Ghost work (em português, trabalho fantasma) é um termo, utilizado por Mary L. Gray, para designar trabalhos baseados em tarefas sob demanda, através da internet e APIs. Esses funcionários, na maioria dos casos, não possuem direitos trabalhistas, como compensação por acidente ou limite de horas de trabalho.

Definições editar

Após a popularização de tecnologias crowdsourcing, como o Amazon Mechanical Turk, para criação de rótulos a serem utilizados na inteligência artificial, surgiu um debate sobre quem eram esses trabalhadores e suas condições de trabalho [1], já que há uma estimativa de que, em 2020, trabalhos sob demanda terão uma quota de mercado de 25 bilhões de dólares[2], e que em até 2030, 38% dos trabalhos nos Estados Unidos serão automatizados[3] . Apesar disso, a inteligência artificial em algum ponto necessita de pessoas mexendo nos dados, seja para estruturar de alguma maneira ou para a limpeza de dados,[4] e a maioria dos cientistas e engenheiros não sabem quem são esses trabalhadores, criando os chamados Ghost Workers.

Os ghost workers não trabalham diretamente para empresas, sendo difícil obter informações além das demográficas que são fornecidas pelas plataformas[5], já que os trabalhos são temporários - especificamente no Amazon Mechanical Turk, 50% da força de trabalho é alterada entre 12-18 meses[6] - porém estima-se que 8% dos americanos já fizeram algo nesta área[7] e 52% da força de trabalho ganha menos do que é permitido pela lei americana[8]. Foi verificado que esses trabalhadores possuem uma rede de contatos, seja para a indicação de trabalhos, apoio emocional ou para compartilhar boas práticas[5]. Alguns dos efeitos ligados aos ghost workers é a hipervigilância, já que é necessário estar sempre atento as melhores oportunidades das plataformas - sendo negativo também para os contratantes, pois não conseguem escolher exatamente o melhor funcionário para a função dada a quantidade de inscrições feitas[5]. O fatos dos trabalhos estarem disponíveis a qualquer momento pode afetar na qualidade de sono dos trabalhadores, já que alguns colocam alarmes e notificações para as publicações de serviço[9].

Grandes companhias possuem seus próprios serviços de crowdsourcing, como a Microsoft que possui a Microsoft's Universal Human Relevance System, no período que foi lançado, possuía em torno de 7.5 milhões de tarefas mensais[9].

Motivações editar

As motivações citadas por ghost workers envolvem controle do tempo, já que existem trabalhos disponíveis 24 horas por dia e há uma flexibilidade - permitindo liberdade para cuidar da família ou possuir outros empregos, controle de projetos e controle do local de trabalho - podendo não ser necessário um escritório, por exemplo[2]. A maioria dos trabalhadores estão localizados nos Estados Unidos e Índia[10]. 70% dos usuários de plataformas como Amazon Mechanical Turk são "experimentadores" - que tentam a plataforma mas que resolvem não continuar, 20% são "regulares", onde eles passam um tempo determinado previamente para realizar as tarefas e 10% são chamados de "frequentes", onde essas plataformas funcionam como um emprego e tendem a estar sempre presentes para realizar tarefas. Os regulares impedem que os trabalhadores frequentes dominem o mercado[4].

Repercussão editar

 
Manifestantes contra os direitos trabalhistas da Rappi e Glovo

Algumas grandes empresas de tecnologia, como Google e Microsoft, começaram a exigir direitos trabalhistas similares aos seus funcionários para os funcionários terceirizados[11][12], incluindo os ghost workers - tornando-se influências positivas na área de tecnologia da informação, após uma série de protestos[13]. O problema de funcionários terceirizados para testar softwares não é recente - em 1992, a Microsoft foi processada por não dar os benefícios aos funcionários terceirizados. E, nesse caso, após 8 anos a empresa foi obrigada a pagar a multa 97 milhões de dólares, dinheiro que seria distribuído em torno de 8000 a 12000 funcionários[14].

A Amazon Mechanical Turk foi acusada de monopólio no mercado de trabalho online, permitindo a baixa remuneração dos seus funcionários[15]. Essas novas empresas também são acusadas de utilizar gamificação, com padrões similares a Jogos de azar, para estimular cada vez mais o uso das plataformas por parte dos trabalhadores[16].

Enquanto isso, funcionários da Uber e da Lyft protestam pela falta de transparência das empresas em relação ao lucro ganho por viagem e a falta de condições de trabalho, com os motoristas são considerados como funcionários terceirizados[17][18]. Na Espanha, houve protestos contra a Glovo - aplicativo de entrega, similar ao Uber Eats - após a morte de um entregador, onde eles são classificados como "empregados autônomos"[19]. Estima-se que motoristas sob demanda, como nos aplicativos citados, possuem 20 vezes mais riscos de sofrerem homicídio do que trabalhadores comuns[20]. Além disso, esses funcionários pagam o próprio equipamento, como carro, bicicleta e equipamentos de segurança - como capacetes [21]. Também não fica claro como essas plataformas cuidam dos seus funcionários, com comportamentos bastante heterogêneos[21].

Outras categorias, como moderadores de conteúdo do Facebook - cujo trabalho é analisar postagens feitas na plataforma e ver se estão de acordo com os termos de uso - são expostos a cenas fortes, como pedofilia e discurso de ódio, sem receberem os devidos cuidados a possíveis traumas psicológicos[22], principalmente após um trabalhador morrer durante o trabalho, em 2018, e o escritório, localizado na Flórida, não possuir um desfibrilador[23]. Moderadores de conteúdo também estão presentes no Google e Twitter, levantando questões sobre individualidade na hora de selecionar o que deve ser postado nas redes e fake news após o documentário The Cleaners[24].

Na China, a popularização de "fábricas" de criadores de rótulos também aumenta a preocupação com o futuro utópico do país, que busca criar uma pontuação para seus cidadãos - com implementação prevista até 2020[25], além do maior número de startups em Visão computacional em 2017[26]. O governo do país possui grande quantidade de dados, precisando cada vez mais de trabalhadores que tratem deles - com a criação de plataformas próprias de crowdsourcing, com os mesmos problemas de baixos salários[27].

Melhorias a serem feitas editar

Algumas sugestões foram feitas por Mary L. Gray, para evitar que as situações atuais dos ghost workers se propaguem, como[4]:

  • Planos de saúde para todos os trabalhadores;
  • Garantia de educação, mesmo após a entrada no mercado de trabalho;
  • Espaço de coworking, melhorando os espaços de trabalho;
  • Retenção de trabalhadores, mantendo a mão-de-obra - diminuindo as preocupações de desemprego

Exemplos de ghost work editar

  • Moderadores de websites
  • Criadores de rótulos para inteligência artificial
  • Estafetas temporários
  • Testes de usabilidade
  • Tradutores em demanda

Ver também editar

Referências editar

  1. Chen, Angela (13 de maio de 2019). «How Silicon Valley's successes are fueled by an underclass of "ghost workers"». The Verge. Consultado em 28 de junho de 2019 
  2. a b «Ghost Work and the Future of Employment - MIT Technology Review». MIT Technology Review Events. Consultado em 30 de junho de 2019 
  3. Berriman, Richard, and John Hawksworth. "Will robots steal our jobs." The Potential Impact of Automation on the UK and other Major Economies. PwC UK Economic Outlook, March (2017).
  4. a b c Data & Society Research Institute (13 de maio de 2019), Databite No. 119: Mary L. Gray, consultado em 3 de julho de 2019 
  5. a b c «'Ghost Work' explores the ups and mostly downs of the hidden gig economy». GeekWire (em inglês). 14 de maio de 2019. Consultado em 28 de junho de 2019 
  6. Unknown. «How many Mechanical Turk workers are there?». Consultado em 3 de julho de 2019 
  7. Gray, Mary L.,. Ghost work : how to stop Silicon Valley from building a new global underclass. Boston: [s.n.] ISBN 9781328566249. OCLC 1052904468 
  8. «Mechanical Turk: Research in the Crowdsourcing Age | Pew Research Center» (em inglês). 11 de julho de 2016. Consultado em 3 de julho de 2019 
  9. a b Reese, Hope; December 16, Nick Heath on; 2016. «Inside Amazon's clickworker platform: How half a million people are being paid pennies to train AI». TechRepublic (em inglês). Consultado em 3 de julho de 2019 
  10. Gray, Mary L.; Suri, Siddharth; Chen, Wei-Chu (6 de julho de 2019). «More Than Money: Correlation among Worker Demographics, Motivations, and Participation in Online Labor Market». Proceedings of the International AAAI Conference on Web and Social Media (em inglês). 13 (01): 134–145. ISSN 2334-0770 
  11. Weber, Lauren. «Microsoft to Require Its Suppliers, Contractors to Give Paid Family Leave». WSJ (em inglês). Consultado em 1 de julho de 2019 
  12. Lerman, Rachel. «Google to require benefits, minimum wage for contractors». chicagotribune.com. Consultado em 1 de julho de 2019 
  13. Campbell, Alexia Fernández (4 de abril de 2019). «Google will extend some benefits to contract workers after internal protest». Vox. Consultado em 2 de julho de 2019 
  14. «Microsoft to Pay $97 Million to End Temp Worker Suit». Los Angeles Times (em inglês). 13 de dezembro de 2000. ISSN 0458-3035 
  15. Dube, Arindrajit; Jacobs, Jeff; Naidu, Suresh; Suri, Siddharth (21 de maio de 2018). «Monopsony in online labour markets». VoxEU.org. Consultado em 3 de julho de 2019 
  16. Mason, Sarah (20 de novembro de 2018). «High score, low pay: why the gig economy loves gamification». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077 
  17. «Uber driver protests ahead of IPO spell uncertain future for gig economy». GeekWire (em inglês). 8 de maio de 2019. Consultado em 2 de julho de 2019 
  18. Hawkins, Andrew J. (29 de março de 2019). «Lyft drivers strike as the money-losing company goes public». The Verge. Consultado em 3 de julho de 2019 
  19. «Glovo faces safety protests after delivery rider killed on the job». TechCrunch (em inglês). Consultado em 3 de julho de 2019 
  20. «The Dangers of Gig Economy and On Demand Worker Injuries». Hardison and Cochran, Attorneys at Law (em inglês). 1 de setembro de 2018. Consultado em 3 de julho de 2019 
  21. a b GAHNTZ, Maximilian (6 de dezembro de 2018). «Debunking the myths of the Gig Economy - Maximilian GAHNTZ». Medium (em inglês). Consultado em 3 de julho de 2019 
  22. Newton, Casey (19 de junho de 2019). «Three Facebook moderators break their NDAs to expose a company in crisis». The Verge. Consultado em 2 de julho de 2019 
  23. Eadicicco, Lisa. «A Facebook content moderator died after suffering a heart attack while on the job, according to a new report detailing harsh working conditions». Business Insider. Consultado em 3 de julho de 2019 
  24. «BBC Four - Storyville, The Internet's Dirtiest Secrets: The Cleaners». BBC (em inglês). Consultado em 3 de julho de 2019 
  25. Myers, Mariel. «Here's the tech China's using to monitor, shame and rate citizens». CNET (em inglês). Consultado em 3 de julho de 2019 
  26. «Research Briefing: The State of Artificial Intelligence 2018». CB Insights Research (em inglês). Consultado em 3 de julho de 2019 
  27. Yuan, Li (25 de novembro de 2018). «How Cheap Labor Drives China's A.I. Ambitions». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331