Exército Imperial Russo
O Exército Imperial Russo (em russo: Русская императорская армия, transl. Russkaya imperatorskaya armiya) foi a força terrestre do Império Russo, ativo de 1721 até a Revolução Russa de 1917. Foi organizado em um exército permanente e uma milícia estatal. O exército permanente consistia em tropas regulares e duas forças que serviam em regulamentos separados: as tropas cossacas e as tropas muçulmanas.[1] É o antepassado das atuais Forças Armadas da Rússia.
Exército Imperial Russo | |
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Русская императорская армия | |
Na muralha da fortaleza. "Deixe-os entrar" (1871), pintura de Vasily Verechagine encomendada para celebrar a tomada de Samarcanda pelo Exército Imperial Russo. | |
País | Rússia |
Fidelidade | Czar da Rússia |
Criação | 1721 |
Extinção | 1917 |
Patrono | Jorge da Capadócia |
Lema | За Веру, Царя и Отечество (Pela Fé, Czar e a Pátria) |
Logística | |
Efetivo | 12 – 15.000.000 durante a Primeira Guerra Mundial
4.200.000 durante a Guerra Civil Russa |
Insígnias | |
Distintivo no barrete da infantaria de guardas no início do século XIX |
História
editarUm exército russo regular existiu após o fim da Grande Guerra do Norte em 1721.[2] Durante seu reinado, Pedro, o Grande, acelerou a modernização das forças armadas da Rússia, inclusive com um decreto em 1699 que criou a base para o recrutamento de soldados, regulamentos militares para a organização do exército em 1716 e a criação da Escola Superior de Guerra em 1718 para a administração do exército.[3] A partir de 1700, Pedro começou a substituir as antigas forças de Streltsy por novos regimentos de estilo ocidental, organizados com base em seus regimentos de Guardas já existentes.[4]
Após as Guerras Napoleônicas, o Exército Imperial Russo ativo foi mantido em pouco mais de 1 milhão de homens, número que aumentou para 1,7 milhão durante a Guerra da Crimeia.[5] Permaneceu nesse nível até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, quando a Rússia tinha o maior exército permanente em tempos de paz na Europa,[6] com cerca de 1,3 milhão.[7] A mobilização em tempo de guerra aumentou esse efetivo para 4,5 milhões, e no total 15 milhões de homens serviram de 1914 a 1917.[6][8]
Em março [O.S. fevereiro] de 1917, o Exército Imperial jurou lealdade ao Governo Provisório Russo após a abdicação do Czar Nicolau II,[9] embora o status oficial da monarquia não tenha sido resolvido até setembro de 1917, quando a República Russa foi declarada.[10] Mesmo depois da Revolução de Fevereiro, apesar de sua ineficácia na ofensiva, a maioria do exército permaneceu intacta e as tropas ainda estavam nas linhas de frente. O "velho exército" não começou a se desintegrar até o início de 1918.[11]
A história do exército da Rússia imperial está ligada ao nome de Alexander Suvorov, general russo, tido como um dos raros grandes generais que nunca perdeu uma batalha. Entre os outros grandes dirigentes desta força militar encontram-se Pedro I, Boris Sheremetev, Alexander Menshikov, Pyotr Rumyantsev, Grigory Potemkin, Mikhail Kutuzov, Pyotr Bagration, Aleksey Yermolov, Mikhail Skobelev e Aleksey Brusilov. De 1777 a 1783, Suvorov serviu na Crimeia e Cáucaso, tornando-se tenente-general em 1780, e general de infantaria em 1783, no final do seu serviço na região. De 1787 a 1791 combateu os turcos na Guerra Russo-Turca e venceu muitos combates.
Como grande potência europeia, a Rússia não poderia escapar às guerras envolvendo a França revolucionária e napoleônica, mas, como adversário de Napoleão, a liderança do novo czar Alexandre I (r. 1801–1825), que subiu ao trono na sequência do assassinato do seu pai Paulo I tornou-se crucial.
O exército imperial russo em 1805 tinha muitas características do Ancien Régime: não havia formação permanente acima do nível do regimento, os oficiais seniores eram sobretudo recrutados entre os círculos da aristocracia, e os soldados, tal como muito comum no século XVIII eram vítimas de duríssima disciplina. Além disso, muitos dos oficiais de menor patente eram mal treinados e tinham dificuldade em fazer os seus homens compreender e executar as por vezes complexas manobras exigidas em batalha. Mesmo assim, os russo tinham uma artilharia de qualidade e soldados patriotas e lutadores.[12]
A invasão francesa da Rússia deu-se em 1812, quando Napoleão quis obrigar o imperador Alexandre I a permanecer no sistema continental e a retirar a ameaça russa em relação à Polónia. A «Grande Armée» tinha 650 000 homens (270 000 franceses e outros soldados de países aliados ou de países subjugados), e atravessou o rio Niemen em 23 de junho desse ano. A Rússia proclamou a Guerra Patriótica e o seu exército foi chamado a defender o país.
Foi seguida uma política de retirada e terra queimada, até à batalha de Borodino em 7 de setembro. Esta batalha resultou numa derrota grave dos russos, e o caminho para a tomada de Moscovo estava aberto aos franceses. O marechal de campo Mikhail Illarionovich Kutuzov tomou a decisão de poupar o exército, e em 14 de setembro Moscovo foi capturada, embora abandonada pelos russos, que soltaram os prisioneiros de delito comum para atormentar as tropas francesas. O czar Alexandre I recusou-se a render e Napoleão foi obrigado a retirar-se depois de o governador, Príncipe Rastopchin, ter ordenado a queima total da cidade. Os franceses iniciaram então a Grande Retirada, que causou mais de 370 000 baixas como resultado da fome e do extremo frio, além de 200 000 prisioneiros.
Na década de 1850, o exército russo tinha 900 000 homens em suas fileiras, incluindo 250 000 irregulares (a maioria cossacos). Durante a Primeira Guerra Mundial, no começo do século XX, cerca de 12 milhões de homens lutaram nas forças imperiais. Já na guerra civil, 2 400 000 lutaram para restaurar o regime imperial Romanov.[13]
Referências
- ↑ Great Britain War Office General Staff (1996). Handbook of the Russian Army. Col: Battery Press Reference Series, 12 (em inglês). Londres: Imperial War Museum, Department of Printed Books. p. 7–8. ISBN 978-1870423670. OCLC 35757835
- ↑ Redação (31 de agosto de 2015). «День Сухопутных войск России. Досье» [Dia das Forças Terrestres Russas. Dossiê.]. TASS (em russo). Consultado em 26 de novembro de 2024
- ↑ Anderson, M. S. (2014). Peter the Great. Col: Profiles in power (em inglês) 2ª ed. Londres: Routledge. p. 91–96. ISBN 978-0-582-43746-3. OCLC 883467209
- ↑ Grey, Ian (2015). Peter the Great (em inglês) 2ª ed. Atlanta, Geórgia: New Word City. p. 298. ISBN 978-1612309224. OCLC 960643071
- ↑ Brooks, E. Willis (1984). «Reform in the Russian Army, 1856–1861». Slavic Review (em inglês). 43 (1): 63–82. ISSN 0037-6779. JSTOR 2498735. doi:10.2307/2498735. Consultado em 26 de novembro de 2024
- ↑ a b Stone, David R. (2021). The Russian Army in the Great War: The Eastern Front, 1914–1917 (em inglês). Lawrence, Kansas: University Press of Kansas. p. 33. ISBN 978-0-7006-3308-1. OCLC 1263023719
- ↑ Great Britain War Office General Staff (1996). Handbook of the Russian Army. Col: Battery Press Reference Series, 12 (em inglês). Londres: Imperial War Museum, Department of Printed Books. p. 20–23. ISBN 978-1870423670. OCLC 35757835
- ↑ Reese, Roger R. (2019). The Imperial Russian Army in Peace, War, and Revolution, 1856–1917. Col: Book Collections on Project MUSE (em inglês). Lawrence, Kansas: University Press of Kansas. p. 316. ISBN 978-0-7006-2860-5. OCLC 1149070058
- ↑ Reese, Roger R. (2019). The Imperial Russian Army in Peace, War, and Revolution, 1856–1917. Col: Book Collections on Project MUSE (em inglês). Lawrence, Kansas: University Press of Kansas. p. 365–370. ISBN 978-0-7006-2860-5. OCLC 1149070058
- ↑ Beevor, Antony (2022). Russia: Revolution and Civil War, 1917-1921 (em inglês). Londres: Penguin. p. 46. ISBN 978-0-593-49388-5. OCLC 1305011721
- ↑ Reese, Roger R. (2019). The Imperial Russian Army in Peace, War, and Revolution, 1856–1917. Col: Book Collections on Project MUSE (em inglês). Lawrence, Kansas: University Press of Kansas. p. 285–286. ISBN 978-0-7006-2860-5. OCLC 1149070058
- ↑ Fisher, Toddm Fremont-Barnes, Gregory, The Napoleonic Wars: The Rise and Fall of an Empire, Osprey Publishing Ltd., Oxford, 2004 ISBN 1-84176-831-6
- ↑ Harrison, Richard W. The Russian Way of War: Operational Art, 1904-1940 (University Press of Kansas, 2001)