Frente de Libertação e Independência Nacional da Guiné

A Frente de Libertação e Independência Nacional da Guiné (FLING) foi um partido político da Guiné-Bissau que existiu entre 1962 e 2022. No passado foi um movimento que desempenhou um papel menor na independência da Guiné-Bissau.

História editar

A FLING foi fundada em Dacar, no Senegal, em 3 de agosto de 1962, a partir do agrupamento de sete grupos nacionalistas bissau-guineenses, sendo principalmente o Movimento de Libertação da Guiné (MLG), principal movimento do início da luta armada, e a União dos Povos da Guiné (UPG).[1] Além desses dois grupos, agruparam-se à FLING a Reunião Democrática Africana da Guiné (RDAG), a União dos Naturais da Guiné Portuguesa (UNGP) e a União da População Libertada da Guiné (UPLG) e outros dois movimentos menores.[2]

Ao contrário do rival marxista-leninista de frente única binacional Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), o programa da FLING era fortemente influenciado pelo presidente senegalês Léopold Sédar Senghor, isto é, por um conceito de socialismo aplicado à realidade africana e pela negritude, bem como a separação das lutas de libertação da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. Seu apoio (bastante fraco se comparado ao PAIGC) vinha de uma pequena parcela da diáspora dos manjacos no Senegal, na França e na Gâmbia.[2] Seus líderes fundadores foram François Mendy, Vicente Có, Formoso Gomes, Jonas Mário Fernandes, Benjamim Pinto Bull, Henri Labery, Manuel Lopes da Silva, Doudou Seidi, Mamadu Seidi e Cesário Alvarenga.[2]

A luta armada, inclusive, teve seu princípio com as ações esporádicas e pouco efetivas do MLG entre 17 e 25 de julho de 1961, com o corte de linhas telefónicas entre São Domingos e a tabanca de Beguingue, o ataque ao aquartelamento de São Domingos, o ataque à estância turística da praia de Ponte Varela e a pilhagem de edifícios públicos e do posto sanitário de Susana.[3] Mesmo com a iniciativa inicial na Frente Norte bissau-guineense, a FLING não conseguia estabelecer uma base no terreno, ficando muito dependente do Senegal.[2]

A partir de 1963, os combates mais intensos levados a cabo pelo PAIGC contra os portugueses começaram,[3] com a FLING passando a ter participação mínima na Frente Norte,[3] mesmo nesse período ainda lutando ao lado do PAIGC.[2] No ano de 1964 não houve qualquer acção armada em terras bissau-guineenses por parte da FLING, com o movimento passando a desempenhar um papel simbólico como mediadores políticos.[2]

A liderança da FLING chegou a convidar o PAIGC a integrar-se à frente com a intermediação da Organização da Unidade Africana (OUA), mas não houve êxito.[2] Dois anos após do início da guerra pelo PAIGC, o Conselho de Ministros da OUA reconheceu este como sendo o movimento mais bem equipado e estruturado para o desenvolvimento da luta anticolonial bissau-guineense, excluindo, portanto, a FLING do plano de suporte financeiro.[2]

Porém, somente três anos depois de reunido e formado por Senghor, a FLING passa por uma disputa interna entre as várias lideranças pela predominância na luta anticolonial que enfraqueceria definitivamente o movimento.[1] A falta de coesão e os antagonismos tornaram-se cada vez mais fortes e causaram uma divisão em "FLING Combatente" e "FLING Ortodoxa", que defendiam, respectivamente, a continuação de uma luta armada e uma evolução pacífica do estatuto da Guiné Portuguesa.[1] O primeiro grupo fica sob comando de François Mendy, enquanto o segundo é liderado por Formoso Gomes.[1] Uma terceira FLING surge sob a liderança do antigo presidente Henri Labery.[1] A FLING Ortodoxa se impõe e Mendy é afastado da liderança da FLING Combatente em 28 de dezembro de 1965,[1] com o grupo se reunificando precariamente em 1966, buscando um acordo com Portugal.[1]

No final da guerra de independência, em 1974, os membros da FLING sofreram severa repressão.[4] O partido tentava se posicionar, no campo da mobilização popular, como aquele que se opôs ao PAIGC.[4] Porém, o crescimento da influência do PAIGC pela forte participação na luta armada[3] tornou a iniciativa infrutífera.[4] Além disso, a FLING afundou-se gradualmente na insignificância após a queda de Senghor, em 1980.[4]

O relaxamento democrático permitiu ao partido reorganizar-se ao final da década de 1980, mas acabou não resistindo às rivalidades e às ambições hegemónicas dos seus líderes.[5] Nas eleições legislativas de 3 de julho de 1994 a FLING obtém 7.475 votos que dão vaga a um deputado, com François Mendy, seu candidato à presidência, ficando em quinto lugar.[6] Foi neste momento que foi reconhecido de facto como partido político.[5]

Mendy foi novamente afatado da liderança do partido.[4] As cisões refletiram nas eleições parlamentares de 28 de novembro de 1999, quando perdeu seu único assento parlamentar, com seu candidato à presidência, José Catengul Mendes, terminando na décima colocação.[4]

No final do século XX o partido perdeu força e nas eleições parlamentares de 2004, bem como nas seguintes, sequer inscreveu-se na disputa. Desapareceu do cenário político a tal ponto que ao menos pôde atender ao edital de regularização do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) da Guiné-Bissau. Em 14 de novembro de 2022 o STJ o declarou extinto.[7]

Referências

  1. a b c d e f g Francisco Proença de Garcia. «Os movimentos independentistas, o Islão e o Poder Português (Guiné 1963-1974)». Consultado em 9 de setembro de 2023 
  2. a b c d e f g h Tcherno Ndjai (2012). O pensamento político de Amílcar Cabral : teoria e prática em movimentos decisivos na libertação da Guiné-Bissau (1959-1969) (PDF). Dissertação (Mestrado em História) - Programa de Pós-Graduação em História. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo. 185 páginas 
  3. a b c d José Matos (Novembro de 2015). «O Início da Guerra na Guiné (1961-1964)». Revista Militar (2566) 
  4. a b c d e f José Catengul Mendes (2007). Guinée-Bissau: une nouvelle image s'impose (em francês). [S.l.]: Graphi Plus. p. 38 
  5. a b Michel Cahen (1995). Transitions libérales en Afrique lusophone. (em francês). Paris/Talence: Karthala. 411 páginas. ISBN 2-86537-618-4  |isbn2= e |isbn= redundantes (ajuda)
  6. Dieter Nohlen; Michael Krennerich; Bernhard Thibaut (1999). Elections in Africa: A data handbook. [S.l.: s.n.] p. 467. ISBN 0-19-829645-2 
  7. Thiago Melo. Guiné-Bissau: Supremo extingue 28 partidos políticos. DW. 15 de novembro de 2022.

Bibliografia editar

  • Guiné 1963-1974 - Os Movimentos Independentistas, o Islão e o Poder Português ISBN 972-98222-3-9

Ver também editar