História dos aparelhos auditivos

A audição é de suma relevância para a comunicação entre as pessoas dentro da sociedade, o que garante a interação entre os indivíduos. Quando há casos de perdas auditivas, podem ocorrer conflitos pessoais, isolamento, manifestações emocionais e psicológicas, potencializando os riscos de depressão. A partir dessa necessidade, foram criados os primeiros aparelhos de amplificação sonora individual (AASI). O intuito do AASI é melhorar o acesso aos sons, tratando as queixas auditivas e sociais, o que favorece a autonomia e qualidade de vida.

Nos dias atuais, os AASIs são discretos e confortáveis e ainda, buscam uma qualidade sonora o mais natural possível. Contudo, a evolução desses aparelhos ocorre de longa data, iniciando, aproximadamente, em 1800, sendo dividida em cinco Eras: Era Acústica, Era do Carbono, Era da Válvula, Era do Transistor e a Era Digital.

Era Acústica (1800-1900): Chamadas de cornetas acústicas, eram compostas por uma parte larga e aberta e pelos tubos de fala eram utilizados como meios de amplificação dos sons.[1]

Era do Carbono (1900-1920): Iniciou após o advento do telefone e com a subsequente aplicação desta tecnologia adaptada à fabricação das próteses auditivas.[1] Nesta época foi criada a primeira prótese auditiva do tipo Caixa, para ser usada em um bolso de camisa.

Prótese auditiva do tipo Caixa

Era da Válvula (1930-1940): Surgiram aparelhos com maior amplificação, melhor resposta de frequências e menor ruído interno. Em 1932, foi lançada a primeira prótese por via óssea. Em 1935, foi lançado o Salex-a-Phone, aparelho da Radioear Corporation que apresentava três microfones, quatro amplificadores, um receptor de via aérea e três receptores de via óssea.[1] Em 1942, foi descrito o primeiro molde ventilado, sendo a ventilação utilizada quando necessária.[1]

Era do Transistor (a partir de 1947): ocorreu o advento do transistor, desenvolvido no Bell Telephone Laboratories, que constituiu um grande avanço, à medida que possibilitou o uso de microfone e pilhas cada vez menores, o que consequentemente propiciou uma redução do tamanho global das próteses auditivas.[1]

Nos anos 1950, desenvolveu-se a prótese auditiva montada na haste do óculos, sendo o primeiro modelo que posicionava a prótese atrás da orelha. Nesse tipo de prótese foi possível utilizar o sistema CROS (Contralateral Routing of Signal) inventado em 1965, por Harford e Barry. O microfone era utilizado na orelha com deficiência auditiva a fim de transmitir o som à orelha com audição normal. A utilização desse sistema permitiu a eliminação do efeito sombra da cabeça e excelentes resultados em perdas auditivas unilaterais.[1]

Com o passar dos anos diferentes modelos de AASI foram desenvolvidos com o objetivo de qualificar ainda mais a amplificação da audição residual do indivíduo:

  • 1956: surgiu a prótese retroauricular (BTE), começam a serem utilizados os circuitos integrados na produção de próteses, que podem ser adaptados com molde auricular e/ou tubo fino.
  • 1961: foram comercializadas as primeiras próteses auditivas personalizadas (intra-aurais).
  • 1980-1990: Surgem as próteses microcanais, denominadas de CIC (Completely in the Canal).

Era Digital (final da década de 1980 até os dias atuais): marcado por uma revolução tecnológica, na qual eram utilizados circuitos de tecnologia digital na fabricação das próteses auditivas.[1]

Os Aparelhos de Amplificação Sonora Individual têm sido aprimorados constantemente, com o objetivo de promover melhor qualidade sonora, potências maiores, algoritmos elaborados de forma a melhorar a adaptação e o ajuste para os usuários. Além disso, ao conforto estético e a miniaturização dos componentes é uma meta constante dos fabricantes.

Componetes do AASI editar

São constituídos, basicamente, por amplificador, microfone, receptor e bateria/pilha.

Microfone: Responsável por captar o som do ambiente e transforma-lo em onda elétrica para, seguidamente, ser processado.

Amplificador: Responsável por aumentar a intensidade da onda elétrica e, consequentemente, estabelecer o ganho do AASI.

Receptor: Responsável por transformar a onda elétrica em onda sonora que será transmitida ao usuário por meio de sonda ou molde auricular.

Bateria/Pilha: Responsável por alimentar os componentes eletrônicos do aparelho, tais como microfone, receptor, controles de volume e de programas, permitindo que os dispositivos realizem suas funções essenciais. É importante que os usuários escolham pilhas de qualidade e compatíveis com seus aparelhos auditivos seguindo as recomendações do fabricante.

Características eletroacústicas dos AASIs editar

Dentro das melhorias tecnológicas empregadas nestes dispositivos, tem-se as características eletroacústicas - ajustes que podem ser feitos para personalizar o aparelho auditivo de acordo com a necessidade auditiva de cada indivíduo.

A principais características eletroacústicas são: ganho, saída máxima e faixa de frequências.[2]

O ganho, também definido como a diferença em intensidade do som que entra no microfone dos aparelhos auditivos e o que é liberado no conduto do indivíduo, está diretamente relacionado com o grau de perda auditiva. O tipo de amplificador também implica no resultado final do ganho, devido a diferença de potências empregadas em cada configuração.

Modelos de AASIs editar

Podem ser aparelhos retroauriculares (BTE ou MINIBTE), aparelhos de Adaptação Aberta (OPEN), aparelhos com receptor no canal (RITE ou RIC) e os aparelhos personalizados Intra-aurais, que podem ser divididos em Intra-auricular (ITE), Intracanal (ITC) e Micro-canal (CIC).

Retroauricular (BTE): Esses são amplamente utilizados na tecnologia de amplificação sonora individual (AASI), por ser versátil e atender às necessidade da maioria dos deficientes auditivos. Possui uma unidade que se encaixa atrás da orelha do usuário, abrigando o microfone, o receptor e o amplificador além de outros circuitos eletrônicos. O som é transmitido para o conduto auditivo por meio de um molde auricular personalizado.

Adaptação Aberta (OPEN): Aparelhos também retroauriculares, porém utilizam tubo fino, micromolde ou sonda/oliva para conduzir o som, deixando mais discreto. São indicado para perdas auditivas em rampa, ou seja, que possuem uma discrepância na acuidade auditiva para sons graves e agudos.

Receptor no Canal (RITE ou RIC): São posicionados atrás da orelha do usuário e composto por um receptor que fica posicionado na ponta do tubo fino de forma a ser inserido no conduto auditivo do paciente. São aparelhos indicado para perdas em rampa mais profundas e, permite a miniaturização do componente externo favorecendo a estética.

Intra-auricular (ITE): São aparelhos personalizados, ou seja, sob medida e caracterizados por terem seus componentes inseridos dentro do molde auricular. O nome pode variar com base no tamanho, sendo que este é adaptado de acordo com a anatomia da orelha do usuário e o grau da perda auditiva.

Intra-canal (ITC): Os aparelhos auditivos ITC são ajustados conforme a anatomia individual do usuário. No caso dos modelos miniaturizados, que ocupam parte do canal auditivo externo (CAE) e o mínimo da concha auricular, oferecendo a conveniência de acesso a controles externos, podendo incluir sistemas de ventilação para maior conforto.

 
CIC

Microcanal (CIC): Os aparelhos auditivos CIC são conhecidos por sua pequena dimensão e colocação mais interna no conduto auditivo o que reduz a distorção sonora e minimiza a retroalimentação acústico ou microfonia. Além disso, proporcionam melhor localização sonora por manter os microfones na posição fisiológica, facilitando, inclusive, o uso de telefones e apresentando uma estética discreta e atrativa.


Referências

  1. a b c d e f g Pereira, Rachel de Carvalho (2015). Prótese Auditiva. Rio de Janeiro: Revinter. p. 4. ISBN 978-85-372-0625-6 
  2. Tratado de audiologia/organização Edilene Marchini Boéchat, et al. – 2. ed. ­ Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.