Flexão de gênero

Flexão genérica[1] ou inflexão de gênero (português brasileiro) ou género (português europeu) refere-se, na linguística, à derivação, declinação ou desinência de palavras existentes na indicação concreta de gênero gramatical ou natural.[2]

As flexões léxicas podem definir o gênero pela anteposição dos antecedentes genéricos masculinos ou femininos, através das vogais temáticas "a" ou "o", como em menino e menina, gato e gata ou linda e lindo.[3][4]

As morfologias dos substantivos podem ser biformes ou uniformes, tendo duas formas, para o masculino ou feminino, ou uma forma, apenas para ambos os gêneros, como os epicenos, sobrecomuns ou comuns de dois gêneros.[5] Adjetivos também podem ser biformes e uniformes.[6]

Algumas palavras, que são biformes, podem ser flexionadas através dos sufixos "a" ou "o", como lindo e linda. Nem todas as palavras que estão generificadas no masculino são sufixadas com "o", como por exemplo, senhor, em que acrescenta-se o "a" para feminizar a palavra senhora.[7]

Língua portuguesa editar

Flexão de masculino para feminino editar

Principalmente as formas femininas são derivadas de títulos masculinos oficiais, profissionais e ocupacionais (substantivo agente).[8] O método mais comumente usado para um método de designação feminina é a derivação de uma forma masculina por meio da sufixação -a que, como um morfema especial:

  • Mestre → Mestra
  • Padeiro → Padeira
  • Juiz → Juíza
  • Bombeiro → Bombeira
  • Engenheiro → Engenheira

Alguns substantivos podem apresentar formações irregulares, como:

  • Rei → Rainha
  • Avô → Avó
  • Herói → Heroína
  • Réu → Ré

Nomes próprios editar

Também nos prenomes e antropônimos, há frequentemente flexões que vêm de diferentes línguas e, portanto, assumem expressões muito diferentes, que podem até ser ambíguas dependendo da origem.[9] Apenas em alguns casos, uma única forma inicial pode ser determinada inequivocamente a partir da qual as outras foram derivadas:

  • Andrea ↔ Andreas (também o italiano Andrea)
  • Maria, Marie ↔ Mario, Marius
  • Wilhelmine, Wilhelma ↔ Wilhelm
  • Christiane, Christine ↔ Christian
  • Francisca ↔ Francisco
  • Alexandra ↔ Alexander, Alexandre, Alexandro
  • Heike ↔ Heiko
  • Erika, Érica ← Erik, Éric
  • Svenja ← Sven
  • Renée ← René, Renê
  • Gabriela, Gabriele ← Gabriel
  • Luísa, LuizaLuís, Luiz

Outras línguas com gênero editar

Francês editar

A língua francesa herda parcialmente o movimento do latim:

  • ami (amigo) → amie (amiga)
  • paysan (agricultor) → paysanne (agricultora)
  • coiffeur (cabeleireiro) → coiffeuse (cabeleireira)
  • acteur (ator) → actrice (atriz)

Na década de 1980, flexões femininas foram propostas para cargos com gênero masculino: por exemplo, cargos que terminam em -eur devem receber o sufixo -euse ou -trice, se as mulheres se referem a: un animateur → une animatrice ou un vendeur → une vendeuse. Em outras palavras, um -e é adicionado, o que muda a grafia, mas não a maneira de falar: un délégué → une déléguée. No caso de outras palavras, o gênero deve poder ser alterado sem alterar a forma de falar e escrever: un architecte → une architecte. No entanto, as mulheres em profissões de alta renda (metiê “haut de gamme”) preferem o título de trabalho masculino. A forma feminina das profissões da classe alta não é usada em anúncios de emprego ou na imprensa - independentemente do sexo da pessoa que escreveu o artigo.[10]

Uma pesquisa com 102 alunos (82 mulheres e 20 homens) na Universidade de Lille em 1985 mostrou que passar de terminações com -eur para terminações com -euse ou -eure era impopular (por exemplo, auteuse ou auteure). A flexão para -esse também foi rejeitada pela maioria (com exceção da palavra doctor → doctoresse). Os seguintes cargos femininos foram os mais populares: “artigo feminino + substantivo masculino” (como une auteur) e “femme + substantivo masculino” (como femme auteur).[11]

Também em francês, o título de trabalho sage-femme (parteira) não foi usado como base de derivação para o nome masculino, mas um novo foi introduzido: accoucheur (obstetra). O novo cargo feminino foi então derivado disso:[12]

  • accoucheur (obstetra) → accoucheuse (obstetriz)

Alguns cargos masculinos estão associados a ocupações de maior prestígio do que suas contrapartes femininas; nesses casos, as formas vocais femininas com atividades profissionais estão conectadas que não gozam de tanto prestígio e possuem um status inferior do que o nome masculino correspondente:[12]

  • couturier (estilista) → couturière (costureira)

Hebraico editar

A língua hebraica usa principalmente a desinência tônica -a (escrita como He) e a desinência -t (escrita como Taw), a última em uma sílaba final átona. Particípios em particular geralmente recebem o taw. Muitos cargos são particípios como substantivos, especialmente no hebraico moderno. Os padrões de formação de palavras para movimento são os mesmos no hebraico bíblico e moderno:

  • par (touro) → para (vaca)
  • jeled (criança) → jalda (menina)
  • talmid (aluno) → talmida (aluna)
  • schofet (juiz) → schofétet (juíza)
  • mitlammed (aprendiz) → mitlammédet (aprendiza)

Em palavras estrangeiras modernas e designações de origem, a desinência às vezes é -it, às vezes com um acento irregular na frente da sílaba final:

  • student (estudante) → studéntit (estudante)
  • Jeúdi (judeu) → Jehudija (judia)

Referências

  1. Soares de Oliveira, Thiago. «A queda do gênero neutro do latim: questiúnculas sobre a divergência entre o gênero real e o gênero gramatical» (PDF). Revista Philologus 
  2. «Guia de Linguagem Inclusiva para Flexão de Gênero». Tribunal Superior Eleitoral. Maio de 2021 
  3. «Gênero do Substantivo». Toda Matéria. Consultado em 8 de abril de 2021 
  4. «Flexões do substantivo. Quais são as flexões do substantivo?». Mundo Educação. Consultado em 31 de agosto de 2022 
  5. «Flexão de gênero nos substantivos - Português». InfoEscola. Consultado em 8 de abril de 2021 
  6. «A flexão dos adjetivos». Português. Consultado em 9 de abril de 2021 
  7. Kolodny, Rossana Saute (2016). «Marcação de gênero e classe temática em português e em francês». Consultado em 9 de abril de 2021 
  8. N. Vicente, Suelen. «Flexão de gênero nos substantivos - Português». InfoEscola. Consultado em 9 de abril de 2021 
  9. Nogueira Campos, Arthur (1995). «NOMES PRÓPRIOS: Flexão, Vocabulário, Ortografia e Indexação Alfabética» (PDF). Revista da ASBRAP: 261-166. Arquivado do original (PDF) em 9 de setembro de 2018 
  10. Elmar Schafroth. (PDF). 38. [S.l.: s.n.] ISSN 1868-0267 https://docserv.uni-duesseldorf.de/servlets/DerivateServlet/Derivate-10275/S0089236.pdf  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  11. Schafroth, Elmar (2008). Berufsbezeichnungen für Frauen in Frankreich – sprachpolitische Maßnahmen und sprachliche Wirklichkeit (PDF). 38. Universidade de Augsburgo: [s.n.] ISSN 1868-0267 
  12. a b Marion Saliter: Französisch – eine Männersprache? Vergleichende Untersuchungen zum Französischen und Deutschen. Shaker, Aachen 2003, ISBN 3-8322-1399-6, S. 116 (Doktorarbeit Universität Passau 2002).