Bartolomeo Montagna

Bartolomeo Montagna (1450? - 11 de outubro de 1523) foi um pintor italiano da Renascença que trabalhou principalmente em Vicenza. Também produziu trabalhos em Veneza, Verona e Pádua. É conhecido por suas "Madonnas", mas também pela presença de figuras suaves em suas obras, e a representação da arquitetura em mármore excêntrico. Foi influenciado por Giovanni Bellini, com quem teria trabalho no ateliê do mesmo em 1470. Benedetto Montagna, seu filho, era mestre de gravuras e discípulo de Bartolomeo. Segundo a coleção literária "As Vidas dos mais Excelentes Pintores, Escultores e Arquitetos" , de Giorgio Vasari, ele teria sido aluno de Andrea Mantagna, mas essa informação é contestada por historiadores da arte.[1]

Bartolomeo Montagna
Bartolomeo Montagna
Nascimento 11 de outubro de 1450
Orzinuovi
Morte 11 de outubro de 1523
Vicenza
Cidadania República de Veneza
Ocupação pintor, desenhista
Obras destacadas Ecce Homo
Virgem e Menino entronados com São Homoborus e um mendigo, com São Francisco e o abençoado Bernardo da Feltre, e com Santa Catarina.

Vida editar

Nasceu com o nome "Bartolomeu Cincani", mas alterou anos depois para "Bartolomeo Montagna".[2] Os primeiros arquivos de sua existência datam de 1459, ainda como menor de idade.[3] Como adulto, as primeiras documentações sobre ele datam de 1480, como herdeiro de um testamento.[1] Diferenças em dois documentos à respeito das propriedades do seu pai, de 1467 e 1469, indicam que ele teria se tornado adulto entre esses anos.[4] Devido à falta de uma certidão de nascimento, e a confusão à respeito de qual seria a idade legal da maioridade em Vicenza naquele tempo, não se sabe ao certo o dia que teria nascido.[4] Alguns estudiosos atribuem ao ano de 1450, mas tal informação não é unanimidade entre historiadores.[2]

Sua família seria originária de Brescia, e teria se movido para Biron por volta de 1450, e, posteriormente, alocado-se em Vicenza.[2] Sabe-se que seu irmão, Baldissera, era ourives.[1] Sempre viveu boa parte da vida em Vicenza, tendo morado em uma casa que fora pertencente à Igreja de San Lorenzo, e que comprou em 1484. Entre 1469 e 1475, morou em Veneza, antes de retornar a Vicenza e iniciar sua carreira de pintor.[2] Em 1509, mudou-se para Pádua, devido à guerra que ocorria na cidade natal, mas deixou a cidade em 1514.[3]

Não se sabe a identidade de sua esposa, mas tiveram três filhos.[1] Um dos filhos, Benedetto Montagna, também foi um artista de sucesso, sendo um mestre de gravuras. Seus outros dois filhos, Filippo e Paolo, são pouco mencionados, e Bartolomeo não teria se afeiçoado por eles.[5] Morreu em 11 de outubro de 1523,[1] e deixou todas suas posses e trabalhos para o filho Benedetto.[5]

Carreira editar

Devido à incerteza sobre sua data de nascimento, também encontra-se dificuldade para saber ao certo em que ano teria começado sua carreira.[1] Supostamente, ela teria acontecido por volta de 1475, na volta à Vicenza.[2] Porém, sabe-se que foi considerado um artista simples, de natureza lacônica.[1] Muitas de suas figuras parecerem solenes e plásticas.[1]

Primeiros trabalhos (1480 - 1499) editar

Seus primeiros trabalhos documentados são duas pinturas para a "Scuola Grande di San Marco", em Veneza. Elas foram contratadas para retratar o "Dilúvio" e outra cena do Livro do Gênesis. Porém, seus status finais são desconhecidos, pois foram destruídas num incêndio em 1485. A próxima documentação sobre os trabalhos de Montagna remete para um altar do Hospital de Vicenza, cuja localização também é desconhecida.[3]

A primeira pintura existente é datada de Setembro de 1487 (como inscrito na parte de trás da obra). Ela representa "A Virgem Maria com seu filho, São Sebastião e Roch".[3] Outro pequeno trabalho, destinado ao uso privado, retrata as figuras em um recinto de mármore, mostrando a paisagem de Vicentine ao fundo.[1] Essa pintura também mostra a primeira vez de Montagna fazendo o uso da traquita de mármore, uma textura única do material, que seria utilizada por ele em boa parte de suas obras.[1] Naquela época, ele foi contratado para fazer o grande altar da Igreja e mosteiro de São Bartolomeu. Porém, a data exata da produção da obra, que apresenta grande influência de Giovanni Bellini, é incerta.[1] Em 1490, pintou o altar do Mosteiro de Pavia, que mostra a Virgem Maria com seu filho, São João Baptista e Jeremias. Em 1491, pintou o altar, a semicúpula e afrescos nas paredes da Igreja de "Santi Nazaro e Celso".[5] Os trabalhos feitos por ele na Igreja são conhecidos pela magreza das figuras, além de serem altamente realistas. Entre 1497 e 1499, foi pago mensalmente para trabalhar num altar para a Família Squarzi. Como último pagamento, recebeu propriedades da família, as quais ele manteve até 1503.[5]

Suas primeiras obras são conhecidas pelo uso das traquitas de mármore, e uma posição particular das mãos da Virgem Maria. A obra de Montagna também é conhecida devido à simetria, organização, luzes distribuídas uniformemente e plasticidades das suas figuras.[1]

Maturidade (1499 - 1507) editar

O altar da Igreja de São Miguel, em Vicenza (Virgem Maria com seu Filho, Quatro Santos e Anjos fazendo música), de 1499, é considerado por muitos artistas como o ponto de mudança no estilo de Montagna. Essas alterações de estilo são caracterizadas pela mudança de tons e o uso de cores mais ricas e quentes.[1] Esse estilo particular de pintura remete ao trabalho de Giovanni Bellini.[3] Na mesma época, ele completou outro altar, na Igreja de São Bartolomeu, em Vicenza, nomeado “Madonna e seu Filho com Santa Mônica e Maria Madalena."[3] Em 1500, Montagna completou a Pietà, na Igreja de Madonna del Monte. A pintura mostra a Virgem Maria, segurando o corpo morto de Cristo e Maria Madalena beijando seus pés. Eles estão cercados pela figura de São João e São José. A obra marca o uso de cores sombrias e linhas contínuas como elementos de composição, o que se tornaria tendência entre pintores da Renascença.[1] Ela ainda é caracterizada pelas formas menos rígidas, antes comuns no trabalhos de Montagna. No mesmo ano, ele também completou a obra “Virgem Maria e São José adorando a Cristo”, na Igreja de Orgiano. Ela mostra o menino Jesus sentado, cercado pelas figuras suaves da Virgem Maria e São José.[1]

Na época, o Bispo de Vicenza, Cardeal Battista Zeno, contratou Montagna para pintar “Virgem Maria e seu Filho com Oito Santos”, para a Catedral da cidade. A obra foi perdida em 1779, mas é descrita em diversos documentos.[1] Em 1504, viajou a Verona para completar os afrescos para a Cappela di San Biagio, mostrando diversas cenas de São Brás. Devido ao sucesso do trabalho, foi contratado para pintar o altar da Igreja de São Sebastião, também na cidade, que mostra a “Virgem Maria e seu Filho no trono junto a São Sebastião e Jeremias." O trabalho é marcado pela arquitetura de cores brilhantes, um trono de forma estranha e roupas elaboradas.[1] Ao retornar a Vicenza, terminou de pintar a obra “Madonna entre Santo Antônio e João Evangelista”, para a Igreja de San Lorenzo. Ela é considerada o auge da carreira de Montagna.[1]

Àquele tempo, o estilo de Montagna era caracterizado por suas qualidades excêntricas, apesar das formas suaves que adotara, que viriam a inspirar outros pintores da época.[3] Suas pinturas continham normalmente cores brilhantes, arquitetura decorativa, cortinas detalhadas e ângulos afiados.[3] Apesar das cores chamativas e os ângulos afiados, suas figuras humanas são retratadas de maneira completa, e com feições suaves. 

Últimos trabalhos (1507 - 1522) editar

Os últimos trabalhos documentados de Montagna datam de 1507, apesar de muitas pinturas atribuídas a ele serem datadas por estudiosos nos anos subsequentes. As obras dos seus últimos 15 anos de vida são consideradas o declínio de sua carreira.[3] Seu estilo mudou consideravelmente no período em que viveu em Pádua  (1509 – 1514), mostrando mais paisagens, pores do sol e cores quentes incorporadas ao seu estilo arquitetônico particular.[3] Seu estilou mostrou-se mais inconsistente, mas por vezes incluíam figuras completas, sombras profundas e menos detalhes angulares.[4] Exemplos do trabalho de Montagna em Padua são: “Exumação de Santo Antônio”, para a Escola de Santo Antônio; e a “Virgem Maria com Quatro Santos”, para a Igreja de Santa Maria, em Vanzo. Em 1517, retornou a Vicenza. Em 1522, foi contratado pela “Scuola di San Giuseppe” para pintar o altar de Cologna Vineta,[1] que mostra a Virgem Maria, seu Filho, 3 pastores, São José e São Sebastião.[1]

Influências editar

Não existe documentação escrita a respeito de como Montagna ingressou no campo artístico, nem se teve algum “tutor”, mas existem especulações sobre suas influências.[4] Na segunda edição da a coleção literária "As Vidas dos mais Excelentes Pintores, Escultores e Arquitetos" , de Giorgio Vasari, ele menciona que o pintor aprendeu a desenhar com Andrea Mantegna, mas não especifica se isso ocorreu com Bartolomeo sendo seu pupilo, ou apenas estudando os trabalhos de Andrea.[1]

Existe consenso que Montagna foi influenciado por Giovanni Bellini, Antonello da Messina e Alvise Vivarni. Porém, admite-se que a maior inspiração dele teria sido Bellini.[3] Não se sabe, ao certo, se Montagna chegou a ser pupilo de qualquer dos artistas citados.[1] O uso de cortinas intrincadas e angulares são ligadas ao trabalho de Vivarni.[1] O uso de formas arredondadas em algumas pinturas remetem ao estilo de Antonello, enquanto as que fazem uso de figuras finas e nítidas lembram o de Bellini.[3] O fato de ter passado ao uso de cores brilhantes e ricas, também é atribuído à influência de Bellini.[1] Um desenho com uma nota mal-traduzida havia sido previamente atribuído a Montagna, mas descobriu-se que foi um presente de Bellini a ele,[4] porém, isso não indica ao certo se ele teria sido tutor de Bartolomeo, já que era comum entre os artistas de renascença trocar presentes.[4] Muitos dos desenhos de Montagna trazem composições dos citados, prática também comum entre os artistas da renascença italiana.[1]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y Borenius, Tancred (1909-01-01). The painters of Vicenza, 1480-1550,. London,.
  2. a b c d e Alan., Brown, David; (Wash.), National Gallery of Art (2003-01-01). Italian paintings of the nineteenth century. National Gallery of Art. ISBN 0894683055. OCLC 718736124
  3. a b c d e f g h i j k l  Richardson, Francis L. "Montagna"Oxford Art Online. Oxford University Press.
  4. a b c d e f  Gilbert, Creighton (1967-01-01). "Review of Bartolomeo Montagna"The Art Bulletin49 (2): 184–188. doi:10.2307/3048463.
  5. a b c d Crowe, J. A.; Cavalcaselle, G. B.; Borenius, Tancred (1912). A History of Painting in North Italy - Venice, Padua, Vicenza, Verona Ferrara, Milan, Friuli, Brescia - From the Fourteenth to the Sixteenth Century Vol. II. London, England: John Murray. pp. 127–138.

Ver também editar