Sublimação (psicanálise): diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Rogeriocisi (discussão | contribs)
Rogeriocisi (discussão | contribs)
Destino da pulsão
Linha 3:
[[Sigmund Freud]] acreditava que a sublimação era um sinal de [[maturidade]] e [[civilização]], permitindo que as pessoas funcionassem normalmente de maneiras culturalmente aceitáveis. Ele definiu a sublimação como o processo de desviar os instintos sexuais em atos de maior valor social, sendo "uma característica especialmente notável do desenvolvimento cultural; é o que possibilita que atividades psíquicas superiores, científicas, artísticas ou ideológicas, desempenhem um papel tão importante".<ref>{{citar livro|título=O Mal-estar na Civilização|ultimo=Freud|primeiro=Sigmund|editora=|ano=1930|local=|páginas=127|acessodata=}}</ref> Wade e Travis apresentam uma visão semelhante, afirmando que a sublimação ocorre quando o deslocamento "serve a um propósito cultural ou socialmente mais alto, como na criação de [[arte]] ou [[Invenção|invenções]]".<ref>{{citar livro|título=Psychology|ultimo=Wade|primeiro=Carol|editora=Prentice Hall|ano=2000|local=|páginas=|acessodata=}}</ref>
 
Para Freud<ref name=":2" />, a religião promove a renúncia completa do prazer nesta vida e uma recompensa no além. Quanto à ciência, seria, para Freud, a única que supera o princípio de prazer e, mesmo assim, ainda oferece algum prazer direto – o prazer intelectual da pesquisa – e indireto, através de uma promessa – de melhorar as nossas condições de vida. Já a educação manifesta, em essência, um incentivo ao controle do [[princípio de prazer]] pelo [[princípio de realidade]], auxiliando o processo de desenvolvimento. A recompensa para a criança pela renúncia ao pulsional está no ganho do amor dos educadores. Vê-se que há algo na educação conforme ao que se passa na religião, na qual o amor do pai todo-poderoso é igualmente o que é visado pela grande renúncia que a religião pede. Quanto à arte, Freud vê o artista como aquele que consegue conciliar os dois princípios de modo peculiar. Com seu talento, o artista promove um retorno da vida de fantasia para a realidade, pois se por um lado a arte serve fundamentalmente ao princípio de prazer, por outro ela encontra o caminho que retorna à realidade. A arte não superou igualmente o princípio de prazer, mas o fez conciliar-se com o princípio de realidade.<ref name=":2" />
O objeto adquire toda a importância na concepção de [[Jacques Lacan|Lacan]] da sublimação, em oposição à formulação freudiana, que sempre privilegiou a [[pulsão]], e, mais precisamente, o desvio quanto ao alvo da pulsão. Em Freud, a sublimação é, inúmeras vezes, definida como o desvio da pulsão para alvos não sexuais, valorizados pela cultura. Ao modificar o alvo da pulsão, Lacan faz dessa definição da sublimação a natureza própria da pulsão.<ref name=":1" />
 
== Vicissitudes da pulsão ==
[[Sigmund Freud|Freud]] introduz a estrutura das vicissitudes da pulsão apenas em [[1915]], no primeiro de seus artigos [[Metapsicologia|metapsicológicos]] intitulado “Pulsões e suas vicissitudes”<ref>{{citar livro|título=As pulsões e suas vicissitudes. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud - Vol. XIV|ultimo=Freud|primeiro=Sigmund|editora=Imago|ano=1996|local=Rio de Janeiro|páginas=|acessodata=}}</ref>, no qual postula que, além do uso direto, sexualizado, há quatro destinos possíveis da [[pulsão]], são eles:<ref name=":2">{{citar livro|título=Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan 2: A clínica da fantasia|ultimo=Coutinho Jorge|primeiro=Marco Antonio|editora=Zahar|ano=2010|local=Rio de Janeiro|páginas=|acessodata=}}</ref>
 
*reversão a seu oposto, que implica, por exemplo, a revirada da pulsão de finalidade atividade para finalidade passiva<ref>{{citar livro|título=Freud e o Inconsciente|ultimo=Garcia-Roza|primeiro=Luiz Alfredo|editora=Zahar|ano=1994|local=Rio de Janeiro|páginas=|acessodata=}}</ref><ref>{{citar livro|título=Um olhar a mais: ver e ser visto na psicanálise|ultimo=Quinet|primeiro=Antonio|editora=Zahar|ano=|local=|páginas=|acessodata=}}</ref>;
Linha 16:
 
== Na obra de Lacan ==
O objeto adquire toda a importância na concepção de [[Jacques Lacan|Lacan]] da sublimação, em oposição à formulação freudiana, que sempre privilegiou a [[pulsão]], e, mais precisamente, o desvio quanto ao alvo da pulsão. Em Freud, a sublimação é, inúmeras vezes, definida como o desvio da pulsão para alvos não sexuais, valorizados pela cultura. Ao modificar o alvo da pulsão, Lacan faz dessa definição da sublimação a natureza própria da pulsão.<ref name=":1" />
 
A exposição da sublimação para [[Jacques Lacan]] é considerada em uma discussão sobre a relação da [[psicanálise]] e da [[ética]] no sétimo livro de seus seminários.<ref name=":0">{{citar livro|título=O Seminário, livro 7: A ética da psicanálise|ultimo=Lacan|primeiro=Jacques|editora=Zahar|ano=1988|local=|páginas=|acessodata=}}</ref> A sublimação lacaniana é definida com referência ao conceito ''Das Ding'' (mais tarde em sua carreira, Lacan denominou esse objeto de ''petit a''. ''Das Ding'' é o termo em [[Língua alemã|alemão]] para "A Coisa", embora Lacan a conceba como uma noção abstrata e uma das características definidoras da condição humana. Em termos gerais, é o vácuo que se experimenta como ser humano, que se esforça para preenchê-lo com diferentes relações, objetos e experiências, os quais servem para preencher essa lacuna nas necessidades psíquicas.