Castelo de Alferce: diferenças entre revisões

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==Descrição==
===Localização e composição===
A fortificação ocupava uma grande área no alto de um cabeço elevado, denominado de Cerro do Castelo, criando desta forma defesas naturais.<ref name=P429:2013/> Este monte está situado na zona oriental da Picota, parte da [[Serra de Monchique]].<ref name=P429:2013/> A partir do alto do cerro, era possível vigiar uma grande porção de território, incluindo a Picota, a faixa litoral, as estradas de [[Silves (Portugal)|Silves]] a Monchique, e a bacia da Ribeira de Odelouca.<ref name=SulInfo2017>{{citar web|titulo=Mistérios do Castelo de Alferce desvendados em campanha arqueológica|autor=RODRIGUES, Elisabete|publicado=Sul Informação|data=1 de Setembro de 2017|url=https://www.sulinformacao.pt/2017/09/misterios-do-castelo-de-alferce-desvendados-em-campanha-arqueologica/|acessodata=20 de Julho de 2019}}</ref>
 
O castelo possuía três ordens de muralhas.<ref name=P429:2013/> A muralha exterior foi instalada de forma a adaptar-se ao terreno, rodeando todo o cerro, e protegendo uma vasta área, com cerca de 2,1 Ha, de forma alongada no sentido Norte-Sul.<ref name=P429:2013/> No interior existia uma segunda muralha, enquanto que uma terceira foi identificada como um reduto fortificado no centro do cerro.<ref name=P429:2013/> Esta fortificação situava-se no ponto mais alto do monte, tendo sido identificado como um ''qasr'' ou [[alcácer]] (recinto fortificado muçulmano),<ref name=JMonchique/> e estava situado a cerca de 36 m da segunda muralha.<ref name=SulInfo2016/> Também no recinto da segunda muralha existia uma zona residencial, situada imediatamente a Oeste e Norte do forte, e que foi identificada devido aos vestígios de cerâmica.<ref name=P429:2013/> Uma possível segunda zona habitacional foi encontrada junto ao cume do cerro, no lado Oeste, entre as cinturas de muralhas central e exterior.<ref name=SulInfo2016/> Ambas as cinturas de muralhas e o forte foram construídas com blocos de sienito, unidos com barro de grão fino.<ref name=SulInfo2016/> O forte também apresentou vestígios de reboco com cal, tendo sido construído com um aparelho de pedras muito regular.<ref name=SulInfo2016/> A alguma distância do lanço Leste da muralha foi descoberta uma cisterna, construída com um aparelho argamassado de cal, e que tinha 4 m de comprimento por 2,2 m de largura, e 1,5 m de altura.<ref name=SulInfo2016>{{citar web|titulo=Câmara de Monchique assina protocolo com Universidade do Algarve para estudar e valorizar o Castelo de Alferce|publicado=Sul Informação|data=28 de Fevereiro de 2016|url=https://www.sulinformacao.pt/2016/02/camara-de-monchique-assina-protocolo-com-universidade-do-algarve-para-estudar-e-valorizar-o-castelo-de-alferce/|acessodata=20 de Julho de 2019}}</ref>
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==História==
===Ocupação original===
O sítio arqueológico foi habitado em dois períodos principais, durante a pré-história e o domínio muçulmano.<ref name=P429:2013/> A primeira fase de ocupação remonta aos finais da Idade do Bronze, desde os finais do segundo milénio a.C. até ao primeiro quartel do Século I d.C., sendo uma povoação fortificada com alguma importância a nível político e cerimonial.<ref name=P429:2013/> No entanto, é possível que o local tivesse já sido habitado anteriormente, desde o período do [[Calcolítico]], entre os terceiro e segundo milénios a.C.<ref name=SulInfo2017/> A segunda fase iniciou-se no Século IV e terminou no Século XI, quando foi abandonado o castelo.<ref name=P429:2013/> Esta segunda fase pode ser subdividida em dois períodos, um inicial com a construção do castro provavelmente durante o Século V, e depois o seu aproveitamento como um ''hisn'', ou recinto fortificado islâmico, a partir do Século VIII.<ref name=P429:2013/> Esta fortificação serviria provavelmente como apoio ao [[Castelo de Silves]], sendo parte do grupo das fortificações do [[Califado de Córdova|periodo emiral]] no Algarve, entre os séculos X e XI, que inclui igualmente o [[Castelo Velho de Alcoutim]] e o [[Castelo das Relíquias]].<ref name=SulInfo2016/>

Após o abandono, as pedras das estruturas foram sendo progressivamente retiradas pelas populações, restando apenas partes das muralhas, as bases dos torreões, e uma cisterna.<ref name=SulInfo2017/> Este processo de destruição também foi causado por actividades agrícolas, vandalismo e escavações clandestinas, tendo-se intensificado principalmente ao longo do Século XX.<ref name=Barlavento2019II>{{citar web|titulo=MistériosArqueólogos alemães estudam Cerro do Castelo de Alferce desvendados em campanha arqueológica|autor=RODRIGUESPIRES, ElisabeteBruno Filipe|publicado=Sul InformaçãoBarlavento|data=19 de Setembro de 20172019|url=https://www.sulinformacaobarlavento.pt/2017destaque/09/misteriosarqueologos-alemaes-estudam-cerro-do-castelo-de-alferce-desvendados-em-campanha-arqueologica/|acessodata=20 de Julho de 2019}}</ref>
 
[[File:Castelo de Alferce 7 - Monchique - 08.11.2019.jpg|thumb|Vestígos da cisterna, no interior do alcácer islâmico.]]
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Em 2004, foi feita uma campanha arqueológica no local, durante a qual foi identificada a cintura de muralhas exterior.<ref name=SulInfo2016/> Em 2014, a Câmara Municipal de Monchique fez trabalhos de limpeza de vegetação no local, com o apoio do proprietário dos terrenos.<ref name=SulInfo2016/> Em Fevereiro de 2016, foi noticiado que a autarquia estava a planear a realização de trabalhos arqueológicos no castelo, de forma a proceder ao seu estudo e valorização, estando nessa altura a preparar a futura construção de um centro interpretativo na aldeia de Alferce, e a organização de percursos de visita ao monumento.<ref name=SulInfo2016/> Em 26 de Fevereiro o município assinou dois protocolos com a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da [[Universidade do Algarve]], no sentido de preservar, divulgar e valorizar o património no concelho, um deles relativo especificamente ao Castelo de Alferce.<ref name=SulInfo2016/><ref name=JorAlg>{{citar web|titulo=Monchique prepara nova intervenção arqueológica no castelo de Alferce|autor=COUTO, Nuno|publicado=Jornal do Algarve|data=6 de Março de 2016|url=https://jornaldoalgarve.pt/monchique-prepara-nova-intervencao-arqueologica-no-castelo-de-alferce/|acessodata=22 de Julho de 2019}}</ref> Em Maio, a autarquia de Monchique assinou um protocolo de geminação com a vila espanhola de Montejaque, com o fim de aproximar os dois municípios e valorizar a sua herança islâmica, com destaque para o Castelo de Alferce.<ref>{{citar web|titulo=Monchique gemina-se com Montejaque em Espanha|autor=CLARO, Ricardo|publicado=Postal do Algarve|data=11 de Maio de 2016|url=http://www.postal.pt/2016/05/monchique-gemina-se-montejaque-em-espanha/|acessodata=22 de Julho de 2019}}</ref>
 
Em Agosto de 2017 foi feita uma pesquisa arqueológica no Castelo de Alferce, composta por duas sondagens de diagnóstico na face interna do segundo recinto amuralhado, na zona identificada como o alcácer, e numa plataforma a Oeste daquele forte, onde foram encontrados vestígios de ocupação pré-histórica.<ref name=JMonchique/> Um dos propósitos desta investigação era descobrir as dimensões e a implantação do segundo recinto de muralhas.<ref name=SulInfo2017/> Esta investigação melhorou os conhecimentos sobre o potencial estratigráfico e arqueológico em duas zonas diferentes do monumento que nunca tinham sido alvo de pesquisas, possibilitou um maior conhecimento sobre a fortaleza islâmica, e permitiu uma melhor organização de futuras investigações neste monumento.<ref name=JMonchique/> Na primeira sondagem foi escavado o lado interno da muralha, tendo-se descoberto que virava para Sul, podendo continuar até ao canto Noroeste do forte islâmico, e sendo possível que tivesse uma forma pentagonal.<ref name=JMonchique/> Também se constatou que a muralha passou por um processo de destruição, talvez durante o período omíada, e foi descoberto um grande número de fragmentos de cerâmica, alguns deles de forma articulada, e parte da mesma peça.<ref name=JMonchique/> Na segunda sondagem Foram encontrados vários vestígios pré-históricos, incluindo cerâmica do segundo milénio a.C., embora não tenham sido encontradas quaisquer estruturas arqueológicas.<ref name=JMonchique/> Além da cerâmica, foi encontrado um grande número de seixos, que tinham sido trazidos do rio. Entre as peças encontradas nesta zona, estava uma pedra furada, de forma rectangular trapezadoidal, que poderia ser um ídolo.<ref name=SulInfo2017/> Durante as investigações, foi organizado um dia aberto à população, onde foi feita uma visita guiada ao monumento.<ref name=JMonchique>{{citar web|titulo=Escavações no Sítio Arqueológico do Cerro do Castelo de Alferce|autor=CAPELA, Fábio|publicado=Jornal de Monchique|data=21 de Setembro de 2017|url=https://www.jornaldemonchique.pt/escavacoes-no-sitio-arqueologico-do-cerro-do-castelo-de-alferce/|acessodata=20 de Julho de 2019}}</ref> Além das escavações arqueológicas, em 2017 também se faziam trabalhos regulares de limpeza das ruínas, por parte dos donos dos terrenos, da freguesia de Alferce e da Câmara Municipal de Monchique.<ref name=SulInfo2017/> Nesse ano, a autarquia também entrou em acordo com os proprietários, de forma a permitir o estudo do sítio arqueológico.<ref name=Barlavento2019II/>
 
Além das escavações arqueológicas, em 2017 também se faziam trabalhos regulares de limpeza das ruínas, por parte dos donos dos terrenos, da freguesia de Alferce e da Câmara Municipal de Monchique.<ref name=SulInfo2017/>
 
No Verão de 2018, a zona do castelo de Alferce foi atingida durante um [[Incêndio de Monchique de 2018|incêndio florestal]], que devastou grande parte do concelho de Monchique.<ref name=Barlavento2019/> Porém, a destruição da camada vegetal, que ao longo dos anos tinha crescido de forma descontrolada, possibilitou a realização de pesquisas arqueológicas em vários monumentos no concelho, incluindo no castelo de Alferce.<ref name=Barlavento2019/> Desta forma, foi identificada a zona de entrada do complexo, e partes das muralhas que ainda não tinham sido registadas, permitindo calcular a área dentro dos muros, que seria de cerca de 9,5 Ha.<ref name=Barlavento2019>{{citar web|titulo=Monchique redescobre património arqueológico entre as cinzas do incêndio|publicado=Barlavento|data=3 de Maio de 2019|url=https://www.barlavento.pt/destaque/monchique-redescobre-patrimonio-arqueologico-entre-as-cinzas-do-incendio|acessodata=22 de Julho de 2019}}</ref> Em 9 de Setembro de 2019, um grupo de investigadores alemães da [[Universidade de Marburgo]] iniciou um programa de estudo do Castelo de Alferce, que abrangeu as duas principais áreas do sítio arqueológico.<ref name=Barlavento2019II/> Este processo utilizou métodos não intrusivos, consistindo em diversas prospeções geofísicas para radiografar o terreno, permitindo desta forma saber se existem estruturas enterradas e a sua profundidade, facilitando as futuras escavações arqueológicas no local.<ref name=Barlavento2019II/> Esta investigação teve dois objectivos principais, encontrar possíveis estruturas pré-históricas e estudar a arquitectura do forte islâmico e da segunda cintura de muralhas, da qual apenas tinham sido identificados o lanço Norte e parte do Oeste.<ref name=Barlavento2019II/> Segundo Rui André, presidente da Câmara Municipal de Monchique, estava em preparação uma candidatura ao Plano Operacional Regional 2020 para financiar a valorização do sítio arqueológico, que consistia na instalação de sinalização e informação, na adaptação do antigo Centro de Convívio do Alferce num centro de interpretação, e na construção de um percurso pedestre entre a aldeia e o castelo, que deveria igualmente passar pelo famoso Barranco do Demo, unindo desta forma o património natural ao arqueológico.<ref name=Barlavento2019II/>
 
[[File:Castelo de Alferce 14 - Monchique - 08.11.2019.jpg|thumb|Vestígios de uma muralha.]]