Fazenda Santa Eudóxia

Bem tombado pelo CONDEPHAAT na cidade de São Carlos

A Fazenda Santa Eudóxia é uma propriedade histórica do século XIX, localizada no distrito de Santa Eudóxia, município de São Carlos, no estado de São Paulo.[1] Tombada pelo CONDEPHAAT (1985) e pela Fundação Pró-Memória de São Carlos (2012).

Fazenda Santa Eudóxia
Fazenda Santa Eudóxia
Tipo património histórico, casa, sede
Geografia
Coordenadas 21° 46' 29.869" S 47° 49' 31.028" O
Mapa
Localização São Carlos - Brasil
Patrimônio bem tombado pelo CONDEPHAAT, bem tombado pela Prefeitura Municipal de São Carlos

Histórico editar

A Fazenda Santa Eudóxia foi fundada nas terras da antigas sesmaria de Eleutério Furquim de Campos. Em 1869, pelo intermédio de Jesuíno de Arruda, foi adquirida pelo coronel Francisco da Cunha Bueno e seu genro e sobrinho, Alfredo Ellis, que iniciaram a plantação de café e se tornaram grandes latifundiários e pioneiros deste cultivo na região de Mogi-Guaçu.[2][3]

A sede foi construída por volta de 1874, mesmo momento em que se iniciou a plantação de café no local, tornando-a uma das fazendas mais produtivas no sertão de Mogi-Guaçu.[4]

A fazenda foi a maior produtora de café da região no final do século XIX.[5] Em 1897, chegou a produzir cerca de sessenta mil arrobas, conseguindo a mesma proeza em 1899. Em 1905, possuía em torno de um milhão de pés de café.[6]

Antes da ferrovia chegar até São Carlos, a produção era transportada via rio, o Mogi-Guaçu, até Porto Ferreira, que já possuía uma estação ferroviária. Quando São Carlos teve sua estação implementada, a produção passou a ser escoada por lá e, entre 1892 e 1893, foi finalmente inaugurado um ramo ferroviário em Santa Eudóxia.[6]

A estação de Santa Eudóxia foi aberta dentro da Fazenda Santa Eudóxia e inicialmente transportava café, sendo posteriormente utilizada para carregar gado, algodão e leite. Em 1898, também foi utilizada para transportar dois bandidos que se encontravam escondidos na Fazenda Santa Eudóxia e eram acusados de roubo e assassinato. A estação ficou em atividade até 1962.[7]

Cunha Bueno veio a falecer em 1903 e, na década de 1920, por problemas financeiros, Alfredo Ellis transferiu a fazenda para uma companhia inglesa.

A fazenda recebeu o nome de Santa Eudóxia em homenagem à esposa de Cunha Bueno, Eudóxia Henriqueta de Oliveira, morta por envenenamento alguns anos antes. Segundo a família, foi uma vingança de uma escrava.[4]

Mão-de-obra escravizada editar

Em relação à mão-de-obra escravizada que era utilizada por ele e pelos demais produtores de café no Brasil,[8][9][10][11]

Conjunto Arquitetônico editar

A sede da fazenda foi construída na segunda metade do século XIX e se localiza na encosta de um morro. Possui fundações de pedra e estrutura de pau a pique. Em consequência da irregularidade do terreno, foi edificada na elevação frontal e térrea na posterior, sobre arrimo de pedra. Sofreu algumas alterações como o acréscimo de divisórias internas, fechamento de portas e aberturas de janelas.[2]

A edificação mescla os estilos paulista e mineiro. Do paulista está a localização próxima a cursos d'água, ter sido construída em meia encosta e o porão com suas janelas gradeadas. Do estilo mineiro, tem a simplicidade na estrutura e poucos ornamentos.

A fachada assobradada possui um alpendre de madeira, enquanto ao fundo estão os jardins, área que era de uso exclusivo dos proprietários.[12] As senzalas ficavam no porão da casa sede.[13]

Com relação à tulha, era feita de alvenaria de pedra, possuía um formato retangular com grandes proporções e muitas janelas e portas. Também tinha uma instalação de passarela, trilhos para vagonete de transporte. Sua construção também remonta ao final do século XIX.[13]

Estima-se que as residências dos imigrantes foram construídas em torno de 1885 e foram erguidas uma ao lado da outra, como forma de aproveitar o terreno.[13]

A capela foi projetada em uma planta retangular, possuía uma torre sineira, porém esta torre desmoronou no final do século XX.[13]

Patrimônio histórico editar

Entre 2002 e 2003, a Fundação Pró-Memória de São Carlos (FPMSC), órgão da prefeitura, fez um primeiro levantamento (não-publicado) dos "imóveis de interesse histórico" (IDIH) da cidade de São Carlos, abrangendo cerca de 160 quarteirões, tendo sido analisados mais de 3 mil imóveis. Destes, 1.410 possuíam arquitetura original do final do século XIX. Entre estes, 150 conservavam suas características originais, 479 tinham alterações significativas, e 817 estavam bastante descaracterizados.[14] O nome das categorias das edificações constantes na lista alterou-se ao longo dos anos.

A edificação de que trata este verbete consta como "Edifício tombado" (categoria 1) no inventário de bens patrimoniais do município de São Carlos, publicado em 2021[15] pela Fundação Pró-Memória de São Carlos (FPMSC), órgão público municipal responsável por "preservar e difundir o patrimônio histórico e cultural do Município de São Carlos".[16] A referida designação de patrimônio foi publicada no Diário Oficial do Município de São Carlos nº 1722, de 09 de março de 2021, nas páginas 10 e 11.[17] De modo que consta da poligonal histórica delimitada pela referida Fundação, que "compreende a malha urbana de São Carlos da década de 40".[18] A poligonal é apresentada em mapa publicado em seu site, onde há a indicação de bens em processo de tombamento ou já tombados pelo Condephaat (órgão estadual), bens tombados na esfera municipal e imóveis protegidos pela municipalidade (FPMSC).[19][20]

A Fazenda Santa Eudóxia foi tombada por:[21]

  • CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico Número do Processo: 21726/81 Resolução de Tombamento: Resolução 61, de 04/11/1985 Publicação do Diário Oficial: D.O.E., Seção 1, 07/11/1985, p. 16 e Poder Executivo, Seção I, 31/03/2011, p. 203 Livro do Tombo Histórico: Nº inscr. 243, p. 65, 21/01/1987
  • FPMSC – Fundação Pró-Memória de São Carlos / CONDEPHAASC – Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Ambiental de São Carlos Número do Processo: 116/2010 Tombamento Municipal ex-officio: Resolução n° 09, de 19 de setembro de 2012 Publicação do Diário Oficial: 21 de setembro de 2012

Ver também editar

Referências

  1. «Distrito de Santa Eudóxia». Prefeitura de São Carlos. Consultado em 24 de abril de 2021 
  2. a b «Sede da Fazenda Santa Eudóxia – Condephaat». Consultado em 24 de abril de 2021 
  3. SCDN, Portal. «Portal SCDN - AEASC leva profissionais à fazenda histórica de São Carlos». www.saocarlosdiaenoite.com.br. Consultado em 12 de maio de 2021 
  4. a b Massarão, Leila Maria. Distrito de Santa Eudóxia - São Carlos (PDF). São Carlos: Fundação Pró-Memória de São Carlos. p. 2 
  5. MASSARÃO, L. M. Distrito de Santa Eudóxia – São Carlos. Fundação Pró-Memória, s.d. link.
  6. a b «São Carlos/SP - A Cidade - Distritos - Santa Eudóxia». São Carlos Oficial. Consultado em 12 de maio de 2021 
  7. «Santa Eudóxia -- Estações Ferroviárias do Estado de São Paulo». www.estacoesferroviarias.com.br. Consultado em 12 de maio de 2021 
  8. Dornas, Nayara Fernandes. Um estudo enunciativo da palavra escravo e sua designação nas cartas do Conde do Pinhal para sua esposa Naninha. 2017. Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Linguística) Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2017. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/9587/DORNAS_Nayara_2018.pdf?sequence=8&isAllowed=y Acesso em: 02-11-2022
  9. Brandão, Marco Antonio Leite. A carta do ex-escravo Felício & história de São Carlos (SP). Disponível em: https://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2010/11/A-carta-do-ex-escravo-Fel%c3%adcio-Hist%c3%b3ria-de-S%c3%a3o-Carlos.pdf. Acesso em: 02-11-2022
  10. «HISTÓRICA - Revista Eletrônica do Arquivo do Estado». www.historica.arquivoestado.sp.gov.br. Consultado em 2 de novembro de 2022 
  11. Truzzi, Oswaldo; Zuccolotto, Eder Carlos; Follis, Fransergio. Migrações na formação inicial da população no oeste paulista: uma aproximação por meio de registros paroquiais de casamento no pré-abolição em São Carlos, SP. Disponível em: http://www.abep.org.br/publicacoes/index.php/anais/article/viewFile/1918/1876 Acesso em: 02-11-2022
  12. PERCURSOS 3, 2011, c. 67.
  13. a b c d Massarão, Leila Maria. «Distrito de Santa Eudóxia - São Carlos» (PDF). Fundação Pró-Memória de São Carlos. Consultado em 12 de maio de 2021 
  14. ZAMAI, 2008, p. 53.
  15. Fundação Pró-Memória de São Carlos (2021). «Inventário de Bens Patrimoniais do Município de São Carlos» (PDF). Fundação Pró-Memória de São Carlos. Consultado em 27 de outubro de 2022  |arquivourl= é mal formado: timestamp (ajuda)
  16. Fundação Pró-Memória de São Carlos. «A Fundação». Fundação Pró-Memória de São Carlos. Consultado em 27 de outubro de 2022  |arquivourl= é mal formado: timestamp (ajuda)
  17. Prefeitura Municipal de São Carlos (9 de março de 2021). «Diário Oficial de São Carlos, ano 13, n° 1722» (PDF). Prefeitura Municipal de São Carlos. Consultado em 27 de outubro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 27 de outubro de 2022 
  18. Divisão de Pesquisa e Divulgação, Fundação Pró-Memória de São Carlos (2006). «RAMOS DE AZEVEDO, ECLETISMO E A POLIGONAL HISTÓRICA» (PDF). Fundação Pró-Memória de São Carlos. Consultado em 27 de outubro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 27 de outubro de 2022 
  19. Fundação Pró-Memória de São Carlos (2016). «Mapa poligonal 2016 imóveis protegidos» (PDF). Fundação Pró-Memória de São Carlos. Consultado em 27 de outubro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 27 de outubro de 2022 
  20. Fundação Pró-Memória de São Carlos. «Notícias». promemoria.saocarlos.sp.gov.br. Consultado em 4 de dezembro de 2022 
  21. «São Carlos – Sede da Fazenda Santa Eudóxia | ipatrimônio». Consultado em 2 de novembro de 2022