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== Em pragmática linguística ==
Na lingüística disciplinar, a indexicalidade é estudada na subdisciplina da pragmática. Especificamente, a pragmática tende a se concentrar em deíticos - palavras e expressões da linguagem que derivam parcialmente do significado referencial da indexicalidade - uma vez que essas são consideradas como "[a] maneira mais óbvia pela qual a relação entre linguagem e o contexto é refletido nas estruturas das próprias línguas"<ref name = levinson /> {{rp | 54}} De fato, na linguística, os termos '' dêixis '' e '' indexicalilidade'' são frequentemente tratados como sinônimos, a única distinção sendo que o primeiro é mais comum em linguística e o segundo em filosofia da linguagem.<ref name=levinson/>{{rp|55}} Esse uso contrasta com o da antropologia linguística, que distingue dêixis como uma subclasse específica de indexicalidade.
== Na antropologia linguística ==
O conceito de indexicalidade foi introduzido na literatura de [[antropologia linguística]] por [[Michael Silverstein]] em um artigo fundamental de 1976, "Shifters, Categorias Linguísticas e Descrição Cultural ".<ref name=shifters>{{cite encyclopedia |last=Silverstein |first=Michael |author-link=Michael Silverstein |editor1-last=Basso |editor1-first=Keith H. |editor2-last=Selby |editor2-first=Henry A. |encyclopedia=Meaning in Anthropology |title=Shifters, Linguistic Categories and Cultural Description |url=http://pages.ucsd.edu/~jhaviland/LingAnthCore/LingAnthCoreReadings/SilversteinShifters.pdf |access-date=February 13, 2017 |year=1976 |publisher=University of New Mexico Press |location=Albuquerque |pages=11–55}}</ref>Silverstein baseia-se na "tradição que se estende de Peirce a [Roman Jakobson" do pensamento sobre fenômenos de signos para propor um arcabouço teórico abrangente para entender a relação entre linguagem e cultura, objeto de estudo da moderna antropologia sociocultura. Essa estrutura, embora também se baseie fortemente na tradição da lingüística estrutural fundada por Ferdinand de Saussure, rejeita as outras abordagens teóricas conhecidas como estruturalismo, que tentaram projetar o método “saussuriano” de análise linguística em outros domínios da cultura, como parentesco e casamento (ver [antropologia estrutural]]), literatura (ver crítica semiótica literária), música, cinema e outros. Silverstein afirma que "esse aspecto da linguagem que tradicionalmente foi analisado pela lingüística e serviu de modelo" para esses outros estruturalismos "é apenas a parte funcionalmente única entre os fenômenos da cultura". É a indexicalidade, não a gramática “saussuriana”, que deve ser vista como o fenômeno semiótico que a linguagem tem em comum com o restante da cultura..<ref name=shifters/>{{rp|12; 20–21}}
 
Silverstein argumenta que a tradição saussuriana de análise lingüística, que inclui a tradição da lingüística estrutural nos Estados Unidos fundada por Leonard Bloomfield e incluindo o trabalho de Noam Chomsky e a gramática contemporânea, tem limitou-se a identificar "a contribuição de elementos de enunciados para o referencial ou valor denotativo do todo", isto é, a contribuição feita por alguma palavra, expressão ou outro elemento linguístico para a função de formar "proposições - predicações descritivas dos estados de coisas ". Este estudo de referência e predicação produz uma compreensão de um aspecto do significado das expressões, seu "significado semântico" e a subdisciplina da lingüística dedicada ao estudo desse tipo de significado lingüístico é [semântico.<ref name=shifters/>{{rp|14–15}}
 
No entanto, os signos lingüísticos em contextos de uso cumprem outras funções além da referência e predicação puras - embora muitas vezes o façam simultaneamente, como se os signos estivessem funcionando em várias modalidades semióticas analiticamente distintas ao mesmo tempo. Na literatura filosófica, os exemplos mais amplamente discutidos são aqueles identificados por [[John Langshaw Austin]] como as funções da fala, por exemplo, quando um interlocutor diz a um destinatário: "Aposto que seis centavos choverá amanhã" e, assim sendo, além de simplesmente fazer uma proposição sobre um estado de coisas, na verdade, entra num tipo de acordo socialmente constituído com o destinatário, uma aposta]].<ref>{{cite book |last=Austin |first=J.L. |date=1962 |title=How to Do Things With Words |url=https://archive.org/details/howtodothingswit0000aust |url-access=registration |location=Cambridge, Massachusetts |publisher=Harvard University Press |page=[https://archive.org/details/howtodothingswit0000aust/page/5 5] |author-link=J.L. Austin }}</ref> Assim, conclui Silverstein, "o problema estabelecido para nós quando consideramos que os usos mais amplos da linguagem é descrever o significado total dos signos lingüísticos constituintes, dos quais apenas parte é semântica". Esse estudo mais amplo dos signos lingüísticos em relação às suas funções comunicativas gerais é pragmático, e esses aspectos mais amplos do significado das expressões têm "significado pragmático". (Desse ponto de vista, o significado semântico é uma subcategoria especial do significado pragmático, aquele aspecto do significado que contribui para a função comunicativa de pura referência e predicação).<ref name=shifters/>{{rp|193}}
 
Silverstein introduz alguns componentes da teoria semiótica de Charles Sanders Peirce como base de uma pragmática que, ao invés de assumir que referência e predicação são as funções comunicativas essenciais da linguagem, com outras funções não referenciais sendo meros adendos, em vez disso, tenta capturar o significado total dos signos linguísticos em termos de todas as suas funções comunicativas. Nesta perspectiva, a categoria Peirceana de indexicalidade acaba por "dar a chave para a descrição pragmática da linguagem”.
 
Esse arcabouço teórico tornou-se um pressuposto essencial do trabalho em toda a disciplina nos anos 80 e permanece assim no presente.
=== Adaptação da semiótica peirciana ===
O conceito de indexicalidade tem sido bastante elaborado na literatura da antropologia linguística desde sua introdução por Silverstein, mas o próprio Silverstein adotou o termo a partir dos elementos semióticos e classes de signos, teoria dos fenômenos de sinais, ou semiótica, de Charles Sanders Peirce. Como implicação de sua teoria metafísica geral das três categorias universais, Peirce propôs um modelo do signo como uma relação tríadica: um signo é "algo que representa alguém para algo em algum sentido ou capacidade."<ref>Peirce, C. S. (1897 [c.]). [http://www.commens.org/dictionary/term/sign On Signs] [R]. MS [R] 798</ref> Thus, more technically, a sign consists of
* Um ''veículo-signo'' ou '' representarmen '', o fenômeno perceptível que representa, de forma audível, visível ou em alguma outra modalidade sensorial;<ref name="commens">''Commens Dictionary of Peirce's Terms'', [http://www.helsinki.fi/science/commens/dictionary.html Eprint].</ref>{{rp|"Representamen"}}
* Um ''objeto'', a entidade de qualquer tipo, com qualquer status modal (experienciável, potencial, imaginário, semelhante a lei etc.), representado pelo signo;<ref name="commens"/>{{rp|"Object"}}
* Um "interpretante", a "idéia na mente" do indivíduo que percebe, que interpreta o veículo-sinal como ''representando o objeto''.<ref name="commens"/>{{rp|"Interpretant"}}
Peirce propôs ainda classificar os fenômenos de signos em três dimensões diferentes por meio de elementos semióticos e classes de signos (três tricotomias], o segundo dos quais classifica signos em três categorias, de acordo com a natureza da relação entre os signos. veículo-sinal e o objeto que ele representa. Conforme explicado por Silverstein, estes são:
*''Ícone'': signo em que "as propriedades perceptíveis do próprio veículo de sinalização têm isomorfismo (até se identificar com) as da entidade sinalizada. Ou seja, as entidades são 'semelhanças' em algum sentido."<ref name=shifters/>{{rp|27}}
*''Índice'': um sinal no qual "a ocorrência de um senha de veículo de sinalização tem uma conexão de contiguidade espaço-temporal compreendida com a ocorrência da entidade sinalizada. Ou seja, a presença de alguma entidade é percebida como sinalizada no contexto da comunicação que incorpora o veículo de sinalização."<ref name=shifters/>{{rp|27}}
* '' Símbolo '': a classe residual, um signo que não está relacionado ao seu objeto em virtude de ter alguma semelhança qualitativa com ele, nem em virtude de coexistir com ele em algum contexto contextual. Estes "formam a classe dos sinais 'arbitrários' 'tradicionalmente falados como o tipo fundamental de entidade linguística. O veículo e a entidade sinalizados são relacionados através da ligação de um significado semântico-referencial que permite que eles sejam usados para se referir a qualquer membro de uma classe ou categoria inteira de entidades.
 
Silverstein observa que vários sinais podem compartilhar o mesmo veículo de sinalização. Por exemplo, como mencionado, os signos lingüísticos como tradicionalmente entendidos são símbolos e analisados em termos de sua contribuição para a referência e predicação, uma vez que denotam arbitrariamente toda uma classe de possíveis objetos de referência em virtude de seus significados semânticos. Mas, em um sentido trivial, cada símbolo de sinal linguístico (palavra ou expressão falada em um contexto real de uso) também funciona iconicamente, uma vez que é um ícone de seu tipo no código (gramática) do idioma. Ele também funciona indexicamente, indexando seu tipo de símbolo, pois seu uso no contexto pressupõe que esse tipo exista na gramática semântico-referencial em uso na situação comunicativa (a gramática é entendida como um elemento do contexto da comunicação)
 
Portanto, ícone, índice e símbolo não são categorias mutuamente exclusivas - de fato, argumenta Silverstein, eles devem ser entendidos como modos distintos de função semiótica, que podem ser sobrepostos em um único veículo de sinalização. Isso implica que um veículo de sinalização possa funcionar em vários modos semióticos simultaneamente. Essa observação é a chave para entender as deixis, tradicionalmente um problema difícil para a teoria semântica.
=== Indexicalidade referencial ===
Na antropologia lingüística, ''deixis'' é definida como indexicalidade referencial]] - isto é, morfemas ou sequências de morfemas, geralmente organizados em conjuntos de temas paradigmas fechados, com função de individualizar ou destacar objetos de referência ou endereços em termos de sua relação com o contexto interativo atual no qual a declaração ocorre.
.".<ref name=hanks>{{cite encyclopedia |last=Hanks |first=William F. |author-link=William F. Hanks |editor1-last=Goodwin |editor1-first=Charles |editor2-last=Duranti |editor2-first=Alessandro |encyclopedia=Rethinking context: Language as an interactive phenomenon |title=Rethinking context: an introduction |url=http://www.sscnet.ucla.edu/anthro/faculty/duranti/reprints/rethco.pdf |access-date=February 19, 2017 |year=1992 |publisher=Cambridge University Press |location=Cambridge |pages=43–76}}</ref>{{rp|46–47}} Expressões 'deíticas' são, portanto, distinguidas, por um lado, de categorias denotacionais padrão, como substantivos comuns, que potencialmente se referem a qualquer membro de toda uma classe ou categoria de entidades: elas exibem significados referenciais puramente semânticos e, na terminologia peirceana, são conhecidos como ''símbolos''. Por outro lado, a dêixis é distinguida como uma subclasse específica de indexicalidade em geral, que pode não ser referencial ou totalmente não lingüística
 
Na terminologia mais antiga de [[Otto Jespersen]] e [[Roman Jakobson]], essas formas eram chamadas de ''shifters''.<ref>Jespersen 1965 [1924]</ref><ref>Jacobson 1971[1957]</ref> Silverstein, introduzindo a terminologia de Peirce, foi possível defini-las mais especificamente como índices referenciais.
=== Indexicalidade não referencial ===
Índices não referenciais ou índices "puros" ainda não contribuem para o valor referencial semântico de um evento de fala "sinalizam algum valor específico de uma ou mais variáveis contextuais". Os índices não referenciais codificam certos elementos metapragmáticos do contexto de um evento de fala por meio de variações linguísticas. O grau de variação nos índices não referenciais é considerável e serve para infundir o evento de fala com, às vezes, vários níveis de significado pragmático".<ref name=indexicalorder>Silverstein, Michael. "Indexical order and the dialectics of sociolinguistic life". Elsevier Ltd., 2003.</ref> Destacam-se: índices de sexo / gênero, índices de deferência (incluindo o índice tabu afinal), índices [[Affect (lingüística) | afetar]]], bem como os fenômenos de [[fonológico]] [[hipercorreção]] e social indexicalidade de identidade.
 
Exemplos de formas não referenciais de indexicalidade incluem sexo/gênero, afeto, deferência, classe social e índices de identidade social. Muitos estudiosos, principalmente Silverstein, argumentam que ocorrências de indexicalidade não referencial implicam não apenas a variabilidade dependente do contexto do evento de fala, mas também formas cada vez mais sutis de significado indexical (primeiro, segundo e superior) pedidas) também.<ref name=indexicalorder/>
==== Índices de sexo / gênero ====
Um sistema comum de indexicalidade não referencial são os índices de sexo / gênero. Esses índices indexam o gênero ou status social "feminino / masculino" do interlocutor. Existem inúmeras variantes linguísticas que atuam para indexar sexo e gênero, como:
 
* ''partículas da palavra final ou da frase final'': muitas línguas empregam sufixos (‘a, o) das partículas da palavra final para indexar o gênero do falante. Essas partículas variam de alterações fonológicas como a explorada por William Labov em seu trabalho pós-vocal /r/ emprego em palavras que tinham na palavra final "r" (que é reivindicada, entre outras coisas, para indexar o status social "feminino" em virtude do fato estatístico de que as mulheres tendem a hiper-corrigir sua fala com mais frequência do que os homens);<ref name=wake>Wake, Naoko. Indexicality, Gender, and Social Identity.</ref> sufixo de fonemas únicos, como / -s / em idiomas muskogeanos do sudeste dos Estados Unidos; <ref name = shifters /> ou sufixo de partícula (como o uso final da sentença japonesa de '' -wa '' com entonação crescente para indicam afeto crescente e, via indexicalidade de segunda ordem, o sexo do falante (neste caso, o sexo feminino)<ref name=wake/>
* '' mecanismos morfológicos e fonológicos '': como em [[língua yana|Yana]], uma língua em que uma forma de todas as principais palavras é falada por homem sociológico a homem sociológico e outra forma (que é construída em torno de alterações fonológicas em formas de palavras) é usado para todas as outras combinações de interlocutores; ou o prefixo japonês – de aposição de o - para indicar polidez e, conseqüentemente, identidade social feminina.<ref name=o>Kamei, Takashi.Covering and Covered Forms of women's language in Japanese.'Hitotsubashi JOurnal of Arts of Sciences' 19:1-7.</ref>
 
Muitas instâncias de índices de sexo / gênero incorporam vários níveis de indexicalidade (também denominada ''ordem indexical''). formas indexicais complexas de ordem superior. Neste exemplo, a primeira ordem indexa a polidez e a segunda ordem indexa a afiliação com uma determinada classe de gênero. Argumenta-se que existe um nível ainda mais alto de ordem indexical evidenciado pelo fato de que muitos empregos usam o prefixo 'o-' para atrair candidatos.<ref name=o/> Essa noção de indexicalidade de ordem superior é semelhante à discussão de Silverstein sobre "conversa sobre vinhos", na medida em que indexa "uma identidade por consumo visível aqui, 'emprego' ']" que é inerente a um certo registro social (isto é, indexicalidade social de gênero).
==== Índices de deferência ====
Os índices de deferência codificam a deferência de um interlocutor para outro (geralmente representando desigualdades de status, hierarquia, idade, sexo, etc.).<ref name=shifters/> Alguns exemplos de índices de deferência são:
===== Deferência T / V =====
O sistema de de deferência T / V]] das [[línguas europeias]] foi famoso por detalhes pelos linguistas Brown e Gilman.<ref name=BrownGilman /> Como mencionado anteriormente, o direito de deferência T / V é um sistema pelo qual um evento de fala de orador / destinatário é determinado por disparidades percebidas de 'poder' e 'solidariedade' entre interlocutores. Brown e Gilman organizaram os possíveis relacionamentos entre o orador e o destinatário em seis categorias:
# Superior e solidário
# Superior e não solidário
# Igual e solidário
# Igual e não solidário
# Inferior e solidário
# Inferior e não solidário
A 'semântica de poder' indica que o falante em uma posição superior usa T e o falante em uma posição inferior usa V. A 'semântica de solidariedade' indica que os falantes usam T para relacionamentos próximos e V para relacionamentos mais formais. Esses dois princípios entram em conflito nas categorias 2 e 5, permitindo T ou V nesses casos:
# Superior e solidário: T
# Superior e não solidário: T / V
# Igual e solidário: T
# Igual e não solidário: V
# Inferior e solidário: T / V
# Inferior e não solidário: V
Brown e Gilman observaram que, à medida que a semântica solidária se torna mais importante do que a semântica de poder em várias culturas, a proporção de T para V usada nas duas categorias ambíguas muda de acordo.
 
Silverstein comenta que, embora exibindo um nível básico de indexicalidade de primeira ordem, o sistema T / V também emprega indexicalidade de segunda ordem em relação à 'honorificação registrada'.<ref name=indexicalorder /> Ele cita que a forma V também pode funcionar como um índice de registro "público" valioso e os padrões de bom comportamento decorrentes do uso de formas V sobre formas T em contextos públicos. Portanto, as pessoas usarão deferência T / V [[vinculação]] em 1) um sentido indexado de primeira ordem que distingue entre valores interpessoais de 'poder' e 'solidariedade' de interlocutor / destinatário e 2) um sentido indexado de segunda ordem que indexa a "honra" ou mérito social inerente de um interlocutor ao empregar formas V sobre formas T em contextos públicos.
==Notas==
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