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Citações de Freud e Lacan
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'''Inconsciente''', do latim ''inconscius''<ref name="dicionario-ontopsicologia">[http://www.onto.net.br/index.php?title=Inconsciente MENEGHETTI, Antonio. ''Dicionário de Ontopsicologia.'' 2 ed. rev. Recanto Maestro: Ontopsicologica Editrice, 2008. ISBN 978-85-88381-41-4]</ref> (às vezes chamado também [[subconsciente]]), é um termo [[psicologia|psicológico]] com dois significados distintos. Em um sentido amplo, mais genérico, é o conjunto dos processos mentais que se desenvolvem sem intervenção da [[consciência]]. O segundo significado, mais específico, provém da [[teoria psicanalítica]] e designa uma forma específica de como o inconsciente (em sentido amplo) funciona. Enquanto a maior parte dos pesquisadores empíricos está de acordo em admitir a existência de processos mentais inconscientes (ou seja, do inconsciente em sentido amplo), o modelo psicanalítico tem sido alvo de muitas críticas, sobretudo de pesquisadores da [[psicologia cognitiva]]<ref>Pervin, Lawrence A.; Cervone, Daniel & John, Oliver (2005). Persönlichkeitstheorien. München: Reinhardt. ISBN 3-497-01792-2</ref>. Para evitar a confusão entre os significados, alguns autores preferem utilizar o adjetivo "não consciente" no primeiro significado, reservando o adjetivo "inconsciente" para o significado psicanalítico. Segundo [[Carl Gustav Jung]] (1875-1961), psiquiatra suíço, há uma distinção crucial entre características conscientes e inconscientes da [[psique]]: consciência é o que conhecemos e inconsciência é tudo aquilo que ignoramos. "O inconsciente não se identifica simplesmente com o desconhecido; é antes o ''psíquico desconhecido,'' ou seja, tudo aquilo que presumivelmente não se distinguiria dos conteúdos psíquicos conhecidos, quando chegasse à consciência." Para Jung ainda, o ego forma o centro crítico da consciência e, de fato, determina em grande medida que conteúdos permanecem no domínio da consciência e quais se retiram, pouco a pouco, para o inconsciente. O inconsciente inclui todos os conteúdos psíquicos que se encontram fora da consciência, por qualquer razão ou qualquer duração.
 
De acordo com [[Sigmund Freud]]:<ref name=":0">{{citar livro|título=Fundamentos da Psicanálise de Freud a Lacan - Vol.1: As bases conceituais|ultimo=Coutinho Jorge|primeiro=Marco Antonio|editora=Zahar|ano=|local=Rio de Janeiro|páginas=|acessodata=}}</ref> {{quote|O inconsciente é certamente o verdadeiro intermediário entre o somático e o psíquico, talvez seja o missing link tão procurado.}}
 
De acordo com [[Jacques Lacan]]:<ref name=":0" /> {{quote|O inconsciente é estruturado como uma linguagem.}}
 
Carl Jung atribuiu, a [[Carl Gustav Carus|Carus]], médico e pintor do século XIX, a indicação do inconsciente como a base essencial da psiqueː<ref>{{citar periódico|ultimo=Noé|primeiro=Sidnei Vilmar|data=2015|titulo=O Inconsciente é a Chave para o Consciente: A Psique Humana, segundo C. G. Carus|url=http://periodicos.est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/view/2431/2516|jornal=Estudos Teológicos|volume=55|numero=1|doi=http://dx.doi.org/10.22351/et.v55i1.2431|issn=2237-6461|acessodata=}}</ref>
 
{{quote|Embora vários filósofos, entre eles [[Leibniz]], [[Kant]] e [[Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling|Schelling]], já tivessem apontado muito claramente o problema do lado sombrio da psique, foi um médico que se sentiu impelido, de sua experiência científica e médica, a apontar para o inconsciente como a base essencial da psique. Este foi [[Carl Gustav Carus]], a autoridade que [[Eduard von Hartmann|Karl Robert Eduard von Hartmann]] seguiu.<ref>[[Carl Jung|Jung, C.G.]] ([1959] 1969). ''The Archetypes and the Collective Unconscious'', Collected Works, Volume 9, Part 1, Princeton, N.J.: Princeton University Press. {{ISBN|0-691-01833-2}}</ref>}}
 
== História ==
Influências sobre o pensamento que se originam fora da consciência de uma pessoa já eram expressas nas antigas ideias de tentação, inspiração divina e influência dos deuses no comportamento das pessoas. Ideias semelhantes já eram expressas também nos [[Vedas]] hindus (2 500-600 a.C.).<ref>{{citar livro|autor=Alexander, C. N.|título=Growth of Higher Stages of Consciousness: Maharishi's Vedic Psychology of Human Development, in C. N. Alexander and E.J. Langer (eds.). Higher Stages of Human Development. Perspectives on Human Growth|editora=New York, Oxford: Oxford University Press|ano=1990|páginas=|id=}}</ref><ref>{{citar livro|autor=Meyer-Dinkgräfe, D. |título=Consciousness and the Actor. A Reassessment of Western and Indian Approaches to the Actor's Emotional Involvement from the Perspective of Vedic Psychology|editora=|ano=1996|páginas=|id=ISBN 978-0-8204-3180-2}}</ref><ref>{{citar livro|autor=Haney, W.S. II.|título="Unity in Vedic aesthetics: the self-interac, the known, and the process of knowing". Analecta Husserliana and Western Psychology: A Comparison' 1934.|editora=|ano=|páginas=|id=}}</ref>
 
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Os psicólogos alemães do século XIX [[Gustav Fechner]] e [[Wilhelm Wundt]] começaram a usar o termo "inconsciente" em sua psicologia experimental, no contexto de múltiplos e confusos [[dados dos sentidos]] que a mente organiza num nível inconsciente antes de revelá-los num todo convincente na forma consciente.<ref>{{citar livro|autor=Wozniak, Robert H. |título=Mind and Body: Rene Déscartes to William James|editora=Washington DC: American Psychological Association|ano=1992|páginas=|id=}}</ref>
 
Sigmund Freud e seus seguidores desenvolveram um registro da mente inconsciente. Ele tem um importante papel na [[psicanálise]]. Segundo a leitura lacaniana de Freud, a [[pulsão]] é o conceito psicanalítico que mais se revela inseparável da questão sobre o que é o inconsciente.<ref name=":0" />
 
Carl Gustav Jung, um psiquiatra suíço, desenvolveu o conceito mais além. Ele concordou com Freud que o inconsciente é um determinante da personalidade, mas propôs que o inconsciente pode ser dividido em duas camadasː o inconsciente pessoal e o [[inconsciente coletivo]].
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Nos livros "Psicopatologia da vida cotidiana" e "A Interpretação dos sonhos", [[Sigmund Freud]] mostra que há um significado nos esquecimentos e outros atos falhos e nos sonhos, que não está em geral aparente de imediato. O fato de haver esse significado, mas ao mesmo tempo que ele não seja transparente ao indivíduo, sugere que o que consideramos nossa mente é como uma ponta de um [[iceberg|aicebergue]]. A parte submersa seria, então, o inconsciente.
 
O conceito de inconsciente de [[Carl Gustav Jung]] se contrapõe ao conceito de [[subconsciente]]inconsciente oue [[pré-consciente]] de [[Freud]]. O pré-consciente seria o conjunto de processos psíquicos latentes, prontos a emergirem para se tornarem objetos da [[consciência]]. Assim, o subconscientepré-consciente poderia ser explicado pelos conteúdos que fossem aptos a se tornarem conscientes ([[determinismo psíquico]]). Já o inconsciente seria uma esfera ainda mais profunda e insondável. Haveria níveis inatingíveis no inconsciente mesmo inatingíveis.
 
O inconsciente não se confunde com o [[id]].<ref>Vincenzo Di Matteo, [http://www.ufpe.br/filosofia/arquivos/Do%20inconsciente%20ao%20id.pdf DO INCONSCIENTE AO ID: gênese de uma idéia]. ''SYMPOSIUM'', Revista da UNICAP, v.28,n.1, p.118-136, 1986 (acessado em 4 de agosto de 2010).</ref><ref>[http://www.academialetrasbrasil.org.br/doutorado_Psicfreudresumo.doc CURSO DE PSICANÁLISE INTEGRATIVA]. Acessado em 4 de agosto de 2010.</ref> Este é uma parte do inconsciente, enquanto o [[ego]] e o [[superego]] possuem porções conscientes.
 
[[Jung]] separou o inconsciente pessoal do [[inconsciente coletivo]]<ref>Rodrigo Zanatta, [http://www.rodrigozanatta.com/psicocoisas/o-id-e-o-inconsciente-coletivo/ O Id e o Inconsciente Coletivo]. Dezembro de 1999 (acessado em 2 de agosto de 2010).</ref>. À camada mais profunda da psique humana deu o nome de ''inconsciente coletivo e'' concebeu o seu conteúdo como uma combinação de padrões e forças universalmente predominantes, chamadas "arquétipos" e "instintos". Em sua concepção, nada existe de individual ou único nos seres humanos nesse nível. Todos temos os mesmos arquétipos e instintos. O inconsciente é povoado por complexos. Foi esse o território que Jung explorou inicialmente em sua carreira como psiquiatra. Depois deu-lhe o nome de inconsciente pessoal. Todas as experiências comuns às mãos de pessoas que se encontram similarmente investidas de autoridade criam padrões psicológicos de base social, através de uma espécie de sutil programação do inconsciente pessoal. Os complexos materno e paterno continuam a dominar a cena no inconsciente pessoal. São os gigantes. Hoje, não existe consenso sobre se realmente existe um inconsciente coletivo, igual ou distribuído igualmente entre todas as [[cultura]]s e [[povo]]s. Mas os estudos de [[mitologia]]/[[religião comparada]], de todos os povos e de todas as épocas da humanidade, dão fortes indícios e força a esse modelo. Cabe aqui citar um grande nome nessa área, [[Joseph Campbell]], autor do livro ''[[The Power of Myth]]'' (''O Poder do Mito''). Seus estudos reforçam o modelo de inconsciente coletivo de Jung.
== Controvérsia ==
Existe uma polêmica sobre a existência ou não da mente inconsciente.
 
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Na moderna [[psicologia cognitiva]], muitos pesquisadores procuraram retirar, da noção de inconsciente, o seu passado freudiano, e termos alternativos como "implícito" e "automático" foram adotados. Essas tradições enfatizam o grau pelo qual os processos cognitivos acontecem fora do âmbito da atenção cognitiva, e mostram como as coisas das quais somos inconscientes, não obstante, influenciam outros processos cognitivos, assim como o comportamento.<ref>{{citar livro|autor=Greenwald AG, Draine SC, Abrams RL|título= "Three cognitive markers of unconscious semantic activation". Science. 273 (5282): 1699–702.|editora=|ano=1996|páginas=|id=}}</ref><ref>{{citar livro|autor=Gaillard R, Del Cul A, Naccache L, Vinckier F, Cohen L, Dehaene S |título= "Nonconscious semantic processing of emotional words modulates conscious access". Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 103 (19): 7524–9.|editora=|ano=2006|páginas=|id=}}</ref><ref>{{citar livro|autor=Kiefer M, Brendel D|título="Attentional modulation of unconscious "automatic" processes: evidence from event-related potentials in a masked priming paradigm". J Cogn Neurosci. 18 (2): 184–98.|editora=|ano=2006|páginas=|id=}}</ref><ref>{{citar livro|autor=Naccache L, Gaillard R, Adam C, et al.|título="A direct intracranial record of emotions evoked by subliminal words". Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 102 (21): 7713–7. |editora=|ano=2005|páginas=|id=}}</ref><ref>{{citar livro|autor=Smith, E.R.; DeCoster, J.|título="Dual-Process Models in Social and Cognitive Psychology: Conceptual Integration and Links to Underlying Memory Systems" (PDF). Personality and Social Psychology Review. 4 (2): 108–131.|editora=|ano=2000|páginas=|id=}}</ref> Tradições de pesquisa ativa sobre o inconsciente incluem memória implícita e aquisição não consciente de conhecimento.
 
== Psicologia cognitiva contemporânea ==
=== Pesquisa ===
Enquanto, historicamente, a tradição de pesquisa psicanalítica foi a primeira a focar no fenômeno da atividade mental inconsciente, existe um extensivo corpo de pesquisa conclusiva e conhecimento em psicologia cognitiva contemporânea devotado à atividade mental que não é mediada pela atenção consciente.
 
A maior parte da pesquisa cognitiva sobre os processos inconscientes foi feita na tradição acadêmica dominante do paradigma do processamento da informação. Em oposição à tradição psicanalítica, guiada por conceitos relativamente especulativos (no sentido de ser dificilmente verificáveis empiricamente) como o [[complexo de Édipo]] e o [[complexo de Electra]], a tradição cognitiva de pesquisa sobre os processos inconscientes baseia-se em relativamente poucas premissas teóricas e é empiricamente orientada (isto é, primordialmente orientada pelos dados). A pesquisa cognitiva revelou que, automaticamente, e claramente fora da atenção consciente, os indivíduos registram e adquirem mais informação do que eles podem experimentar através de seus pensamentos conscientes.<ref>{{citar livro|autor=Augusto, L.M. |título="Unconscious knowledge: A survey". Advances in Cognitive Psychology. 6: 116–141. doi:10.2478/v10053-008-0081-5.|editora=|ano=2010|páginas=|id=}}</ref>
=== Processamento inconsciente de informação sobre frequência ===
Por exemplo, uma extensa linha de pesquisa conduzida por Hasher e Zacks<ref>{{citar livro|autor=Hasher L, Zacks RT|título= "Automatic processing of fundamental information: the case of frequency of occurrence". Am Psychol. 39 (12): 1372–88. doi:10.1037/0003-066X.39.12.1372.|editora=|ano=1984|páginas=|id=}}</ref> demonstrou que os indivíduos registram informação sobre a frequência de eventos automaticamente (isto é, fora da atenção consciente e sem o uso de recursos conscientes de processamento da informação). Mais ainda, as pessoas fazem isso de modo não intencional, "automaticamente", não importa as orientações que elas recebam. A habilidade de registrar inconscientemente e de modo relativamente acurado a frequência de eventos aparenta ter pouca ou nenhuma relação com a idade da pessoa,<ref>{{citar livro|autor=Connolly, Deborah Ann|título= A developmental evaluation of frequency information in lists, scripts, and stories|editora=Wilfrid Laurier University|ano=1993|páginas=|id=}}</ref> educação, inteligência ou personalidade. Consequentemente, pode representar um dos elementos fundamentais de construção da orientação humana no ambiente e possivelmente da aquisição de conhecimento processual e de experiência em geral.
 
== Ver também ==
 
* [[Inconsciente coletivo]]
* [[Teoria psicanalítica]]
* [[SigmundTeoria Freudpsicanalítica]]
* [[Carl GustavSigmund JungFreud]]
* [[SonhoCarl Gustav Jung]]
* [[Sonho]]
*[[Consciência]]
* [[Estímulo subliminar]]
 
{{referências}}
 
== Bibliografias ==
 
*AUGUSTO, Luís M. ''Freud, Jung, Lacan: Sobre o Inconsciente''. Porto: U.Porto Editorial, 2013. ISBN 978-989-746-029-6
*In: SIGMUND, Freud. O caso Shereber, artigos sobre técnica e outros trabalhos. Edição Standard Brasileira. Vol. XII. Rio de janeiro: Imago.
*JUNG, Carl Gustav. "Memórias, Sonhos e Reflexões", autobiografia de Jung, Editora Nova Fronteira S.A.
*MARTINS, Roberto de Andrade. ''Universo: teorias sobre sua origem e evolução''. São Paulo : [http://www.moderna.com.br/ Moderna].
*STEIN, Murray. Jung, O Mapa da Alma, uma introdução, São Paulo, Editora Cultrix.
 
==Ligações externas==