Grahana

termo sânscrito para um eclipse

Grahana (em sânscrito: ग्रहणं 'eclipse') refere-se ao termo sânscrito para um eclipse.[1] Os eclipses são considerados fenômenos importantes no hinduísmo, e lendas envolvendo sua origem e propósito são apresentadas na mitologia hindu.

Rahu engole o sol, conhecido como Rahukalam

Literatura editar

Um eclipse pode ser classificado como um eclipse solar Suryagrahana (Sūryagrahaṇam),[2] ou um eclipse lunar, Chandragrahana (Candragrahaṇam)[3] na literatura hindu.

As crenças em torno dos eclipses são consideradas pelos estudiosos como intimamente associadas às divindades védicas e foram significativas tanto na astrologia quanto na astronomia.[4][5] A origem dos eclipses é explicada na lenda purânica do Samudra Manthana, a agitação do oceano primordial. Quando o asura chamado Rahu tentou se passar por um deva para receber amṛtam, o néctar da vida eterna, Surya e Chandra, as divindades do sol e da lua, alertaram Mohini, uma forma de Vishnu. Mohini prontamente jogou seu disco para decapitar o asura, mas ele já havia consumido uma gota do néctar e se tornado imortal. A cabeça de Rahu foi banida para os céus e, devido à participação das duas divindades celestiais em sua decapitação, ele ocasionalmente as engole inteiras por um determinado período de tempo, causando o eclipse solar e lunar.[6]

Em outros textos, o eclipse está associado a Svarbhanu, que é identificado como o asura cuja cabeça se torna mais tarde Rahu. De acordo com o Mahabharata, o deus do sol Surya também é descrito como um "inimigo de Svarbhānu".[7] Diz-se que Svarbhānu atinge o Sol e a Lua com flechas, e os corpos celestes são revividos por Atri como é dito no Rigveda.[8]

O Skanda Purana conta a lenda em que os sábios testemunham uma mulher que morava na floresta ficar mais bela após tomar banho em um lago sagrado durante um eclipse solar, o que implica que é um meio de alcançar a salvação.[9]

No Padma Purana, afirma que se um homem fizer o tilatarpaṇa, ou seja, a oferta de água e bolinhos de arroz, aos seus ancestrais durante um eclipse solar, ele os nutre e alcança o mundo celestial; falhando, ele se torna um Chandala na próxima encarnação. Isso ocorre porque toda a água é considerada tão sagrada quanto o Ganges durante esse período. Todos os brâmanes se tornam tão veneráveis quanto o sábio Vyasa durante este período. Um presente oferecido durante um eclipse lunar tem 100.000 de eficácia; um presente oferecido durante um eclipse solar tem 1.000.000 de eficácia.[10]

O livro Narada Purana ensina cálculos relativos às previsões de eclipses solares e lunares, juntamente com outros eventos astronômicos.[11]

O Brahma Vaivarta Purana afirma que aquele que se banha durante a lua cheia, um eclipse e ocasiões sagradas alcança a morada de Vishnu, Vaikuntha.[12]

Práticas religiosas editar

Os hindus geralmente acreditam que um grahana é um mau presságio e realizam certas atividades antes, durante ou depois de seu início. Antes de um eclipse solar, é recomendado o jejum por até seis horas antes do fenômeno. A comida geralmente é preparada somente após a passagem do eclipse. As convenções e regras sobre o consumo de refeições em determinadas horas no contexto do evento são prescritas no Kurma Purana.[13]

Durante a primeira e a fase final de um eclipse, um devoto pode banhar-se ritualmente para se purificar, bem como oferecer orações aos seus ancestrais. Locais de peregrinação situados adjacentes a um rio se enchem de devotos durante o início de um grahana em algumas regiões.[14]

Acredita-se que especialmente as mulheres grávidas então em risco em um eclipse, e espera-se que observem as restrições religiosas durante o fenômeno para evitar deformidades e má formações em seus filhos.[15]

É considerado um mau presságio nascer durante um eclipse, e os brâmanes são freqüentemente chamados para abençoar ritualmente a criança. Por outro lado, um grahana é considerado um momento auspicioso para apratica e o canto de mantras, especialmente para se proteger contra o mal.[16]

Veja também editar

Referências editar

  1. www.wisdomlib.org (10 de maio de 2017). «Grahana, Grahaṇa: 24 definitions». www.wisdomlib.org (em inglês). Consultado em 14 de outubro de 2022 
  2. www.wisdomlib.org (24 de maio de 2018). «Suryagrahana, Sūryagrahaṇa, Surya-grahana: 12 definitions». www.wisdomlib.org (em inglês). Consultado em 14 de outubro de 2022 
  3. www.wisdomlib.org (11 de novembro de 2018). «Candragrahana, Candragrahaṇa, Candra-grahana, Camdragrahana: 10 definitions». www.wisdomlib.org (em inglês). Consultado em 14 de outubro de 2022 
  4. Garg, Gaṅgā Rām (1992). Encyclopaedia of the Hindu World (em inglês). [S.l.]: Concept Publishing Company. 11 páginas. ISBN 978-81-7022-374-0 
  5. Thompson, Richard L. (2004). Vedic Cosmography and Astronomy (em inglês). [S.l.]: Motilal Banarsidass Publ. 100 páginas. ISBN 978-81-208-1954-2 
  6. www.wisdomlib.org (28 de janeiro de 2019). «Story of Aruṇa». www.wisdomlib.org (em inglês). Consultado em 14 de outubro de 2022 
  7. Buitenen, Johannes Adrianus Bernardus; Buitenen, J. A. B. van (15 de setembro de 1981). The Mahabharata, Volume 2: Book 2: The Book of Assembly; Book 3: The Book of the Forest (em inglês). [S.l.]: University of Chicago Press. 242 páginas. ISBN 978-0-226-84664-4 
  8. Kiehnle, Catharina (1999). «Dattātreya: The Immortal Guru, Yogin, and Avatāra: A Study of the Transformative and Inclusive Character of a Multi-Faceted Hindu Deity. By Antonio Rigopoulos. SUNY Series in Religious Studies. Edited by Harold Coward. Albany: State University of New York Press, 1998. xvi, 342 pp.». The Journal of Asian Studies. 58 (2): 3–4. ISSN 0021-9118. JSTOR 2659472. doi:10.2307/2659472 
  9. Jain, Sandhya (19 de março de 2022). Adi Deo Arya Devata: A Panoramic View oF Tribal-Hindu Cultural Interface (em inglês). [S.l.]: Notion Press. 36 páginas. ISBN 979-8-88530-378-1 
  10. Bhatt, Dr G. P.; Deshpande, Dr N. A. (1 de janeiro de 2013). The Padma-Purana Part 2: Ancient Indian Tradition and Mythology Volume 40 (em inglês). [S.l.]: Motilal Banarsidass. 715 páginas. ISBN 978-81-208-3907-6 
  11. Tagare, Ganesh Vasudeo (1 de janeiro de 1981). The Narada-Purana Part 2: Ancient Indian Tradition and Mythology Volume 16 (em inglês). [S.l.]: Motilal Banarsidass. 711 páginas. ISBN 978-81-208-0348-0 
  12. Books, Kausiki (9 de julho de 2021). Brahma Vaivartha Purana: 2 Prakrithi Khanda: English Translation only without Slokas: English Translation only without Slokas (em inglês). [S.l.]: Kausiki Books. 57 páginas 
  13. Books, Kausiki (24 de outubro de 2021). Kurma Purana Part 2: English Translation only without Slokas (em inglês). [S.l.]: Kausiki Books. 169 páginas 
  14. Lall, R. Manohar (2004). Among the Hindus: A Study of Hindu Festivals (em inglês). [S.l.]: Asian Educational Services. 104 páginas. ISBN 978-81-206-1822-0 
  15. Simoons, Frederick J. (1998). Plants of Life, Plants of Death (em inglês). [S.l.]: Univ of Wisconsin Press. 171 páginas. ISBN 978-0-299-15904-7 
  16. Sastri, S. M. Natesa (1903). Hindu Feasts, Fasts and Ceremonies (em inglês). [S.l.]: Printed at the M.E. publishing house. 31 páginas