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== Defesa do ócio ==
A '''defesa do ócio''' enquanto um momento de criação e reflexão, distinto portanto da noção de "não fazer nada", aparece na literatura do ocidente como uma resposta à sociedade industrial que tornou os indivíduos cada vez mais atarefados e presos ao mundo do trabalho<ref>{{Citar web |ultimo=Oliveira |primeiro=Bruno |url=https://medium.com/neworder/sentar-e-n%C3%A3o-fazer-nada-reflex%C3%B5es-para-o-isolamento-a63994c08654 |titulo=Sentar e não fazer nada — reflexões para o isolamento |data=2020-03-29 |acessodata=2020-10-10 |website=Medium |lingua=en}}</ref>. Dentre todos os grandes males da nossa contemporaneidade, com certeza um dos mais irritantes é o super estímulo. Durante a nossa história, evoluímos e fomos nos adaptando a natureza, mas nunca nos preparamos para viver como vivemos hoje — por exemplo, nosso corpo não está preparado para ficar em frente a uma tela luminosa. A luz sempre foi uma fonte estimulante para o ser humano, quando nos colocamos continuamente em frente dela, a ponto de não piscar, isso significa que estamos sendo super estimulados. E todo o mecanismo dentro dela explora e estimula estes estímulos: cada notificação e ''like'' que surge, é uma dose adicional de dopamina, e facilmente nos vicia. Nos deixa ansiosos pela próxima notificação, faz o tempo passar sem que percebamos.

A base da teoria [[Karl Marx|marxista]] desde o seu início era o direito progressivo do trabalhador a apropriação do ócio criativo, fazendo que a sociedade ficasse mais produtiva como um todo.<ref>[http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31732012000100006&lng=en&nrm=iso A emancipação ociosa, ou, o que nos propõe a teoria crítica de Marx?]</ref> Desde o século XIX, quando o jornalista francês [[Paul Lafargue]] <small>(1842-1911)</small> publicou seu notório [[O Direito à Preguiça]], a noção do ócio passou a ser revista e readequada a essa nova sociedade. Subsequentemente ao texto de Lafargue, por exemplo, pode-se citar [[O Elogio ao Ócio]], um ensaio de autoria do filósofo e matemático inglês [[Bertrand Russell]] <small>(1872-1970)</small>, para quem o trabalho não é ou não deveria ser o objetivo da vida de um indivíduo, trazendo o ideal de um mundo em que todos possam se dedicar a atividades agradáveis, usando o tempo livre (ocioso) não apenas para se divertir, mas para ampliar seus conhecimentos e a capacidade de reflexão. Já na segunda metade do século XX, a expressão ócio criativo foi consagrada pelo [[O Ócio Criativo|texto homônimo]] do sociólogo italiano [[Domenico De Masi]] <small>(1938-)</small>, publicado originalmente em 1995. Nele, De Masi analisa a questão do ócio numa [[sociedade pós-industrial]].
 
{{quote2|Desde que o livro do Paul Lafargue e os livros atuais de Domenico De Masi falam de ócio criativo, do direito à preguiça, nós entendemos que imersos numa situação que eu chamarei de "tarefeira", apagando um incêndio aqui e outro ali, nós cada vez mais perdemos a noção deste ócio que faz criar; que é diferente de não fazer nada. (...) O ócio criativo é a capacidade de eu me entregar a uma música, a uma atividade lúdica, a um filme, a uma peça de teatro, uma situação afetiva em família, e dali extrair ideias, pensar e me entregar a uma criação que pressupõe maior estabilidade, inclusive emocional. O ócio criativo é fundamental para eu poder trabalhar. Nós estamos cada vez mais ''workaholics'' ou ''worklovers'', cada vez mais imersos em atividades que exigem nossa atenção imediata, prática, cronológica. Isso nos torna pessoas cada vez menos produtivas. É preciso o ócio criativo no sentido da capacidade de pensar, ter ideias, estabelecer estratégias e dar passos seguintes, o que é diferente de eu viver imerso nesse oceano de ações cotidianas.<ref>Entrevista concedida no dia 09/09/2015 à apresentadora Kátia Biaia, no programa "CRA-RJ Entrevista", no contexto do IX ENCAD.</ref>|autor=[[Leandro Karnal]], historiador brasileiro}}