Genética para conservação

Genética para conservação é um campo da genética que busca conservar a diversidade genética de populações, especialmente de espécies ameaçadas ou em vias de extinção. Ela se debruça sobre os fenômenos que surgem com a diminuição da variedade genética e suas consequências para a espécie, fornecendo meios de solucioná-las.

A genética para conservação se utiliza de conhecimentos e técnicas das áreas de genética evolutiva e genética quantitativa, mas se diferencia ao focar em espécies que sofrem com a redução do tamanho populacional. A teoria da genética de populações aponta que há uma relação estreita entre a diversidade genética e o tamanho populacional e, quando pequenas, há impactos negativos na aptidão da espécie. Ao estudar populações vulneráveis, a genética para conservação consegue indicar grupos prioritários para conservação, além de apontar quais medidas são mais indicadas para o manejo. [1]

História editar

Foi a partir de meados dos anos 80 que a genética para conservação surgiu como uma disciplina distinta das demais, após duas décadas de trabalhos publicados demonstrando o papel que a genética poderia assumir a favor da biologia da conservação[2] [3] [4] [5] [6]. Posteriormente, o advento das técnicas de genética molecular contribuiu amplamente para a consolidação da genética para conservação, permitindo medir diretamente a diversidade genética e o fluxo gênico entre diferentes populações.​[7] [8] [9] [10]

Os avanços reafirmaram a relação entre o tamanho populacional e a diversidade genética de uma população, demonstrando que cerca de 77% das espécies ameaçadas possuem diversidade genética inferior à de espécies relacionadas que estejam fora de risco. Espécies ameaçadas possuem em média 60% da diversidade genética de espécies não ameaçadas, em razão da grande redução do tamanho populacional.​[11]

Diversidade genética e sua relevância editar

 Ver artigo principal: diversidade genética

A diversidade genética corresponde à variedade de alelos e genótipos possuída por uma dada população estudada. São os genes que irão definir quais fenótipos que um dado grupo apresenta, proporcionando as diferenças morfológicas, fisiológicas e etológicas encontradas internamente. Essa variedade é importante pois representa a aptidão que uma espécie possui para sobreviver às mudanças no meio ambiente. Em grupos cujo tamanho populacional esteja reduzido, a diversidade genética é diretamente impactada, dado que há uma relação estreita entre o número de indivíduos de uma população e a frequência de mutações que ocorreram nessa população.

Populações de tamanho reduzido sofrem principalmente com a endogamia, ou seja, a reprodução entre indivíduos geneticamente semelhantes. Quão menor for o número de indivíduos em uma dada população, mais frequente será a reprodução de indivíduos que compartilham algum grau de parentesco. Já é amplamente conhecido na literatura que esse processo leva ao aumento de doenças e outras complicações na população. Genes deletérios podem se tornar mais frequentes conforme a população diminui de tamanho. A genética da conservação nesse caso consegue identificar o grau de endogamia em uma população e, a partir dessa informação, determinar quais são as melhores medidas para mitigar ou suprimir a endogamia.

Aplicações editar

  • Identificação de espécies que sofrem com diminuição da diversidade genética e mitigação de endogamia.
  • Identificação da estrutura de populações fragmentadas.
  • Resolução de incertezas taxonômicas.
  • Detecção de áreas de hibridização e Unidades Evolutivamente Significativas (UES).
  • Determinação de áreas e/ou populações preferenciais para ações de manejo e reintrodução.
  • Análises forenses.
  • Identificação na mudança de taxas de mutação em função de mudanças ambientais.
  • Desenvolvimento de técnicas não-invasivas para análise genética.

Referências

  1. Frankham,R.; Ballou, J.D.Briscoe, D.A.Fundamentos Genética Conservação. São Paulo: Sociedade Brasileira de Genética, 2008.
  2. Frankel,O.H. (1970). Variation, the essence of life. Sir William Macleay Memorial Lecture. Proceeding of the Linnean Society NSW, 95: 158-169.
  3. Frankel,O.H. (1974). Genetic conservation: our evolutionary responsibility. Genetics, 78:53-65.
  4. Frankel,O.H.; Soulé, M.E. Conservation and Evolution. Cambridge: Cambridge University Press, 1981.
  5. Soulé, M.E.; Wilcox, B.A. Conservation Biology: An Ecological-Evolutionary Perspective. Sunderland: Sinauer Associates, Inc., 1980.
  6. Schonewald-Cox, C.M.; Chambers, S.M.; MacBryde, B.; Thomas. W.L. Genetics and Conservation: A Reference for Managing Wild Animal and Plant Populations. Califórnia: The Benjamin-Cummings Publishing Company, Inc., 1983.
  7. Lewontin, R.C.; Hubby. J.L. (1966). A molecular approach to the study of genic heterozygosity in natural populations. II. Amount of variation and degree of heterozygosity in natural populations of ​Drosophila pseudoobscura​. Genetics, 54: 595-609.
  8. Avise, J.C.; Lansman, R.A.; Shade., R.O. (1979). The use of restriction endonucleases to measure mitochondrial DNA sequence relatedness innatural populations. I. Population structure and evolution in the genus Peromyscus. Genetics, 92: 279-295.
  9. Brown, W.M.; Wright.,J. (1979). Mitochondrial DNA analyses of the origin and relative age of parthenogenetic lizards (genus Cnemidophorus). Science, 203: 1247-1249.
  10. Avise, J.C. Molecular Markers, Natural History, and Evolution. 2​aedição. Sunderland: Sinauer Associates, Inc., 2004.
  11. Frankham, R.; Ballou, J.D; & Briscoe D.A. A Primer of Conservation Genetics. Cambridge: Cambridge University Press, 2007