Portugalidade: diferenças entre revisões

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== Contexto histórico-político ==
 
Uma proposta de ideário para a portugalidade foi então feita em 1969 por António Ferronha, que escreveu aquele que se pode considerar como o livro-âncora sobre o assunto, já que se tratava de um manual de um curso para futuros formadores de “portugalidade”, ministrado em Angola pelo autor, a angolanos, transmitindo-lhes as noções básicas de “portugalidade”, consubstanciando a propaganda do regime. Associava a “portugalidade” às ex-colónias/províncias portuguesas, reportando-se aos Descobrimentos, num claro alinhamento ideológico à política então vigente do [[Estado Novo (Portugal)|Estado Novo]]. Daí que fale na portugalidade enquanto “consciência da [[Luso/Tropicalidade]]”<ref name=":10">{{Citar web |ultimo=António|primeiro= Ferronha |titulo= Ideário de Portugalidade. Consciência da Luso/Tropicalidade |lingua=pt-PT}}</ref> e que valida a teoria de Vítor de Sousa<ref name=":2">{{Citar web |ultimo=Vítor |primeiro=Sousa|url=http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/cecs_ebooks/issue/view/229 |titulo= Da ‘portugalidade à lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref>. Para este autor, que viu premiada esta tese, em 2016, com o Prémio [[Mário Quartim Graça]] pela [[Casa da Améria Latina]] em Ciências Sociais e Humanas, "a 'portugalidade' está sempre, em sentido semiótico, a reativar o luso-tropicalismo e não ajuda a esbater os constrangimentos na relação de Portugal com o 'outro' da colonização", o que acontece "mesmo que se tente retirar a 'portugalidade' da esfera nacionalista em que foi cunhada<ref name=":2">{{Citar web |ultimo=Vítor |primeiro=Sousa|url=http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/cecs_ebooks/issue/view/229 |titulo= Da ‘portugalidade à lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref> <ref name=":13">{{Citar web |ultimo=Vítor |primeiro=Sousa|url= https://www.rchunitau.com.br/index.php/rch/article/view/744/395?fbclid=IwAR0yh8CVn9t0jWOLd0s7yMHkk0NWvi2eGB8ofIqtzW0wAaZ23WA0C2f69Qo |titulo= As marcas do luso-tropicalismo nas intervenções do Presidente da República português (2016-2021) |lingua=pt-PT}}</ref>. Na recensão que foi feita ao livro de Vítor de Sousa (Da 'portugalidade' à lusofonia) na Revista [[JN História]], assinala-se que “a herança da ‘portugalidade’ é, assim, como que uma espécie de interculturalidade ao contrário, decorrente da tentativa de o Estado Novo com ela pretender desenvolver uma homogeneidade artificial portuguesa dominante”. Ideias como esta, que, por exemplo, já tinham sido de algum modo intuídas por Eduardo Lourenço, ganham aqui o que lhes faltava – a solidez da sistematização e o rigor conceptual – e constituem, graças ao esforço de Vítor de Sousa, ferramenta essencial para enfrentar um tempo em que o espetro do nacionalismo populista paira sobre nós, apoiado em falsos sonhos de grandeza que muitos entendem ser factuais<ref name=":14">{{Citar web |ultimo=Pedro Olavo|primeiro=Simões|url= https://www.academia.edu/35996780/_Portugalidade_-_a_inimiga_persistente_da_lusofonia?fbclid=IwAR39IQspR96uS0FeQc3dU9-Qzhw_5KJTApSTKMiROFlOV_odB0WqALmk2p0 |titulo= “Portugalidade” – a inimiga persistente da lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref>. Segundo a tese do autor, como se pode ler no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, “estamos perante uma obra de grande densidade e dimensão que pretende de certa forma desconstruir determinadas epistemologias e genealogias eurocêntricas (…), em que a análise histórico-cultural, particularmente de ex-impérios, se reorganiza com alicerces diferentes dos tradicionais, de antagonismos lineares e duais, que intentam perpetuar a supremacia de uma estrutura cultural e histórica no quadro pós-colonial”<ref name=":15">{{Citar web |ultimo= Língua portuguesa |primeiro= Ciberdúvidas|url= https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/atualidades/montra/livros/da-portugalidade-a-lusofonia/215|titulo= Da Portugalidade à Lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref>.
É em 1947 que, pela primeira vez, é cunhada a palavra “portugalidade”, pela mão de [[Alfredo Pimenta]], no opúsculo “Em Defesa da Portugalidade”<ref name=":2">{{Citar web |ultimo=Vítor |primeiro=Sousa|url=http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/cecs_ebooks/issue/view/229 |titulo= Da ‘portugalidade à lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref><ref name=":11">{{Citar web |ultimo=Alfredo|primeiro=Pimenta |titulo= Em defesa da Portugalidade |lingua=pt-PT}}</ref>. Foi dessa forma que esta “expressão-fetiche de longa duração”, é introduzida no debate sobre a identidade nacional. A partir de 1951, com a revisão da Constituição Portuguesa de 1933 e a consequente revogação do Ato Colonial, a “portugalidade” começa a ser utilizada nos discursos dos deputados da [[Assembleia Nacional]], para caraterizar a essência do que é ser português, em contraciclo com o que se passava no mundo, no pós-II Grande Guerra, em que emergia, então uma nova ordem, seguindo em direção a dinâmicas anticolonialistas. A estratégia portuguesa ia no sentido de combater os movimentos independentistas que emergiam nas antigas colónias, defendendo a pertença desses territórios a Portugal, por via do seu “destino histórico”<ref name=":12">{{Citar web |ultimo=Jorge Borges|primeiro=Macedo |titulo= Portugal: um destino histórico |lingua=pt-PT}}</ref>. Esse facto seria sublinhado no discurso político da “portugalidade”, com a assunção de Portugal como um país uno e indivisível, consubstanciado no discurso do Estado Novo através do slogan [[Portugal]] do [[Minho (província)|Minho]] a [[Timor-Leste|Timor.]] O assumido ‘império’ prolongar-se-ia por mais três décadas, apenas tendo cessado com a [[Revolução de 25 de Abril de 1974|Revolução do 25 de Abril]].
 
No entender de Vítor de Sousa, "a 'portugalidade' está sempre a reativar o luso-tropicalismo e não ajuda a esbater os constrangimentos na relação de Portugal com o 'outro' da colonização", o que acontece "mesmo que se tente retirar a 'portugalidade' da esfera nacionalista em que foi cunhada<ref name=":2">{{Citar web |ultimo=Vítor |primeiro=Sousa|url=http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/cecs_ebooks/issue/view/229 |titulo= Da ‘portugalidade à lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref> <ref name=":13">{{Citar web |ultimo=Vítor |primeiro=Sousa|url= https://www.rchunitau.com.br/index.php/rch/article/view/744/395?fbclid=IwAR0yh8CVn9t0jWOLd0s7yMHkk0NWvi2eGB8ofIqtzW0wAaZ23WA0C2f69Qo |titulo= As marcas do luso-tropicalismo nas intervenções do Presidente da República português (2016-2021) |lingua=pt-PT}}</ref>. Na recensão que foi feita ao livro de Vítor de Sousa (Da 'portugalidade' à lusofonia) na Revista [[JN História]], assinala-se que “a herança da ‘portugalidade’ é, assim, como que uma espécie de interculturalidade ao contrário, decorrente da tentativa de o Estado Novo com ela pretender desenvolver uma homogeneidade artificial portuguesa dominante”. Ideias como esta, que, por exemplo, já tinham sido de algum modo intuídas por Eduardo Lourenço, ganham aqui o que lhes faltava – a solidez da sistematização e o rigor conceptual – e constituem, graças ao esforço de Vítor de Sousa, ferramenta essencial para enfrentar um tempo em que o espetro do nacionalismo populista paira sobre nós, apoiado em falsos sonhos de grandeza que muitos entendem ser factuais<ref name=":14">{{Citar web |ultimo=Pedro Olavo|primeiro=Simões|url= https://www.academia.edu/35996780/_Portugalidade_-_a_inimiga_persistente_da_lusofonia?fbclid=IwAR39IQspR96uS0FeQc3dU9-Qzhw_5KJTApSTKMiROFlOV_odB0WqALmk2p0 |titulo= “Portugalidade” – a inimiga persistente da lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref>. Segundo a tese do autor, como se pode ler no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, “estamos perante uma obra de grande densidade e dimensão que pretende de certa forma desconstruir determinadas epistemologias e genealogias eurocêntricas (…), em que a análise histórico-cultural, particularmente de ex-impérios, se reorganiza com alicerces diferentes dos tradicionais, de antagonismos lineares e duais, que intentam perpetuar a supremacia de uma estrutura cultural e histórica no quadro pós-colonial”<ref name=":15">{{Citar web |ultimo= Língua portuguesa |primeiro= Ciberdúvidas|url= https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/atualidades/montra/livros/da-portugalidade-a-lusofonia/215|titulo= Da Portugalidade à Lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref>.
 
“Portugalidade” – e o autor usa sempre aspas, quase como que vincando tratar-se de algo que não existe – acaba por ser hoje, “mesmo que se tente retirar a ‘portugalidade’ da esfera nacionalista em que foi cunhada”, uma forma de perpetuar outros conceitos falaciosos e datados, com o lusotropicalismo à cabeça, constituindo um entrave à normalização do relacionamento entre o ex-colonizador e os ex-colonizados<ref name=":13">{{Citar web |ultimo=Vítor |primeiro=Sousa|url= https://www.rchunitau.com.br/index.php/rch/article/view/744/395?fbclid=IwAR0yh8CVn9t0jWOLd0s7yMHkk0NWvi2eGB8ofIqtzW0wAaZ23WA0C2f69Qo |titulo= As marcas do luso-tropicalismo nas intervenções do Presidente da República português (2016-2021) |lingua=pt-PT}}</ref>, ou, como descreve Vítor de Sousa, “o ‘outro’ da colonização”<ref name=":14">{{Citar web |ultimo=Pedro Olavo|primeiro=Simões|url= https://www.academia.edu/35996780/_Portugalidade_-_a_inimiga_persistente_da_lusofonia?fbclid=IwAR39IQspR96uS0FeQc3dU9-Qzhw_5KJTApSTKMiROFlOV_odB0WqALmk2p0 |titulo= “Portugalidade” – a inimiga persistente da lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref>. O objetivo desta obra é revelar os labirintos subjacente à lusofonia, em que a “interculturalidade deve ser apanágio das relações sociais”<ref name=":15">{{Citar web |ultimo= Língua portuguesa |primeiro= Ciberdúvidas|url= https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/atualidades/montra/livros/da-portugalidade-a-lusofonia/215|titulo= Da Portugalidade à Lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref>.
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Para [[Moisés de Lemos Martins]], que prefacia a obra Da 'portugalidade à lusofonia', o trabalho de Vítor de Sousa "tem uma argúcia igual à que teve, quando visou a figura da 'portugalidade', que interroga a figura da 'lusofonia', da qual os Portugueses não desgrudam nunca", sendo que a investigação não se fica pelos equívocos (antigos e modernos, luso-tropicalistas, neocoloniais, ou outros), "ensaiando sobre as possibilidades da lusofonia, não apenas como figura, mas nas suas inúmeras vertentes". A propósito da assombração da figura de “portugalidade”, “que vampiriza a figura de ‘lusofonia’”, Vítor de Sousa afirma “não poder haver lusofonia com portugalidade”, configurando mesmo essa eventualidade um contrassenso<ref name=":16">{{Citar web |ultimo=Moisés de Lemos|primeiro=Martins|url=http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/cecs_ebooks/issue/view/229 |titulo= Da obsessão da portugalidade aos equívocos e possibilidades da lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref>.
 
No entender de Vítor de Sousa, a “portugalidade” – e o autor usa sempre aspas, quase como que vincando tratar-se de algo que não existe – acaba por ser hoje, “mesmo que se tente retirar a ‘portugalidade’ da esfera nacionalista em que foi cunhada”, uma forma de perpetuar outros conceitos falaciosos e datados, com o lusotropicalismo à cabeça, constituindo um entrave à normalização do relacionamento entre o ex-colonizador e os ex-colonizados<ref name=":13">{{Citar web |ultimo=Vítor |primeiro=Sousa|url= https://www.rchunitau.com.br/index.php/rch/article/view/744/395?fbclid=IwAR0yh8CVn9t0jWOLd0s7yMHkk0NWvi2eGB8ofIqtzW0wAaZ23WA0C2f69Qo |titulo= As marcas do luso-tropicalismo nas intervenções do Presidente da República português (2016-2021) |lingua=pt-PT}}</ref>, ou “o ‘outro’ da colonização”<ref name=":14">{{Citar web |ultimo=Pedro Olavo|primeiro=Simões|url= https://www.academia.edu/35996780/_Portugalidade_-_a_inimiga_persistente_da_lusofonia?fbclid=IwAR39IQspR96uS0FeQc3dU9-Qzhw_5KJTApSTKMiROFlOV_odB0WqALmk2p0 |titulo= “Portugalidade” – a inimiga persistente da lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref>. O objetivo desta obra é revelar os labirintos subjacentes à lusofonia, em que a “interculturalidade deve ser apanágio das relações sociais”<ref name=":15">{{Citar web |ultimo= Língua portuguesa |primeiro= Ciberdúvidas|url= https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/atualidades/montra/livros/da-portugalidade-a-lusofonia/215|titulo= Da Portugalidade à Lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref>. Propõe, assim, uma definição para o termo “portugalidade” expurgada de toda a carga mitológica que lhe foi configurada pelo Estado Novo, no sentido de desfazer equívocos e para que a palavra figure simplesmente nos dicionários como "o mesmo que patriotismo", sendo que o sentido de “patriotismo” não se confina, aqui, à ideia de amor à pátria, difícil de conceptualizar, mas significaria um “sentimento especial por Portugal”, uma "identificação pessoal com Portugal" e uma "preocupação com o bem-estar de Portugal”<ref name=":2">{{Citar web |ultimo=Vítor |primeiro=Sousa|url=http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/cecs_ebooks/issue/view/229 |titulo= Da ‘portugalidade à lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref>.
[[Moisés de Lemos Martins]] observa ainda que “portugalidade” e “lusofonia”, assim como o seu imaginário, aparecem “tingidos de nostalgia imperial e amassados na ficção, a um tempo piedosa e falsa, de que Portugal fez uma colonização doce e sem violência. Essa ideia, de uma colonização diferente de todas as outras, apenas pode carregar, no entanto, as cores de uma excecionalidade portuguesa, que não existe”<ref name=":17">{{Citar web |ultimo=Martins|primeiro=Moisés de Lemos|url=https://correiodominho.pt/cronicas/a-portugalidade-como-fraca-cantiga/10635?fbclid=IwAR0bvHB_VBCbnZ1eOVhXYPAvwkKmxqDNITEtOIcEoa3UHRZC8vP4ITn8kro |titulo= A “portugalidade” como fraca cantiga |lingua=pt-PT}}</ref>. “Este imaginário mistura-se, muitas vezes, com um conjunto de estereótipos e equívocos. E essa circunstância tem levado muitos investigadores das Ciências Sociais e Humanas a recusar, tanto a figura de “portugalidade”, quanto a figura de “lusofonia”. Porque ambas as figuras se cruzam com um passado, de muito má memória. O sonho que remete para a “uniformidade católica do país”, assim como o sonho das caravelas, em permanência com as velas enfunadas, constituem um imaginário que apenas pode ser dado por definitivamente encerrado” “Portugalidade” e “lusofonia”, assim como o seu imaginário, aparecem, então, tingidos de nostalgia imperial e amassados na ficção, a um tempo piedosa e falsa, de que Portugal fez uma colonização doce e sem violência. Essa ideia, de uma colonização diferente de todas as outras, apenas pode carregar, no entanto, as cores de uma excecionalidade portuguesa, que não existe<ref name=":16">{{Citar web |ultimo=Moisés de Lemos|primeiro=Martins|url=http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/cecs_ebooks/issue/view/229 |titulo= Da obsessão da portugalidade aos equívocos e possibilidades da lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref>.
 
[[Moisés de Lemos Martins]] observa, aindapor seu turno, que “portugalidade” e “lusofonia”, assim como o seu imaginário, aparecem “tingidos de nostalgia imperial e amassados na ficção, a um tempo piedosa e falsa, de que Portugal fez uma colonização doce e sem violência. Essa ideia, de uma colonização diferente de todas as outras, apenas pode carregar, no entanto, as cores de uma excecionalidade portuguesa, que não existe”<ref name=":17">{{Citar web |ultimo=Martins|primeiro=Moisés de Lemos|url=https://correiodominho.pt/cronicas/a-portugalidade-como-fraca-cantiga/10635?fbclid=IwAR0bvHB_VBCbnZ1eOVhXYPAvwkKmxqDNITEtOIcEoa3UHRZC8vP4ITn8kro |titulo= A “portugalidade” como fraca cantiga |lingua=pt-PT}}</ref>. “Este imaginário mistura-se, muitas vezes, com um conjunto de estereótipos e equívocos. E essa circunstância tem levado muitos investigadores das Ciências Sociais e Humanas a recusar, tanto a figura de “portugalidade”, quanto a figura de “lusofonia”. Porque ambas as figuras se cruzam com um passado, de muito má memória. O sonho que remete para a “uniformidade católica do país”, assim como o sonho das caravelas, em permanência com as velas enfunadas, constituem um imaginário que apenas pode ser dado por definitivamente encerrado” “Portugalidade” e “lusofonia”, assim como o seu imaginário, aparecem, então, tingidos de nostalgia imperial e amassados na ficção, a um tempo piedosa e falsa, de que Portugal fez uma colonização doce e sem violência. Essa ideia, de uma colonização diferente de todas as outras, apenas pode carregar, no entanto, as cores de uma excecionalidade portuguesa, que não existe<ref name=":16">{{Citar web |ultimo=Moisés de Lemos|primeiro=Martins|url=http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/cecs_ebooks/issue/view/229 |titulo= Da obsessão da portugalidade aos equívocos e possibilidades da lusofonia |lingua=pt-PT}}</ref>.
É por isso que Vítor de Sousa concorda com o filósofo [[Ludwig Wittgenstein]]<ref name=":18">{{Citar web |ultimo=Ludwig|primeiro=Wittgenstein |titulo= The Blue and Brown Books |lingua=pt-PT}}</ref>, que sustentava que o sentido que se dá às palavras deveria ser o seu uso, não obstante sublinhar ser necessário uma contextualização, até para evitar eventuais equívocos. Para além de se ter que ter em mente o que [[Umberto Eco]]<ref name=":19">{{Citar web |ultimo=Umberto|primeiro=Eco|titulo= Il Pensiero Debole |lingua=pt-PT}}</ref> chamou a atenção, sobre o facto de os dicionários e enciclopédias não coincidirem com as noções teóricas enquanto categorias de uma semiótica geral.
 
Vítor de Sousa concorda portanto com o filósofo [[Ludwig Wittgenstein]]<ref name=":18">{{Citar web |ultimo=Ludwig|primeiro=Wittgenstein |titulo= The Blue and Brown Books |lingua=pt-PT}}</ref>, que sustentava a ideia de que o sentido semiótico que se dá às palavras deve ser o seu uso, não obstante sublinhar ser necessário uma contextualização, até para evitar eventuais equívocos. Para além de se ter que ter em mente o que [[Umberto Eco]]<ref name=":19">{{Citar web |ultimo=Umberto|primeiro=Eco|titulo= Il Pensiero Debole |lingua=pt-PT}}</ref> chamou a atenção, sobre o facto de os dicionários e enciclopédias não coincidirem com as noções teóricas enquanto categorias de uma semiótica geral. E, sendo “portugalidade” e lusofonia termos que, etimologicamente, remetem para Portugal, há que distinguir os respetivos significados e contextualizações, sendo que o primeiro tem um recorte marcadamente colonial, enquanto o segundo resulta de uma dinâmica mais recente, sendo por conseguinte pós-colonial. E, mesmo que se pretenda adaptar o conceito de “portugalidade” à atualidade, trata-se de uma tarefa difícil de concretizar, desde logo pelo déficit interpretativo dos dicionários de referência de língua portuguesa e das enciclopédias portuguesas.
 
O sinónimo de “portugalidade” pode, no entanto, ser encontrado em edições mais acessíveis e vulgares, como é o caso do Dicionário da [[Porto Editora]], onde se pode ler: “qualidade do que é português” e, numa dimensão mais ampla, “sentido verdadeiramente nacional da cultura portuguesa”<ref name=":20">{{Citar web |ultimo=J. A. ; A. S.|primeiro= Costa & Melo |titulo= Dicionário da Língua Portuguesa |lingua=pt-PT}}</ref>, um sinónimo subjetivo, confirmado pela utilização do advérbio de modo “verdadeiramente”, cuja inerência qualitativa não permite a assunção, tout court, da sua (eventual) amplitude. A palavra entrou, pela primeira vez, na dicionarização da [[Porto Editora]] em 1994, na sétima edição do Dicionário da [[Língua portuguesa|Língua Portuguesa.]] De então para cá, a palavra sofreu um ajuste que estreita a sua dimensão subjetiva, e pode ser vislumbrado pela proposta interpretativa constante do portal Infopédia (associado à Porto Editora): “qualidade do que ou de quem é português; conjunto de traços considerados distintivos da cultura e história de Portugal; sentimento de afinidade ou de amor por Portugal”<ref name=":21">{{Citar web |ultimo= Dicionários Porto Editora (Dicionário online de Língua Portuguesa)|primeiro=Infopédia|url=https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/portugalidade |titulo= Portugalidade |lingua=pt-PT}}</ref>.
 
 
== Ligações Externas ==