Crime de honra: diferenças entre revisões
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{{minidesambig|pelo livro homônimo|Crime de Honra (livro)}}
[[Imagem:Gedenktafel Oberlandgarten 1 (Temp) Hatun Sürücü.JPG|miniatura|250px|direita| Placa em memória da curda Hatun Sürücü em Berlim, Alemanha. Ela foi assassinada aos 23 anos por seus irmãos num crime de
Um '''crime de honra''' consiste no assassinato de um membro duma família, por se considerar a sua conduta imoral e nociva para a honra familiar ou para os princípios duma comunidade ou religião. As razões invocadas podem ser a recusa dum casamento forçado, uma relação desaprovada pela família ou comunidade, relações sexuais fora do casamento, ser vítima de violação, vestir-se de modo considerado inapropriado, ter relações homossexuais, procurar um divórcio, cometer adultério ou renunciar a uma fé.<ref>{{citar web|url=https://www.merriam-webster.com/dictionary/honor%20killing|titulo=Definition of honor killing|data=|acessodata=30 de Novembro de 2018|publicado=Merriam-Webster Dictionary|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref>{{citar web|url=https://www.dictionary.com/browse/honor-killing?s=t?s=t|titulo=Honor killing|data=|acessodata=30 de Novembro de 2018|publicado=Dictionary.com|ultimo=|primeiro=}}</ref>
== Definições ==
A organização [[Human Rights Watch]] define crime de honra da seguinte forma:<ref>{{citar web|url=https://www.hrw.org/legacy/press/2001/04/un_oral12_0405.htm|titulo=Item 12 - Integration of the human rights of women and the gender perspective: Violence Against Women and "Honor" Crimes -Human Rights Watch Oral Intervention at the 57th Session of the UN Commission on Human Rights|data=2001|acessodata=|publicado=Human Rights Watch|ultimo=|primeiro=}}</ref>
{{Quote|Crimes de honra são atos de vingança, geralmente morte, cometidos por membros da família do sexo masculino contra membros da família do sexo feminino, que são considerados como tendo trazido desonra para a família. Uma mulher pode ser alvo de (indivíduos dentro de) sua família por uma variedade de razões, incluindo: recusar-se a entrar em um casamento arranjado, ser vítima de agressão sexual, procurar um divórcio — mesmo de um marido abusivo — ou (alegadamente) cometer [[adultério]]. A mera percepção de que uma mulher se comportou de uma maneira que "desonra" sua família é suficiente para desencadear um ataque à sua vida.}}Embora raramente, contudo, os homens também podem ser objecto de crimes de
== Na História ==
[[Matthew A. Goldstein]] observou que as mortes por
A origem dos crimes de
Entre os [[aztecas]] e [[incas]], o adultério era punido com a morte.<ref name=":9" /> Durante o governo de [[João Calvino]] em Genebra, as mulheres consideradas culpadas de adultério eram afogadas no rio Ródano.<ref name=":10" />
Os assassinatos de
Em épocas um pouco mais recentes, ficaram conhecidos os casos de [[Tursunoy Saidazimova]] e [[Nurkhon Yuldasheva]]. Tursunoy S., nascida em 1911 em [[Tashkent]], foi a primeira atriz uzbeque da ex-[[União Soviética|URSS]] a tornar-se conhecida por remover o véu em palco. Foi assassinada pelo marido, pressionado pela família, fanáticos religiosos, em 10 de maio de 1928. Nurkhon Y. nascida em 1913, em [[Marguilã]], foi também uma das primeiras mulheres uzbeques a dançar no palco sem o tradicional véu islâmico e por isso foi assassinada por um irmão em 1929. Uma estátua de Nurkhon existiu em Marguilã, mas, julgada inconveniente, foi retirada após o desmantelamento da URSS em 1991.<ref>{{citar web|url=https://www.ietm.org/en/system/files/publications/theatre_in_central_asia_and_afghanistan.pdf|titulo=An Introduction to Theatre Today in Central Asia and Afghanistan|data=Janeiro de 2006|acessodata=|publicado=IETM|ultimo=Tordjman|primeiro=Simon|pagina=74}}</ref><ref>{{Citar web|titulo=A little boy stands admiring the monumental statue of actress Nurkhon...|url=https://www.gettyimages.pt/detail/fotografia-de-not%C3%ADcias/little-boy-stands-admiring-the-monumental-fotografia-de-not%C3%ADcias/517775498|obra=Getty Images|acessodata=2019-02-04|lingua=pt-pt}}</ref><ref>{{citar livro|título=The Lost Heart of Asia|ultimo=Thubron|primeiro=Colin|editora=Vintage Books|ano=1994|páginas=248|acessodata=}}</ref>
== Características únicas do crime de
Os crimes de
Os assassinatos são por vezes realizados em público, e com crianças assistindo, como um aviso para os outros indivíduos, dentro da comunidade, de possíveis conseqüências de se engajar no que é visto como comportamento ilícito.<ref>{{citar web|url=https://www.washingtonpost.com/news/morning-mix/wp/2014/05/28/in-pakistan-honor-killings-claim-1000-womens-lives-annually-why-is-this-still-happening/|titulo=In Pakistan, 1,000 women die in ‘honor killings’ annually. Why is this happening? (No Paquistão, morrem por ano 1000 mulheres em crimes de
Uma característica importante é a conexão dos crimes de
Algumas mulheres que se envolvem publicamente com outras comunidades ou adotam alguns dos costumes ou a religião de um grupo externo podem ser atacadas. Nos países que recebem imigrantes, alguns destes têm assassinado membros da família que participaram da vida pública, por exemplo, em políticas feministas e de integração.<ref>{{citar web|url=http://www.spiegel.de/international/the-death-of-a-muslim-woman-the-whore-lived-like-a-german-a-344374.html|titulo=The Death of a Muslim Woman "The Whore Lived Like a German" (A morte de uma mulher muçulmana - A puta vivia como uma alemã)|data=2 Março 2005|acessodata=|publicado=Spiegel (edição on line, inglesa)|ultimo=Biehl|primeiro=Jody K.}}</ref>
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Estatísticas precisas são bastante difíceis de obter devido à natureza de tais crimes e ao facto de que muito poucos são relatados ou colectados. Muitos destes assassinatos são apresentados pelas famílias como suicídios ou acidentes, e registados como tal.<ref>{{citar web|url=https://web.archive.org/web/20131202235026/http://www.unicef.org.tr/en/content/detail/74/honour-crimes-and-forced-suicides-2.html|titulo=Honour Crimes and Forced Suicides|data=3 de Dezembro de 2013|acessodata=|publicado=UNICEF|ultimo=|primeiro=}}</ref> O ''United Nations Population Fund'' estima que cerca de 5.000 mulheres são assassinadas dessa maneira a cada ano em todo o mundo, provavelmente uma estimativa baixa. Adicionemos à lista Alemanha, Suécia, outras partes da Europa, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos, e é claro que as mulheres muçulmanas jovens no Ocidente estão se tornando cada vez mais vulneráveis.<ref>{{citar web|url=http://www.sfgate.com/politics/article/Honor-killings-When-the-ancient-and-the-modern-2548311.php|titulo=Honor killings: When the ancient and the modern collide (Crimes de honra: Quando o arcaico e o moderno colidem - em inglês)|data=23 Janeiro de 2008|acessodata=|publicado=SFGate|ultimo=Stillwell|primeiro=Cinnamon}}</ref> Segundo a BBC, ''"grupos de defesa das mulheres, no entanto, suspeitam que mais de 20.000 mulheres são mortas em todo o mundo por ano".<ref>{{citar web|url=https://www.bbc.com/news/world-middle-east-22992365|titulo=Many Jordan teenagers 'support honour killings'|data=20 de Junho de 2013|acessodata=|publicado=BBC|ultimo=Maher|primeiro=Ahmed}}</ref>''
Embora os [[sikhs]] e os [[hindus]] às vezes cometam estes crimes, os assassinos, tanto no mundo como no Ocidente, são principalmente muçulmanos, contra muçulmanos. Em todo o mundo, 91 por cento dos perpetradores eram muçulmanos. Na América do Norte, a maioria dos assassinos (84%) eram muçulmanos, com apenas alguns sikhs e ainda menos hindus perpetrando homicídios de
Um suicídio forçado, ou forjado, pode ser um substituto para um crime de
Os crimes de
Tahira Shahid Khan, uma professora da Universidade de Aga Khan, no Paquistão, escreveu no livro "Chained to Custom" (Acorrentadas aos Costumes), uma revisão dos crimes de
== Causas ==
=== Misoginia ===
Os crimes de
O conceito de
A sociedade indiana, em geral, não é menos misógena do que, por exemplo, a paquistanesa. Rapazes são preferidos; as meninas são vistas como um fardo. Os abortos selectivos são em grande quantidade; o referendo de 2011 encontrou o número de 914 meninas para cada 1000 rapazes entre as crianças até aos seis anos de idade. Além dos crimes de
=== Tradição e Religião ===
Linha 54:
Os crimes de honra são actualmente praticados na maioria por muçulmanos, e também em menor grau por [[sikhs]] e por [[Hinduísmo|hindus]], embora neste último grupo a motivação seja quase sempre questões de casta. O sistema de castas está oficialmente abolido na Índia pelo art. 15 da sua Constituição, todavia, o preconceito de casta atravessa ainda toda a sociedade indiana, mais acentuado nas regiões rurais; casar fora da casta é desaprovado.<ref>{{citar web|url=https://www.theguardian.com/commentisfree/belief/2009/dec/29/india-caste-hinduism|titulo=India's silent prejudice (O preconceito silencioso da India - em línhgua inglesa)|data=29 de Dezembro de 2009|acessodata=|publicado=The Guardian|ultimo=Ramnarayan|primeiro=Abhinav}}</ref>
A prática dos crimes de
A muçulmana [[Riffat Hassan]], professora aposentada da Universidade de Louisville e especialista no Alcorão, comenta: ''"A cultura muçulmana reduziu muitas mulheres, se não a maioria, à posição de marionetes, a criaturas semelhantes a escravas cujo único propósito na vida é atender às necessidades e prazeres dos homens ".''<ref>{{citar web|url=https://www.phoenixnewtimes.com/news/how-a-muslim-woman-was-honor-killed-by-her-father-because-he-believed-she-was-too-americanized-6445842|titulo=How a Muslim Woman Was "Honor-Killed" by Her Father Because He Believed She Was Too Americanized|data=1 de Abril de 2010|acessodata=|publicado=Phoenix News Times|ultimo=Rubin|primeiro=Paul}}</ref> Ela assinala que as crianças do sexo feminino são discriminadas desde o momento do nascimento, pois é costume nas sociedades muçulmanas considerar um filho como um presente e uma filha como uma provação vinda de Deus. Desta forma, o nascimento de um filho é uma ocasião para celebração, enquanto o nascimento de uma filha pede comiseração, se não lamentação.<ref>{{citar web|url=http://www.religiousconsultation.org/hassan2.htm#six|titulo=Are Human Rights Compatible with Islam? - The Issue of the Rights of Women in Muslim Communities|data=|acessodata=2 de Janeiro de 2019|publicado=The Religious Consultation|ultimo=Hassan|primeiro=Riffat}}</ref>
=== Leis ===
Quadros legais podem encorajar mortes por
Na maioria dos países onde as mortes por
Tomando como exemplo o Paquistão, o membro de uma família podia cometer o assassinato e de seguida, de acordo com a lei, ser perdoado pelos guardiões da vítima, geralmente cúmplices do crime. A questão não costuma chegar sequer aos tribunais, e a vítima é esquecida como se nunca tivesse existido.<ref name=":1">{{citar livro|título=Honor Killings in the Twenty-first Century|ultimo=Pope|primeiro=Nicole|editora=Palgrave MacMillan|ano=2012|páginas=167, 176|acessodata=}}</ref>
Linha 67:
Na Jordânia, o Artigo 340 do Código Penal estabelece que ''“quem descobre sua mulher ou um de seus parentes cometendo adultério com outro, e mata, ou fere um ou ambos, está isento de qualquer pena.'' <ref name=":1" />
No Bangladesh, a 27 de Fevereiro de 2017 foi aprovada uma nova legislação que permite que raparigas menores se casem — nomeadamente com os violadores - se se tratar de ''“um caso especial”'' e se os pais considerarem que o casamento é do ''“melhor interesse”'' para a menina. O Governo defende esta medida como medida de proteção da
== Casos e Vítimas ==
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=== Bélgica ===
O assassinato de [[Sadia Sheikh]] ocorreu em 22 de outubro de 2007, em [[Charleroi]], quando a belga de 20 anos de idade, de origem paquistanesa, foi morta a tiros por um seu irmão. Sadia S. havia deixado a casa da família depois de seus pais a terem pressionaram para casar com um primo que ela nunca conhecera. Seu irmão confessou o assassinato em um julgamento de 2011, alegando que havia agido sozinho. O caso foi chamado o primeiro julgamento de crime de
O tribunal belga considerou os pais culpados de orquestrar o assassinato e de ordenar a seu filho que o levasse a cabo. O pai foi condenado a 25 anos de prisão, a mãe a 20 anos, e o irmão a 15 anos; uma irmã foi também condenada a 5 anos de prisão por causa de seu envolvimento no assassinato premeditado de Sadia S.<ref>{{Citar web|titulo=Sadia Sheikh | Memini|url=http://memini.co/memini/tag/sadia-sheikh/|obra=memini.co|acessodata=2019-02-05}}</ref><ref>{{Citar web|titulo=Belgique: un crime d'honneur jugé|url=http://www.lefigaro.fr/flash-actu/2011/12/09/97001-20111209FILWWW00548-belgique-un-crime-d-honneur-juge.php|obra=FIGARO|data=2011-12-09|acessodata=2019-02-05}}</ref>
Linha 107:
=== Dinamarca ===
Em 23 de Setembro de 2005, [[Ghazala Khan]], de dezoito anos de idade, dinamarquesa de ascendência paquistanesa, foi morta a tiro na Dinamarca por seu irmão depois de se ter casado contra a vontade da família. O assassinato de Ghazala foi ordenado por seu pai para salvar a
=== EUA ===
Linha 121:
=== Holanda ===
Foi a activista Hirsi Ali que na Holanda, como parlamentar, levantou a questão dos crimes de
Em Outubro de 2003, deu-se um dos casos mais conhecidos, o de Zarife, de 18 anos e origem turca. Levada pelos pais para Ankara, a pretexto de férias, foi morta, segundo Hirsi Ali, por conviver com raparigas holandesas e abandonar o hijab.<ref>{{citar web|url=https://womensenews.org/2005/01/hirsi-ali-leaves-hiding-spotlight-honor-killings/|titulo=Hirsi Ali Leaves Hiding to Spotlight Honor Killings|data=23 de Janeiro de 2005|acessodata=|publicado=Women´s eNews|ultimo=Esman|primeiro=Abigail R}}</ref>
Linha 140:
Em 2006, Hina Saleem, de 20 anos, uma paquistanesa que morava em [[Bréscia|Brescia]], na Itália, foi morta por seu pai, que alegou estar ''"a salvar a honra da família"''. Ela recusara um casamento arranjado e morava com um namorado italiano. Hina S. foi morta com vinte e oito facadas na garganta e enterrada no jardim da casa com a ajuda de familiares.
Souad Sbai, fundadora da Associação de Mulheres Marroquinas na Itália, comentaː ''"Casos de 'crimes de
Na própria Itália, contudo, uma lei que oferecia a possibilidade de clemência em casos de crimes de
=== Jordânia ===
Linha 148:
=== Paquistão ===
A maioria dos crimes de
Os pais de Samia e o indivíduo que ainda era seu marido perdoaram o assassino, e o caso ficou por aqui. Nadir Mirza foi expulso do exército por "baixa moral" .As duas advogadas foram ameaçadas de morte por fanáticos religiosos, principalmente o grupo [[Jamiat-e-Ulema-e-Islam]], por alguns membros da Câmara de Comércio de Peshawar e pelo pai da vítima e seus apoiantes. Muitos paquistaneses estavam furiosos - houve violentas manifestações contra as advogadas.<ref>{{Citar web|titulo=Robert Fisk: Relatives with blood on their hands|url=http://www.independent.co.uk/voices/commentators/fisk/robert-fisk-relatives-with-blood-on-their-hands-2073142.html|obra=The Independent|data=2010-09-08|acessodata=2019-02-17|lingua=en}}</ref><ref>{{citar web|url=https://web.archive.org/web/20100329054735/http://www.jazbah.org/asmaj.php|titulo=Asma Jahangir|data=29 de Março de 2010|acessodata=|publicado=Jazbah Magazine (Arq. em WayBack Machine)|ultimo=Kazmi|primeiro=Laila}}</ref><ref>{{citar web|url=https://web.archive.org/web/20081203171739/http://www.newint.org/issue363/view.htm|titulo=When culture kills|data=Dezembro de 2003|acessodata=|publicado=New Internationalist (Arq. em WayBack Machine)|ultimo=Butalia|primeiro=Urvashi}}</ref><ref>{{Citar web|titulo=UN Executions Envoy Threatened With Death|url=https://www.hrw.org/news/1999/04/13/un-executions-envoy-threatened-death|obra=Human Rights Watch|data=1999-04-13|acessodata=2019-02-17|lingua=en|primeiro=Human Rights Watch | 350 Fifth|ultimo=Avenue|primeiro2=34th Floor | New|ultimo2=York|primeiro3=NY 10118-3299 USA ||ultimo3=t 1.212.290.4700}}</ref><ref>{{citar livro|título=A family conspiracy: Honor Killing" - 2018, New English Review Press|ultimo=Phyllis|primeiro=Chesler|editora=New English Review Press|ano=2018|páginas=300|acessodata=}}</ref>[[Imagem:Mukhtaran Mai2005.jpg|miniatura|200px|direita|Mukhtaran Bibi cerca de 2005]] Em Junho de 2002, [[Mukhtaran Bibi]] (ou Mukhtar Mai) no sul do Paquistão, sofreu uma violação de grupo ordenada por um conselho tribal, e foi depois obrigada a passear nua diante de uma multidão de 300 pessoas. Ela não cometeu suicídio, como é esperado nos incidentes de violação em grupo no Paquistão, mas tentou buscar justiça, com a ajuda dum líder islâmico local. Após quase uma década, cinco dos seis acusados de estupro foram absolvidos, enquanto o sexto foi sentenciado a prisão perpétua, mais tarde suspensa. Com a indemnização que recebeu depois do julgamento, Mukhtaran decidiu usar o dinheiro em prol da sua comunidade. Semanas após o julgamento, já estava a trabalhar no projecto de construção de duas escolas, uma para meninos e outra para meninas que, tradicionalmente, são impedidas de estudar.<ref>{{citar web|url=https://web.archive.org/web/20130820214857/http://www.nytimes.com/2005/06/14/opinion/14kristof.html?_r=0|titulo=Raped, Kidnapped and Silenced|data=14 de Junho de 2005|acessodata=|publicado=The New York Times (Arq. em WayBack Machine)|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref>{{citar web|url=https://activa.sapo.pt/estilo-de-vida/2007-04-30-Mukhtaran-Bibi-transformou-a-dor-em-esperanca|titulo=Mukhtaran Bibi transformou a dor em esperança|data=1 de Maio de 2007|acessodata=|publicado=Activa|ultimo=Correia|primeiro=Cristina}}</ref> Ela continua a enfrentar discriminação generalizada no Paquistão e tem sido objeto de prisão domiciliar, detenção ilegal e assédio por parte do governo e de agentes da lei, sendo acusada de dar má imagem do país.<ref>{{citar web|url=https://www.huffingtonpost.com/human-rights-first/mukhtar-mai-pakistani-wom_b_219553.html|titulo=Women’s Rights in Pakistan: Descending into Darkness|data=25 de Julho de 2009|acessodata=|publicado=Huffington Post|ultimo=Human Rights First|primeiro=}}</ref>
Linha 154:
Em Julho de 2008, em Baba Kot, no Paquistão, três mulheres, que tinham desejado escolher os maridos, foram enterradas ainda vivas, após um julgamento sumário por uma [[jirga]] tribal. Duas familiares que teriam tentado defendê-las foram mortas também.<ref>{{citar web|url=https://www.lemonde.fr/asie-pacifique/article/2008/09/25/pakistan-un-crime-au-nom-de-la-tradition_1099397_3216.html|titulo=Pakistan : un crime au nom de la tradition -Victimes d'un "crime d'honneur", cinq femmes ont été ensevelies vivantes dans une fosse commune, dans la province pakistanaise du Baloutchistan. Un acte qui soulève les consciences.|data=25 de Setembro de 2008|acessodata=|publicado=Le Monde|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref>{{citar web|url=https://www.nytimes.com/2008/09/02/world/asia/02iht-pstan.4.15840349.html|titulo=Pakistan investigates case of 5 killed over 'honor'|data=2 de Setembro de 2008|acessodata=|publicado=The New York Times|ultimo=Masood|primeiro=Salman}}</ref>
Cerca de Junho de 2014, em [[Gujranwala]], [[Saba Qaiser]], uma paquistanesa de dezanove anos,foi a rara sobrevivente de um crime de
A polícia prendeu o pai de Saba, Maqsood, e o tio, Muhammad, e a defesa deles foi que eles fizeram a coisa certa.''"Ela tirou-nos a nossa honra"'', disse Maqsood. Finalmente, e após enormes pressões da comunidade, Saba perdoou aos seus agressores. As leis paquistanesas em vigor permitem que os assassinos, após serem perdoados pela vítima ou pela sua família, saiam em liberdade. Saba continua a recear pela sua vida.<ref>{{citar web|url=https://www.samaa.tv/news/2017/03/pakistani-woman-fears-for-life-after-surviving-honour-killing/|titulo=Pakistani woman fears for life after surviving honour killing|data=3 de Março de 2017|acessodata=|publicado=Samaa|ultimo=|primeiro=}}</ref>
Linha 160:
Este caso foi o tema dum famoso documentário, " ''[[A Girl in the River: The Price of Forgiveness]]"'' ''(Uma Garota no Rio: O Preço do Perdão),'' da cineasta [[Sharmeen Obaid-Chinoy]], a qual já tinha realizado também "[[Saving Face (curta-metragem)|Saving Face]]" acerca dos ataques com ácidos sobre mulheres no Paquistão. Ela foi acusada por muitos paquistaneses de denegrir o Paquistão, no que ela chama de "matar o mensageiro".<ref>{{citar web|url=https://www.theguardian.com/film/2016/feb/14/sharmeen-obaid-chinoy-interview-saba-qaiser-honour-killing-documentary-girl-river-oscar-nomination|titulo=Interview: The case of Saba Qaiser and the film-maker determined to put an end to 'honour' killings|data=14 de Fevereiro de 2016|acessodata=|publicado=The Guardian|ultimo=Clark|primeiro=Alex}}</ref>
Em 15 de julho de 2016, em [[Multan]], Paquistão, a modelo [[Qandeel Baloch]] foi asfixiada enquanto dormia em Multan. Seu irmão, Muhammad Waseem, viciado em drogas, confessou o crime, dizendo que ela estava a atingir a
Um dos principais jornais do Paquistão, [[Dawn (jornal)|Dawn]], escreveuː ''"O assassinato dela ... deve servir como um incentivo para os legisladores renovarem as exigências de legislação para proteger as mulheres que estão ameaçadas sob falsas noções de
O primeiro-ministro Nawaz Sharif prometeu aprovar uma legislação de proteção às mulheres. Em Outubro de 2016, foi aprovada uma lei que não permite aos assassinos serem perdoados pela família da vítima para evitar a prisão. Agora, o perdão apenas poupará a pena de morte. As novas leis tiveram a oposição de grupos religiosos poderosos. O Conselho de Ideologia Islâmica (CII), que aconselha os legisladores sobre a compatibilidade das legislações com o Islã, considerou a nova lei "não islâmica". Farid Paracha, líder do partido fundamentalista [[Jamaat-e-Islami Pakistan]] em Lahore, também culpou Baloch pela sua própria morte.<ref>{{citar web|url=https://www.dw.com/en/pakistani-model-qandeel-baloch-patriarchys-latest-victim/a-19407324|titulo=Pakistani model Qandeel Baloch - Patriarchy's latest victim|data=18 de Julho de 2016|acessodata=|publicado=DW|ultimo=Shams|primeiro=Shamil (e outro)}}</ref><ref name=":7">{{citar web|url=https://www.bbc.com/news/world-asia-37578111|titulo='Honour killings': Pakistan closes loophole allowing killers to go free|data=6 de Outubro de 2016|acessodata=|publicado=BBC News|ultimo=|primeiro=}}</ref>
Linha 175:
Mesmo após o desfecho deste caso no Reino Unido, Sarbjit Athwal, que escreveu um livro sobre o crime, ''"Shamed"'', sofreu ameaças de morte.<ref>{{citar web|url=https://www.theguardian.com/uk/2007/jul/27/ukcrime.uknews4|titulo=Woman arranged 'honour killing' of daughter-in-law during trip to India|data=27 de Julho de 2007|acessodata=|publicado=The Guardian|ultimo=McVeigh|primeiro=Karen}}</ref><ref>{{citar web|url=https://www.theguardian.com/uk/2007/sep/20/ukcrime.prisonsandprobation|titulo=Woman, 70, and her son get life for 'honour killing' of daughter-in-law|data=20 de Setembro de 2007|acessodata=|publicado=The Guardian|ultimo=McVeigh|primeiro=Karen}}</ref><ref>{{citar web|url=https://www.goodreads.com/book/show/16127267-shamed|titulo=Shamed: The Honour Killing That Shocked Britain – by the Sister Who Fought for Justice|data=|acessodata=22 de Dezembro de 2018|publicado=GoodReads|ultimo=|primeiro=}}</ref>
Em 7 de Janeiro de 1999, em Londres, [[Tulay Goren]], 15 anos, de origem turca, e duma família xiita, foi drogada, torturada e morta pelo próprio pai por causa da sua relação com um homem sunita. O corpo nunca foi encontrado. O caso só chegou à justiça graças ao testemunho condenatório da mãe e da irmã de Tulay, que receiam pela sua vidaː ''"Esta gente nunca esquece".'' Tal tipo de crimes aumenta constantemente, segundo os dados da polícia britânica. Diana Nammi, diretora da ''Iranian and Kurdish Women Rights Organization'', descreveu os números oficiais como "a ponta do iceberg" e sugeriu que há mais de 500 crimes de
Em 11 de Setembro de 2003, [[Shafilea Ahmed]], de 17 anos de idade, britânica de ascendência paquistanesa, foi morta em [[Warrington (Cheshire)|Warrington]], Cheshire, pelo próprio pai, que lhe forçou um saco de plástico pela garganta até a sufocar, com a cumplicidade da mãe e na presença dos quatro irmãos da vítima. O motivo, entre outros, como a "ocidentalização" foi a recusa dum casamento forçado com um paquistanês.
Linha 184:
=== Suécia ===
Em 24 de junho de 1999, [[Pela Atroshi]], de 19 anos de idade, foi assassinada por seus tios. Ela foi morta a tiros na frente da sua irmã por não queria seguir as tradições e normas de sua família. O assassínio, que envolveu um mínimo de onze pessoas, foi o primeiro crime de
Embora o assassinato tenha ocorrido no Curdistão iraquiano, dois tios, Rezkar e Dakhaz Atroshi, foram condenados à prisão perpétua na Suécia. Contudo, as penas acabaram por ser reduzidas para 24 e 25 anos, e finalmente apenas dois terços das sentenças foram cumpridas.
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A irmã e a mãe de Pela, que testemunharam durante o julgamento, vivem hoje sob identidades protegidas, ameaçadas pela família.<ref>{{citar web|url=https://www.news.com.au/national/australian-links-to-brutal-honour-killing/news-story/d6d6806acb97891aa8d1434a551a4608|titulo=Australian links in honour killing of Pela Atroshi -Pela Atroshi was begging for her life when her uncle, acting on behalf of male relatives, shot her dead to cleanse the family's honour.|data=18 de março de 2009|acessodata=|publicado=News.com.au|ultimo=Powell|primeiro=Sian}}</ref><ref>{{citar web|url=http://memini.co/memini/pela-atroshi/|titulo=Pela Atroshi|data=|acessodata=28 de Dezembro de 2018|publicado=Memini|ultimo=|primeiro=}}</ref>
Em Janeiro de 2002, [[Fadime Sahindal]], uma jovem curda de 26 anos, quando visitava em segredo a sua mãe e irmãs em Uppsala, foi surpreendida pela chegada de seu pai, que a matou á queima-roupa com dois tiros na cabeça. O seu namorado, o sueco Patrik Lindisjo, por ela escolhido, ao invés de um casamento arranjado, já tinha morrido em Junho de 1998, num acidente de automóvel, considerado suspeito e que por duas vezes foi investigado, sem contudo se ter chegado a qualquer conclusão.<ref>{{citar livro|título=In Honor of Fadime: Murder and Shame|ultimo=Wikan|primeiro=Unni|editora=The University of Chicago Press|ano=2008|páginas=139-141, 215|acessodata=}}</ref> Poucos meses antes de ser morta, Fadime fizera um discurso no parlamento sueco para sensibilizar os parlamentares sobre o problema da violência e crimes relacionados com a
Após o assassinato seu pai foi preso e condenado à prisão perpétua. Mas em 2015, a pena foi reduzida para 24 anos; por fim, após cumprir apenas 16 anos, foi libertado e continua a viver algures na Suécia.<ref>{{citar web|url=https://unt.se/nyheter/uppsala/fadimes-pappa-har-slappts-fri-5062720.aspx|titulo=Fadimes pappa har släppts fri (em sueco: "o pai de Fadime foi libertado")|data=29 de Agosto de 2018|acessodata=|publicado=Upsala Nya Tidning|ultimo=Bill|primeiro=Anna}}</ref>
Um número crescente de quedas de varandas de mulheres de origem imigrante na Suécia faz a polícia suspeitar de crimes de
=== Territórios Palestinianos (Faixa de Gaza e Cisjordânia) ===
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Em 22 de Agosto de 2019, na cidade palestiniana de [[Belém (Palestina)|Belém]], [[Israa Ghrayeb]], uma jovem de 21 anos, morreu no hospital depois de ter sido espancada duas semanas antes e ter "caído" da varanda do segundo andar da casa familiar, após ter publicado na Internet uma ''selfie'' com seu futuro noivo. A família disse que ela saltara da varanda por ter sido "possuída por demónios" . Já no hospital, onde se encontrava a ser tratada, com lesões graves na coluna, foi espancada de novo, por familiares, até à morte.<ref>{{Citar web|titulo=Palestinian 'honor killing' sparks outrage, calls for women's protection {{!}} DW {{!}} 02.09.2019|url=https://www.dw.com/en/palestinian-honor-killing-sparks-outrage-calls-for-womens-protection/a-50265088|obra=DW.COM|acessodata=2019-09-08|lingua=en-GB|primeiro=Deutsche|ultimo=Welle (www.dw.com)}}<br /></ref><ref>{{Citar web|titulo=#WeAreIsraa: Outrage as Palestinian woman 'tortured to death' in honour killing|url=https://www.alaraby.co.uk/english/news/2019/8/31/man-tortures-palestinian-sister-to-death-in-honour-killing|obra=alaraby|acessodata=2019-09-08|lingua=en|primeiro=Diana|ultimo=Alghoul}}</ref><ref>{{citar web|url=https://www.independent.co.uk/news/world/middle-east/israa-ghrayeb-palestine-honour-killing-protest-beit-sahour-a9089976.html|titulo=Suspected honour killing of 21-year-old woman sparks Palestinian protests - 'Israa was murdered by members of her family after she posted a selfie video of an outing with her fiance,' says campaign group|data=3 de Setembro de 2019|publicado=The Independent|ultimo=Oppenheim|primeiro=Maya}}</ref>
Segundo o Ministério Palestiniano dos Assuntos Femininos, vinte meninas e mulheres foram assassinadas em crimes de
O Ministério diz que dezenas de outros assassinatos são encobertos a cada ano. "Tivemos uma mulher de 26 anos que foi certificada como morrendo de velhice", disse Maha Abu Dayyeh Shamas, diretora do Centro de Mulheres para Assistência Jurídica e Aconselhamento. "Colocar 'queda em poço' no atestado de óbito é muito comum. Descobrimos que as mulheres foram estranguladas e depois atiradas ao poço."<ref name=":4" /><ref name=":5" />
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