Nota: Se procura pelo álbum de Andreas Kisser, veja Hubris I & II.

A húbris ou hybris (em grego ὕϐρις, "hýbris") é um conceito grego que pode ser traduzido como "tudo que passa da medida; descomedimento" e que atualmente alude a uma confiança excessiva, um orgulho exagerado, presunção, arrogância ou insolência (originalmente contra os deuses), que com frequência termina sendo punida. Na Antiga Grécia, aludia a um desprezo temerário pelo espaço pessoal alheio, unido à falta de controle sobre os próprios impulsos, sendo um sentimento violento inspirado pelas paixões exageradas, consideradas doenças pelo seu caráter irracional e desequilibrado, e concretamente por Até (a fúria ou o orgulho). Opõe-se à sofrósina, a virtude da prudência, do bom senso e do comedimento.

O conceito do impossível Das Unmögliche (em latim Imposibile) aqui nesta gravura de Hans Sebald Beham visto em um representação personificada, produzido em cobre na região da atual Alemanha em 1549. A advertência em língua alemã antiga porém compreensível ainda hoje, reza para que a pessoa nunca se proponha fazer aquilo que lhe seja impossível conseguir: Niment under stesich groser Ding, die im zu thun unmuglich sindt.

A húbris na antiguidade editar

Aristóteles definiu húbris como uma humilhação para a vítima, não por causa de qualquer coisa que tenha acontecido ou que ela tenha feito ou pudesse fazer contra você, mas meramente por descaso seu em relação a ela. Húbris não é o acerto de contas por erros cometidos - isso é vingança. Húbris é o descaso que alguém tem pelos outros, ou pelos deuses, achando que pode fazer tudo que quiser. [1]

A húbris é relacionada ao conceito de moira, que em grego significa 'destino', 'parte', 'lote' e 'porção' simultaneamente. O destino é o lote, a parte de felicidade ou desgraça, de fortuna ou desgraça, de vida ou morte, que corresponde a cada um em função da sua posição social e da sua relação com os deuses e os homens. Contudo, o homem que comete húbris é culpável de desejar mais daquilo que lhe foi concedido pelo destino. O castigo dos deuses para a húbris é a nêmesis, que tem como efeito fazer o indivíduo retornar aos limites que transgrediu.

A concepção da húbris como infração determina a moral grega como uma moral da mesura, a moderação e a sobriedade, obedecendo o provérbio pan metron, que significa literalmente 'à medida de todas as coisas', ou melhor ainda 'nunca demais' ou 'sempre bem'. O homem deve continuar sendo consciente do seu lugar no universo, é dizer, ao mesmo tempo da sua posição social numa sociedade hierarquizada e da sua mortalidade ante os imortais deuses.

A húbris é um tema comum na mitologia, as tragédias gregas e o pensamento pré-socrático, cujas histórias incluíam com frequência protagonistas que sofriam de húbris e como consequência da sua transgressão eram castigados pelos deuses (o qual não necessariamente implica um desfecho trágico). A tragédia ocorre com a ultrapassagem do metron pelo homem, uma transgressão contra a ordem social e, portanto, contra os deuses imortais: a hybris. Isto origina a nêmesis, o ciúme divino, provocando que seja lançada contra o herói a Até, a cegueira da razão. Ele virá a ser subjugado sem apelo pela moira, o destino cego.

Na Teogonia de Hesíodo, as diferentes raças de homens (de bronze, de ferro, et cétera) vão sucedendo-se enquanto as anteriores são condenadas pela sua húbris. Em certo jeito, a infração de Agamemnon no primeiro livro da Ilíada é relacionada com a húbris, por ter despojado Aquiles da parte da pilhagem que lhe deveria corresponder por justiça. Pela sua vez, Heráclito amostra a húbris como o assinalamento de uma infração para o Nous ou deus legal: «O sol não traspassará as suas medidas, pois se não será descoberto pelas Erínias, assistentes da Dice Porém, Heráclito acredita que enquanto haja discórdia, poderão as partes fundir-se no Um. Portanto aqui a húbris é um fluir de opostos, fazendo possível a vida.

Havia também uma deusa chamada Hybris, a personificação do anterior conceito: insolência e falta de moderação e instinto. Hybris passava a maior parte do tempo entre os mortais. Segundo Higino era filha de Érebo e a Noite, atribuindo outros autores a maternidade de Coros, o daimon do desdém.

No direito grego, a húbris refere-se com maior frequência à violência ébria dos poderosos para os débeis. Na poesia e a mitologia, o término foi aplicado àqueles indivíduos que se consideram iguais ou superiores aos deuses. A húbris era com frequência o 'trágico erro' ou hamartia das personagens dos dramas gregos.

Exemplos de húbris editar

Personagens mitológicas gregas e romanos castigadas pela sua húbris:

O castigo por arrogância também aparece como um tema na Bíblia:

A húbris atualmente editar

O historiador britânico Arnold J. Toynbee, no seu volumoso Estudo da História, utiliza o conceito de húbris para explicar uma possível causa do colapso das civilizações, como variante ativa da nêmesis da criatividade.

Etimologia editar

O termo deriva do grego ὕϐρις hybris

O adjectivo "híbrido" vem do grego hybris, através do latim hybrida, pois os gregos consideravam o hibridismo, consequente da miscigenação, uma violação das leis naturais.

Ver também editar

Ligações externas editar

 
Wikcionário
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Referências

  1. Rhetoric. 350 B.C.E.. p. 1378b

Bibliografia editar

  • FISHER, Nick(1992). Hybris: a study in the values of honour and shame in Ancient Greece, Warminster , Reino Unido: Aris & Phillips.