Papel Prensa SA é uma empresa argentina dedicada à produção de papel para impressão de jornais. Fundada em 1972, sua fábrica foi inaugurada em 1978 na cidade de San Pedro, na província de Buenos Aires, Argentina.

Papel Prensa SA
mista
Fundação 1972
Sede San Pedro, Argentina
Pessoas-chave Ernestina Herrera de Noble
Bartolomé Luis Mitre
governo argentino
Produtos fabricação de papel-jornal
Website oficial www.papelprensa.com

A empresa é dirigida por uma diretoria eleita através de uma assembléia de acionistas. O Grupo Clarín, proprietário do jornal Clarín, o maior do país, e do esportivo Diário Olé, é dono de 49% das ações da empresa, com o restante dividido entre o diário La Nación e o Estado argentino.[1] A Papel Prensa é a única fabricante de papel-jornal na Argentina e responsável pelo abastecimento de 75% do mercado interno do país.[2]

Origem da empresa editar

Em 1969, a ditadura militar encabeçada pelo general Juan Carlos Onganía, criou o Fundo para o Desenvolvimento da Produção de Papel e Celulose (Fondo para el Desarrollo de la Producción de Papel y Celulosa), para criar a primeira empresa nacional de papel-jornal. Com isto, as importações deste papel tiveram um aumento de preços de 10%, durante os dez anos de duração do imposto, destinado a financiar a participação do Estado em uma empresa fabricante de papel para jornais.[3]

Em 1972, o general Alejandro Agustín Lanusse entregou o projeto através de pregão a César Augusto Civita, César Doretti, Luis Alberto Rey e a empresa Editorial Abril S.A, que passaram a controlar a companhia, numa licitação em que apenas esta empresa preenchia todos os requisitos exigidos.[4] De acordo com o contrato entre o governo e a Papel Prensa, o Estado assumiria uma participação minoritária e se retiraria do projeto ao fim dos dez anos, o que nunca ocorreu.

Pouco tempo depois, o governo peronista intermediou a venda da empresa ao banqueiro David Graiver, e a Papel Prensa passou a ser quase totalmente controlada por Luis Alberto Rey e Graiver, através de um preposto, Rafael Ianover. Graiver, que tinha fortes ligações militares por ter sido assessor do general Lanusse, assumiu o controle total da companhia com a venda feita por Rey de sua parte à Galerías da Vinci S.A. (sociedade de uma empresa do Grupo Graiver). O banqueiro, entretanto, passou a ter vínculos mais tarde com o grupo de extrema-esquerda nacionalista Montoneros, de quem teria recebido dinheiro para administrar seus investimentos, e morreu de maneira suspeita e misteriosa num desastre de avião.[2]

Transferência de ações editar

 
Jorge Rafael Videla, presidente militar da Argentina e Ernestina Herrera de Noble, proprietária do Grupo Clarín, na inauguração da fábrica da Papel Prensa, em 1978.

Com a morte de Graiver em 1976, seus bancos na Bélgica e nos Estados Unidos foram à falência, e face à situação de crise no grupo, sua viúva e seu irmão venderam suas ações na empresa. Em 2 de novembro de 1976, foi assinada a transferência das ações dos Graiver na empresa - cuja fábrica estava em construção - para os jornais Clarín, La Nación e La Razón. Seis meses depois, a família e o membros do Grupo Graiver foram ilegalmente presos e seus bens confiscados, acusados pelo governo de receberem dinheiro dos Montoneros do resgate dos irmãos empresários Born, para aplicação financeira. Além disso, o dinheiro da venda das ações foi apreendido pelo governo militar.[5]

Devido à polêmica do suposto envolvimento financeiro da família Graives com os Montoneros, e pela compra feita por eles ao grupo Graiver, em maio de 1977, os três jornais publicaram conjuntamente em um editorial intitulado "À opinião pública", que a compra da companhia foi feita "às claras e com consentimento prévio e posterior do Estado". Segundo o artigo, o abastecimento de papel seria garantido para todos os jornais argentinos.[3] Os jornais buscavam se livrar das acusações de que conheciam a ligação Graiver-Montoneros e que estavam associados a David Graiver.

O governo militar interveio na Papel Prensa em agosto de 1977 e em setembro de 1978 um grupo de empresários, entre os quais os proprietários do Clarín, Ernestina Herrera de Noble e do La Nación, Bartolomé Luis Mitre, inauguraram a fábrica da empresa junto com integrantes da ditadura militar argentina.[6]

Controvérsias e consequências editar

Após a restauração da democracia na Argentina, a polêmica envolvendo o episódio da venda das ações e da morte de David Graives tomou os meios de comunicação e a opinião pública do país. Durante as décadas de 80 e 90, diversas investigações independentes foram feitas sobre o episódio.

Em março de 2010, o debate no país sobre o que havia realmente acontecido se tornou mais agudo envolvendo a classe política, com o governo acusando os grupos jornalísticos de terem se aproveitado da detenção da família Graives para comprar as ações da empresa a baixo custo e com aval do governo militar. Em 6 de agosto, o diário Tiempo Argentino, publicou um artigo sobre o assunto, que incluía uma carta de Lidia Papaleo, viúva de David Graives, contando os horrores, as pressões e ameaças de morte constantes que a família sofreu desde a morte do marido, e que havia sido despojada de seus bens e das ações da Papel Prensa SA pelos três jornais - com ameaça física proferida pelo CEO do Clarín, Héctor Magnetto, para que assinasse a venda - com a ajuda da Junta Militar.[7]

Em 21 de setembro de 2010, o governo da presidente Cristina Kirchner, que já havia acusado os jornais de compra ilegal e sob constrangimento das ações da família Graives, apresentou denúncia formal pública e judicial contra os periódicos Clarín, La Nación e seus proprietários, por homicídio e cumplicidade em sequestro, tortura e crimes contra a humanidade durante a ditadura militar.[8] A pedido do governo, também foi aberta uma investigação judicial, para determinar se as filhas da dona do Clarín, Ernestina Herrera de Noble, são filhos de desaparecidos políticos durante a ditadura militar no país (1976-1983).[8]

Os dois veículos de comunicação emitiram comunicado, dizendo que a denúncia seria "uma aberração moral e jurídica, carente de sustentação dos fatos".[9]

Referências

  1. Papel Prensa S.A. «Nuestra empresa» (em espanhol). Consultado em 13 de outubro de 2008. Arquivado do original em 25 de agosto de 2010 
  2. a b OESP:Governo da Argentina faz denúncia contra diretores do Clarín e La Nación
  3. a b Lanata, Jorge; Luciana Geuna y Jésica Bossi (13 de abril de 2008). «La historia se escribe en papel». Crítica de la Argentina (em espanhol). Consultado em 13 de outubro de 2008 
  4. Rodríguez, Carlos (16 de setembro de 2007). «El epitafio de la "libertad de expresión"». Agencia Nodo Sur (em espanhol). Consultado em 13 de outubro de 2008. Arquivado do original em 30 de agosto de 2009 
  5. Dictame fiscal Ricardo Molinas, folha 293
  6. «El accionar de Papel Prensa para ahogar a los medios independientes». Consultado em 22 de setembro de 2010. Arquivado do original em 9 de outubro de 2011 
  7. Lidia Papaleo denunció por escrito cómo fue amenazada y torturada Arquivado em 22 de agosto de 2016, no Wayback Machine. Tiempo Argentino, 06-08-2010.
  8. a b BBC Brasil:Governo argentino apresenta denúncia contra donos de "Clarín" e "La Nación"
  9. O Globo: Governo argentino apresenta denúncia contra donos de Clarín e La Nación