Península Ibérica: diferenças entre revisões

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O termo Hispania (ou Hispaniae, Hispaniarum, Yspania, Spania, Hespanha) continuará a determinar por alguns séculos os habitantes da Península Ibérica e é sem surpresa que a obra [[Os Lusíadas]] de [[Luís de Camões|Luís Vaz de Camões]] menciona os portugueses como "''Uma gente fortíssima de Hespanha''" (canto I, verso 31), ou "''a nobre Espanha''" (canto III, verso 17) composta por várias nacionalidades, onde se incluem, entre outras, [[Coroa de Castela|Castela]] (atual [[Espanha]]) e o Reino lusitano ([[Portugal]]) (canto III, versos 19 e 20).<ref>{{citar livro|url=https://dl.wdl.org/14160/service/14160.pdf|título=Os Lusíadas|ultimo=Camões|primeiro=Luís|editora=António Gonçalves Impressor|ano=1572|local=Lisboa|páginas=|acessodata=26-08-2019}}</ref> O nome "Espanha" é utilizado por [[Luís de Camões|Camões]] de forma puramente geográfica, como sinónimo de "Península Ibérica", um uso comum na época derivado do latim ''[[Hispânia|Hispania]]''.
 
Começa a notar-se apenas a partir do domínio [[Coroa de Castela|castelhano]]<ref>O dicionário "Tesoro de la Lengua Castellana" (1611), de Sebastián de Covarrubias Orozco, define Lisboa como "cidade famosa e popular em Espanha, cabeça do Reino de Portugal". </ref> ([[Filipe II de Espanha|Filipe II e I de Portugal]], coroa-se "rei de todas as Espanhas", ou seja, de todatodos aos reinos da Península Ibérica), e posterior [[Restauração da Independência]] portuguesa, no século XVII, a designação de "Espanha" ou "Espanhas"<ref>{{Nota de rodapé|O Tratado de Paz de 1668 indica na sua primeira página: "Tratado de pazes, entre os serenissimos e poderosissimos Principes D. Carlos II, Rey Catholico, e D. Afonso VI, Rey de Portugal, (...) sendo mediator o serenissimo, e poderosissimo Principe Carlos II, Rey da Gram Bretanha. Já no corpo do Tratado refere D. Carlos II como "Rey Catholico das Espanhas, seus successores & seus Reynos".</ref>}}<ref>{{Citar periódico|ultimo=Etc|primeiro=Tratados|data=1668|titulo=Tratado de pazes, entre os serenissimos e poderosissimos Principes D. Carlos II, Rey Catholico, e D. Afonso VI, Rey de Portugal|url=http://bd.camara.leg.br/bd/handle/bdcamara/1856|jornal=|lingua=pt-BR|acessodata=28-08-2019}}</ref> dirigida apenas a uma das nações da Península. <ref>{{citar livro|url=http://hdl.handle.net/10316.2/41512|título=DA IBÉRIA À HISPÂNIA, DA ESPANHA À IBÉRIA|ultimo=Lourenço|primeiro=António Apolinário e outros|editora=Imprensa da Universidade de Coimbra|ano=2010|local=Coimbra|páginas=285|acessodata=26-08-2019}}</ref> Esta tendência associada a um manifesto conteúdo político continuará a acentuar-se após a [[Guerra da Sucessão Espanhola|Guerra da Sucessão]] e os [[Decretos do Novo Plano]]. Ainda assim, no "''Vocabulário portuguez e latino''" (1712-1728) de Raphael Bluteau, o primeiro dicionário da língua portuguesa, referecontinua a não ser clara uma diferenciação entre os diversos conceitos. Refere que "''a Lusitânia fazia'' ''parte da Hespanha e particularmente do Reyno de Portugal''", mas definindo "''hespanhol''" refere que "''os portuguezes ou lusitanos não estavam compreendidos debaixo do nome geral de hespanhoes''":<ref>{{Citar web|titulo=Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin|url=http://dicionarios.bbm.usp.br/en/dicionario/|obra=dicionarios.bbm.usp.br|acessodata=2019-08-29}}</ref> a assunção que existe uma diferença clara num espaço geográfico que não é homogéneo, cujos habitantes podem ter diferentes nacionalidades, e por conseguinte, outrooutros [[Gentílico|gentílicogentílicos]].
 
Já no século XIX, as [[Constituição de Cádis|cortes de Cádiz]] de [[1812]], durante a [[Guerra Peninsular]], aprovam a sua primeira constituição auto-denominando-se "Espanha".<ref>{{Citar web|url=http://www.congreso.es/consti/otras/historicas/index.htm|titulo=Constituciones históricas españolas - Constitución española|acessodata=2018-11-26|obra=www.congreso.es|lingua=es}}</ref> A coluna vertebral do governo até então, o [[Conselho de Castela]], é dissolvido primeiro em 1812, novamente reativado, e só depois cessado definitivamente em março de 1834, nascendo em sua substituição o [[Supremo Tribunal de Espanha|Tribunal Supremo de Espanha e das Índias]], assumindo as funções judiciais e o Conselho Real de Espanha e das Índias como órgão consultivo. <ref name=":0">{{Citar livro|url=https://books.google.es/books?id=oJJjTbrj454C&hl=ca&pg=PA159#v=onepage&q&f=false|título=Decretos de la reina nuestra señora doña Isabel II, dados en su real nombre por su augusta madre la reina gobernadora, y reales órdenes, resoluciones y reglamentos generales expedidos por las secretarias del Despacho Universal: Desde 1o. de enero hasta fin de diciembre de 1834|ultimo=España|data=1835|editora=En la Imprenta Real|lingua=es}}</ref>
 
O afastamento físico de [[Portugal]] e [[Espanha]], caracterizado pelas péssimas rotas de comunicação nas zonas de fronteira terrestre até meados do século XIX, aliado à negativa carga semântica que as possíveis denominações da Península, não raras vezes usadas de forma política, como Ibéria, Iberismo ou hispanidade, foram tema de múltiplos e acirrados debates intelectuais que só cristalizaram já no início do século XX. <ref>{{citar livro|título=IBERISMOS, PAN-HISPANISMO, FRONTEIRAS: UMA REFLEXÃO CONCEPTUAL|ultimo=Matos|primeiro=Sérgio Campos|editora=Universidad de Extremadura. Servicio de Publicaciones|ano=2017|local=Universidad de Extremadura|páginas=141-148|isbn=978-84-9127-004-1|acessodata=30-01-2019}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Teles|primeiro=Pedro Francisco Figueiredo Cabral|data=2012-02-03|titulo=Portugal peninsular na evolução do pensamento geográfico português (1904-1939)|url=https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/19733}}</ref>
 
No caso da [[Península Itálica]] o ''[[Risorgimento]]'' levou à unificação de toda a Península sob o mesmo nome de [[Itália]], mas com uma diferença fundamental da Península Ibérica: passou a existir apenas um único [[Estado]].
 
== História ==
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Em outubro de [[1469]] o casamento de [[Isabel I de Castela]] e [[Fernando II de Aragão]], ou seja, a união dinástica da [[Coroa de Castela]] e a [[Coroa de Aragão]], sendo católicos, ampliaram as dificuldades ao [[Reino de Granada]]. Este rendeu-se no dia 2 de janeiro de 1492 e com uma Península totalmente cristianizada termina o período conhecido como "[[Reconquista cristã]]".<ref>Ralph Penny, Ralph John Penny. "Gramática Histórica del Español". Volume nº3. Editorial Ariel, 2006</ref>
 
[[File:"Regnorum Hispaniae nova descriptio" (21637805344).jpg|thumb|Mapa do início do século XVII intitulado originalmente em latim "Regnorum Hispaniae nova descriptio" (Reinos das Espanhas, nova descrição). <ref>{{Nota de rodapé|O ideário da [[Monarquia Católica]] como única Coroa de toda a Península Ibérica iniciou-se, ''de facto'', com [[Filipe II de Espanha|Filipe II e I de Portugal]], rei de "todas as Espanhas" (derivado do nome em latim ''Hispania''), ou seja, de todos os reinos da Península Ibérica.</ref>}}]]
Após a [[conquista de Navarra]] em [[1512]], não sendo a primeira vez que se reivindicava o título ''Imperator totius Hispaniae'' (Imperador de toda a Hispânia), a [[Coroa de Castela]] consegue efetivamente em [[1580]] o controlo de todos os reinos da Península Ibérica, com [[Filipe II de Espanha]] (que passará a ostentar o título ''Philippus Dei Gracia Hispaniarum Utrius que Siciliae, Hierusalem, Indiarum, Insularum ac Terrae Firmae Maris Oceani Rex''), num período denominado [[União Ibérica]]. No trato com o "Novo Mundo" foram respeitadas as proibições de circulação entre as rotas marítimas dos dois impérios, sendo que a [[Coroa portuguesa]] tinha o seu monopólio na [[Casa da Índia]] em [[Lisboa]], e os territórios peninsulares administrados pela [[Coroa de Castela]] tinham o monopólio fixado na [[Casa de Contratação das Índias]] em [[Sevilha]].<ref>{{Citar periódico|ultimo=Barros|primeiro=Amândio Jorge Morais|data=2016-12-16|titulo=Um Atlântico de Açúcares. Os portos do Norte de Portugal e o Novo Mundo|url=http://journals.openedition.org/nuevomundo/69940|jornal=Nuevo Mundo Mundos Nuevos. Nouveaux mondes mondes nouveaux - Novo Mundo Mundos Novos - New world New worlds|lingua=pt|doi=10.4000/nuevomundo.69940|issn=1626-0252}}</ref> Em junho de 1640 despoleta a [[Guerra dos Segadores]] no [[Principado da Catalunha]] e os nobres portugueses opõem-se à organização de tropas para lutar contra os revoltosos, culminando numa insurreição que leva a 1 de dezembro de 1640 à [[Restauração da Independência]] portuguesa.<ref>{{Citar web|titulo=Portugueses nas revoltas da Catalunha|url=https://www.sabado.pt/mundo/europa/detalhe/portugueses-nas-revoltas-da-catalunha|obra=www.sabado.pt|acessodata=2019-01-30|lingua=pt-pt}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.es/books?id=KxxFBQAAQBAJ&printsec=frontcover&hl=ca&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false|título=A RevoluÇÃo Portuguesa|ultimo=Robbins|primeiro=John Fonseca|data=2009-12-27|editora=Clube de Autores|lingua=pt}}</ref>