Garnier Frères

editora francesa
Garnier Frères
Criação
Extinção
Sede social
Proprietários
François-Hippolyte Garnier (d) (-)
Auguste Désiré Garnier (d) (-)
Auguste-Pierre Garnier (d) (a partir de )
Empresa-mãe
Rue des Écoles (d) (a partir de )

A Librairie Garnier Frères ("Livraria Garnier Irmãos" em francês) foi uma livraria editora francesa, sediada em Paris. Foi fundada pelos irmãos Auguste e Hippolyte Garnier em 1833. A livraria e, em particular, a Livraria Garnier fundada pelo irmão Baptiste-Louis Garnier no Rio de Janeiro, teve um importante papel da editoração de livros no Brasil durante o período do Império e começo da República.[1]

História editar

 
Retrato de Augueste Garnier, um dos editores-fundadores da Librairie Garnier, por Diogène Maillart.

A família dos irmãos Garnier é proveniente da península do Cotentin, na Normandia, noroeste da França.[2] O pais dos fundadores, Jean Baptiste Garnier (1777-1828), açougueiro, e Madeleine-Cécile Lechevallier tiveram quatro meninas e cinco meninos:

  • Jean-Baptiste Garnier (1805–1859)
  • Pierre-Auguste Garnier (1807–1899)
  • Sophie-Rosalie Garnier (1809–Deceased)
  • Jeanne-Thérèse Garnier (1811–Deceased)
  • Auguste Désiré Garnier, mais conhecido como Auguste Garnier (1812–1887)[3]
  • François-Hippolyte Garnier, mais conhecido como Hippolyte Garnier (1815–1911)
  • Aimée-Rose Garnier (1817–1838)
  • Octavie Garnier (1820–1839)
  • Baptiste-Louis Garnier (1822–1893)

Entre os rapazes, apenas Jean-Baptiste permaneceu na fazenda familiar e não se envolveu com o negócio de livros.[4] Ele e sua irmã, Sophie-Rosalie Garnier, foram os únicos a terem descendentes.

Auguste-Désiré, quando criança, desenvolveu boas habilidades de aprendizagem, levando o pároco de Lingreville a ensinar-lhe latim e grego, enviando-o, em 1828, para se tornar aprendiz com Monsieur Saint-Jorre, livreiro de La Manche instalado no Boulevard Montmartre em Paris.[4].

Já Hippolyte começou a trabalhar na livraria parisiense Delaroque, Boulevard des Capucines, exemplo seguido mais tarde por Pierre, que começou na livraria estrangeira Truchy, boulevard des Italiens[4][5].

Em 1833, Auguste e Hippolyte abriram uma livraria na galeria de Orléans no Palais-Royal, em Paris, e logo se juntaram a Pierre. Todos os três obtiveram sua licença de livreiro: Auguste em 9 de março 1835, Hippolyte em 22 de fevereiro 1838 e Pierre em 28 de março 1838.[5] Fundaram então a editora Garnier Fréres, cujo acervo foi inicialmente sendo formado por meio de acquisição dos direitos de venda de outras casas editoras, bem como os fundos comerciais dos que abriam falência e liquidavam todo o estoque.[6] Esses fundos compreendiam o mobiliário, os livros e as propriedades literárias (direitos sobre obras). Em 1841 adquirem os fundos do editor Henri-Louis Delloy, e em 1849, os de Salvat. Com esse, passam a vendem obras em espahol com o selo Garnier Hermanos. Em seguida, passam a expandir seus catálogos com a edição literária próprias, editaram obras de Chateaubriand, Victor Hugo, Balzac, as de Dubochet (1848) e Salva (1849), publicando também obras de escritores românticos e, posteriormente, a coleção de traduções de autores latinos de Panckoucke (1854) e a coleção Langlois-Leclercq (1859).[7]

O irmão mais novo, Baptiste-Louis, após ter frequentado a escola em Coutance (Normandia), trabalhou na livraria dos irmãos mais velhos até 1844 quando revolveu se mudar para o Brasil e fundar uma filial no Rio de Janeiro.[8] Fundada com o nome "Garnier Irmãos", a editora no Brasil passou a adotar a firma "B. L. Garnier" após 1852, e, algumas décadas depois, veio a se tornar a Livraria Garnier.[9]

Ascensão da editora Garnier Fréres editar

Seu primeiro sucesso foi a publicação do "Nouveau dictionnaire national" de Bescherelle em 1845, seguido pela publicação das obras completas de Chateaubriand e várias obras de Sainte-Beuve cujos irmãos eram próximos[4]. Publicaram ainda obras de Musset, Gautier, Sand e Vigny.[10]

Além de aquisição de fundos, a editora buscou outras fontes de acumulação de capital, como a comprar títulos de ferrovias, investimento em ações da bolsa de valores e a compra de imóveis situados nos mais valorizados boulevards.

Em 1852, transferiram-se para instalações maiores e mais prestigiadas, no Hôtel du Gouvernement de Paris, na esquina da rua de Lille e rua des Saints-Pères[10]. A partir de lá, publicam novos dicionários, e autores contemporâneos: Honoré de Balzac, Zola, George Sand, Chateaubriand, Gustave Flaubert. A partir de 1863, passam a editar também com livros escolares para o ensino primário e secundário, e diversificam na popularização da arte e da ciência.[4]

Por várias vezes, a partir de 1848, tentaram desenvolver novos formatos e coleções baratas [4]. Durante a revolução de 1848 e 1849, La Vérité aux ouvriers, aux paysans et aux soldats alcançou os números até então inédito de 600 000 cópias vendidas [7].

A venda de material obsceno também foi uma fonte lucrativa de renda.[6] As estampas, impressas em tipografias da periferia, eram vendidas nos esconderijos da loja, e exigiam enfrentar a vigilância policial, censura, multas e ameaças de prisão, em especial Pierre-Auguste, que acabou se especializando no ramo.[6] Por posse de tais gravuras, Pierre-Augueste condenado em 1854 iria cumprir um ano de prisão se não fosse a a intervenção de Jules Taschereau (1801-1874), ex-membro do parlamento e administrador assistente da Biblioteca Nacional.>[5]

Em 1858 foram condenados a uma multa e à prisão por terem publicado "Justiça na Revolução e na Igreja" por Proudhon[4].

Eles continuaram a adquirir fundos bibliográficos, incluindo o do Padre Migne, que morreu em 1875. Eles também compraram de volta seu negócio na avenue du Maine, sua editora e as terras adjacentes destruídas pelo fogo em 1868. Além disso, construíram um enorme armazém onde, entre outras coisas, foi escrito um dicionário enciclopédico em espanhol.[11]. A partir de 1877, eles publicam a Correspondance de Grimm[10].

A morte de Augusto em 1887 não impediu o crescimento da empresa familiar[4]. Em 1896, Hippolyte e Pierre lançaram uma nova coleção a um preço modesto, "Les classiques Garnier", que foi o resultado do reagrupamento das coleções "Latin Classics", "Greek Classics" e "Bibliothèque choisie". O aparato crítico que acompanha cada texto e a capa amarela brilhante tornam a editora famosa [4]

Com a morte de Baptiste-Louis Garnier em 1893 no Rio de Janeiro, o controle da Livraria Garnier passa as irmãos de Hippolyte, único irmão ainda vivo. Hippolyte, que jamais veio ao Brasil, decide enviar um gerente francês para a administração da loja, prática seguida por seu sucessor e sobrinho-neto Auguste-Pierre Garnier (1885-1966).[6]

Em 15 de julho de 1911, Hippolyte faleceu em Paris.[12] Ele deixou de herança ao município de Lingreville 60 títulos das ferrovias de Madri a Zaragoza e 60 títulos da ferrovia Lombard, desejando que a renda anual de cerca de 1.800 Francos fosse distribuída no aniversário de sua morte a jovens merecedores, casados dentro do ano e sem fortuna. O legado beneficiou os jovens de Lingreville até meados da década de 1970[4].

A editora após a morte dos irmãos Garnier editar

 
Marca editorial da Garnier Frères e Livraria Garnier utilizada no começo do século XX.

Após a morte de Hippolyte, os negócio foram assumidos por seu sobrinho-neto, Auguste-Pierre Garnier(1885-1966).[4] Sob sua direção, a empresa Garnier desenvolveu a Garnier Classics e criou as coleções "Prestige" e "Selecta". Também publica os álbuns infantis de Benjamin Rabier e da história em quadrinho do pato Gédéon[4].

Em 1964, Garnier e Flammarion Editions fundaram a coleção de bolso: "Garnier-Flammarion" para publicar os "Classiques Garnier" a preço de bolso sem seu aparato crítico.

Auguste-Pierre Garnier morreu em 1966, e foi enterrado em Quettreville-sur-Sienne. Seus dois filhos, Jean (1914-2010) e Bernard Garnier (1927-2010), sucederam-lhe [4], criando novas coleções como Les Classiques populaires, Les Classiques de la politique e Les Classiques de l'énigme. Novos dicionários e obras de literatura geral foram lançados [4]. A publicação acadêmica prevaleceu gradualmente sobre a publicação popular.[10].

Mas diante da competição do livro de bolso, a editora se enfraqueceu[4]. A coleção Garnier-Flammarion foi vendida para Flammarion no outono 1979 sob o nome de GF Flammarion. A casa editoral pediu falência em junho 1983 e o fundo, compreendendo os 200 títulos da coleção "amarela", foi vendido para as "Presses de la Cité"[10] e operado a partir de 1988 por Dunod-Bordas [4].

Em 1998, a marca Classiques Garnier foi adquirida pela empresa Classiques Garnier Multimédia, uma subsidiária da Infomedia[4].

Bibliografia editar

Referências

  1. Hallewell 2012, p. 220-221.
  2. Hallewell 2012, p. 221.
  3. Registro de nascimento de Auguste-Désiré, Archives Départementales de La Manche.
  4. a b c d e f g h i j k l m n o p q Bulletin municipal n°10, inverno 2013, Mairie de Lingreville.
  5. a b c Jean-Paul Fontaine, " Révélations sur les frères Garnier ", blog Histoire de la Bibliophilie, 6 de maio de 2013.
  6. a b c d Leão, Andréa Borges (2007). «A livraria Garnier e a história dos livros infantis no Brasil: gênese e formação de um campo literário (1858-1920) - Garnier bookshop and the history of the books for children in Brazil: genesis and development of a literary field». Revista História da Educação (21): 159–183. ISSN 2236-3459. Consultado em 25 de janeiro de 2021 
  7. a b Gustave Vapereau, Dictionnaire universel des contemporains, Hachette, 1858
  8. Hallewell 2012, p. 222.
  9. Hallewell 2012, p. 223.
  10. a b c d e Nossa casa, www.classiques-garnier.com.
  11. Denise Fisher Hubert, "La publication d'un dictionnaire encyclopédique espagnol à Paris à la fin du XIXe siècle: le Diccionario Enciclopédico de Garnier Frères", "La cultura del otro: español en Francia, francés en España. Actas, Sevilha, 2006. p. 494.
  12. «Le Temps 15 juillet 1911». RetroNews - Le site de presse de la BnF (em francês). Consultado em 25 de janeiro de 2021 

Ligações externas editar