Usuário:Parzeus/Filosofia da História: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Linha 245:
Por sua vez, os filósofos da histórica quando se ocupam de problemas lógicos relacionados ao tempo, estão se referindo ou a questões de como indexar certas proposições no tempo ou a questões acerca da ordem do tempo histórico (ordenação temporal), essas últimas que remontam a pelo menos [[Anaximandro de Mileto]]. De modo geral, os primeiros filósofos gregos, como [[Heráclito]], e mesmo [[Platão]], parecem ter defendido uma ordenação circular do tempo, embora a mesma concepção não tenha sido corrente entre os historiadores da época.{{Sfn|Momigliano|1983|p=24}} Acerca da ordenação do tempo cíclico, é importante ressaltar que, uma vez que seja uma ordenação sobre todos os instantes ou intervalos, todos os fenômenos terão inevitavelmente ocorrido e ocorrerão, uma vez que as mesmas circunstâncias serão verdadeiras tanto em relação ao passado quanto em relação ao futuro. O que é diferente de aceitar a repetição de apenas certos fenômenos (recorrência histórica), como, por exemplo, da revolução política cíclica entre as formas constitucionais de governo defendida por Políbio.{{Sfn|Momigliano|1983|p=24}} O tempo cíclico é ainda frequentemente relacionado ao tempo mítico, como entre os [[Civilização maia|maias]], que tinham uma visão de tempo cíclico em um movimento eterno, para eles, a história é uma contínua construção e desconstrução; dentro do ciclo, haveriam várias fases e cada qual mediada por uma divindade diferente (influenciando na característica desse período).{{Sfn|Withrow|2017|p=178-181}} Outro caso é o da religião [[Jainismo|jainista]], onde a concepção de tempo e história também é entendida como cíclica, havendo um período de decadência da humanidade (''avasarpini'') e de ascendência (''upsarpini''), seguindo uma sequência eterna de degradação da moral humana e de sua reestruturação.{{Sfn|Barros|2010|p=185-187}} O tempo cíclico é ainda associado a alguns filósofos gregos antigos. [[Platão]] no ''Timeu'' define o tempo como uma ''imagem móvel da eternidade''. Nesse sentido, o tempo segue a eternidade como modelo, sendo seu caráter cíclico uma forma do tempo manter uma continuidade semelhante a da eternidade.{{Sfn|Neto|1999|p=23-25}} O tempo em Platão é dado pela repetição e a humanidade estaria condenada a esse retorno da própria decadência. O único modo de romper com essa decadência iminente seria o próprio conhecimento da história.{{Sfn|Santos|2010|p=5-6}}
 
Mais adiante, a influência do [[cristianismo]] na [[Antiguidade Tardia|antiguidade tardia]] e na [[Idade Média]] levaram filósofos como [[Agostinho de Hipona]] a marcadamente defenderem uma ordenação linear e finita para o tempo histórico, determinando-o pela vontade de Deus e culminando no fim de tudo.{{Sfn|Meier|2013|p=61-62}} Também convém salientar que não necessariamente uma ordem lógica do tempo está comprometida com alguma teleologia, pelo que, nesse caso, o "fim" (instante final) em uma ordenação lógica não se confunde com "fim" (finalidade) enquanto certo valor para o qual os fenômenos podem tender, como, por exemplo, o ideal de progresso da modernidade. Tais concepções não fazem parte da lógica do tempo, e sim da teleologia do tempo.{{Sfn|Meier|2013|p=62}} A partir do XX, outra ordenação que se tornou comum para o tempo histórico é a de um tempo ramificado, ou seja, com várias linhas alternativas para o futuro ou para o passado, a fim de defender um indeterminismo ontológico ou epistemológico de certos fenômenos no tempo, como, por exemplo, e especialmente, quando depende de escolhas humanas.{{Sfn|Prior|1967|p=122-136}} Tal ideia de pluralismo de ramos do tempo histórico também possui paralelo com várias críticas de [[Walter Benjamin]] à concepção tradicional segundo a qual os fenômenos históricos estão localizados em um trajeto linear irreversível. [[Ernst Bloch|Ernest Bloch]], em ''A herança de nossos tempos'', propôs a noção de "simultaneidade do não-simultâneo" (''Gleichzeitigkeit des Ungleichzeitigen'') , justamente para dar conta da presença de fenômenos não contemporâneos atuando no presente. Na segunda metade do século XX, [[Reinhart Koselleck]] desenvolveu o problema a partir do conceito de "estratos do tempo" com o objetivo de superar as visões cíclicas e lineares, que seriam, segundo ele, incapazes de ilustrar os reveladores fenômenos de não simultaneidade.{{Sfn|Koselleck|2014|p=19}}
[[Ficheiro:Capturar_h.png|ligação=https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Capturar_h.png|alt=|miniaturadaimagem|Modelo de instantes temporais com dois ramos, <math>h</math> e <math>h'</math>.]]
No {{séc|XX}}, com o surgimento das primeiras lógicas formais do tempo em ''Time and Modality'' (1957) do filósofo e lógico [[Arthur Prior]], as diferentes concepções da ordenação [[Lógica temporal|lógica do tempo]] histórico, como as mencionadas acima, passaram a ser descritas em estruturas matemáticas (topologias temporais) ligadas à semântica da [[Lógica modal|Lógica Modal]]. Assim, diferentes sistemas lógicos de tempo são formados, cada qual com tautologias e teoremas próprios e hierarquizados como extensões do sistema minimal '''Kt'''. Tais sistemas são utilizados desde então pelos filósofos da história para avaliar argumentos formados por proposições que envolvem o tempo. Também são utilizados para modelar teorias históricas, arregimentar conceitos temporais, compreender a causalidade, entre outros usos, além do fato de tais lógicas possuírem aplicações extra-filosóficas.{{Sfn|Benthem|2010|p=197}}{{Sfn|Benthem|2010|p=216}}{{Sfn|Benthem|2010|p=276}} A aplicação de tais sistemas, porém, não implica uma fácil matematização do âmbito historiográfico, dado que os historiadores trabalham com um domínio empírico de objetos, frequentemente até em uma dimensão cotidiana, e esse é o domínio do movediço, do impreciso, do "mais ou menos" e do "cerca de".{{Sfn|Novaes|1992|p=14}} Contudo, no âmbito do conhecimento proposicional dos historiadores, as lógicas temporais têm contribuído para caracterizar com precisão diferentes ordenações do tempo (circular, linear, ramificado etc.) e suas implicações, além de caracterizar as proposições (enquanto sentenças lógicas) e argumentos formados por elas nos textos dos historiadores, traduzindo a temporalidade nas frases dos historiadores a partir de operadores lógicos como <math>P\varphi</math> para designar "foi o caso que <math>\varphi</math>", onde <math>\varphi</math> é um evento qualquer como "[[Júlio César]] morreu em 15 de março de 44 a.C.". Mas as sentenças lógicas (ou [[proposições]]) mais importantes para caracterização da narrativa historiográfica possuem uma forma lógica diversa, que são importantes para os defensores das teorias narrativistas; são as "sentenças narrativas" definidas pela primeira vez por [[Arthur Danto]] como sentenças que se referem a ao menos dois eventos temporalmente separados e descrevem o evento anterior. Seu exemplo célebre é "a [[Guerra dos Trinta Anos]] começou em 1618".{{Sfn|Roth|2012|p=313-314}} Nesse caso, diferente da sentença acima sobre [[Júlio César]], a sentença de Danto, quando enunciada em um tempo <math>t</math>, caso seja verdadeira neste instante, remete a outros instantes de tempo (ou pelo menos mais um) em que a guerra se prolongou.{{Sfn|Roth|2012|p=314}}
Linha 312:
* {{citar livro|url=|título=Plausible Worlds: possibility and understanding in history and the social sciences|editora=Cambridge University Press|ano=1991|local=Cambridge|língua=eng|isbn=0521403596|ref=harv|sobrenome1=Hawthorn|nome1=Geoffrey|wayb=}}
* {{citar livro|url=|título=La Filosofía positivista: Ciencia y filosofía|editora=Cátedra|ano=1988|local=Madrid|língua=esp|isbn=|ref=harv|sobrenome1=Kolakowski|nome1=Leszek|wayb=}}
* {{citar livro|titulo=Estratos do tempo: estudos sobre história|editora=Contraponto|ano=2014|local=Rio de Janeiro|total-paginas=351|sobrenome=Koselleck|nome=Reinhart|isbn=9788578660994|ref=harv}}
* {{citar livro|url=|título=Philosophy of History: a guide for students|editora=Taylor & Francis e-Library|ano=2003|local=New York|língua=eng|isbn=0203380231|ref=harv|sobrenome1=Lemon|nome1=Michael C.|wayb=}}
* {{citar livro|url=|título=Philosophical Papers|editora=Oxford University Press|ano=1986|local=Oxford|língua=eng|isbn=0195032047|ref=harv|sobrenome1=Lewis|nome1=David|wayb=}}