Gueorgui Júkov: diferenças entre revisões

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As derrotas do verão de 1941, durante a [[Operação Barbarossa|invasão da URSS]] pela [[Alemanha Nazi|Alemanha Nazista]], levaram Stalin a envia-lo às frentes mais sensíveis da guerra, na condição de representante da [[Stavka]]. Júkov assumiu então um papel-chave na [[Frente Oriental (Segunda Guerra Mundial)|Frente da Europa Oriental]], coordenando as tropas de seu país em várias grandes operações militares, primeiro na defesa e em seguida na contra-ofensiva soviéticas. Em particular, Júkov desempenhou um papel importante no início do [[Cerco a Leninegrado|cerco a Leningrado]], foi diretamente responsável pelo sucesso soviético na [[Batalha de Moscovo|batalha de Moscou]], preparou a [[Batalha de Stalingrado|contra-ofensiva em Stalingrado]], coordenou a parte norte da [[batalha de Kursk]], foi co-responsável pela recuperação da [[Ucrânia]] e controlou a metade sul da [[Operação Bagration]]. Nomeado comandante da principal frente soviética na guerra, Júkov liderou a ação decisiva da [[Ofensiva no Vistula–Oder|ofensiva no Vístula-Oder,]] e na sequência comandou as tropas soviéticas na [[Batalha de Berlim|conquista de Berlim]]. Diante dele, em [[Dia da Vitória na Europa|8 de maio de 1945]] o [[Oberkommando der Wehrmacht|Alto comando das Forças Armadas Alemãs]] assinou o [[Instrumento de rendição alemã|instrumento de rendição de seu país]], [[Fim da Segunda Guerra Mundial na Europa#Rendição das forças alemãs por Jodl e Keitel|pondo fim à guerra na Europa]].
 
Feito [[marechal da União Soviética]] em 1943 e gozando de imenso prestígio em seu país, Stalin, desconfiando de sua popularidade, demitiu-o de seus postos em 1946 e ostracizou-o. A morte de Stalin em 1953 permitiu a Júkov retornar à cena política, e ele ajudou a parar a tomada de poder de [[Lavrentiy Beria|Lavrenti Beria]]. Ele tornou-se então vice-ministro (1953-1955) e ministro da Defesa (1955-1957), e membro do [[Politburo]] (1957), apoiando [[Nikita Khrushchov]] durante a [[desestalinização]]. Este, contudo, igualmente temeroso de seu prestígio, afastou-o definitivamente de seus cargos em 1957. IndignadoInconformado com o papel a que fora relegado na versão da história da Segunda Guerra Mundial difundida pelo governo soviético, a partir de 1963 Júkov passou a escrever suas memórias. Repreendido, ele viu novamente sua sorte mudar com a ascensão de [[Leonid Brejnev]]. Suas memórias, publicadas em abril de 1969, tornaram-se um sucesso imediato, e permanecem "o mais influente relato pessoal da Grande Guerra Patriótica". Pai de quatro filhas e casado duas vezes, Júkov faleceu poucos anos depois. Seu funeral com honras militares foi dirigido pessoalmente por Brejnev, e suas cinzas encontram-se depositadas na [[Necrópole da Muralha do Kremlin]].
 
Por vezes brutal na liderança de suas tropas, e por ter contribuído decisivamente para defender o regime soviético durante a guerra, G. K. Júkov é por vezes alcunhado o "General de Stalin" e a "Sombra de Stalin". Contudo, ainda em vida ele recebeu as mais altas honrarias da União Soviética e dos outros [[Aliados da Segunda Guerra Mundial|países Aliados]], dentre as quais quatro medalhas de [[Herói da União Soviética]], a insígnia de Chefe-Comandante da [[Legião do Mérito]], a Grã-Cruz da [[Legion d'Honneur|Legião de Honra]] e a Grã-Cruz da [[Ordem do Banho]]. Além disso, seu papel na Segunda Guerra Mundial tem levado historiadores a descrevê-lo como o principal responsável na derrota da Alemanha nazista, e por vezes como "o homem que derrotou Hitler".
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Após o armistício entre o Japão e a URSS, Gueorgui Konstantínovich se estabeleceu em Ulã Bator, aguardando o fim das tratativas. Sem muitos compromissos de trabalho, ele fez vir sua família, e participou de caçadas com [[Khorloogiin Choibalsan|Horloogiin Choibalsan]], o primeiro secretário do Partido Revolucionário do Povo Mongol.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=255}}
 
Retornando a Moscou, em 2 de junho de 1940 Júkov conheceu pessoalmente Josef Stalin, que desejava discutir a batalha de Halhin-Golie,{{sfn|Alexieff|2017|p=9}}{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 1|p=166-167}}{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=258-259}} e nos dias 3 e 13 de junho assistiu às reuniões do [[Politburo do Partido Comunista da União Soviética]]. [[Ficheiro:Georgy Zhukov 6.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|240x240px|O Comissário de Defesa [[Semyon Timoshenko|Semion Timoshenko]] (à esquerda, com uniforme de Marechalmarechal) e seu Chefe de Estado-Maior, general Júkov (1940).]] Algumas semanas depois, Júkov foi um dos três primeiros promovido ao recém-criado posto de general do exército,{{#tag:ref|Em russo: Генерал армии|group="nota"}}{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 1|p=167}} e nomeado chefe do Distrito Militar Especial de Kiev, o principal comando ao longo da fronteira ocidental soviética.{{Sfn|Chaney|1996|p=486}} Uma vez na Ucrânia, ele buscou melhorar a disciplina, o treinamento e a supervisão de suas tropas, e a partir de 28 de junho foi chamado a envolver suas tropas contra o [[Reino da Romênia]], durante a ocupação soviética da [[Bessarábia]] e da parte norte da Bucovina. Com os romenos tentando evacuar seus equipamento para além do [[rio Prut]], Júkov tomou a iniciativa e decidiu-se por lançar [[Paraquedistas militares|paraquedistas]] sobre os entroncamentos ferroviários de [[Belgrado]], [[Cahul]] e [[Izmail]], efetivamente frustrando a fuga inimiga.{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 1|p=171}} Por essa época, Júkov conheceu [[Nikita Khrushchov]].{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 1|p=238}}
 
Desde o verão de 1940, o [[Pacto Molotov-Ribbentrop]] foi marcado por tensões diplomáticas. Além de atritos relacionados à [[Finlândia]], a [[Alemanha Nazi]] colocara sob sua tutela a [[Reino da Hungria (1920-1946)|Hungria]], a [[Eslováquia]] e a Romênia, e seu comportamento nos [[Bálcãs]] era fonte de crescente preocupação. Embora os soviéticos não tivessem provas disso, [[Adolf Hitler]] havia encarregado o general [[Erich Marcks]] de elaborar planos tendo como objetivo tático a [[Linha A-A]] (o chamado Plano Marcks, um antecedente da [[Operação Barbarossa]]).{{Sfn|Kay|2006|p=31}}
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=== Rjev (1942) ===
[[Ficheiro:Rzhev salient 1941-1942.JPG|miniaturadaimagem|Mapa das operações de dezembro de 1941 a fevereiro de 1942: a contra-ofensiva liderada por Júkov recuperou [[Moscovo|Moscou]] mas perdeu fôlego antes de chegar a [[Rjev]] e [[Viazma]].|250x250px]]Em 7 de janeiro de 1942, uma reunião no Kremlin entre Júkov, Stalin e Aleksandr Vassilevski,{{#tag:ref|Desde que [[Borís Chápochnikov]], doente, é evacuado em 15 de outubro de 1941, na prática Vassilievski dirige o que resta do Estado-Maior em Moscou.|group="nota"}} definiu novos objetivos para os nove exércitos da Frente Ocidental: sua ala direita (1.º de Choque, 20.º e 16.º exércitos) participariqparticiparia da destruição do saliente de Rjev; o centro (cinco exércitos) tomaria Gjatsk, [[Iukhnov]] e Viazma; a ala esquerda (10.º Exército e o 1.º Corpo de Cavalaria comandado por Belov) fazeria uma incursão na retaguarda alemã e se juntaria ao 11.º Corpo de Cavalaria (em Kalinin), cercando o Grupo de Exércitos Centro nazista. Em 10 de janeiro, a Carta Diretriz da Stavka n.º 3 "sobre as ações de grupos de choque e a organização de ofensivas de artilharia" ordenou todas as frentes soviéticas a atacarem rumo ao oeste.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=471}} No mesmo dia, Júkov, instalado com sua equipe em Obninsk, reenviou ao ataque a sua Frente Ocidental e a Frente de Kalínin: elas avançaram por meio de assaltos frontais, mas não conseguiram tomar Rjev, Viazma e Iukhnov. Nos dias 3 e 4 de fevereiro, a situação mudou: o [[9.º Exército (Alemanha)|9.º Exército alemão]] cercou um exército da Frente de Kalínin; o [[4.º Exército (Alemanha)|4.º Exército alemão]] fez o mesmo com o 33.º Exército soviético e o 1.º Corpo de Cavalaria da Guarda.{{sfn|Chaney|1996|p=198-199}} Júkov tentou socorrer essas tropas, mas a Stavka lhe atribui objetivos nas regiões do [[Rio Desna|Desna]] e do Dniepre, incluindo uma série de ataques frontais compostos por ondas de infantaria. Embora as tropas de Belov tenham escapado, os soldados do 33.º foram esmagados perto do [[rio Ugrá]].{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=481-483}}
 
Em meados de abril o derretimento da neve interrompeu a luta, que já vinha ocorrendo em um mar de lama. Quando o solo mostou-se mais seco, a Stavka ordena uma série de ofensivas. Na Ucrânia, a liderança das frentes Sul e Sudoeste (Timoshenko, com Bagramian como chefe de gabinete e Khrushchov como comissário político) lançou um ataque perto da Carcóvia, no dia 12 de maio. Apesar de um início promissor, no dia 15 a ofensiva foi detida por bombardeios dos alemães, que na sequência contra-atacam durante a [[Segunda Batalha de Carcóvia]]. Esta, transformou-se em desastre para os soviéticos, que perderam 22 divisões.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=487}}
 
Em 28 de junho, os alemães retomaram a iniciativa, e a metade sul de suas forças avançou para o [[rio Don]], [[Volgogrado|Stalingrado]] e [[Baku]]. Para frear a metade norte das forças alemãs, a Stavka{{#tag:ref|Vassilevski fora nomeado Chefe do Estado-Maior Geral, substituindo Chápochnikov, em 26 de junho de 1942.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=492}}|group="nota"}} instrui outras frentes a atacar. Para a Frente Ocidental de Júkov, o primeiro alvo é [[Oriol]], entre 5 e 14 de julho. O ataque falha, por falta de coordenação entre os ramos das forças armadas. O segundo ataque, parte da Operação Pogoreloé-Gorodishche, ocorre a partir de 4 agosto e é novamente direcionado a Rjev e à vizinha Sichiovka. Ele foicompletadofoi completado por um ataque mais a sul, objetivando retomar Gjatsk e Viazma, mas ambos fracassaram.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=499-500}}
 
=== Stalingrado (1942) ===
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A fim de liberar completamente Leningrado, os soviéticos planejaram uma grande ofensiva mais ao sul, buscando cercar todo o [[Grupo de Exércitos Norte]] alemão. Essa ofensiva, que consistiria na [[Operação Estrela Polar]], previa primeiro que as frentes de Leningrado e Volkhov fariam um desvio em direção a [[Mga]], e que parte da Frente do Noroeste atacaria o [[Bolsão de Demiansk]], encurralando seis divisões alemãs. Em seguida, o 1.º Exército de Choque abriria uma brecha, permitindo ao 1.º Exército de Tanques (liderado por [[Mikhail Katukov]]) e ao 68.º Exército (de [[Fiódor Tolbúkhin]]) penetrar e seguir até [[Narva]] e Pskov. Júkov foi encarregado de coordenar as diferentes equipes. O ataque começou em 10 de fevereiro, mas foi pouco efetivo, pois os alemães haviam evacuado o saliente de Demiansk quatro dias antes do ataque, e também porque o 68.º Exército atolou na lama e não pôde ser utilizado. Por fim, Stalin encerrou a operação no dia 7 de março.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=549-551}}
 
Mais ao sul, desde 24 janeiro Vassilevski coordenou a ofensiva geral lançada do [[Rio Donets|Donets]] ao Dniepre, liderada pelas frentes de Voronej (comandada por Golikov), Sudoeste (Vatutin) e Sul ([[Rodion Malinovsky|Rodion Malinovski]]). Mas os alemães do [[Grupo de Exércitos Don]] (comandado pelo então Marechalmarechal-de-campo von Manstein) primeiro bateram em retirada e, a partir de 19 de fevereiro, contra-atacaram, destroçando os corpos mecanizados soviéticos que se encontravam dispersados.{{Sfn|Manstein|2017|p=467}}
 
Em 13 de março, Stalin informou Júkov que o estava enviando para Carcóvia. Chegando no local, cruzando as tropas em retirada, o carro de Júkov foi alvejado. Isso lhe retirou de cena, e Carcóvia e [[Belgorod]] foram reocupadas pelos alemães em 18 de março. Na sequência, Júkov buscou restaurar a ordem junto ao comando da Frente de Voronej, desestabilizado pela situação. Ele pediu e recebeu permissão de Moscou para substituir Golikov (substituído por Vatutin em 21 de março) e Vassilevski (substituído no dia 22), enfim restabelecendo o moral das tropas da região.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=553-555}}
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=== Tcherkassi e o Dniestre (1944) ===
{{Artigo principal|Ofensiva Dniepre-Cárpatos}}Júkov permaneceu em Moscou durante boa parte de setembro, planejando as próximas ofensivas soviéticas. Por volta do dia 10, Stalin o surpreendeu ao declarar acreditar que as tropas soviéticas haviam se tornado superiores às alemãs: "nossas tropas são mais experientes. Agora não só podemos, como devemos realizar operações para cercar as tropas alemãs".{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=591-592}} Assim, Stalin autorizou Júkov-o a retomar o planejamento de operações em profundidade, proposto no mês anterior. Júkov preparou dois ataques para o inverno 1943-1944. A [[Primeira Frente Ucraniana]] tinha como objetivo [[Jitomir]] e [[Berdychiv|Berditchiv]], enquanto a [[Segunda Frente Ucraniana]] retomaria [[Kropyvnytskyi|Kirovogrado]]. OsAo doisfinal, braçosos aodois finalbraços se encontrariam perto de [[Uman]], cercando o [[8.º Exército (Alemanha)|8.º Exército]] alemão.{{Sfn|Василевский|1978|p=344-345}}[[Ficheiro:Г. Жуков, К. Богомолов, Н. Ватутин.jpg|miniaturadaimagem|Júkov (à esquerda) e comandantes da [[Primeira Frente Ucraniana]], durante a campanha na região do [[Rio Dniestre|Dniestre]] (1944).|esquerda|250x250px]]
 
Em 23 de dezembro, Vatutin lançou sua frente ao ataque, seguido em 5 de janeiro de 1944 por Konev, ambos novamente sob a coordenação de Júkov. A onda de calor retardou os soviéticos, e embora Jitomir tenha sido retomada em 1 de janeiro e Kirovogrado no dia 8, o 8.º Exército alemão, que recuava, conseguiu lançar contra-ofensivas que acabaram por parar o avanço soviético em ambos os lados.{{Sfn|Manstein|2017|p=560}} Contudo, Hitler proibiu suas tropas de recuar, e, osem soviéticos9 de janeiro, Júkov viramviu a oportunidade de cerca-los e formar um bolsão alemão em torno de [[Kórsun-Shevtchênkivski]]. Em 9 de janeiro, Júkov propôs ao Estado-Maior que as tropas de Vatutin e Konev cercassem os alemães: oO duplo avanço ocorreu entre 25 e 26 de janeiro, isolando cerca de 56 mil soldados alemães, um episódio que ficaria conhecido como o "caldeirão de Tcherkassi". Manstein respondeu engajando dois corpos de blindados, entre os dias 4 e 15 de fevereiro, mas que não conseguiram romper o cerco. Em 12 de fevereiro, as tropas cercadas nessa "pequena Stalingrado" conseguiram romper o cerco, o que resultou na ira de Stalin e no rebaixamento de Júkov. Stalin transferiu o comando da operação a Konev, e em 18 de fevereiro ele foi homenageado no comunicado de vitória publicado em toda a URSS.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=595-601}}
 
Em 29 de fevereiro de 1944, Vatutin foi ferido por [[partisan]]s ucranianos, e veio a morrer duas semanas depois. Stalin nomeou Júkov seu substituto, em 2 de março, dando-lhe o comando da [[Primeira Frente Ucraniana]]. As frentes vizinhas (Rokossovski no norte, e Konev no sul) não se encontravam mais sob seu comando.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=602-603}} Com os oito exércitos desta frente, Júkov conduzconduziu então a operação Proskurov-Chernovtsi, em que aplicaaplicou plenamente a táticas de operações profundas: um exército de choque rompe as linhas inimigas em 4 de março, e Júkov introduz seuo 4.º Exército de Tanques e o 3.º Exército de Tanques da Guarda a fim de explorar a brecha, surpreendendo Manstein e abortando seu contra-ataque com o 1.º Exército de Tanques da Guarda. Assim as tropas de Júkov atravessamatravessaram os rios [[Rio Bug Ocidental|Bug]], [[Rio Dniestre|Dniestre]] e [[Rio Prut|Prut]], chegamchegaram ao sopé dos [[Cárpatos]], e, junto com as tropas de Konev, cercamcercaram o 1.º Exército Panzer (comandado pelo general [[Hans-Valentin Hube]]) em [[Kamianets-Podilskyi|Kamianets-Podilski]]. Manstein, pouco antes de ser demitido por Hitler, em 30 de março, ordenou a esse exército que escapasse, não para o sul, onde os tanques soviéticos o esperavam, mas para o oeste,{{Sfn|Manstein|2017|p=586-592}} cortando o fornecimento de Júkov entre 27 de março e 6 de abril). Apesar deste revés, em 22 de abril de 1944 Júkov foi condecorado com a primeira [[Ordem da Vitória]].{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=605-609}}
 
=== Operação Bagration (1944) ===
{{Artigo principal|Operação Bagration}}Embora a paternidade das ofensivas do verão de 1944 seja tradicionalmente atribuída a Júkov,{{sfn|Le Tissier|1996|p=9}} ela também é reivindicada por outros membros do Estado-Maior General (ou seja, por Antónov e Chtemenko).{{sfn|Shtemenko|1971|p=228}} OSeu planejamento ocorreocorreu a partir de 15 de abril de 1944, e éfoi discutido durante sete reuniões chefiadas por Stalin, que envolvemenvolveram Antónov, Chtemenko, Júkov e Vassilevski, dentre outros. Trata-se de uma série de operações, sobretudo na Bielorrússia ([[operação Bagration]]) e no sul da Polônia ([[Ofensiva Lviv-Sandomir]] e [[Ofensiva Kovel-Lublin]]). A Operação Bagration deve serfoi usada como isca, a fim de atrair as reservas mecanizadas alemãs.{{Sfn|Lopez|2014|p=44-51}} Em 30 de maio, Stalin assinou diretrizes dando às frentes suas missões, meios e cronogramas. Em Bagration, quatro frentes soviéticas atacariam o Grupo de Exércitos Centro (do Marechalmarechal [[Ernst Busch]]) em um arco de setecentos quilômetros: A [[Primeira Frente Báltica]] (comandada porde Bagramian), a [[Terceira Frente Bielorrussa]] (comandada porde [[Ivan Tcherniakhovski]]), a [[Segunda Frente Bielorrussa]] (liderada porde [[Georgi Zakharov|Gueorgui Zakharov]]) e metade da [[Primeira Frente Bielorrussa]] (sob a chefia de Rokossovski). O Marechalmarechal Vassilevski coordenaria as duas frentes do norte, e o Marechalmarechal Júkov outras duas ao sul.{{Sfn|Lopez|2014|p=68-69}}[[Ficheiro:Zhukov-LIFE-1944.jpg|miniaturadaimagem|Capa da edição de 31 de julho de 1944 da revista americana [[Life (revista)|Life]], exaltando o papel de Júkov na guerra.|230x230px]]De 5 a 23 de junho, Júkov visitou os estados-maiores das tropas sob sua responsabilidade, verificando se todos compreendiam seu papel, fazendo reconhecimento de campo, supervisionando a logística e ajudando com exercícios. A maskirovka mais uma vez desempenha seu papel, tentando fazer crer em um ataque mais ao sul, enquanto as unidades na Bielorrússia recolhemrecolhiam-se na defensiva.{{Sfn|Lopez|2014|p=95-97}} O assalto soviético começou em 22 de junho. Em uma semana, foram destruídos três quartos do [[3.º Grupo Panzer (Alemanha)|3.º Grupo Panzer]]; o [[4.º Exército (Alemanha)|4.º Exército]] foi quase completamente aniquilado entre [[Orcha]] e o [[rio Berezina]], e depois no bolsão de Minsk; o [[9.º Exército (Alemanha)|9.º Exército]] foi batido nos bolsões de [[Bobruisk]] e Minsk.{{Sfn|Lopez|2014|p=389}} Nesse episódio, os soviéticos fizeram 57,6 mil prisioneiros alemães, incluindo dezenove generais, que foram exibidos no [[desfile dos prisioneiros de guerra alemães em Moscou]] de 17 de julho.{{Sfn|Lopez|2014|p=234-235}} O reagrupamento do exército alemão se deu por trás do [[rio Neman]], por fim esgotando a logística soviética.{{Sfn|Lopez|2014|p=286}}
 
Em 8 de julho, Stalin confiou a Júkov a coordenação entre ada Primeira Frente Bielorrussa e ada Primeira Frente Ucraniana, encarregadas de avançar até [[Lublin]] e o [[Rio Vístula|Vístula]], e no dia 9 reúnereuniu na [[datcha de Kuntsevo]] Júkov e os membros do futuro [[Comitê Polonês de Libertação Nacional]].{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=619}} No dia 11, Júkov se juntou a seu Estado-Maior em [[Lutsk]], entre as duas frentes.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=619}} A Primeira Frente Ucraniana, comandada por Konev, atacou na [[Galícia (Europa Central)|Galícia]], a partir de 13 de julho, mas as reservas do [[Grupo de Exércitos A|Grupo de Exércitos Norte da Ucrânia]] contra-atacaram efetivamente. {{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=616}} Mesmo assim, [[Lviv]] e [[Przemyśl]] foram conquistadas apenas em 27 de julho, e [[Sandomir]] em 18 de agosto.{{Sfn|Lopez|2014|p=304-320}} A ala esquerda da Primeira Frente Bielorrussa também atacou em 18 de julho, e imediatamente perfurou as linhas inimigas, permitindo ao 2.º Exército de Tanques da Guarda introduzir-se. Lublin foi conquistada em 25 de julho, o rio Bug foi atravessado, e duas cabeças de ponte foram instaladas na margem esquerda do Vístula. O 2.º Exército de Tanques da Guarda avançou para o norte, ameaçando a retaguarda do 2.º Exército alemão, mas, devido à uma falta de gasolina entre 1 e 4 de agosto, acabou cercado a nordeste de [[Varsóvia]] e quase totalmente destruído por cinco ''Panzerdivisionen''.{{Sfn|Lopez|2014|p=342-343}} Por sua contribuição nas operações Bagration e Lviv-Sandomir, Júkov recebeu em 29 de julho sua segunda estrela de Herói da União Soviética.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=617}}
 
Reconvocado a Moscou no dia 23 de agosto, ele conheceu o búlgaro [[Georgi Dimitrov]]. Em 5 de setembro, a União Soviética declarou guerra à [[Bulgária]], e no dia 8 Júkov foi enviado para perto da [[Terceira Frente Ucraniana]], que se encontrava junto à fronteira romeno-búlgara. Na noite do dia 8 de agosto, um golpe de Estado derrubou o governo em [[Sófia]]. O novo governo assinou imediatamente um armistício com os soviéticos, e estabeleceu a [[República Popular da Bulgária]]. Em 12 de setembro, Júkov voltou a Moscou, antes de passar o mês de outubro na Polônia.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=618-619}}
 
=== Ofensiva no Vístula-Oder (1945) ===
{{Artigo principal|Ofensiva no Vistula–Oder}}Em 1 de novembro de 1944, Júkov participou de reuniões do Estado-Maior General, a fim de discutir operações visandopara concluir a guerra: atacar nos Países Bálticos e na Hungria, a fim de comprometer o máximo de tropas alemãs, enquanto uma ofensiva decisiva se concentraria no eixo Varsóvia-[[Berlim]]. Em 29 de outubro, Stalin informou por telefone a Júkov e Vassilevski que as dez frentes soviéticas seriam geridas diretamente por ele, e que portanto a função de "representante da Stavka" não era mais necessária.{{Sfn|Lopez|2010|p=129}} Stalin acreditava que os comandantes poderiam cooperar melhor dessa forma, e buscava se beneficiar pessoalmente do prestígio que traria a vitória final. Em 11 de novembro, ele nomeou Júkov responsável pela Primeira Frente Bielorrussa, em lugar de Rokossovski, que foi transferido para a Segunda Frente Bielorrussa. A Primeira Frente estando direcionada a Berlim, o marechal polaco devia dar lugar ao marechal russo. Isso acaba por terminar as boas relações entre os dois militares.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=620-625}}
 
Em 14 de novembro, Júkov chegou em [[Siedlce]], a oeste de [[Brest (Bielorrússia)|Brest-Litovsk]], junto ao Estado-Maior da Primeira Frente Bielorrussa. Essa frente era o peso -pesado do Exército Vermelho, e em janeiro de 1945 contava com cerca de um milhão de combatentes, agrupados em dez exércitos (dois de tanques), sete corpos blindados ou mecanizados, 63 divisões de infantaria independentes e um exército aéreo.{{Sfn|Lopez|2010|p=89; 155}} Sua missão era avançar sobre [[Łódź]], [[Poznań|Posnânia]], [[Frankfurt an der Oder|Francoforte do Óder]] e Berlim.{{Sfn|Lopez|2010|p=137; 154}} Em seu flanco direito, a Segunda Frente Bielorrussa devia conquistar [[Danzigue]], e a [[Pomerânia Oriental]] até [[Estetino|Stetino]]. Em seu flanco esquerdo, a Primeira Frente Ucraniana movia-se no eixo Cracóvia - [[Breslávia]] - [[Dresden]]. Contudo, a ofensiva teve de esperar que a logística soviética fosse capaz de fornecer às suas unidades combustível, munição, equipamento, alimentos e vodka, o que implicava refazer ferrovias, estradas e pontes na Bielorrússia, destruídas pelos alemães em retirada, para então acumular estoques nas três cabeças de ponte a oeste do Vístula. Além disso, cabia treinar recrutas, preparar equipes e coletar inteligência, o que levou a atrasosmais adicionaisatrasos.{{Sfn|Lopez|2010|p=134-138}} Em 8 de dezembro de 1944, Stalin fez circular a todos os generais e marechais soviéticos uma diretiva do Comando Supremo, em que cancelava "as ordens [...] emitidas pelo vice-ministro da Defesa, camarada Júkov, para a validação do manual de DCA". Nessa instrução, Stalin ordena "ao marechal Júkov que não se permita qualquer precipitação quando tiver que tomar decisões sérias". Desde pelo menos o final de 1944, quando anunciara seus [[Dez Golpes de Stalin|"dez golpes"]], Stalin vinha buscando apropriar-se do mérito pela melhoria da situação soviética na guerra, e a partir dessa época ele passou a montar um [[dossiê]] contra Júkov, temeroso de que este viesse a lhe lançar sombra e precisasse ser neutralizado.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=638-640}}
[[Ficheiro:Lodz liberation2.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|250x250px|Tropas soviéticas entram na cidade de [[Łódź]], guiadas por um canhão automotor ISU-152 (janeiro de 1945).]]
Os ataques por fim foram lançados em ondas: as tropas de Konev no dia 12 de janeiro, as de Júkov e de Rokossovski no dia 14 de manhã. A Primeira Frente Bielorrussa atacou com cinco exércitos: no oeste da Polônia, as duas primeiras linhas alemãs foram evisceradas pela preparação de artilharia soviética (meio milhão de [[obus]]es e [[Artilharia de foguetes|foguetes]] de [[Katyusha|Katiusha]] sobre dezesseis quilômetros de largura e sete quilômetros de profundidade, totalizando 5.540 toneladas entregues em 25 minutos). Júkov se encontrava junto ao comando do 5.º Exército de Choque, em companhia do chefe do 2.º Exército de Tanques da Guarda,{{Sfn|Lopez|2010|p=192-195}} e decidiu que no dia seguinte lançaria os dois exércitos de blindados ao ataque. Um contra o ataque de duas divisões Panzer durante a tarde atrasou a estréia do 1.º Exército de Tanques da Guarda, mas mais ao norte dois exércitos (incluindo o 1.º Exército polonês) atacaram buscando avançar até Varsóvia. Na noite do dia 15, os dois exércitos de blindados atravessam as linhas inimigas, e as tropas buscaram ampliar a brecha para cem quilômetros de largura, juntando-se a outras tropas vindas do sul e cercando duas divisões alemãs em retirada.{{Sfn|Lopez|2010|p=201-202}}
 
No dia 16, Varsóvia, ameaçada de cerco, foi evacuadoevacuada pelos alemães. Júkov ordenou às tropas que avançassem, e os soviéticos deixaram para trás muitos bolsões sob controle alemão. Eles liberaram Łódź, no dia 18; Posnânia, no dia 22; [[Bydgoszcz|Bromberg]], no dia 24 (dez dias antes do previsto); e o rio Oder foi atingido no dia 31, ao norte de [[Kostrzyn nad Odrą|Kostrzyn nad Odra]].{{Sfn|Lopez|2010|p=204-224}} As tropas de Júkov param antes de chegar a Berlim, que ficava a apenas oitenta quilômetros de distância (uma viagem de uma hora pela ''Reichsstraße 1''). As razões da paralisação soviética, que durou dois meses e meio, são objeto de algum debate entre historiadores.{{Sfn|Chuĭkov|1967||p=120}} Vários elementos explicam esta medida: primeiro, a 1.ª Frente da Bielorrússia era ameaçada em seu flanco direito, pois a 2.ª Frente da Bielorrússia (Rokossovski) havia sido parada antes de [[Elbląg|Elbing]] e [[Grudziądz|Graudenz]].{{Sfn|Lopez|2010|p=292-296}} Para proteger-se contra uma contraofensiva vinda da [[Pomerânia]], Júkov destacara quatro exércitos, que lhe faziam falta no Oder. Depois, a logística carecia de preparos, e caminhões com combustível e munição deviam percorrer de quinhentos a seiscentos quilômetros em terreno em degelo.{{Sfn|Lopez|2010|p=300-303}} Finalmente, grande parte das forças soviéticas estava fora de controle, empenhando-se em pilhagens e estupros em massa desde a sua entrada em território alemão: levou tempo para que Júkov e seus generais retomassem o controle sobre as tropas.{{Sfn|Lopez|2010|p=298-300}}
 
=== Seelow (1945) ===
{{Artigo principal|Batalha de Seelow}} Em fevereiro e março de 1945, os alemães lançaram ataques (cerca de quarenta) contra as cabeças de ponte de ambos os lados de [[Kostrzyn nad Odrą|Küstrin]], a maioria da atividade da Luftwaffe concentrando-se em atacar caminhões e pontes aoa leste do Oder (incluindo trinta missões suicidas).{{Sfn|Lopez|2010|p=308-309; 496}} Simultaneamente, desde 15 de fevereiro foi lançada na Pomerânia a [[Operação Solstício]], uma contra-ofensiva que falhou dias depois.{{Sfn|Lopez|2010|p=321-327}} Em 1 de março, Júkov lançou ao ataque suas tropas ao leste, introduzido em seguida, pela brecha de duzentos quilômetros, duas unidades: o 2.º Exército de Tanques da Guarda rumou para a [[Ilha Wolin]] e [[Estetino]]; e o 1.º Exército de Tanques da Guarda dirigiu-se para o Báltico, perto de [[Colberga]], para então seguir ao longo da costa para [[Gdynia|Gottenhafen]] e Danzigue. As cidades cercadas caem uma a uma: [[Piła|Schneidemühl]] em 14 de fevereiro, Colberga no dia 17, [[Poznań|Posen]] no dia 23; Gottenhafen em 28 de março e Küstrin no dia 29; [[Glogóvia|Glogau]] em 1 de abril e Estetino no dia 26.{{Sfn|Lopez|2010|p=343-348}} [[Ficheiro:Bundesarchiv Bild 183-E0406-0022-012, Sowjetische Artillerie vor Berlin.jpg|miniaturadaimagem|250x250px|Artilharia soviética bombardeando posições alemãs durante a [[Batalha de Seelow]] (abril de 1945).]]
Em 30 de março, observando o [[Invasão dos Aliados Ocidentais da Alemanha|progresso dos Aliados ocidentais no oeste]], Júkov e Stalin discutiram o ataque a Berlim, definindo que ele ocorreria "em duas semanas, no mais tardar".{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 2|p=269-270}} Durante a reunião de 1 de abril de 1945, com Júkov e Konev, Stalin traçou no mapa a fronteira entre as duas frentes até cerca de cem quilômetros de Berlim, pondo assim os dois marechais em concorrência para tomar a capital alemã.{{Sfn|Haskew|2018a}} De acordo com Chtemenko, Stalin teria acrescentado: "O primeiro dos dois a passar [as defesas alemãs] tomará Berlim".{{Sfn|Shtemenko|1971|p=308}} Esse episódio é a culminação de uma rivalidade que desde 1941 vinha sendo encorajada por Stalin,{{sfn|Le Tissier|1996|p=5-6}} e Júkov encontrava-se em desvantagem, carecendo reagrupar suas forças e supri-las, o que envolvia reconstruir ferrovias.{{sfn|Le Tissier|1996|p=5-6}}
 
De 5 a 7 de abril, ele reuniu os líderes de suas tropas afima fim de planejar o ataque a Berlim, e o plano resultante previa um ataque frontal a partir da margem esquerda do Oder.{{sfn|Le Tissier|1996|p=36-37}} O ataque ocorreria à noite, duas horas antes do amanhecer, iluminado por 143 holofotes de uso anti-aéreo. Quatro exércitos se deslocariam para o norte de Berlim, junto ao rio [[Rio Elba|Elba]]; o 2.º Exército de Tanques da Guarda entraria na cidade pelos subúrbios do nordeste; dois exércitos (5,º de Choque e 8.º da Guarda) pelo leste de Berlim; o 1.º Exército de Tanques da Guarda pelos subúrbios do sul; e dois exércitos (69,º e 33,º) avançariam para [[Zossen]], apoiados por três exércitos da 1.ª Frente Ucraniana (3.º Exército da Guarda, e 3,º e 4,º Exércitos de Tanques da Guarda) e chegariam a [[Potsdam]] e [[Brandemburgo|Brandenburgo]], no sudoeste.{{sfn|Le Tissier|1996|p=36-37}}
 
Para chegar a Berlim, era preciso conquistar as [[colinas de Seelow]] no primeiro dia, os subúrbios berlinenses no quarto dia, cercar a cidade no sexto dia, e alcançar o Elba no dia décimo quinto dia, isso é, no [[Dia do Trabalhador]].{{Sfn|Lopez|2010|p=440}} O 9.º Exército alemão os opunha, reconstruído com recursos da reserva ([[Volkssturm]], cadetes de escolas militares, membros da [[Juventude Hitlerista]], convalescentes da ''[[Reichsarbeitsdienst]]'', dentre outros) e liderado pelo general [[Theodor Busse]]. A superioridade soviética era de seis para um, em carros; de sete para um, em infantaria; de dez para um, em aviação; e de onze para um, em artilheria.{{Sfn|Lakowski|1994|p=69}}{{Sfn|Lopez|2010|p=444}}
 
Um reconhecimento foi realizado em 14 e 15 de abril de 1945,{{Sfn|Lopez|2010|p=466}} e, no dia 16 às 4h, Júkov lançou sua Primeira Frente Bielorussa ao ataque, precedida de uma enorme preparação de artilharia que durou 30 minutos (mais de 15 mil canhões, morteiros e foguetes, mas ineficazes porque as duas primeiras linhas alemãs haviam sido quase totalmente evacuadas durante a noite),{{Sfn|Lopez|2010|p=470-472}} e levantou uma enormenuvem poeira que dificultaria a visibilidade durante a operação. As tropas terminaram encalhadas em um vale pantanoso e coberto de minas terrestres, no sopé das colinas de Seelow, de onde a terceira linha alemã atirava com suas baterias anti-tanques. Por volta do meio-dia, Stalin anunciou a Júkov que Konev o havia ultrapassado no sul do [[rio Neisse]].{{Sfn|Lopez|2010|p=444}}{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 2|p=285}} Júkov decidiu então utilizar o 1.º Exército de Tanques da Guarda, mas isso resultou em um enorme engarrafamento com as unidades do 8.º Exército da Guarda.{{Sfn|Lopez|2010|p=485-487}} O ataque consumiu grande número de obuses e as baixas foram pesadas,{{Sfn|Haskew|2018a}} mas apesar disso os soviéticos avançaram. À noite, Júkov contatou Stalin e este informou-o que ordenaria a Konev atacar Berlim pelo sul. O ataque de Júkov foi retomado em 17 de abril, às 6 da manhã, e Seelow foi tomada.{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 2|p=285-286}} No dia 18, Konev atacou Berlim pelo sul, encontrando dificuldades. As tropas de Júkov rapidamente tomaram [[Münchberg]] e avançaram rumo a Berlim.{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 2|p=288-290}}
 
=== A conquista de Berlim (1945) ===
{{Artigo principal|Batalha de Berlim}}
[[Ficheiro:Ivan Konev 1945.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|212x212px|O Marechal [[Ivan Konev]] disputou com Júkov a distinção de conquistarlibertar Berlim.]]
Em 20 de abril de 1945, às 19h45min, o líder da Primeira Primeira Frente Ucraniana enviou uma ordemescreveu a seus dois exércitos de tanques (3.º e 4.º da Guarda), dizendo: "As tropas do Marechalmarechal Júkov chegaramestão a dez quilômetros do leste de Berlim. Eu ordeno que vocês sejam os primeiros a entrar em Berlim, nesta noite. Mantenham-me informado da execução. [assinado] Konev, Krainiukov". Às 21h50min do mesmo dia, o líder da Primeira Frente Bielorrussa enviou um telex aos seus dois exércitos de tanques (1.º e 2.º da Guarda), comandando: "O Exército de Tanques recebeu a missão histórica de entrar primeiro em Berlim e içar a bandeira da vitória. Eu me responsabilizo pessoalmente pela execução e organização. Mande a melhor brigada de cada corpo [de exército] para Berlim, e atribua-lhes a missão de estar, a todo custo, às beiras de Berlim no dia 21 de abril às 4h da tarde. Aguardarei receber um relatório imediato, para poder anunciar o evento ao camarada Stalin e publicá-lo pela imprensa. [assinado] Júkov, Telegulin". Assim, embora nenhuma das ordens fosse viável naquela noite, a corrida pelo [[Reichstag]] estava lançada.{{Sfn|Lopez|2010|p=568}}
 
A realidade do teatro de batalha, contudo, logo se impôs, e Júkov modificou seu plano: o 61.º Exército protegeria o flanco direito, alinhando-se ao longo do canal ligando o [[Rio Havel|Havel]] ao Oder; o 1.º Exército polonês avançaria para [[Oranienburg]]; o 47.º Exército evitaria Berlim e seguiria para Potsdam; o 2.º Exército de Tanques da Guarda entraria na parte norte de Berlim, pelo distrito de Pankow; o 3.º Exército de Choque entraria no nordeste por Weissensee; o 5.º Exército de Choque invadiria o leste de Berlim, por Karlshorst e pela avenida Frankfurter Allee; o 1.º Exército de Tanques da Guarda e o 8.º Exército da Guarda desceriam pela Reichsstraße 1 e cruzariam o [[Rio Spree|Spree]] e o Dahme, para então cercarem todo o sul de Berlim; os 3.º, 69.º e 33.º exércitos participariam do cercocercariam dasas tropas em fuga do 9.º Exército alemão.{{Sfn|Lopez|2010|p=568}}
 
Em 21 de abril, os exércitos de Júkov entram na [[Lei da Grande Berlim|Grande Berlin]] pelo norte e pelo nordeste;{{Sfn|Lopez|2010|p=571, 573-574}} e no dia seguinte os de Konev fizeram o mesmo, no sul, a partir do dia 22. Embora teoricamente a coordenação entre ambos fosse assegurada pela Stavka, na prática ambas as frenteselas combatiam independentemente. No dia 23, o 8.º Exército da Guarda, comandado por Chuikov, penetrou pelosnos subúrbios orientais de Berlim, enquanto os tanques do 3.º Exército da Guarda foiforam paradoparados no Canal Teltow. No dia 24, esses dois exércitos reuniram-se perto de Berlim, no [[Aeroporto de Berlim-Schönefeld|Aeroporto de Schönefeld]],{{Sfn|Lopez|2010|p=551}} e à noite Chuikov recebeu um telefonema de Júkov questionando-o sobre o avanço das tropas de Konev e ordenando-lhe que monitorasse o seu movimento. Na noite de 24 a 25, Stalin mudou o limite entre as frentes de Júkov e Konev, e a região do Reichstag passou a ser uma extensão do setor Konev.{{Sfn|Chuĭkov|1967|p=169-170}}
 
No dia 25, as tropas de Júkov buscaram organizar a conquista de Brandemburgo, mas Konev antecipou-se, lá chegando na manhã desse dia.{{Sfn|Erickson et al.|1998|p=71}} Ainda em 25 de abril, Júkov ordenou que o 8.º Exército da Guarda e o 1.º Exército de Tanques da Guarda atacassem pelo noroeste, através do distrito de [[Tempelhof-Schöneberg]], cortando a rota de Konev. Na manhã do dia 26, Chuikov tomou a estação de Papestraße e o trecho mais à oeste do anel rodoviário que circunda Berlim.{{Sfn|Lopez|2010|p=582}} No mesmo dia, o 9.º Corpo Mecanizado (subordinado ao 3.º Exército de Tanques da Guarda) de Konev foi submetidobombardeado a bombardeio depor aeronaves soviéticas que não conseguiam identifica-lo.{{Sfn|Lopez|2010|p=583}} A noroeste, o 2.º Exército de Tanques da Guarda chegou ao distrito de Siemensstadt, que elaele levaria quatro dias para conquistar. Na tarde do dia 25, Júkov anunciou a Stalin que suas unidades haviam alcançdoalcançado a [[Alexanderplatz]], no centro da cidade.{{Sfn|Lopez|2010|p=583}} No dia 26 os homens de Chuikov chegam à fronteira com o Landwehrkanal, continuando pelo noroeste para a região em que combatia o 9.º Corpo Mecanizado, no distrito de Schöneberg. Ali, o 8.º Exército da Guarda foi vítima de fogo fratricida: no dia 28, no início da manhã, metade da preparação da artilharia do 3.º Exército de Tanques caiu sobre os homens de Chuikov.{{Sfn|Lopez|2010|p=584, 589-590}}[[Ficheiro:Raising a flag over the Reichstag 2.jpg|miniaturadaimagem|250x250px|A fotografia "A bandeira vermelha sobre o Reichstag". Tomada em 2 de maio de 1945, no telhado do [[Reichstag]], ela se tornou símbolo do fim da [[Batalha de Berlim]] e da queda do [[Alemanha Nazi|Terceiro Reich]].]] No dia 28 de abril, às 20h45min, Konev contatou Júkov por telex, pedindo-lhe que desviasse a marcha de Chuikov; Júkov não respondeu, mas enviou um relatório para Stalin às 22h, reclamando do "ataque de Konev sobre as costas do 8.º Exército da Guarda e do 1.º Exército de Tanques da Guarda", que teria levado a uma grandeà desordem e afetado a capacidade de ataque de ambos. Júkov pediu então a Stalin que estabelecesse "um limite entre as tropas das duas frentes".{{Sfn|Erickson et al.|1998|p=73-74}} Às 21h20min do dia 28, a Stavka anunciou que a nova fronteira entre os dois passaria pela estação Tempelhof, pela praça Victoria-Louise, depois pelas estações Savignyplatz, Charlottenburg e Westkreuz, excluindo Konev do distrito de [[Tiergarten]].{{Sfn|Lopez|2010|p=591}}
 
Em 29 de abril a competição pela conquista do Reichstag começou a se definir a favor de Júkov, com o 3.º Exército de Choque, que chegava do norte, e o 8.º Exército da Guarda, que chegava do sul. O primeiro foi parado na ponte Moltke, e o segundo na sede da [[Gestapo]], mas, em 30 de abril, às 22h40, uma [[Bandeira da vitória|bandeira vermelha]] foi plantada no frontão do Reichstag, por homens da 150.ª Divisão de Fuzileiros (do 39.º Corpo do 3.º Exército de Choque).{{Sfn|Sakaida|2004}} Imagens desse evento foram amplamente difundidas em todos o mundo como prova da conquista de Berlim, embora a batalha nos arredores do Reichstag tenha continuado até o dia 2 de maio às 13h.{{Sfn|Lopez|2010|p=594}}
 
=== As capitulações alemãs (1945) ===
{{Artigo principal|Instrumento da rendição alemã}}Em 30 de abril de 1945, por rádio, a [[Chancelaria do Reich]] pediu um cessar-fogo para negociar.{{Sfn|Beevor|2002|p=507}} No dia 1 de maio, às 3h50min, o general [[Hans Krebs (general)|Hans Krebs]] (Chefe de Gabinete do [[Oberkommando des Heeres|OKH]], fluente em russo porque havia sido adido militar em Moscou entre 1936-1939) reuniu-se com o Estado-Maior do 8.º Exército da Guarda, que recebera de Júkov autorização para negociar. Krebs anunciou-lhes a [[morte de Adolf Hitler]] no dia anterior, e propõepropôs negociarem a paz. Júkov telefonou imediatamente Stalin, informando-o da situação. "É uma pena que não o pegamos vivo. Onde está o corpo dele?" Júkov informou-lhe que, de acordo com o general Krebs, o cadáver havia sido queimado em uma fogueira. "Diga a Sokolovski que não haverá negociações, salvo nos termos de uma rendição incondicional, seja com Krebs ou com qualquer outro membro do bando de Hitler". Krebs foi então escoltado de volta, e o combate reiniciou às 10h40min.{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 2|p=301-302}} Na manhã do 2 de maio, o general [[Helmuth Weidling]] apresentou a Chuikov e Sokolovski a capitulação do que restara da guarnição de Berlim; o cessar-fogo foi marcado para as 13h, algumas horas depois. Na parte da tarde, Júkov foi à Chancelaria, onde a [[SMERSH]] lhe proíbeproíbiu o acesso ao [[Führerbunker]] e ao jardim (eles encontraram os restos do cadáver de Hitler no dia 5, e secretamente os evacuaram).{{Sfn|Beevor|2002|p=535-538, 548-549}} Júkov assistiu ao interrogatório de [[Hans Fritzsche]], contando os últimos dias de Hitler e do comando alemão. Em Moscou, 24 salvas foram atiradas por 324 canhões, em honra das duas frentes que tomaram a capital adversária.{{Sfn|Lopez|2010|p=596}}[[Ficheiro:Подписание акта капитуляции Германии 1945 г. 2.jpg|miniaturadaimagem|A assinatura do [[Instrumento da rendição alemã|instrumento de rendição alemão]], na sede soviética em Berlim (8 de maio de 1945).|250x250px|alt=]]Em 3 de maio, Júkov visitou as ruínas do Reichstag, gravando seu nome em uma das colunas (no meio de outras centenas).{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=700}} Em 7 de maio, Stalin anunciou-lhe por telefone a rendição das forças armadas alemãs em Reims, no [[Quartel General Supremo das Forças Expedicionárias Aliadas]], argumentando que era inválido: "O peso da guerra recaiu sobre os ombros do povo soviético [...]. A capitulação deve, portanto, ser assinada diante do comando de todos os países da coalizão anti-Hitler". O ditador disse que o documento de Reims podia ser aceito como um protocolo preliminar, e ordenou que o ato de rendição, dessa vez do Estado alemão, fosse assinado em Berlim.{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 2|p=306}}
 
Em 8 de maio de 1945, no prédio que abrigava os oficiais da escola de Karlshorst e no qual se instalara a administração militar soviética, Júkov recebeu as delegações britânica, americana e francesa. Por volta da meia-noite, foi a vez da delegação alemã.{{sfn|Boudoux|1975}} [[Wilhelm Keitel]] cumprimentou a todos com seu bastão de marechal, e dirigiu-se a Júkov, que abriu a sessão e perguntou a Keitel, em russo: "Você tem plenos poderes para assinar o ato de rendição em nome da Alemanha?".{{sfn|Boudoux|1975}} Depois de obter uma resposta afirmativa, Júkov leu em voz alta o texto do ato, e passou-se para a sua assinatura em nove cópias (três em russo, três em inglês e três em alemão). A partir das 0h21min assinamassinaram o Marechalmarechal Keitel, o Almirantealmirante [[Hans-Georg von Friedeburg]] e o general [[Hans Jurgen Stumpf|Hans-Jürgen Stumpff]] (para a Alemanha), e, abaixo, o marechal Júkov (para a URSS) e o marechal-do-ar [[Arthur Tedder]] (para os Aliados Ocidentaisocidentais). Um militar americano e um francês assinam como testemunhas.{{sfn|Boudoux|1975}} Depois que os alemães partiram, Júkov e seus generais felicitaram-se alegremente; Júkov dirigiu-se aos seus compatriotas, evocando os mortos, e depois houve um grande banquete.{{Sfn|Lopez|2010|p=701-702}}
 
== Pós-guerra ==
[[Ficheiro:Bundesarchiv Bild 183-14059-0018, Berlin, Oberbefehlshaber der vier Verbündeten.jpg|miniaturadaimagem|Os líderes militares Aliados na recém capturada Berlim, em frente ao [[Portão de Brandeburgo]]. À frente, da esquerda para a direita: [[Bernard Montgomery|Montgomery]], [[Dwight D. Eisenhower|Eisenhower]], Júkov e [[Jean de Lattre de Tassigny|De Lattre]] (5 de junho de 1945).|250x250px|esquerda]] Júkov retornou a Moscou em 19 de maio de 1945, e foi convidado para jantar no Kremlin, com todos os outros marechais e líderes do partido. Stalin dedicou o primeiro brinde aos "grandes capitães da guerra", com Júkov na liderança.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=702-703}}
 
Em 31 de maio, Stalin nomeou Júkov representante da URSS para o [[Conselho de Controle Aliado]], ao instituiçãoórgão responsável pela administraçãopor dasgerir [[zonas ocupadas pelos Aliados na Alemanha]].{{Sfn|Haskew|2018b}} Em 1 de junho, ele foi feito pela terceira vez Herói da União Soviética, pela captura da capital adversária. A primeira reunião do Conselho de Controle Aliado foi realizada em Berlim em 5 de junho, com [[Dwight D. Eisenhower|Dwight Eisenhower,]] [[Bernard Montgomery]] e [[Jean de Lattre de Tassigny]], os outros três comandantes -em -chefe dos exércitos da ocupação, episódio em que assinam uma declaração conjunta.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=706}}
[[Ficheiro:Field Marshal Montgomery Decorates Russian Generals at the Brandenburg Gate in Berlin, Germany, 12 July 1945 TR2911.jpg|miniaturadaimagem|250x250px|Júkov e [[Bernard Montgomery|Montgomery]], durante a entrega da faixa de Grã-Cruz da [[Ordem do Banho]] (12 de julho de 1945). Júkov recebeu numerosas honrarias estrangeiras por seu papel na guerra.]]
 
Em 7 de junho, [[Harry Hopkins]], assessor diplomático dos presidentes americanos [[Franklin Delano Roosevelt|Roosevelt]] e [[Harry S. Truman|Truman]], esteve em Berlim e reuni-se com Júkov. Ele lhe anunciou a realização próxima de uma conferência aliada na capital ocupada, que de fato ocorreu em Potsdam por recomendação de Júkov, mas sem a sua presença.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=706}} Mais tarde no dia 7, Júkov deu uma entrevista coletiva internacional em sua residência, à beira do [[Wannsee]]. O correspondente do [[The Sunday Times]] perguntou-lhe o que achava da declaração alemã de que ele aprendera a arte militar da Wehrmacht, ao que Júkov respondeu: "Deixe os alemães dizerem o que querem. [...] sempre considerei, e ainda considero, que nossa arte operativa é superior à arte militar alemã. Esta guerra acaba de prová-lo incontestavelmente".{{sfn|Werth|2010|p=613}} Em 10 de junho, Júkov foi recebido na sede americana em Frankfurt, iniciando uma amizade com Eisenhower que se estenderia por muitos anos{{sfn|Ambrose|1990|p=217; 225; 390}}{{sfn|Chaney|1996|p=367}}{{#tag:ref|Essa amizade levou a um episódio curioso da biografia de ambos, relacionados à criação de uma versão incolor da [[Coca-Cola]]. Apresentado à bebida por Eisenhower, Júkov, temeroso de ser visto bebendo esse símbolo americano, pediu ao general [[Mark W. Clark]] que buscasse obter a bebida disfarçada. Este, repassou o pedido ao presidente [[Harry S. Truman]], que mandou contatar o setor de exportação da [[The Coca-Cola Company]] no sudeste da Europa. A empresa adicionou à bebida um produto químico capaz de remover a sua cor, e essa versão incolor da Coca-Cola foi engarrafada usando garrafas de vidro lisas, com uma tampa branca estampada com uma estrela vermelha. O primeiro carregamento dessa "Coca-Cola branca" consistiu em 50 caixas.{{Sfn|Pendergrast|2000|p= 210–211}}{{Sfn|Eckes|Zeiler|2003|p=118–119}}.|group="nota"}}. Este, celebrou-o durante o brinde: "A nenhum homem as Nações Unidas devem mais do que ao marechal Júkov".{{sfn|Ambrose|1990|p=217}}{{#tag:ref|"To no one man do the United Nations owe a greater debt than to Marshal Zhukov".|group="nota"}}
 
=== Apoteose ===
{{Artigo principal|Desfile da Vitória de Moscou de 1945}}[[Ficheiro:Georgy Zhukov 9.jpg|miniaturadaimagem|Júkov foi o principal honrado no [[Desfile da Vitória de Moscou de 1945|desfile da vitória de 24 de junho de 1945]], em Moscou.|250x250px]]
Júkov foi convocado por Stalin em 18 ou 19 de junho, e este lhe anunciou que o havia escolhido para inspecionar a [[Desfile da Vitória de Moscou de 1945|grande parada militar]] que estava sendo preparada em Moscou,{{sfn|Zhukov|1991|loc=t. 2|p=329}} e portanto como o principal homenageado do evento. Mais tarde autores descreveriam esse episódio como o principal momento de glória da carreira de Júkov.{{sfn|Roberts|p=3|2012}}{{sfn|Le Tissier|1996|p=258}}
Em 24 de junho de 1945, precisamente às dez horas10h, sob a garoa, Júkov saiu a cavalo do portão da Torre de Spasskaia, no Kremlin, seguido pelo major-general Piotr Zelenski, e então atravessou metade da Praça Vermelha a galope, enquanto 1,4 mil músicos tocavam ''Seja Glorificado'' de [[Mikhail Glinka]].{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=710-712}}{{sfn|Roberts|p=3|2012}} Ao pé do [[Mausoléu de Lenin]], o marechal Rokossovski e o tenente-coronel Klikov, em dois cavalos negros, o saudaram. O quarteto então revisou os destacamentos militares, que por sua vez também lhes saudaram. Júkov então desmontou, foi até a plataforma, e fez seu discurso, que terminou dizendo:<blockquote>"Se nós vencemos, é porque fomos guiados pelo nosso grande ''vojd'', pelo nosso incrível capitão, o marechal da União Soviética Stalin! Glória ao nosso povo soviético, ao povo libertador! Glória ao inspirador e organizador da nossa vitória, ao grande Partido de Lenin e Stalin! Glória ao nosso ''vojd'', ao sábio capitão, marechal da União Soviética, o grande Stalin! Hurra!".{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=713}}</blockquote>
Em 2 de agosto, o embaixador norte-americano apresentou a Júkov um convite de Truman para visitá-lo nos [[Estados Unidos]]. De 11 a 17 de agosto, Eisenhower visitou Moscou e Leningrado, encontrando-se com Stalin, e, devido à sua boa relação com Júkov, este foi encarregado de acompanhá-lo em todos os lugares. Dias depois de retornar ao seu país, Eisenhower escreveu a Júkov reiterando o convite para visitar os Estados Unidos,{{sfn|Ambrose|1990|p=225}} mas em outubro recebeu uma amável recusa. Júkov alegou motivos de saúde e excesso de trabalho, mas suas razões eram de fato políticas, motivadassobretudo peloo gradual desgaste das relações entre a URSS e os EUA.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=719}}
Mais tarde autores descreveriam esse episódio como o principal momento de glória da carreira de Júkov.{{sfn|Roberts|p=3|2012}}{{sfn|Le Tissier|1996|p=258}}
Em 2 de agosto, o embaixador norte-americano apresentou a Júkov um convite de Truman para visitá-lo nos [[Estados Unidos]]. De 11 a 17 de agosto, Eisenhower visitou Moscou e Leningrado, encontrando-se com Stalin, e, devido à sua boa relação com Júkov, este foi encarregado de acompanhá-lo em todos os lugares. Dias depois de retornar ao seu país, Eisenhower escreveu a Júkov reiterando o convite para visitar os Estados Unidos,{{sfn|Ambrose|1990|p=225}} mas em outubro recebeu uma amável recusa. Júkov alegou motivos de saúde e excesso de trabalho, mas suas razões eram de fato políticas, motivadas pelo gradual desgaste das relações entre a URSS e os EUA.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=719}}
 
=== Marginalização ===
No final do outono de 1945, Josef Stalin levou a cabo uma espécie de "expurgo suave", mirando seus colaboradores que haviam conquistado muito poder e prestígio. A popularidade de Júkov, em particular, se aproximava da de Stalin.{{sfn|Chaney|1996|p=366}} O primeiro a pagar o preço foi Viatcheslav Molotov, que fez sua autocrítica no início de dezembro de 1945. Então foi a vez de Lavrenti Beria, que perdeu sua posição de Ministro do Interior em 29 de dezembro de 1945. Contra [[Geórgiy Malenkov|Gueorgui Malenkov]] e Gueorgi Júkov, Stalin confiou à MGB (que mais tarde daria lugar à [[KGB]]), a tarefa de estabelecer uma acusação. O Marechalmarechal-do-ar Sergei Khudiakov foi preso em 14 de dezembro de 1945 e, sob tortura, confessou ser um espião britânico e denunciou como seus supostos cúmplices Alexander Repine e o Alexei Shakhurin. Os dois últimos, presos em 8 de abril de 1946, denunciaram o Marechalmarechal-comandante [[Alexander Nóvikov]], chefe da aviação soviética. Novikov foi presoPreso em 23 de abril, e, torturado e ameaçado, Nóvikov denunciou 74 pessoas, dentre as quais Malenkov e Júkov. Malenkov perdeu o Secretariado do Comitê Central do Partido, em 4 de maio de 1946, enquanto Júkov foi chamado de volta a Moscou no início de março 1946, para assumir o cargo de Comandante-em-Chefe das Forças terrestres soviéticas.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=724-726}}
 
Em 1 de junho de 1946, no início de uma reunião do Conselho Superior Militar, Stalin ordenou que Sergei Chtemenko (então vice-chefe do Estado-Maior General) lesse diante dos membros do Politburo a confissão do marechal Novikov, denunciando o comportamento de Júkov e sua auto-glorificação (atribuindo-se quase todas as vitórias na guerra). Stalin então pedepediu que ele se justificasse, e anunciou sua desgraça. A diretriz de 9 de junho de 1946, assinada por todos os presentes no Conselho Superior, menospreza o papel de Júkov em todas as batalhas da guerra. Em 2 de junho de 1946, Júkov passou de Comandante das Forças Terrestres Soviéticas para o posto inferior de comandante do Distrito Militar de Odessa.{{sfn|Spahr|1993|p=200–205}}{{sfn|Chaney|1996|p=368}}
 
==== Odessa ====
Júkov assumiu seu novo posto em 13 de junho, e passou a inspecionar, fortalecer a disciplina e organizar manobras militares com fogo real. Na sequência, ele viajou a lazer com sua esposa Alexandra Dievna e as filhas, enquanto continuava seu relacionamento com sua amante Lida Zakharova.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=732}}
 
Em 1946, a cidade de [[Odessa]], em ruínas e a população faminta, enfrentava uma onda sem precedentes de crime organizado, controlada principalmente por uma organização chamada Gato Negro{{#tag:ref|Em russo: черный кот.|group="nota"}}, que assumira controle dos armazéns e trens militares da região. A fim de subjugar essa milícia, Júkov montou uma operação de codinome ''Maskarad'',{{#tag:ref|Em russo: Маскарад.|group="nota"}} na qual pequenos grupos de militares, disfarçados de civis, foram espalhadas por toda a cidade para derrubar imediatamente os criminosos. Em poucos meses, o crime no distrito de Odessa caicaiu 74 por centro, segundo um relatório enviado para Stalin.{{sfn|RTR|2011}}
 
Em paralelo, Júkov continuava na mira de Stalin. Em 23 de Agosto de 1946, [[Nikolai Bulganin]], o Ministro-Adjunto da Defesa, informou Stalin que funcionários aduaneiros haviam apreendido sete carros carregados com 194 móveis pertencentes ao marechal, provenientes da Alemanha e rumo a Odessa.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=732}} Em 21 de julho de 1947, Júkov recebeu uma reprimenda pública por ter condecorado a cantora Lidia Ruslanova com a [[Ordem da Guerra Patriótica]].{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=734}}
 
==== Acusação de pilhagem ====
No início de 1948, Stalin autorizou buscas na casa de Júkov e na sua [[datcha]]. Um relatório da MGB informou que foramhaviam sido apreendidos muitosnumerosos artigos saqueados na Alemanha, e descreveu sua datcha como um museu: dezenas de relógios de ouro, pinturas, peças de pele, tapeçarias; centenas de talheres de prata; lotes de tecidos de veludo e seda, armas e livros preciosos. Em 20 de janeiro de 1948, o Politburo emitiu uma resolução contra Júkov, acusando-o de ter cometido "erros que desonram o título de membro do Partido e comandante do Exército Soviético" e definindo-o como "um homem degradado do ponto de vista político e moral". O mesmo documento anunciou sua demissão do posto de comandante do Distrito Militar de Odessa, e que ele entregaria ao Estado todos os bens dos quais ele teria se apropriado ilegalmente.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=734-738}} Existe consenso, dentre os historiadores, de que as acusações contra Júkov foram motivadas por razões políticas.{{Sfn|Bering|2012}}
 
Em 4 de fevereiro de 1948 Júkov foi notificado de seu apontamento como chefe do pequeno Distrito Militar dos Urais, em [[Ecaterimburgo|Sverdlovsk]]. O Pravda não mencionou o seu nome durante o aniversário da Vitória, e seus amigos e colaboradores também foram afetados. Seu motorista foi aposentado em janeiro de 1948, depois preso em 27 de abril de 1950, acusado de ser um espião da [[Central Intelligence Agency|CIA]]. Outros, foram torturados. A cantora Lidia Ruslanova e seu marido foram presos em 18 de setembro e sentenciados a trabalhos forçados. O coronel-general [[Vassili Gordov]] e o chefe de seu Estado-Maior foram presos em 12 de janeiro de 1947, e fuzilados em agosto de 1950, por terem defendido Júkov e criticado Stalin.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=736}}
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==== Vice-Ministro da Defesa (1953-1955) ====
Júkov continuou sendocomo adjunto de Bulganin, e tornou-se membro efetivo do Comitê Central do Partido. Um busto seu foi instalado em Ugodski Zavod, a cidade próxima à sua aldeia natal, em 3 dezembro de 1953, na presença de suas filhas Era e Ella. Ele transferiu sua amante Galina Alexandrovna Semionova para Moscou, conseguindo-lhe um posto no hospital militar Burdenko (ela era coronel do Corpo Médico soviético).{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=753-754}}
 
O problema militar nesse momento girava em torno das [[Bomba nuclear|armas nucleares]], especialmente o [[Arma nuclear de uso tático|seu uso tático]], em um momento em que os Estados Unidos detinham um significativo avanço tecnológico. No outono de 1953, Júkov presenciou um exercício liderado por Ivan Konev, simulando um [[ataque nuclear]]. Os resultados foram inconclusivos quanto à adaptabilidade do pessoal e do equipamento a uma explosão atômica, e quanto à possibilidade de luta e comunicação em uma [[zona de radiação]]. Júkov organizou então a Operação Bola de Neve,{{#tag:ref|Em russo: Снежок.|group="nota"}} que simulou o uso de uma arma nuclear para defender-se de um ataque. Um total de 44 mil homens foram mobilizados em Totskoie, no [[Oblast de Oremburgo]]. Em 14 dezembro de 1954, um [[Tupolev Tu-4]] lançou uma bomba [[RDS-4]], que explodiu às 9h34min, a 350 metros de altitude. Perto do meio dia, unidades mecanizadas devidamente equipadas foram movimentadas em campo, algumas até a quinhentos metros do epicentro.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=755}} O exercício foi produtivo, e permitiu concluir que forças convencionais podem lutar em cenário de uso de armas nucleares: os veículos devem ser reforçados e realmente vedados, e as formações devem ser ainda maismuito diluídas. Pouco tempo depois, o comando das forças nucleares passou do Ministério do Interior (Beria coordenara o [[Projeto soviético da bomba atômica|projeto atômico soviético]]) para o da Defesa.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=755}}
 
==== Ministro da Defesa (1955-1957) ====
Em janeiro de 1955, Khrushchov recebeu a renúncia de Malenkov, nomeando Bulganin em seu lugar Nikolai Bulganin, como Presidente do Conselho de Ministros. Em 7 de fevereiro, Júkov foi promovido a Ministro da Defesa; ao mesmo tempo, foi criado o Conselho Geral de Defesa da URSS, e Khrushchov tornou-se o líder supremo das forças armadas soviéticas. Júkov apoiou Khrushchov na [[desestalinização]], e durante o 20.º [[Congresso do Partido Comunista da União Soviética|Congresso do Partido]], em fevereiro de 1956, acusou Molotov de liderar os últimos stalinistas.{{Sfn|Haskew|2018b}} Júkov apreciou o [[discurso secreto]] de Khrushchov sobre o [[culto da personalidade]], e mais tarde foi acusado de ter escrito um relatório sobre o papel de Stalin na guerra.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=768-770}} Na lutadisputa pela liderança da URSS, seu apoio a Khrushchov éfoi decisivo.{{Sfn|Haskew|2018b}}
 
Em maio de 1955, Júkov foi capa da Revista Time pela segunda vez.{{Sfn|Time Magazine|1955}} Como ministro, em junho ele restaurou a dotação financeira para condecorações militares, que Stalin havia abolido em 1948. Ele propôs em 1955 a construção de estátuas monumentais nas [[Cidade-Herói|cidades-herói]] de Leningrado, Stalingrado,{{#tag:ref|Lá foi construída a [[Mãe Pátria (monumento)|Mãe Pátria]].|group="nota"}} [[Sebastopol]] e Odessa. [[Murmansk]] e Kiev depois foram adicionadas à lista, com construções progressivas até a década de 1980. No mesmo ano, Júkov restaurou os comandos individuais das forças terrestres, de aviação, marinhas e de defesa aérea, abolidos por Stalin em 1950. Ele também criou o cargo de Vice-Ministro da Defesa para Mísseis Estratégicos, confiado a [[Mitrofan Ivanovich Nedelin|Mitrofan Nedelin]]. Sob o seu ministério, [[Cosmódromo de Baikonur|Baikonur]] (1955) e [[Cosmódromo de Plesetsk|Plesetsk]] (1957) foram selecionadas como para a instalação de [[Base de lançamento espacial|cosmódromos]].{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=759}}
[[Ficheiro:Bundesarchiv Bild 183-30373-003, Präsident Pieck empfing die Sowjetische Regierungsdelegation.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|250x250px|Uma delegação soviética, liderada pelo Ministro Júkov, é recebida pelo presidente da [[Alemanha Oriental]], [[Wilhelm Pieck]] (6 de maio de 1955).]]
Júkov também chefiou a comissão, que, em abril de 1956, obteve do Comitê Central o fim das perseguições contra os 1,8 milhões de soldados soviéticos aprisionados pelos alemães, com o pagamento de seus soldos atrasados, e em janeiro 1957 conseguiu a reabilitação póstuma de Mikhail Tukhachevski e Dmitri Pavlov.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=757-759}}
 
Em 29 de outubro de 1955, o encouraçado Novorossisk naufragou, depois de romper o casco em uma mina alemã esquecida na baía de Sebastopol. Júkov foi duro com os responsáveis,{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=763-764}} e usou o episódio para reduzir o papel da [[Marinha Soviética]] nas forças armadas. No exército, com grande número de violações da disciplina, acidentes e crimes, Júkov fez cumprir o despacho n.º 90 de 12 de maio de 1956, que reforçou a autoridade do comandante militar em relação aos seus oficiais políticos.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=760-764}} Esse episódio culminou a longa oposição de Júkov à interferência política nas forças armadas{{sfn|Le Tissier|1996|p=9}}, e lhe valeu a hostilidade da Direção Política Principal do Exército. A fim de melhorar a qualidade das forças armadas, ele apoiou a redução do número de tropas (que passou de 4,8 milhões de pessoas em 1955 para 3 milhões em 1957) e o encurtamento do serviço militar.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=763}}
 
Sua posição como Ministro da Defesa lhe conferiu um pequeno papel na [[Guerra Fria]]. Em 14 maio de 1955, ele assinou pela URSS o [[Pacto de Varsóvia]], documento que ele ajudara a redigir em reação à entrada da Alemanha Ocidental na [[Organização do Tratado do Atlântico Norte]].{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=764}} Essas tensões não impediram decisões mais pacíficas, incluindo a proclamação da neutralidade austríaca em 15 de maio de 1955 e a evacuação da base Porkkala na Finlândia, implementada em 1956. De 18 a 23 de julho de 1955, Júkov fez parte de uma delegação soviética em Genebra, onde se reencontrou com D. Eisenhower, agora presidente dos Estados Unidos, com quem trocou presentes e gentilezas.{{sfn|Ambrose|1990|p=390}}{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=765-766}}[[Ficheiro:Zhukov, Pokryshkin, Kozhedub.jpg|miniaturadaimagem|240x240px|Júkov com pilotos de caça russos (1957)]]
Júkov também teve papel importante nas instabilidades que assolaram a URSS no final da década.{{sfn|Chaney|1996|p=405-410}} Em 28 de junho de 1956, o exército polonês reprimiu protestos trabalhistas em [[Poznań]], e o [[Partido Operário Unificado Polaco]], aproveitando-se da desestalinização, passou a exigir maior autonomia. Khrushchov previu uma ação militar, mas Mikoian e Júkov convencem-no a [[Outubro polaco de 1956|ceder às exigências polonesas]].{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=772}} Em 21 de outubro, foi a vez da polícia húngara atirar em manifestantes, provocando [[Revolução Húngara de 1956|uma rebelião]]. Na noite do dia 23, Júkov fez agir o corpo de exército soviético estacionado localmente, e outras três divisões, da Romênia e do Distrito dos Cárpatos, que cruzaram as fronteiras em apoio. A demonstração de força acabou transformando-se em confronto, e Júkov ordenou um cessar-fogo, no dia 29, e a evacuação das tropas soviéticas, no dia seguinte. No dia 31, o primeiro-ministro húngaro [[Imre Nagy]] anunciou a saída da [[República Popular da Hungria]] do Pacto de Varsóvia, enquanto ao mesmo tempo começava a [[Crise de Suez|crise do Canal de Suez]]. O Comitê Central soviético decidiu por uma intervenção militar, solução apoiada por Júkov. Em 4 de novembro, foi lançada a Operação Turbilhão, buscando desarmar o exército húngaro e retomar todas as cidades. Vinte dias depois, o confronto contabilizava 3,2 mil mortos e 20,7 mil feridos, e Nagy e seu ministro [[Pál Maléter]] enforcados por conduta contra-revolucionária. A Hungria, agora com [[János Kádár]] à frente, continuou membro do bloco comunista, protegidaguardada por cinco divisões soviéticas. Em 1 de dezembro de 1956, por ocasião do seu sexagésimo aniversário, Júkov recebeu uma quarta Ordem de Lenin, e foi feito Herói da União Soviética pela quarta vez.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=776-780}}
 
=== Aposentadoria ===
Em junho 1957, Júkov, no Conselho de Ministros e no plenário do Comitê Central, junto com [[Ivan Serov]], o chefe da KGB, ajudaram Khrushchov a remover do governo os stalinistas que restavam (Molotov, [[Lazar Kaganovitch]], Malenkov, Bulganin e Vorochilov).{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=787-790}}
 
Mas os militares, liderados por Júkov e muito populares, tinham cada vez mais autonomia e peso político, e despertavam o temor das lideranças civis, que citam a [[Revolta Dezembrista|Revolta Dezembrista de 1825]], a dissolução do Exército Imperial Russo em 1917, e, sobretudo, seu suposto [[O 18 de Brumário de Luís Bonaparte|bonapartismo]].{{sfn|Chaney|1996|p=xix, 440-450}} O risco de um golpe de Estado tornava o exército uma ameaça para o partido, e os inimigos colecionados por Júkov se movimentaram.{{Sfn|Spahr|1993|p=391}} Em 4 de outubro de 1957, Júkov partiu para a [[Iugoslávia]], onde conheceu o Marechal [[Josip Broz Tito|Tito]],{{Sfn|Spahr|1993|p=235-238}} e no dia 17 dirigiu-se para a [[Albânia]]. No mesmo dia, o general Alexei Jeltov, chefe da Direção Política Principal do Exército, denunciou-o em um discurso no Politburo, acusando-o de culto da personalidade, de glorificação de seu papel na guerra, de redução do poder dos oficiais políticos, de deterioração do ensino do marxismo-leninismo, e de negar o papel do Partido. No dia 19, o Politburo devolveu aos oficiais políticos o direito de interferir nas decisões dos comandantes dos distritos militares, e reuniões foram organizadas para criticar Júkov.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=796-798}}
 
Júkov retornou a Moscou em 26 de outubro, e foi imediatamente convocado pelo Politburo, que o acusou de quererbuscar cortar os laços entre o Exército e o Partido. Khrushchov propôs retirá-lo do cargo de ministro, e o voto foi unânime. Malinovski o substituiu.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=799-800}} Entre 28 e 29 de outubro, Júkov apresentou-se ao plenária do Comitê Central, onde foi duramente criticado. Ao final, Khrushchov culpou-o pelas derrotas do verão 1941. Como resultado, Júkov foi demitido por unanimidade do Politburo e do Comitê Central.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=800-801}}
 
No dia 29 à noite, ele se retirou para sua datcha, onde foi [[Sonífero|sedado]] por duas semanas.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=805}} Em 3 de novembro, Konev assinou um longo artigo publicado no Pravda, intitulado "A força do Exército e da Marinha soviéticos é devida à liderança do Partido e à sua relação estreita com o povo", que é de fato um apanhado de acusações contra Júkov, por seu papel na guerra e como ministro.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=805-807}}
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=== Últimos anos ===
[[Ficheiro:Georgy Zhukov 2.jpg|miniaturadaimagem|Júkov em seus últimos anos, c. 1970.]]
Júkov manteve o direito de usar seu uniforme, sua datcha em Sosnovka, seu apartamento em Moscou, seu motorista e os hospitais que servemserviam à ''[[nomenklatura]]''. Em 4 de março de 1958, ele foi aposentado sem o benefício de um posto de inspetor (como os outros marechais e generais), e se tornou por alguns anos uma [[persona non grata]]. Em sua vida privada, Alexandra Dievna descobriu sua amante Galina Semionova e sua filha Maria. Júkov passou então a dividir seu tempo entre os dois apartamentos, da Rua Granovski (Alexandra) e da Rua Gorki (Galina), mas a situação se deteriorou e ele divorciou-se de Alexandra em 18 de janeiro de 1965, para, no dia 22, casar-se com Galina.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=809}}
 
De 1960 a 1965, o Ministério da Defesa publicou os seis volumes de ''A História da Grande Guerra Patriótica'', muito crítico das decisões de Stalin, ignorando a ajuda dos EUA, e salientando o papel dos quadros do Partido, incluindo Khrushchov na Ucrânia e Stalingrado, e [[Andrei Jdanov]] em Leningrado. Júkov quase não foi mencionado, exceto quanto às derrotas do verão de 1941. Indignado, Júkov passou a escrever suas memórias. Preocupado, o Politburo convocou-o em 7 de junho de 1963, ameaçando excluí-lo do partido e prendê-lo, caso continuasse.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=816-817}}[[Ficheiro:Stamp Soviet Union 1976 4553.jpg|miniaturadaimagem|[[Selo postal]] de 1976 celebrando o "Marechal da União Soviética G. K. Júkov", morto em 1974.|243x243px|esquerda]]
 
A substituição de Khrushchov por [[Leonid Brejnev]] como chefe de Estado, em 1964, mudou gradualmente a situação.{{sfn|Chaney|1996|p=468}} Na noite de 8 de maio de 1965, Júkov e Galina compareceram à festa do vigésimo aniversário da vitóriaVitória, no Kremlin. Brejnev leu um discurso elogiando Stalin, e a multidão ovacionou Júkov.{{sfn|Le Tissier|1996|p=258}}{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=820}}
 
Em agosto de 1965, Júkov assinou um contrato para a publicação de suas memórias. O trabalho foi dificultado por um infarto, em novembro, mas o manuscrito foi entregue no verão de 1966. Uma comissão do Comitê Central modificou-o consideravelmente, reforçando a presença do partido e de seus chefes. Foram também adicionadas referências a Brejnev, dizendo que Júkov teria buscado se aconselhar com ele em 1943, (época em que ele era um obscuro coronel).{{sfn|Roberts|p=300|2012}} O texto foi aprovado pessoalmente por Brejnev,{{sfn|Le Tissier|1996|p=258}} e o livro foi lançado em abril de 1969. Apesar da falta de publicidade, suas trezentas mil cópias esgotaram-se em poucos meses,{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=822-825}}{{Sfn|Roberts|2012|p=300}} e Júkov recebeu mais de 10 mil cartas de leitores.{{Sfn|Spahr|1993|p=411}} Suas memórias tornaram-se "o mais influente relato pessoal da Grande Guerra Patriótica"{{sfn|Roberts|p=9|2012}}
 
[[Ficheiro:Georgy zhukov tomb.jpg|miniaturadaimagem|173x173px|Túmulo de Júkov na [[Necrópole da Muralha do Kremlin]].|alt=]]Alexandra Dievna morreu em 24 de dezembro de 1967, e alguns dias depois um câncer de mama foi diagnosticado em Galina, que foi removido mas com pouco sucesso. Logo depois, Júkov sofreu um [[aneurisma cerebral]], deixando-o paralisado e falando com dificuldade. Galina morreu em 13 de novembro de 1973, e, debilitado, Júkov compareceu ao funeral ajudado por Hovhannes Bagramian.{{sfn|Chaney|1996|p=479}} Gueorgui KonstantínovichKonstantínovitch Júkov entrou em coma em 30 de maio de 1974, e morreu no hospital em 18 de junho, sem ter recuperado a consciência. Seu corpo foi velado na Casa do Exército Vermelho e cremado em 21 de junho, e suas cinzas foram colocadasdepositadas na [[Necrópole da Muralha do Kremlin]],{{sfn|Le Tissier|1996|p=258}} com honras militares dirigidas por Brejnev.{{sfn|Chaney|1996|p=479}} No dia seguinte, seus arquivos e documentos pessoais foram apreendidos na datcha de Sosnovka,{{sfn|Chaney|1996|p=480}} junto com uma ampla biblioteca que ele havia colecionado ao longo da vida.{{sfn|Roberts|p=17|2012}}
 
== Legado ==
[[Ficheiro:USSR-1990-1ruble-CuNi-Zhukov-b.jpg|miniaturadaimagem|170x170px|Moeda de [[rublo]] de 1990, contendo a efígie de Júkov.]]
[[Joseph Brodsky]], mais tarde ganhador do [[Nobel de Literatura|Prêmio Nobel de Literatura]], escreveu um poema por ocasião da morte de Júkov,{{#tag:ref|Sobre a Morte de Júkov. Em russo: На Смерть Жукова (Na Smerti Júkova).|group="nota"}} e que é uma estilização da [[elegia]] escrita por [[Gavrila Romanovich Derzhavin]] sobre a morte de Alexander Suvorov, em 1800. A crítica considera esse poema um dos melhores sobre a guerra, escritos por autores da geração do pós-guerra a respeito da guerra.{{Sfn|Shlapentokh|1996}}
 
Ainda durante a URSS, Júkov foi homenageado em nomes de ruas, selos postais, moedas, placas e estátuas e letras de música,{{#tag:ref|Notadamente, uma canção dos Coros do Exército Vermelho, intitulada Marechal Júkov e a Vitória.|group="nota"}}. Em 1974, uma das estradas que ligam os subúrbios ao centro de Moscou foi rebatizada Avenida do Marechal Júkov,{{#tag:ref|Em russo: Проспект Маршала Жукова (Prospekt Marchala Júkova).|group="nota"}}, e avenidas com o seu nome existem em diversas outras grandes cidades. Ruas em homenagem a Júkov{{#tag:ref|Normalmente "Rua do Marechal Júkov" (em russo: Улица Маршала Жукова) e Rua de Júkov (em russo: Улица Жукова).|group="nota"}} também são comuns em numerosas localidades. Ainda em 1974, a vila de Ugodski Zavod foi renomeada Júkovo{{#tag:ref|Em russo: Жуково.|group="nota"}} em homenagem ao Marechalmarechal, nascido na aldeia de Strelkovka, que dela faz parte. Em 1997, Jukovo tornou-se Júkov{{#tag:ref|Em russo: Жуков.|group="nota"}} e foi alçada ao status de cidade. Hoje ela é a capital do Raion Júkovski, e abriga o Museu de Estado de Marechal da União Soviética G. K. Júkov. Ainda durante a URSS, o principal centro de treinamento da atual [[Força de Defesa Aeroespacial Russa]] recebeu seu nome, e um [[planetóide]] descoberto em 1975 foi batizado [[2132 Zhukov]] em honra do Marechalmarechal.{{Sfn|Schmadel|2003|p=173}} [[Ficheiro:RussiaB 2925 - Zhukov (4160661399).jpg|miniaturadaimagem|227x227px|Estátua equestre de Júkov, inaugurada em 1995, ao lado da [[Praça Vermelha]], em Moscou.|esquerda]]Desde o fim da URSS, essas referências se multiplicaram na [[Rússia]], primeiro em 1995, para marcar 50 anos de vitória sobre a Alemanha e o centenário do nascimento de Júkov, e depois no século XXI, como símbolo do nacionalismo russo. Também em 1995, a Rússia estabeleceu a [[Ordem de Júkov]] e a [[Medalha de Júkov]].{{#tag:ref|Decreto 243 de 6 de março de 1995.|group="nota"}} Uma estátua equestre de Júkov foi instalada na [[Praça do Manege]], perto da Praça Vermelha, em 8 de maio de 1995.{{sfn|Le Tissier|1996|p=258}} O documentário Grande Comandante Gueorgui Júkov,{{#tag:ref|Em russo: Великий полководец Георгий Жуков.|group="nota"}} do diretor Iuri Ozerov, entrou em cartaz no mesmo ano.
 
Fora da Rússia, muitos monumentos foram removidos após a queda da URSS, mas há exceções notáveis em Minsk (um busto desde 2007 no Parque Júkov, ladeado pela Avenida Júkov) e em Ulã Bator. Uma versão sem censura das memórias de Júkov foi publicada em 1990, e sua décima quarta edição foi lançada em 2010. Um total de sete milhões de cópias foram vendidas em 18 idiomas.{{Sfn|Lopez|Otkhmezuri|2017|p=889}} [[Ficheiro:Badge of Order of Zhukov (Russia).png|miniaturadaimagem|Insígnia da Ordem de Júkov, honraria instituída pela Federação Russa em referência a Júkov.|167x167px]]