cleveland tinham sido instilados. Na entrega da composição de Andrews, Aretha havia falado, gritado e declamado, sem enfatizar a melodia da música. Ela também traz palavras, frases de bairros com população negra na frente, como o "''Force isso em mim''" do refrão de "[[Respect]]" e o "''O que é isto''" de "Rock Steady", ambas clássicos de carreira; segundo Cohen, isso era algo que o compositor original da canção "faria, mas não foi capaz de fazer nos mais conservadores anos 50".<ref name=":7" /> Franklin começa a ditar a frase "''Maria, não gema, escute, querida irmã, não gema''" de forma [[Ad libitum|''ad libitum'']], assumindo a perspectiva de Jesus relacionando Êxodo à Maria antes de ressuscitar Lázaro. Ainda no livro sobre o álbum, foi dita sobre a possibilidade "que Sua ressurreição dos mortos possa ser tomado como uma metáfora para chamar as armas de um povo na turbulência da era dos pós-direitos civis. Ou poderia ser apenas o jeito que Franklin enfatizou o nome, e o coro e os congregantes responderam".<ref name=":7" /> A segunda faixa do disco é um ''[[Medley (música)|medley]]'' entre "Precious Lord, Take My Hand", com autoria de [[Thomas A. Dorsey]] e "You've Got a Friend", música decomposta por [[Carole King]] da qual foi apresentada primeiramente em seu disco de maior êxito, ''[[Tapestry (álbum)|Tapestry]]'', de 1971;<ref name=":8">{{harvnb|Cohen|2011|pp=94–95}}</ref> mais tarde, a cantora explicaria o fato de cantar a primeira música — sendo a mesma que cantou no funeral de [[Martin Luther King Jr.]] — era "colocar um sucesso ''pop'' em uma estrutura do evangelho. Isto funcionou". Hamilton afirmaria que esta mistura veio como uma ideia de Aretha, e que "ela foi a que eu ouvi presente nisto. Mais uma vez, veio naturalmente. Não é sobre 'e se', é sobre 'como'. Você ouve certas coisas, e nós resolvemos dessa maneira".<ref name=":8" /> Cohen falou sobre os pontos fortes de Cleveland que Bernard Purdie viu na canção, com este dissertando que, enquanto a banda saia e parava antes de cada linha, "ele dizia certas coisas e antes que você percebesse, um sussurro era como mil vozes. Mas é assim que este homem era bom. Ele sabia como trabalhar um público, mas ele trabalhou o coro da mesma maneira". É vista uma possibilidade na faixa pelo escritor com relação a Aretha, declarando a combinação de "uma canção de referência por um homem afro-americano com um sucesso popular, então recente, escrito por uma mulher judia. Talvez esta fosse uma afirmação feminista da parte de Aretha, ou talvez a ligação dela tenha emergido dentro de suas conexões próprias".<ref>{{harvnb|Cohen|2011|pp=95–97}}</ref>
 
Com Aretha cantando na nota de [[ré sustenido]] junto ao seu mentor, a terceira faixa "Old Landmark" é um sucesso gospel de 1951 cantado originalmente pelas Ward Singers, das quais tinham Clara Ward, uma das convidadas para ver a gravação de ''Amazing Grace'', nos vocais principais. O livro sobre o LP conta que a faixa "é construída com dísticos repetidos que um vocalista excitante, como Franklin, transforma através de mudanças constantes na ênfase", ainda comparando como esta mesma técnica funcionou para artistas de palavra falada; Horace Clarence Boyer apontou que "[Luther] King Jr. usou uma técnica semelhante quando ele repetiu "''Eu tenho um sonho''" quinze vezes no seu [[Eu Tenho um Sonho|discurso de agosto de 1963 em Washington]].<ref>{{harvnb|Cohen|2011|pp=97–98}}</ref> A primeira parte do LP é terminada com "Give Yourself to Jesus", que é uma faixa instrumental gravada algum tempo após as performances para o disco, com os vocais de Franklin sendo adicionados algum tempo depois disso, de acordo com produtor da reedição do ''Amazing Grace''. Segundo o livro sobre o disco, a faixa "prenuncia o que se tornaria conhecido como gospel contemporâneo", não sendo "uma das canções de gospel tradicional do qual Franklin teria ouvido de seus heróis musicais da infância"; foi composta por Robert Fryson, que fez a música para o grupo Voices Supreme.<ref>{{harvnb|Cohen|2011|pp=99–100}}</ref> O coro transmite um "tom imparcial", em contraste com a extroversão de Franklin na última faixa, com Cohen notando sua contenção vocal. A artista faz ênfases inesperados, como na linha “''Dê-se ao mestre''", onde seu sotaque está na preposição da frase, e não em seu objeto. Esta faixa acaba com uma recitação da Bíblia no [[Salmo 23]], da qual abriga uma famosa linha sobre proteção divina enquanto o [[David|Rei David]] caminhava pelo vale da morte; a cantora deixa, ainda segundo o livro, "todas as inferências — pessoais e sociais — abertas".<ref>{{harvnb|Cohen|2011|pp=100–101}}</ref>
 
{{Referências}}