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Sabellida é uma subordem de animais marinhos, descrita por Levinsen em 1988, pertencente a classe dos [[Polychaeta|Polychaetas]] e ao Filo [[Annelida]]. Conhecidos como “vermes-ventarola” ou “verme-espanador”, são organismos sedentários - e, portanto, pertencente ao clado [[Sedentaria]] - vivendo enterrados no substrato<ref name=":0">{{Citar periódico|ultimo=Purschke|primeiro=Günter|ultimo2=Bleidorn|primeiro2=Christoph|ultimo3=Struck|primeiro3=Torsten|data=2014|titulo=Systematics, evolution and phylogeny of Annelida – a morphological perspective|url=https://museumsvictoria.com.au/collections-research/journals/memoirs-of-museum-victoria/volume-71-2014/pages-247-269/|jornal=Memoirs of Museum Victoria|volume=71|paginas=247–269|doi=10.24199/j.mmv.2014.71.19}}</ref> , abrigados por tubos mucosos ou calcários. São de vida livre e, em sua maior parte, são anelídeos micrófagos<ref name=":0" /> , suspensívoros e detritívoros, além de sua diversidade ser de cerca de 460 espécies<ref>{{citar livro|título=Invertebrates|ultimo=Brusca|primeiro=Richard C, et al|editora=Sinauer Associates|ano=2016|local=|página=|páginas=}}</ref>.
 
São caracterizados por uma coroa radiolar, bem como a separação do corpo em região torácica e abdominal <ref name=":1">{{citar livro|título=Taxonomy of Serpulidae (Annelida, Polychaeta)|ultimo=Ten Hove|primeiro=H. A; Kupriyanova, H. K.|editora=Magnolia Press|ano=2009|local=Auckland, New Zealand|página=|páginas=}}</ref> e em sua maioria são encontrados isoladamente <ref name=":2">{{citar livro|título=Annelida Polychaeta: características, glossário e Chaves Para famílias e gêneros Da Costa Brasileira.|ultimo=Amaral|primeiro=A. Cecília Z., and Edmundo F. Nonato.|editora=Editora Da Unicamp|ano=1996|local=|página=|páginas=}}</ref>; porém, podem encontrar-se em colônias, como gêneros da família [[Sabellariidae]] e [[Serpulidae]].
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=== Morfologia Externa. ===
Em geral, são animais de pequeno porte, com número de segmentos corporais variáveisvariavel e caracterizados por redução do prostômio (região posterior do corpo na qual localiza-se o primeiro segmento verdadeiro do corpo do animal), o qual é fundido com o peristômio, geralmente formando uma coroa tentacular, resultante da modificação dos palpos<ref name=":3">{{citar livro|título=Polychaetes & Allies|ultimo=Beesley|primeiro=P.L; Ross, G.J.B; Glasby, C.J.|editora=Australian Biological Resources Study/CSIRO Publishing|ano=2000|local=|página=|páginas=}}</ref> - radíolos <ref>{{citar livro|título=The Polychaete Worms: Definitions and Keys to the Orders, Families and Genera|ultimo=Fauchald|primeiro=Kristian|editora=atural History Museum of Los Angeles County|ano=1977|local=|página=|páginas=}}</ref>, além de abrigar os principais orgãos cerebrais e do sentido (processo de cefalização).  Além disso, os parapódios apresentam-se comumente reduzidos ou substituídos por pregas simples com “uncini” - ramo dotado de pequenas placascerdas dentadas quitinosas, de pequeno tamanho<ref name=":2" /> , com a função de ancorar o animal em tubos ou galerias. Essas, em relação aos outros poliquetas, seriam as neurocerdas, no tórax, ou notocerdas, no abdômen.<ref name=":3" />
 
A posição do torus, em sabelídeos, é comumente invertida, posicionando-se de forma notopodial; a posição das cerdas são alteradas de modo que o notopodios da região posterior possuiriam o "uncini" e o neuropodio posterior possuiria cerdas - fenômeno chamado de inversão "''chaetal''".<ref name=":3" />
 
Estão incluídos no grupo de [[Polychaeta|Polychaetas]] sedentários com alto grau de modificações corpóreas - o mesmo que inclui a ordem [[Terebellida]]. <ref name=":2" /> -, tendo, como exemplo, a perda do órgão bucal em algumas espécies <ref name=":3" />(quando esta se apresenta, encontra-se na região ventral do animal)<ref name=":1" />. Além disso, como pertence a esse grupo, apresentam uma flexível cutícula externa e epiderme colunar.<ref name=":3" />
 
==== Tubo. ====
Os organismos que compõem a subordem Sabellida temtêm, como característica geral, a presença de um tubo. Este pode apresentar diversas conformações físicas e constituições, como muco e calcário. No geral, tubos mais simples, feitos de muco, são pouco duradouros; em oposição, tubos calcários necessitam de glândulas específicas para serem formados e apresentam maior resistência e durabilidade<ref name=":2" />.
[[Ficheiro:Ditrupa arietina 01.jpg|miniaturadaimagem|251x251px|Tubo calcário de ''Ditrupa arietina,'' pertencente a família [[Serpulidae]].]]
Como exemplo da diversidade, temos que a família [[Sabellariidae|Sabelariidae]] possuem orgãos que ajudam no manuseio de grãos de areia para a formação de tubos por sedimentos. Além disso, há um opérculo organizado por cerdas especializadas, as quais fecham a câmara do tubo em situações de perigo. Já em [[Sabellidae]], os componentes do gênero ''Hypsicomus'' possuem tubos de parede espessa e translúcida, enquanto em [[Serpulidae|Serpullidae]], há a presença de glândulas para a produção de tubos mucosos. Por fim, aanimais da família [[Oweniidae]] geralmente possuem tubos livres, os quais são formados por grãos de areia, fragmentos de concha ou espículas de esponjas.<ref name=":2" />
 
==== Uncini. ====
Os uncini são cerdas modificadas em estruturas quitinosas, em forma de pequenas placas dentadas, com a função de ancorar o animal no interior dos tubos e galerias<ref name=":2" />. Essas estruturas são organizadas lado a lado em uma única linha e dispostos transversalmente, ambas as características em relação ao eixo longo do corpo. As bordas dentadas dos uncini são direcionadas anteriormente, para a realização da fixação do animal em relação ao tubo, impedindo que sejam puxados para fora por seus predadores.<ref name=":1" />[[Ficheiro:Anamobaea orstedii (Split-Crown Feather Duster - red variation).jpg|miniaturadaimagem|283x283px|Coroa Radiolar de ''Anamobaea orstedii,'' pertencente a família [[Sabellidae]].]]
 
Apesar de ser uma característica geral, algumas espécies de ''Protula'' podem apresentar ausência dessa estrutura.<ref name=":1" />
[[Ficheiro:Anamobaea orstedii (Split-Crown Feather Duster - red variation).jpg|miniaturadaimagem|283x283px|Coroa Radiolar de ''Anamobaea orstedii,'' pertencente a família [[Sabellidae]].]]
 
==== Coroa Radiolar. ====
Já doDo ponto de vista fisiológico, a coroa radiolar é a primeira forma de respiração nas famílias [[Sabellidae]] e [[Serpulidae]], além ser importante do ponto de vista da alimentação por suspensão - <ref name=":3" /> as partículas suspensas na água são retidas nas pínulas. No caso da família Sabellidae, as partículas retidas são encaminhadas para o canal ciliado, o qual possui um formato de funil que seleciona partículas de tamanho suficiente para não serem rejeitadas. As de menor tamanho são encaminhadas para a boca, enquanto as medianas são armazenadas no saco ventral - que também abriga o muco; com o movimento do animal, o muco e as partículas são liberadas em forma de cordões, possibilitando o crescimento do tubo mucoso.
Do ponto de vista anatômico, o seguimento da coroa radiolar é caracterizado por tentáculos ciliados - os radíolos -, os quais são cerdas notopodiais que não apresentam "uncini" - acredita-se que os "uncini" sejam perdidos secundariamente na região do colarinho.<ref name=":1" /> Além disso, os radíolos apresentam ramificações, nomeadas de pínulas, e canais ciliados. Por fim, o número de radíolos pode variar de dois pares a centenas deles e são ligados as partes basais por uma membrana interradiolar<ref name=":1" />.
 
Também é a principal região de contato com o meio, visto que agrupa a maior parte dos fotorreceptores do animal<ref name=":3" />, sendo estes variáveis entre simples ocelos a olhos compostos, os quais são essenciais, mesmo que não formem imagem, para a proteção do animal - o qual enconde-se dentro do tubo.
Já do ponto de vista fisiológico, a coroa radiolar é a primeira forma de respiração nas famílias [[Sabellidae]] e [[Serpulidae]], além ser importante do ponto de vista da alimentação por suspensão - <ref name=":3" /> as partículas suspensas na água são retidas nas pínulas. No caso da família Sabellidae, as partículas retidas são encaminhadas para o canal ciliado, o qual possui um formato de funil que seleciona partículas de tamanho suficiente para não serem rejeitadas. As de menor tamanho são encaminhadas para a boca, enquanto as medianas são armazenadas no saco ventral - que também abriga o muco; com o movimento do animal, o muco e as partículas são liberadas em forma de cordões, possibilitando o crescimento do tubo mucoso.
 
Também é a principal região de contato com o meio, visto que agrupa a maior parte dos fotorreceptores do animal<ref name=":3" />, sendo estes olhos compostos, os quais são essenciais, mesmo que não formem imagem, para a proteção do animal - o qual enconde-se dentro do tubo.
 
=== Morfologia interna ===
Possuem um par de [[Nefrídeo|nefrídeos]] excretores anteriores com um único poro, sendo o caráter taxonômico que o colocava como grupo irmão de “[[Pogonophora]]” <ref name=":4">{{Citar periódico|ultimo=Rouse|primeiro=G. W.|ultimo2=Fauchald|primeiro2=K.|data=1997|titulo=Cladistics and polychaetes|url=http://doi.wiley.com/10.1111/j.1463-6409.1997.tb00412.x|jornal=Zoologica Scripta|lingua=en|volume=26|numero=2|paginas=139–204|doi=10.1111/j.1463-6409.1997.tb00412.x|issn=0300-3256|acessodata=}}</ref>, além de inúmeros dutos posteriores que possuem a função de gonodutos<ref name=":3" />. Como sistema digestório, apresentam um simples tubo, suportado pelo mesentério dorsal e parte dos septos entre os segmentos<ref name=":3" />; em alguns casos, como nos [[Fabriciidae]], há a inversão deste tubo.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Randel|primeiro=Nadine|ultimo2=Bick|primeiro2=Andreas|data=2012|titulo=Development, morphology and ultrastructure of the branchial crown of Fabricia stellaris (Müller, 1774) (Polychaeta: Sabellida: Fabriciinae): Brachial crown of Fabricia stellaris|url=http://doi.wiley.com/10.1111/j.1463-6395.2011.00515.x|jornal=Acta Zoologica|lingua=en|volume=93|numero=4|paginas=409–421|doi=10.1111/j.1463-6395.2011.00515.x|acessodata=}}</ref>
 
Além disso, porcomo seremdito animais aquáticosanteriormente, apresentam brânquias como forma de realização deas trocas gasosas<ref name=":2" /> - as quais, como dito anteriormente, podem acontecerocorrem pelos radíolos<ref name=":3" />.
 
== Reprodução ==
Em primeiro lugar, os sabelídeossablidos podem apresentarem-se de duas formas: serem dióicos, possuindo sexos separados, ou hermafroditas - característica que refere-se a indivíduos que podem gerar espermaespermatozoides e ovosóvulos de forma viável e simultaneamente -, tendo como exemplo desta última as famílias [[Sabellidae]] e [[Serpulidae]]. Além disso, a reprodução pode ser sexuada ou assexuada.<ref name=":3" />
 
No caso de reprodução sexuada, esta é depende da água, visto que o esperma é liberado e nada até a fêmea - a qual o detecta e o armazena nas espermatecas. Já no caso de ser assexuada, como em [[Serpulidae]] e [[Sabellidae]], ocorre o fênomeno da paratomia, a qual é caracterizada pela subdivisão do corpo, formando um indivíduo completo e reconhecível, e regeneração das partes perdidas.<ref name=":3" />
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Em casos como os de [[Sabellariidae]] do gênero ''Phragmatopoma'', há uma ocupação abundante dos níveis de maré média, organizando-se em colônias que abrigam uma grande diversidade de animais - sendo a principal família e gênero formador dos recifes de areia no Brasil. Neste nível, também é comum colônias da família [[Sabellidae]], cuja formação se assemelha a franjas sob pedras submersas, e que também se encontram em abundância em locais de águas calmas e que estejam ricos em partículas orgânicas.
 
Além disso, a família [[Sabellariidae]] também apresenta organismos que não se enquadram no modo de vida sedentário. Já os ''Branchiommas'' (família [[Sabellidae]]) e ''Hydroides'' (Família [[Serpulidae]]) possuem hábito de vida incrustante, localizados, por exemplo, sob madeiras de casco de navios ou pilares de pontes.
 
A maioria dos constituintes da subordem Sabellida são animais filtradores, e, por conta disso, apresentam eficientes estruturas relacionadas a essa hábito de vida e que ajudam a caracterizar o grupo, como os penachos branquiais, os quais são equipados com cílios e que, por meio da movimentação da água, capturam as partículas em suspensão e as encaminham até a boca.<ref name=":2" />
 
==Taxonomia e Filogenia ==
A classificação aqui adotada segue um estudo filogenético com base em caracteres morfológicos do fim do século XX, realizado por Rouse & Fauchald, 1997.Segundo ele, Sabellida é uma subordem de Polychaeta.
De acordo com a Filogenia realizada por Rouse e Fauchald, em 1997, por meio da técnica cladística, Sabellida é uma subordem inserida, primeiramente, na classe [[Polychaeta|Polycheata]] ( do grego: ''Poly'' - muitos; ''Cheata'' -  cerdas). Em seguida, é classificada sob a subclasse Palpata - a qual define-se por animais com a presença de palpos (peças bucais com função sensorial) e que inclui as ordens [[Canalipalpata]] e Aciculata.
 
A ordem Aciculata, por definição, é aquela em que se encontram animais cuja a sinapomorfia é a presença de acícula, enquanto a ordem Canalipalpata - a qual não é fortemente suportada - é a que agrupa animais com “palpos estriados” (“grooved palps”)<ref name=":4" />, agregando, portanto, as subordens Sabellida, [[Terebellida]] e [[Spionida]].
 
Por fim, Sabellida é uma subordem a qual possui cinco famílias principais, de acordo com a filogenia mais aceita e descrita por Rouse e Fauchald em 1997; no qual [[Oweniidae]] é grupo irmão de [[Serpulidae|Serpullidae]], [[Sabellidae]], [[Sabellariidae]] e [[Siboglinidae]] (a.k.a [[Pogonophora]]).
 
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