Francisco Ferdinando da Áustria-Hungria: diferenças entre revisões

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| conjugue = [[Sofia, Duquesa de Hohenberg]]
| descendencia = [[Sofia de Hohenberg|Sofia]]<br />[[Maximiliano de Hohenberg|Maximiliano]]<br />[[Ernesto de Hohenberg|Ernesto]]
| nome completo = Francisco FerdinandoFernando Carlos Luís José Maria
| casa = [[Casa de Habsburgo-Lorena|Habsburgo-Lorena]]
| pai = [[Carlos Luís da Áustria]]
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| brasão = Coat of Arms of Archduke Franz Ferdinand of Austria.svg
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'''Francisco FerdinandoFernando Carlos Luís José Maria de Áustria-Este''' (em [[idioma alemão|alemão]]: ''Franz Ferdinand Karl Ludwig Joseph Maria von Österreich-Este''; em [[idioma húngaro|húngaro]]: ''Habsburg–Lotaringiai Ferenc Ferdinánd Károly Lajos József Mária''; em [[idioma italiano|italiano]]: ''Francesco Ferdinando Carlo Luigi Giuseppe Maria d'Austria-Este'') ([[Graz]], [[18 de dezembro]] de [[1863]] — [[Sarajevo]], [[28 de junho]] de [[1914]]) foi um [[arquiduque da Áustria]], chefe do [[ramo cadete]] de [[Casa da Áustria-Este|Áustria-Este]] e [[herdeiro presuntivo]] do trono do [[Império Austro-Húngaro]].
 
Filho mais velho do arquiduque [[Carlos Luís da Áustria|Carlos Luís]] (irmão dos imperadores [[Francisco José I da Áustria]] e [[Maximiliano do México]]) e da princesa [[Maria Anunciata das Duas Sicílias]], ele herdou de seu primo, o duque [[Francisco V de Módena]], a chefia da Casa de Áustria-Este, tornando-se pretendente ao trono do extinto ducado quando tinha apenas 12 anos de idade. Em 1889, com a morte do arquiduque Rodolfo, único filho varão de Francisco José I, no chamado [[Incidente de Mayerling]], seu pai tornou-se o primeiro na linha de sucessão ao trono austro-húngaro, mas renunciou aos seus direitos em seu favor.
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==Família==
Francisco FerdinandoFernando era o filho mais velho do arquiduque [[Carlos Luís da Áustria]] e da princesa [[Maria Anunciata das Duas Sicílias]]. Seus avós paternos foram o arquiduque [[Francisco Carlos da Áustria]] e a princesa [[Sofia da Baviera]], e seus avós maternos foram o rei [[Ferdinando II das Duas Sicílias|FerdinandoFernando II das Duas Sicílias]] e a arquiduquesa [[Maria Teresa Isabel da Áustria]].<ref name="Family">{{citar web|url=http://www.franzferdinand.cz/cz/Frantisek-Ferdinand/|titulo=''František Ferdinand Karel Ludvík Josef Maria arcivévoda Rakouský - Este (18.12.1863 - 28.6.1914)''|lingua=checo|acessodata=21/02/2012}}</ref>
 
==Príncipe herdeiro==
Em 31 de janeiro de 1889, [[Rodolfo, Príncipe Herdeiro da Áustria]] cometeu suicídio - caso que ficou conhecido como [[Incidente de Mayerling]] - <ref name="Brook-Shepherd">Brook-Shepherd, p. 107, 125-126</ref> elevando o pai de Francisco FerdinandoFernando a primeiro na linha de sucessão ao trono. No entanto, o arquiduque Carlos Luís renunciou aos seus direitos em favor de seu filho mais velho.<ref name="NYT">{{citar notícia|url=http://query.nytimes.com/gst/abstract.html?res=9F04E0D9153AE033A25751C0A9649C94689FD7CF|titulo=''The Crown Prince's Successor''|data=2 de fevereiro de 1889|obra=The New York Times|lingua=inglês|acessodata=13/02/2012}}</ref> A até então pacata vida de Francisco FerdinandoFernando mudou radicalmente e ele começou a ser preparado para suceder ao tio, [[Francisco José I da Áustria|Francisco José I]]. Apesar desta carga, ele ainda conseguia tempo para viagens de lazer e expedições de caça - como sua dispendiosa viagem à [[Austrália]] para caçar [[canguru]]s e [[emu]]s em 1893.<ref name="Argus">{{citar notícia|url=http://trove.nla.gov.au/ndp/del/article/8554706?searchTerm=Franz+Ferdinand|titulo=''The Archduke Franz Ferdinand''|data=23 de maio de 1893|obra=The Argus|lingua=inglês|acessodata=14/02/2012}}</ref>
 
==Carreira militar==
Como a maioria dos varões Habsburgo, Francisco FerdinandoFernando entrou para o exército ainda muito jovem. Foi promovido a [[tenente]] aos 14 anos, [[Capitão (militar)|capitão]] aos 22, [[coronel]] aos 27 e [[major-general]] aos 31.<ref name="Rothenburg">Rothenburg, p. 141</ref> Apesar de nunca ter recebido um treinamento militar formal, ele foi considerado apto ao comando e assumiu o 9° Regimento de [[Hussardo]]s.<ref name="Rothenburg2">Rothenburg, p. 120</ref> Em 1898, ele recebeu uma autorização especial do imperador para investigar todos os aspectos dos serviços e agências militares - que receberam ordens para compartilhar seus relatórios com o arquiduque.<ref name="Rothenburg"/>
 
Mesmo quando não estava ocupando um posto de comando, ele exercia influência sobre as forças armadas, através de uma chancelaria militar que produzia e recebia documentos e artigos sobre assuntos militares. Esta era dirigida por Alexander von Brosch Aarenau e chegou a ter uma equipe de dezesseis pessoas.<ref name="Rothenburg"/>
 
Como herdeiro do já idoso imperador, Francisco FerdinandoFernando foi nomeado em 1913 inspetor-geral de todas as forças armadas da Áustria-Hungria (''Generalinspektor der gesamten bewaffneten Macht''), um posto superior ao ocupado anteriormente pelo arquiduque [[Alberto Frederico de Áustria-Teschen|Alberto de Áustria-Teschen]] e incluía o presumido comando em tempos de guerra.<ref>Rothenburg, p. 170</ref>
 
==Casamento==
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| header =
| align = left
| image1 = Maria Anunciata de Bourbon-Duas Sicílias & arquiduque Francisco FerdinandoFernando.jpg
| alt1 =
| caption1 = Francisco FerdinandoFernando nos braços da mãe, a princesa [[Maria Anunciata das Duas Sicílias]]
| image2 = Archduke Franz Ferdinand and Sophie wedding picture 1900.png
| alt2 =
| caption2 =Casamento de Francisco FerdinandoFernando com a condessa Sofia Chotek, em 1900
}}
Em 1894, num baile em [[Praga]], o arquiduque conheceu a condessa [[Sofia, Duquesa de Hohenberg|Sofia Chotek]]. Para desposá-lo, era exigido que a pretendente pertencesse à realeza e, embora tivessem entre seus antepassados membros da linha feminina dos príncipes de [[Baden]], [[Hohenzollern-Hechingen]] e [[Liechtenstein]], os Chotek não satisfaziam esta exigência básica. A condessa também descendia diretamente de Alberto IV, conde de Habsburgo, e de Elisabeth de Habsburgo, irmã de [[Rodolfo I da Germânia]] (ancestral de Francisco FerdinandoFernando). À época em que se conheceram, Sofia era [[dama de companhia]] da princesa [[Isabel de Croÿ (1856–1931)|Isabel de Croÿ]], esposa do arquiduque [[Frederico de Áustria-Teschen]], a quem Francisco FerdinandoFernando passou a visitar com frequência em [[Bratislava|Pressburg]]. Por sua vez, a condessa escrevia ao arquiduque enquanto ele convalescia de uma [[tuberculose]] na ilha de [[Lošinj]] no [[Mar Adriático|Adriático]]. Eles teriam mantido sua relação em segredo por mais de dois anos. A presença constante do príncipe-herdeiro levou seu primo a acreditar que ele estivesse interessado em sua filha mais velha, a arquiduquesa Maria Cristina. Quando Isabel descobriu a ligação de Francisco FerdinandoFernando com sua dama-de-companhia, houve um escândalo familiar.<ref name="Ferdinand">{{citar web|url=http://www.franzferdinand.cz/cz/Zofie-Chotkova/|titulo=''Žofie Marie Josefína Albína Chotek''|obra=František Ferdinand d'Este|lingua=checo|acessodata=17/02/2012|arquivourl=https://web.archive.org/web/20070317234528/http://www.franzferdinand.cz/cz/Zofie-Chotkova/|arquivodata=2007-03-17|urlmorta=yes}}</ref>
 
A paixão do arquiduque por Sofia criou um grande impasse: por um lado, o imperador não autorizava seu casamento com a nobre, por outro, Francisco FerdinandoFernando recusava-se a casar com qualquer outra mulher.<ref name="Ferdinand"/> O papa [[Papa Leão XIII|Leão XIII]], o czar [[Nicolau II da Rússia]], e o kaiser [[Guilherme II da Alemanha]] fizeram representações em seu favor junto a Francisco José I, argumentando que a discordância entre tio e sobrinho estava a minar a estabilidade da monarquia.<ref name="Ferdinand"/>
 
Finalmente, em 1899, o Francisco José autorizou que o casamento se realizasse, mas impôs pesadas condições: a união seria [[casamento morganático|morganática]] e seus descendentes não teriam direito de sucessão ao trono; Sofia não teria direito ao ''status'', títulos, precedências ou privilégios dos quais Francisco FerdinandoFernando gozava; também não poderia aparecer em público ao lado do marido, andar na carruagem imperial ou sentar-se no camarote imperial.<ref name="Brook-Shepherd"/><ref name="Ferdinand"/> Assim, em 28 de junho de 1900, no [[Palácio Imperial de Hofburg]], perante o imperador e todos os arquiduques, ministros e dignitários da corte, o [[cardeal-arcebispo]] de Viena e o [[primaz da Hungria]], Francisco FerdinandoFernando assinou um documento oficial no qual declarava publicamente que Sofia, como sua esposa morganática, jamais ostentaria os títulos de imperatriz, rainha ou arquiduquesa e que seus descendentes jamais receberiam qualquer direito dinástico ou privilégios imperiais em nenhum dos domínios Habsburgo.<ref>Enache, p. 54, 58</ref><ref name="Laws">{{citar web|url=http://www.heraldica.org/topics/royalty/ps1713.htm#1900|titulo=''The Declaration of Archduke Franz Ferdinand (28 June 1900)''|obra=The House Laws of the German Habsburgs|lingua=inglês|acessodata=19/02/2012}}</ref>
 
O casamento foi celebrado em 1 de julho de 1900, em [[Zákupy|Reichstadt]], na [[Reino da Boêmia|Boêmia]]. Francisco José não participou da cerimônia, nem qualquer arquiduque (incluindo os irmãos do noivo). Os únicos membros da família imperial presentes eram sua madrasta, a princesa [[Maria Teresa de Bragança, arquiduquesa da Áustria|Maria Teresa de Bragança]], e suas duas filhas. Após o casamento, Sofia recebeu o título de "Princesa de Hohenberg" (''Fürstin von Hohenberg''), com o tratamento de "Sua Alteza Sereníssima" (''Ihre Durchlaucht'').<ref name="Ferdinand"/> Em 1909, ela recebeu o título superior de "Duquesa de Hohenberg" (''Herzogin von Hohenberg''), com o tratamento de "Sua Alteza" (''Ihre Hoheit''). Embora o último título tenha elevado consideravelmente sua situação na corte, ela ainda tinha que render precedência a todas as arquiduquesas. Sempre que o casal reunia-se a outros membros da realeza, Sofia era preterida em virtude de sua posição e obrigada a ficar separada do marido.<ref name="Brook-Shepherd"/>
 
==Caráter==
O historiador alemão Michael Freund descreveu Francisco FerdinandoFernando como ''homem de energia pouco inspirada, escuro na aparência e nas emoções, que irradiava uma aura de estranheza e lançava uma sombra da violência e negligência(...) a verdadeira personalidade em meio ao vazio amigável que caracterizava a sociedade austríaca neste momento"''.<ref>Freund, p. 901</ref> Suas relações com o imperador Francisco José eram tensas. O criado pessoal do imperador lembrou em suas memórias que ''raios e trovões sempre troavam em suas discussões''<ref>Ketterl, ''op. cit.''</ref> Os comentários e ordens que o herdeiro do trono anotava nas margens dos documentos da Imperial Comissão Central para a Preservação Arquitetônica (da qual era patrono) revelavam o que pode ser descrito como "conservadorismo colérico".<ref>Brückler, ''op. cit.''</ref>
 
==Visão política==
{{Artigo principal|[[Estados Unidos da Grande Áustria]]}}
[[Ficheiro:Greater austria.png|thumb|upright=1.7|[[Estados Unidos da Grande Áustria|Federalização da Áustria-Hungria]], planejada por Francisco FerdinandoFernando: Estados membros com governos separados.]]
Os historiadores divergem sobre as filosofias políticas de Francisco FerdinandoFernando; alguns lhe atribuem uma visão, em geral, liberal sobre as diversas nacionalidades do império, enquanto outros enfatizam a centralização dinástica, o conservadorismo católico e a tendência a entrar em conflito com outros líderes.<ref name="Rothenburg"/> Ele defendia a concessão de maior autonomia aos grupos étnicos existentes no império e a abordagem de suas reivindicações - especialmente os checos na [[Reino da Boêmia|Boêmia]] e os eslavos na [[Reino da Croácia-Eslavônia|Croácia]] e na [[Bósnia (região)|Bósnia]], que haviam ficado de fora do [[compromisso austro-húngaro de 1867]].<ref>Morton, p. 191</ref> No entanto, seus sentimentos para com os húngaros eram menos generosos. Ele considerava o nacionalismo magiar uma ameaça revolucionária para a [[dinastia Habsburgo]] e demonstrou grande irritação quando os oficiais do 9º Regimento de Hussardos (que ele comandou) falaram em húngaro em sua presença - apesar de este ser o idioma oficial do regimento.<ref name="Rothenburg2"/> Também acreditava que o exército húngaro, o [[Forças Armadas da Hungria|''Honvédség'']], era uma força instável e potencialmente ameaçadora para o império, queixando-se do fracasso húngaro em fornecer fundos para o exército conjunto<ref>Rothenburg, p. 147</ref> e opondo-se à formação de unidades de artilharia dentro das forças húngaras.<ref>Rothenburg, p. 133</ref>
 
Francisco FerdinandoFernando defendia uma abordagem cuidadosa em relação à [[Reino da Sérvia|Sérvia]] e confrontava-se repetidamente com [[Franz Conrad von Hötzendorf]], chefe do [[Estado-Maior|estado-maior]], alertando-o que um tratamento duro ao país levaria a Áustria-Hungria a um conflito aberto com o [[Império Russo]], condenando ambos os impérios à ruína.<ref name="politic">{{citar web|url=http://www.btinternet.com/~j.pasteur/FFINDEX.html|titulo=''Franz Ferdinand - The Politician''|lingua=inglês|acessodata=21/02/2012|arquivourl=https://web.archive.org/web/20110514082439/http://www.btinternet.com/~j.pasteur/FFINDEX.html|arquivodata=2011-05-14|urlmorta=yes}}</ref>
 
O arquiduque ficou desapontado quando a Áustria-Hungria não interferiu , como outras grandes potências, na [[Levante dos boxers|Rebelião dos Boxers]] de 1900. Em suas palavras, até mesmo ''"estados anões, como Bélgica e Portugal"''<ref>Rothenburg, p. 136</ref> enviaram tropas para proteger os ocidentais e punir os chineses, mas a Áustria-Hungria nada fez.
 
Francisco FerdinandoFernando era um proeminente e influente defensor da marinha austro-húngara, numa época em que o poderio naval não era uma prioridade na política externa austríaca e a marinha era relativamente pouco conhecida ou apoiada pelo povo.<ref name="navy">{{citar web|url=http://www.btinternet.com/~j.pasteur/FFINDEX.html|titulo=''Franz Ferdinand & the K.u.K Kriegsmarine''|lingua=inglês|acessodata=21/02/2012|arquivourl=https://web.archive.org/web/20110514082439/http://www.btinternet.com/~j.pasteur/FFINDEX.html|arquivodata=2011-05-14|urlmorta=yes}}</ref> Após o seu assassinato, a marinha homenageou o arquiduque e sua esposa realizando seu velório a bordo do couraçado [[SMS Viribus Unitis|SMS ''Viribus Unitis'']].<ref name="Aftermath">{{citar web|url=http://www.btinternet.com/~j.pasteur/FFINDEX.html|titulo=''Franz Ferdinand - Aftermath''|lingua=inglês|acessodata=21/02/2012|arquivourl=https://web.archive.org/web/20110514082439/http://www.btinternet.com/~j.pasteur/FFINDEX.html|arquivodata=2011-05-14|urlmorta=yes}}</ref>
 
==Assassinato==
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| image1 = Archduke Franz with his wife.jpg
| alt1 =
| caption1 = Francisco FerdinandoFernando e Sofia momentos antes do atentado que os matou.
| image2 = Uniform worn by Ferdinand when he was assassinated in Sarajevo.jpg
| alt2 =
| caption2 =Farda do arquiduque, ainda com vestígios de sangue
}}
Em 28 de junho de 1914, um domingo, por volta de 10h45, Francisco FerdinandoFernando e sua esposa foram mortos em [[Sarajevo]], capital da província austro-húngara da [[Bósnia e Herzegovina]], por [[Gavrilo Princip]], à época com apenas 19 anos, membro da [[Jovem Bósnia]] e do grupo terrorista [[Unificação ou Morte|Mão Negra]].<ref name="Johnson">Johnson, p. 52-54</ref> O evento foi um dos fatores que desencadearam a [[Primeira Guerra Mundial]].
 
O casal já havia sido atacado um pouco antes, quando uma granada foi atirada em seu carro. FerdinandoFernando desviou-se do artefato e a granada explodiu atrás deles. Encolerizado, ele teria gritado às autoridades locais: ''"Então vocês recebem seus convidados com bombas?"''<ref name="Beyer">Beyer, p. 146-147</ref> FerdinandoFernando e Sofia insistiram em visitar o hospital onde os feridos no atentado estavam sendo atendidos. Ao saírem de lá, seu motorista perdeu-se no caminho para o palácio onde estavam hospedados e, ao entrar em uma rua secundária, os ocupantes foram avistados por Princip.<ref name="Beyer"/> Quando o motorista fazia uma manobra, o jovem aproximou-se e disparou contra o casal, atingindo Sofia no abdome e Francisco FerdinandoFernando na jugular. O arquiduque ainda estava vivo quando testemunhas chegaram para socorrê-lo,<ref name="Johnson"/> mas expirou pouco depois, dirigindo suas últimas palavras à esposa: ''"Não morra, querida, viva para nossos filhos".''<ref name="Beyer"/> Assessores ainda tentaram abrir sua farda, mas perceberam que teriam que cortá-la com uma tesoura. Sofia morreu a caminho do hospital.<ref>MacDonogh, p. 351</ref> Princip utilizou-se de uma [[7,65x17mm Browning|7.65 x 17 mm Browning]], de potência relativamente baixa,<ref>Johnson, p. 46</ref><ref>Weir, p. 42</ref><ref>Miller, p. 28</ref> e de uma pistola FN Model 1910<ref>Belfield, ''op. cit.''</ref> para cometer os assassinatos.
 
Um relato detalhado do atentado foi descrito por Joachim Remak no livro ''Sarajevo'':<ref>Remak, 137-142</ref>
 
{{Citação2|''Uma bala perfurou o pescoço de Francisco FerdinandoFernando, enquanto a outra perfurou o abdome de Sofia (...) Como o carro estava manobrando (para retornar à residência do governador), um filete de sangue escorreu da boca do arquiduque sobre a face direita do Conde Harrach (que estava no estribo do carro). Harrach usou um lenço para tentar conter o sangue. Vendo isso, a duquesa exclamou: "Pelo amor de Deus, o que aconteceu com você?" e afundou-se no assento, caindo com o rosto entre os joelhos de seu marido.''}}
 
{{Citação2|''Harrach e Potoriek (...) acharam que ela havia desmaiado (...) só o marido parecia ter ideia do que estava acontecendo. Virando-se para a esposa, apesar da bala em seu pescoço, Francisco FerdinandoFernando implorou: ''"Sopherl! Sopherl! Sterbe nicht! Bleibe am Leben für unsere Kinder!"'' (''"Querida Sofia! Não morra! Fique viva para os nossos filhos!!!"''). Dito isto, ele curvou-se para a frente. Seu chapéu de plumas (...) caiu e muitas de suas penas verdes foram encontradas em todo o assoalho do carro. O conde Harrach puxou o colarinho do uniforme do arquiduque para segurá-lo. Ele perguntou: ''"Leiden Eure Kaiserliche Hoheit sehr?"'' (''"Vossa Alteza Imperial está sentindo muita dor?"'') ''"Es ist nichts..."'' (''"Não é nada..."''), disse o arquiduque com voz fraca, mas audível. Ele parecia estar a perder a consciência durante seus últimos minutos mas, com voz crescente embora fraca, repetiu esta frase, talvez, seis ou sete vezes mais.''}}
 
{{Citação2|''Um ronco{{nota de rodapé|''Rattle'', no original em inglês. Refere-se ao "Ronco da Morte" (em inglês: ''Death Rattle''), termo médico para o som muitas vezes emitido durante os chamados estertores da morte.}} começou a brotar de sua garganta, diminuindo quando o carro parou em frente ao ''Konak bersibin'' (Câmara Municipal). Apesar dos esforços médicos, o arquiduque morreu pouco depois de ser levado para dentro do prédio, enquanto sua amada esposa morreu de hemorragia interna antes da comitiva chegar ao Konak.''}}
 
Os assassinatos, juntamente com a [[corrida armamentista]], o [[imperialismo]], o [[nacionalismo]], o [[militarismo]] e o sistema de alianças contribuíram para a [[Causas da Primeira Guerra Mundial|eclosão da Primeira Guerra Mundial]], que começou menos de dois meses após a morte de Francisco FerdinandoFernando, com a [[declaração de guerra]] da Áustria-Hungria à Sérvia.<ref>Johnson, p. 56</ref> O assassinato do arquiduque é considerado a causa mais imediata da Primeira Guerra Mundial.<ref>McCannon, p. 9</ref>
 
===Funerais===
[[Ficheiro:Cortejo fúnebre do Arquiduque Francisco FerdinandoFernando em Sarajevo.jpg|thumb|right|Cortejo fúnebre de Francisco FerdinandoFernando, em [[Sarajevo]].]]
Após o [[embalsamamento]], os corpos de Francisco FerdinandoFernando e de sua esposa permaneceram na ''Konak bersibin'' de Sarajevo até serem embarcados num vagão funerário, na noite de 29 de junho. O arquiduque recebeu honras militares em todas as estações por onde o trem passou, sendo transferido para o SMS ''Viribus Unitis'' na costa do [[mar Adriático|Adriático]]. O navio foi escoltado por outros [[cruzador]]es, [[contratorpedeiro|destróieres]], [[iate]]s civis, [[barco de pesca|barcos de pesca]] e até mesmo por balsas, aportando em [[Trieste]] na noite de 1 de julho, onde os caixões foram transferidos para um trem especial com destino a Viena.<ref name="Aftermath"/>
 
Em virtude de seu casamento morganático com Sofia, Francisco FerdinandoFernando não recebeu em solo austríaco nenhuma das pompas reservadas aos arquiduques mortos nem os privilégios fúnebres reservados aos herdeiros do trono. Alguns historiadores afirmam que os atrasos ocorridos no trajeto a Viena foram deliberadamente ordenados pelo príncipe Alfredo de Montenuovo, [[mordomo-mor|''Obersthofmeister'']] do imperador Francisco José, para que a chegada do féretro à capital ocorresse tarde da noite e, assim, não fosse visto pelo público.{{nota de rodapé|Ao príncipe de Montenuovo são atribuídas todas as humilhações pelas quais a duquesa [[Sofia, Duquesa de Hohenberg|Sofia de Hohenberg]] passou perante a corte de [[Viena]] e a família imperial, em virtude do cumprimento estrito do protocolo reservado à "esposa morganática" de Francisco FerdinandoFernando.}} Com exceção do arquiduque [[Carlos I da Áustria|Carlos]], novo príncipe-herdeiro e futuro Carlos I, nenhum outro membro da família imperial compareceu à estação para recepcionar os caixões de Francisco FerdinandoFernando e Sofia. Aos chefes de estado que manifestaram desejo de comparecer aos funerais, o príncipe de Montenuovo aconselhou gentilmente que enviassem apenas seus representantes diplomáticos para ''"evitar agravar o delicado estado de saúde de Sua Majestade com as exigências do protocolo".''<ref name="Aftermath"/>
 
Às 8 horas da manhã seguinte, as portas da capela do [[Palácio Imperial de Hofburg]] foram abertas para que o povo pudesse prestar homenagens ao arquiduque. Por uma concessão especial do imperador, o caixão de Sofia pôde ser colocado ao lado do caixão do marido. Entretanto, a urna de Francisco FerdinandoFernando, maior e mais ornamentada, foi instalada numa altura 20&nbsp;cm superior à urna da consorte e, enquanto o corpo do ex-herdeiro portava todas as suas condecorações, a espada cerimonial e a coroa arquiducal; o corpo de sua "esposa morganática" portava apenas um par de luvas brancas e um leque negro - símbolos das damas-de-companhia da corte.<ref name="Aftermath"/>
 
Como Sofia não poderia ser sepultada na [[Cripta Imperial de Viena]], Francisco FerdinandoFernando manifestou em vida o desejo de ser sepultado na cripta do Castelo de Artstetten, em [[Klein-Pöchlarn]]. Após apenas quinze minutos de ritos fúnebres, os caixões foram recolhidos e só puderam deixar Viena, em carros funerários da prefeitura, no início da madrugada, sendo embarcados em trem comum, sem honras ou escolta. Finalmente, a 1 hora da manhã de 4 de julho de 1914, os corpos do arquiduque e da duquesa foram sepultados no Castelo de Artstetten.<ref name="Aftermath"/>
 
==Honrarias==
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|boxstyle_4=background-color: #bfc;
|boxstyle_5=background-color: #9fe;
|1= 1. '''Francisco FerdinandoFernando da Áustria-Hungria'''
|2= 2. [[Carlos Luís da Áustria]]
|3= 3. [[Maria Anunciata das Duas Sicílias]]
|4= 4. [[Francisco Carlos da Áustria]]
|5= 5. [[Sofia da Baviera]]
|6= 6. [[FerdinandoFernando II das Duas Sicílias]]
|7= 7. [[Maria Teresa Isabel da Áustria]]
|8= 8. [[Francisco I da Áustria]]
Linha 197:
|16= 16. [[Leopoldo II do Sacro Império Romano-Germânico]]
|17= 17. [[Maria Luísa da Espanha]]
|18= 18. [[FerdinandoFernando I das Duas Sicílias]]
|19= 19. [[Maria Carolina da Áustria]]
|20= 20. Frederico Miguel Zweibrücken-Birkenfeld
Linha 203:
|22= 22. [[Carlos Luís, Príncipe-Herdeiro de Baden]]
|23= 23. [[Amália de Hesse-Darmstadt]]
|24= 24. [[FerdinandoFernando I das Duas Sicílias]] (=18)
|25= 25. [[Maria Carolina da Áustria]] (=19)
|26= 26. [[Carlos IV de Espanha]]
Linha 256:
*[http://www.franzferdinand.cz/cz/Uvod/ ''František Ferdinand d'Este''] (em checo)
*[https://www.webcitation.org/query?url=http://www.btinternet.com/~j.pasteur/FFINDEX.html&date=2010-01-18+17:08:20 ''Franz Ferdinand of Austria-Este''] (em inglês)
*[http://anno.onb.ac.at/cgi-content/anno?apm=0&datum=19140629&zoom=2 Assassinato de Francisco FerdinandoFernando na imprensa austríaca (''Österreichische Nationalbibliothek'')] (em alemão)
*[http://www.bildarchivaustria.at/Pages/Search/Result.aspx?p_ItemID=2 Fotos de Francisco FerdinandoFernando (''Österreichische Nationalbibliothek'')]
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|-
! colspan="3" style="background: #FBEC5D;" |'''[[Casa de Habsburgo-Lorena|Casa de Habsburgo]]'''<br /><small>([[Casa da Áustria-Este|Ramo de Áustria-Este]])</small><br />'''Francisco FerdinandoFernando de Áustria-Este'''<br /><small>Nascimento: [[16 de dezembro]] de [[1863]]; Morte: [[28 de junho]] de [[1914]]</small>
|- style="text-align:center;"
|width="30%" align="center"|Precedido por<br />'''[[Carlos Luís da Áustria]]'''