História da escravidão: diferenças entre revisões

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{{Escravidão}}
 
A '''história da escravidão''' ou '''história da escravatura''' abrange muitas [[Cultura|culturas]], [[Nacionalidade|nacionalidades]] e [[Escravidão e religião|religiões]] desde os tempos antigos até os dias atuais. No entanto, as posições sociais, [[Econômica|econômicas]] e legais dos escravos diferiram bastante em diferentes sistemas de [[escravidão]] em diferentes épocas e lugares.<ref>{{Citar livro|título=African Slavery in Latin America and the Caribbean|ultimo=Klein|primeiro=Herbert S.|ultimo2=III, Ben Vinson|ano=2007|localização=New York [etc.]|isbn=978-0195189421|publicação=Oxford University Press|edition=2nd}}</ref>
 
A escravidão ocorreu relativamente de forma rara entre as populações de [[Caçador-coletor|caçadores-coletores]]<ref>Smith, Eric Alden; Hill, Kim; Marlowe, Frank; Nolin, David; Wiessner, Polly; Gurven, Michael; Bowles, Samuel; Mulder, Monique Borgerhoff; Hertz, Tom; Bell, Adrian (February 2010). [https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2999363 "Wealth Transmission and Inequality Among Hunter-Gatherers"]. ''Current Anthropology''. '''51''' (1): 19–34. doi:10.1086/648530. PMC [https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2999363 2999363]. PMID [https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21151711 21151711]. <q>Summary characteristics of hunter-gatherer societies in the Standard Cross-Cultural Sample (SCSS). [...] Social stratification [: ...] Hereditary slavery 24% [...].</q></ref> porque ela se desenvolve sob condições de [[estratificação social]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=hLFGpdkpHKsC&pg=PT72|título=Rediscovering the Hidden World: The Changing Human Geography of Kongo|ultimo=Wanzola|primeiro=Hamba|data=30 de novembro de 2012|editora=|ano=|local=|página=|páginas=|isbn=978-1479751914|citação=Slavery is rare among hunter-gatherer populations as slavery depends on a system of social stratification.|publicação=[[Xlibris Corporation]]}}</ref> A escravidão se operava nas [[Berço da civilização|primeiras civilizações]] (como a [[Suméria|Suméria,]] na [[Mesopotâmia]],<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=ONkJ_Rj1SS8C|título=Women, Crime and Punishment in Ancient Law and Society: Volume 1: The Ancient Near East|ultimo=Tetlow|primeiro=Elisabeth Meier|data=2004|series=Women, Crime, and Punishment in Ancient Law and Society|volume=1|localização=New York|capitulo=Sumer|isbn=9780826416285|citação=In Sumer, as in most ancient societies, the institution of slavery existed as an integral part of the social and economic structure. Sumer was not, however, a slavery based economy.|publicação=A&C Black}}</ref> que remonta a 3500 a.C.). Ela aparece presente no ''[[Código de Hamurabi]]'' da [[Mesopotâmia]] (c. 1860 AEC), que se refere a ela como uma instituição estabelecida.<ref>{{Citar web|url=http://www.wsu.edu/~dee/MESO/CODE.HTM|titulo=Mesopotamia: The Code of Hammurabi|citação=e.g. Prologue, "the shepherd of the oppressed and of the slaves" Code of Laws No. 307, "If any one buy from the son or the slave of another man".}}</ref> A escravidão tornou-se comum em grande parte da Europa durante o [[Idade Média#Alta%20Idade%20M%C3%A9dia|início da Idade Média]] e continuou nos séculos seguintes. As [[guerras bizantino-otomanas]] (1265-1479) e as [[guerras otomanas na Europa]] (séculos XIV a XX) resultaram na captura de um grande número de escravos [[Cristão|cristãos]]. Os [[Países Baixos|holandeses]], [[França|franceses]], [[Espanha|espanhóis]], [[Portugal|portugueses]], [[Reino da Grã-Bretanha|britânicos]], [[árabes]] e vários reinos da [[África Ocidental]] desempenharam um papel proeminente no [[Comércio atlântico de escravos|comércio de escravos]] no [[Comércio atlântico de escravos|Atlântico]], principalmente após 1600. A [[República de Ragusa]] tornou-se o primeiro país europeu a proibir o tráfico de escravos em 1416. Na era moderna, a [[Reino da Dinamarca e Noruega|Dinamarca-Noruega]] aboliu o comércio em 1802.
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==== Os Vikings e a Escandinávia ====
Na era [[Vikings|viking]], iniciada por volta de 793, os invasores [[nórdicos]] frequentemente capturavam e escravizavam povos militarmente mais fracos que encontravam. Os [[países nórdicos]] chamavam seus escravos de ''[[Thrall|thralls]]'' ( [[Língua nórdica antiga|nórdico antigo]]: ''Þræll'').<ref name="vikings2" /> Os escravos eram principalmente da Europa Ocidental, entre eles muitos [[francos]], [[frísios]], [[anglo-saxões]] e [[Britanos|celtas]] [[irlandeses]] e [[britanos]]. Muitos escravos irlandeses viajaram em expedições para a colonização da [[Islândia]].<ref>{{Citar web|url=http://www.mnh.si.edu/vikings/voyage/subset/iceland/history.html|titulo=Iceland History}}</ref> Os nórdicos também tomaram escravos alemães, bálticos, eslavos e latinos. O comércio de escravos foi um dos pilares do comércio nórdico durante os séculos VI ao XI. O viajante persa do século X, [[Ibn Rusta]], descreveu como os vikings suecos, os [[Varegues|varangianos]] ou os [[Caganato de Rus|russos]], aterrorizaram e escravizaram os [[Eslavos orientais|eslavos]] em seus ataques ao longo do rio Volga. O sistema thrall foi finalmente abolido em meados do século 14XIV na Escandinávia.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Skyum-Nielsen|primeiro=Niels|data=1978|ano=1978|titulo=Nordic Slavery in an International Context|url=|jornal=Medieval Scandinavia|volume=11|páginas=126–48|acessodata=}}</ref>
 
=== Era moderna ===
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A história da escravidão originalmente era a história das leis e políticas do governo em relação à escravidão e dos debates políticos sobre ela. A história negra foi promovida em grande parte nas faculdades negras. A situação mudou drasticamente com a chegada do Movimento dos Direitos Civis da década de 1950. A atenção voltou-se para os humanos escravizados, os negros livres e as lutas da comunidade negra contra as adversidades.<ref>Meier, August; Rudwick, Elliott M. (eds). (1986). ''Black history and the historical profession, 1915–80.''</ref>
 
[[ Peter Kolchin|Peter Kolchin]] descreveu o estado da historiografia no início do século 20XX da seguinte forma: <blockquote>Durante a primeira metade do século XX, um componente importante dessa abordagem era muitas vezes simplesmente o racismo, manifestado na crença de que os negros eram, na melhor das hipóteses, imitadores de brancos. Assim, [[Ulrich B. Phillips]], o especialista mais célebre e influente da época em escravidão, combinou um retrato sofisticado da vida e do comportamento dos plantadores brancos com generalizações brutas sobre a vida e o comportamento de seus escravos negros.<ref>Peter Kolchin, ''American Slavery: 1619–1877'' (1993) p. 134.</ref></blockquote>Os historiadores [[ James Oliver Horton|James Oliver Horton]] e [[ Lois E. Horton|Lois E. Horton]] descreveram a mentalidade, a metodologia e a influência de Phillips: <blockquote>Seu retrato de negros como pessoas passivas e inferiores, cujas origens africanas os tornavam incivilizados, parecia fornecer evidências históricas das teorias de inferioridade racial que sustentavam [[segregação racial]]. Obtendo evidências exclusivamente de registros de plantations, cartas, jornais do sul e outras fontes que refletiam o ponto de vista do proprietário de escravos, Phillips retratava senhores de escravos que proviam pelo bem-estar de seus escravos e sustentavam que havia verdadeiro afeto entre mestre e escravo.<ref>{{cite book|url=https://books.google.com/books?id=uUleEW07AvgC&pg=PA8|title=Slavery and the Making of America|author1=James Oliver Horton|author2=Lois E. Horton|isbn=978-0195304510|year=2006|publisher=Oxford University Press|page=8}}</ref></blockquote>A atitude racista em relação aos escravos transitou para a historiografia da Dunning School da história da [[Reconstrução dos Estados Unidos|era da Reconstrução]], que dominou no início do século XX. Escrevendo em 2005, o historiador [[ Eric Foner|Eric Foner]] afirma: <blockquote>Seus relatos da era repousavam, como dizia um membro da escola Dunning, na suposição de "incapacidade dos negros". Achando impossível acreditar que os negros possam ser atores independentes no palco da história, com suas próprias aspirações e motivações, Dunning et al. retratou os afro-americanos como "crianças", burros ignorantes manipulados por brancos inescrupulosos, ou como selvagens, suas paixões primais sendo desencadeadas até o fim da escravidão.<ref>{{cite book|url=https://books.google.com/books?id=BfC7FbdXgxIC&pg=PR22|title=Forever Free: The Story of Emancipation and Reconstruction|author=Eric Foner|isbn=978-0307834584|year=2013|publisher=Knopf Doubleday|page=xxii}}</ref></blockquote>A partir da década de 1950, a historiografia se afastou do tom da era Phillips. Os historiadores ainda enfatizavam o escravo como um objeto. Enquanto Phillips apresentava o escravo como objeto de atenção benigna dos proprietários, historiadores como [[ Kenneth Stampp|Kenneth Stampp]] enfatizavam os maus-tratos e abusos do escravo.<ref>Kolchin p. 135. David e Temin p. 741. Os últimos autores escreveram, "The vantage point correspondingly shifted from that of the master to that of his slave. The reversal culminated in Kenneth M. Stampp's ''The Peculiar Institution'' (1956), which rejected both the characterization of blacks as a biologically and culturally inferior, childlike people, and the depiction of the white planters as paternal [[Cavaliers]] coping with a vexing social problem that was not of their own making."</ref>
 
Na representação do escravo como vítima, o historiador [[ Stanley M. Elkins|Stanley M. Elkins,]] em seu trabalho de 1959, ''Slavery: A Problem in American Institutional and Intellectual Life,'' comparou os efeitos da escravidão dos Estados Unidos aos resultantes da brutalidade dos [[campos de concentração nazistas]]. Ele afirmou que a instituição destruiu a vontade do escravo, criando um "[[Sambo (termo racial)|Sambo]] emasculado e dócil" que se identificava totalmente com o proprietário. A tese de Elkins foi contestada pelos historiadores. Gradualmente, os historiadores reconheceram que, além dos efeitos do relacionamento proprietário-escravo, os escravos não viviam em um "ambiente totalmente fechado, mas em um que permitia o surgimento de uma variedade enorme e permitia que os escravos seguissem relacionamentos importantes com outras pessoas que não seus senhores", incluindo aqueles encontrados em suas famílias, igrejas e comunidades".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/?id=FaffAAAAQBAJ&pg=PA136|título=American Slavery: 1619–1877|ultimo=Peter Kolchin|ano=2003|isbn=978-0809016303}}</ref>