António de Oliveira Salazar: diferenças entre revisões

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Em 1933, montou uma polícia política, a PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado), renomeada em 1945 como PIDE (Polícia Internacional e Defesa do Estado) ; depois de sua morte, foi chamada Direção-Geral de Segurança (DGS). O seu papel é vigiar a população, expulsar os opositores do regime na metrópole e nas colônias e aplicar a censura. Tinha também o controle de estrangeiros e fronteiras. [[Imagem:TarrafalEdificios.JPG|miniatura|250px|direita| Campo de concentração do Tarrafal em Cabo Verde]]
 
Os presos políticos são encarcerados em centros de detenção , como a [[prisão de Caxias]], perto de Lisboa, ou o [[campo do Tarrafal]], nas ilhas de Cabo Verde, e torturados. A polícia política usava informadores civis, na linguagem popular ''"os bufos"'', que se encontravam em praticamente todos os sectores da sociedade. <ref>{{citar web|url=https://www.counterpunch.org/2004/05/21/how-the-cia-taught-the-portuguese-to-torture/|titulo=How the CIA Taught the Portuguese to Torture|data=21 de Maio de 2004|acessodata=|publicado=CounterPunch|ultimo=Reed|primeiro=Christopher}}</ref> <ref>{{citar web|url=https://quod.lib.umich.edu/m/mp/9460447.0009.101?view=text;rgn=main|titulo=Acousmatic and Acoustic Violence and Torture in the Estado Novo: The Notorious Revelations of the PIDE/DGS Trial in 1957|data=2015|acessodata=|publicado=University of Michigan Library|ultimo=Duarte|primeiro=Anabela}}</ref>
 
O historiador [[Douglas L. Wheeler]] contraria a versão corrente de que a polícia política portuguesa teria sido inspirada e até instruída pela [[Gestapo]] alemã. Em 1983, queixando-se antes de tudo da escassez de fontes existentes, da desordem dos ficheiros, e também da dificuldade em lhes aceder, conclui que a formação da polícia secreta foi antes influenciada primeiro pelo [[MI5]] britânico. Só durante a Guerra Civil Espanhola alguns oficiais da Gestapo teriam começado a prestar assistência à secreta portuguesa . <ref>{{citar web|url=https://www.jstor.org/stable/260478?newaccount=true&read-now=1&seq=6#page_scan_tab_contents|titulo=In the Service of Order: The Portuguese Political Police and the British, German and Spanish Intelligence, 1932-1945|data=1983|acessodata=|publicado=Journal of Contemporary History -Vol. 18, No. 1 (Jan., 1983), - Sage Publications, Ltd.|ultimo=Wheeler|primeiro=Douglas L.}}</ref>
 
Na sede da PIDE ,em Lisboa, um edifício de cinco andares, na Rua António Maria Cardoso, estava escrita a frase de Salazar: ''«Havemos de chorar os mortos, se os vivos o não merecerem»''. Até 1971, quando os interrogatórios passaram a ser feitos no reduto sul de Caxias, foi ali que muitos opositores do regime foram sujeitos a espancamentos e tortura. Era uma zona citadina, no meio da Baixa lisboetaː os gritos ouviam-se na rua. <ref>{{citar web|url=http://maismemoria.org/mm/2006/07/20/locais-de-memoria/|titulo=Locais de Memória (prisões) -A sede da PIDE/DGS na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa|data=20 de Julho de 2006|acessodata=|publicado=Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória!|ultimo=|primeiro=}}</ref> Em 1 de Agosto de 1958, a própria embaixatriz do Brasil (esposa de Álvaro Lins) assiste à queda dum detido do terceiro andar da sede da polícia política.<ref>{{citar livro|título=A História da PIDE|ultimo=Pimentel|primeiro=Irene Flunser|editora=Círculo de Leitores|ano=2007|local=|páginas=99-100|acessodata=}}</ref>
 
== Mocidade Portuguesa ==
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Muito antes do início da segunda guerra mundial Salazar deixou claras as diferenças ideológicas em relação às potencias do Eixo. Embora Salazar reconhecesse a sua admiração pelo Duce Italiano, de quem conservava uma fotografia na sua secretária, Salazar, como católico, esclareceu que o Estado Novo obedecia a limitações de ordem moral que tornavam as leis portuguesas menos severas, os costumes menos policiados e o estado menos absoluto. Segundo Salazar a violencia fascista não se adaptava à brandura de costumes portugueses.{{sfn|Pimentel|2013|p=84}} Salazar distanciou-se daquilo que chamou de "cesarismo pagão" e apelidou Mussolini de oportunista, produto de um país de césares e Maquiavel.{{sfn|Kay|1970|p=69}}
 
Quanto a Hitler, Salazar, como católico, reprovava o seu paganismo e receava os seus impulsos imperialistas e de expansão territorial. Em 1934 num discurso oficial Salazar afirmou que "Portugal não se fez ou unificou nos tempos modernos nem tomou a sua forma com o ideal pagão e anti-humano de deificar uma raça ou um império".<ref>O espírito da Revolução» — Discurso na visita oficial ao Porto, em 28 de Abril — «Discursos», Vol. I, págs. 324-326) – 1934</ref> Quando questionado por António Ferro, "Como vê Hitler" Salazar respondeu: "A Europa deve-lhe o grande serviço de ter recuado, com assombrosa energia, e com empolgantes músculos, as fronteiras do comunismo. Receio apenas que ele vá longe de mais no campo económico e social.{{sfn|Pimentel|2013|p=84}}E conversando com um diplomata romeno, que considerou A.Hitler um selvagem sem cultura, Salazar não o seguiu em tal juízo: ''"deitei água na fervura, apesar de tudo, Hitler era um génio político, tendo realizado uma obra colossal"''.{{sfn|Meneses|2010|p=274}} Contudo, nos discursos que proferiu Salazar procurou sistemáticamente diferenciar o seu Estado Novo do totalitarismo,{{sfn|Pimentel|2013|p=85}} criticando o facto de na Alemanha e na Itália o Estado "ter em si mesmo, o seu fim e a sua razão de ser".{{sfn|Pimentel|2013|p=85}} Segundo Samuel Hoare, Embaixador Britânico em Madrid durante a guerra, Salazar era um grande pensador que detestava Hitler e toda a sua obra, dado que o seu estado corporativo era fundamentalmente diferente do estado concebido pelo Nazismo ou o Fascismo.{{sfn|Hoare|1946|pp=124–125}}
 
Segundo o pensamento de Salazar uma vitória alemã seria um desastre para o estado de direito e para países periféricos, agrícolas, como Portugal.{{sfn|Meneses|2010|p=249}} A aversão de Salazar ao regime nazi na Alemanha e suas ambições imperiais foi apenas temperada pela sua visão do Reich Alemão como um baluarte contra a disseminação do comunismo vindo da União Soviética. Salazar tinha favorecido a causa nacionalista espanhola por receio de uma invasão comunista de Portugal, mas estava desconfortável com a perspectiva de um governo espanhol reforçado por fortes laços com as potências do Eixo.{{sfn|Kay|1970|pp=121–122}} A política de neutralidade de Salazar para Portugal na Segunda Guerra Mundial incluía um componente estratégico. O país ainda mantinha territórios ultramarinos que Portugal não podia defender de ataques militares. Qualquer alinhamento com o Eixo teria levado Portugal a entrar em conflito com a Grã-Bretanha, provavelmente resultando na perda de suas colónias, por outro lado o alinhamento com a Grã Bretanha colocaria em risco a segurança de Portugal no continente. Em 1 de Setembro de 1939, no início da Segunda Guerra Mundial, o Governo Português anunciou que a Aliança Anglo-Portuguesa de 600 anos permaneceu intacta, mas que desde que os britânicos não procuraram ajuda portuguesa, Portugal ficou livre para permanecer neutro no país. guerra e faria isso (?). Em um ''aide-mémoire'' de 5 de setembro de 1939, o governo britânico confirmou o entendimento.{{sfn|Leite|1998|pp=185–199}}
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Este feito de Salazar e do Embaixador Teotónio Pereira na manutenção de um bloco Ibérico neutro é reconhecido pelos aliados{{sfn|Meneses|2010|p=250}} e é objecto de copiosos elogios por parte de Carlton Hayes, o historiador e Embaixador Americano em Madrid durante a guerra no seu livro Wartime mission in Spain,1942-1945{{sfn|Hayes|1945|p=36 e 119}} e por parte do Embaixador Britânico, Samuel Hoare, no seu livro “Ambassador on a Special Mission”.{{sfn|Hoare|1946|pp=124-125}} Em 1940, ''[[LIFE (revista)|a Life]]'' considerou Salazar como ''"o maior português desde Henrique o Navegador"'' e o “''melhor ditador de sempre''” , um "''dirigente benevolente''" dum povo que é apresentado como preguiçoso e apático, bebendo vinho barato noite dentro enquanto ouve o Fado.<ref name="Life">{{citar jornal |data=29 de julho de 1940 |título=Portugal: The War Has Made It Europe's Front Door |url=http://books.google.com/books?id=xz8EAAAAMBAJ&pg=PA65&source=gbs_toc_r&cad=2#v=onepage&q&f=false |jornal=[[Life (magazine)|Life]] |acessodata= 8 de agosto de 2014}}</ref> Os Britânicos nao escondem as suas simpatias pelo regime de Salazar e informam-no que a Universidade de Oxford tinha decidido conferir-lhe o grau de doutor "honoris causa". O historiador Filipe de Meneses comenta que Oxford passou um cheque em branco á máquina de propaganda do regime. Passado pouco tempo Winston Churchill escreve a Salazar felicitando-o pela sua capacidade de manter Portugal fora da guerra acrescentando que "tal como em muitas outras ocasiões ao longo dos muitos séculos da aliança anglo-portuguesa, os interesses britânicos e portugueses são idênticos nesta questão vital".{{sfn|Meneses|2007|p=266}} Em visita a Lisboa o diplomata Britânico, Sir George Rendell, que havia estado em Lisboa durante a primeira guerra mundial, faz um balanço entre o Portugal das duas guerras e afirma que tinha sido bem mais difícil lidar com o Portugal aliado da primeira guerra mundial do que com o Portugal ordeiro e neutro do Professor Salazar.<ref>{{citar livro |último= [[George William Rendel|Rendel]] |primeiro=Sir George |data=1957 |titulo= The Sword and the Olive – Recollections of Diplomacy and Foreign Service 1913–1954|edição=First |publicado=John Murray |asin= B000UVRG60|ref=harv}}</ref>
 
A estratégia de neutralidade é um imperativo da diplomacia por forma a não provocar a hostilidade nos beligerantes e Salazar não tolerou desvios dos diplomatas que arriscaram a sua política externa. Quando o [[cônsul (serviço exterior)|cônsul]] português, [[Aristides de Sousa Mendes]], em [[Bordéus]] concedeu indiscriminadamente vistos em grande quantidade, sem a prévia consulta a Lisboa, ignorando instruções do [[Ministério dos Negócios Estrangeiros]], e na sequenciasequência de uma queixa formal da Embaixada Britânica segundo a qual o cônsul português estava a protelar a passagem de vistos para fora do horário de expediente, para poder receber mais emolumentos e que, adicionalmente, em pelo menos um caso tinha exigido uma contribuição indevida para um fundo de caridade.{{sfn|Milgram|1999|p=}}{{Nota de rodapé|O texto original da Aide Memoire enviada pela Embaixada Britânica diz: "''The Portuguese Consul at Bordeaux has been deferring until after office hours all applications for visas and has then been charging them at a special rate; in at least one case the applicant has also been requested to contribute to a Portuguese charitable fund before the visa was granted''". }}Salazar foi implacável com ele e chamou-o a Lisboa.
 
Não obstante a política obstinada de neutralidade, passados dois dias de Sousa Mendes ter sido exonerado, Salazar autorizou a que os escritórios da HICEM {{Nota de rodapé|HICEM (acrónimo das três organizações que a compunham: Hebrew Immigrant Aid Society, [[Jewish Colonization Association]] e European Emigdirect}}fossem transferidos de Paris para Lisboa. Decorridos mais alguns dias, na eminencia de um ataque a Gibraltar, Portugal aceitou acolher na Madeira cerca de 2500 refugiados [[Gibraltar|gibraltinos]], na sua maioria mulheres e crianças que chegaram ao Funchal entre 21 de Julho e 13 de Agosto de 1940. Foram acomodados em hotéis, pensões e casas particulares e aí permaneceram até ao fim da Guerra.<ref>{{citar web|url=http://www.cm-funchal.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=210%3Agibraltar&catid=79&Itemid=247|título=Gibraltar|acessodata=16 de Abril de 2014|publicado=Câmara Municipal do Funchal|arquivourl=https://web.archive.org/web/20131211103759/http://www.cm-funchal.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=210%3Agibraltar&catid=79&Itemid=247|arquivodata=2013-12-11|urlmorta=yes}}</ref> {{Nota de rodapé|Portugal continuou sempre a acolher refugiados. No Outono de 1940, dois fluxos maciços de judeus luxemburgueses entram na fronteira portuguesa, acompanhados por Albert Nussbaum, presidente da comunidade judaica do Luxemburgo. De acordo com Yehuda Bauer, na segunda metade de 1941 embarcaram em Portugal, com destino "às Américas", 3682 judeus e na primeira metade de 1942 este número subiu para 4058.<ref>Bauer, Yehuda - American Jewry and the Holocaust</ref> Portugal continuou sempre a acolher refugiados da Guerra e, a partir de certa altura, estes refugiados começaram a ser instalados em estâncias de veraneio (Ericeira, Figueira da Foz, Curia, etc.). Esses dias foram capturados para a posteridade em filme. Imagens de 1943 podem ser hoje consultadas no Steven Spielberg Film and Video Archive no United States Holocaust Memorial Museum.<ref>{{citar web|url=http://www.ushmm.org/online/film/search/result.php?titles=Portugal+Europe's+Crossroads |título=Portugal Europe's Crossroads|acessodata=16 de Abril de 2014|autor=Steven Spielberg Film and Video Archive|publicado=United States Holocaust Memorial Museum}}</ref>}}