O hoplómaco (português europeu) ou hoplômaco (português brasileiro)[1] (em latim: hoplomachus; em grego: όπλομαχος; romaniz.:hóplomachos; lit. "o que luta como um hoplita") foi uma categoria (armaturae) de gladiador da Roma Antiga, cujas armas e armadura pesada imitavam as dos hoplitas gregos.[2]

Fragmento de cerâmica no qual um hoplômaco luta contra um trácio (Museu Britânico).

Aparecimento editar

Depois de os romanos terem conquistado a zona oriental, grecófona, do mar Mediterrâneo, a figura do gladiador hoplómaco começou a difundir-se, perfilhando uma forma rudimentar de combate, muito propalada, até então, na Grécia Helénica: a hoplomáquia[3] (do grego ὁπλομαχία «duelo» ou «luta com armas pesadas», por oposição ao pancrácio ou a outras formas de combate desarmado ou com armas ligeiras; a primeira abonação conhecida deste termo surge no livro XXI, da Ilíada, de Homero[4]), praticada com a dory, o xifo, também designada gládio grego (gladius graecae), e a sarissa.[5]

Panóplia editar

Como armas, empunhava apenas uma lança de médias dimensões (a hasta), com a qual impunha distância sobre o adversário, e, para combates à queima-roupa, servia-se de uma espada curta, o gládio ou, por vezes, de uma adaga.[6][7] O escudo também podia ser usado ofensivamente, para empurrar o inimigo, no ensejo das batalhas, sendo certo que os parma se prestavam menos a essa finalidade do que os hóplon.[8]

Indumentária editar

 
Reencenação de um hoplómaco, num anfiteatro

Tinham uma indumentária semelhante à dos gladiadores da categoria trácia[6]. Portanto, envergavam uma armadura pesada e um escudo. Inicialmente, esse escudo era o hóplon grego, redondo e pequeno, e mais tarde, acabou por ser substituído, por com uma versão hemisférica do parma romano. Combatiam descalços na arena, para compensar face aos seus adversários, que não estariam tão bem armados, mas que, à partida, estariam calçados com cáligas ou sandálias.[9]

A sobredita armadura pesada era composta por um elmo, uma manica (guarda-braço), ocrea (grevas de cano alto), subligaculum (calções), fasciae, e cingulum (cinto).

A manica ( do latim lit. "manga", também chamada lorica manica, manga armada) era um guarda-braço ou braçal feito de tiras metálicas imbricadas umas nas outras, envergado no braço que empunhava a arma[10], normalmente o direito. O outro braço era adargado pelo escudo.[11]

Calçava as ocrea, que eram grevas de cano alto, ou seja caneleiras metálicas, neste caso que cobriam a barriga da perna até ao joelho. Além do trácio, o hoplómaco era a única outra categoria de gladiador a usar grevas nas duas pernas[8]. De acordo com alguns autores, como Políbio, no livro VI da sua obra Histórias, as outras categorias de gladiadores só usavam grevas na perna esquerda.[12]

O elmo era geralmente de bronze, estilo helénico, mais propriamente ático-beócia (nomes das respectivas regiões gregas).[11] O elmo tinha um feitio semelhante ao dos elmos encasquetados pelos trácios, mas sem o prótomo de cabeça de grifo.[6]

O subligaculum era roupa interior, uma espécie de calções de pano grosseiro. As fascies eram faixas de tecido, quase como ligaduras, que revestiam as pernas e coxas, nas zonas que pudessem ficar desprotegidas, entre o subligaculum e as grevas.[5]O cingulum era um cinto, que tanto podia ser de coiro ou de fibras têxteis, não servia para levar armas ao dependuro. Quando o hoplómaco empunhava a hasta na mão direita, amiúde conservava o gládio na mão esquerda, sob o escudo, para poder sacar dele de imediato se a lança se rachasse.[13][9]

Adversário típico editar

 
Fresco que retrata um hoplómaco a lutar contra mirmilão, século III a.C, oriundo de uma villa romana em Machern, Saarbrücken, Alemanha

Para reencenar ou parodizar os combates históricos dos romanos contra os gregos, da campanha helénica, era comum para os hoplómacos (gladiadores, por sinal, de trajo heleno) combaterem contra mirmilões (que eram a categoria de gladiador que, por antonomásia, usava o escudo mais semelhante ao das tropas romanas).[14]

Mais raramente, também se encetavam combates entre hoplómacos e trácios (outra categoria de gladiador), só que nestes casos, o hoplómaco quase nunca empunhava a lança, de maneira que neste tipo de combates (por sinal invulgares, porque figuram dois gladiadores de escudo pequeno), os combatentes lutavam só à queima-roupa, um com o gládio e o outro com a sica.[9]

Oplomacos editar

Os oplomacos (Oplomachi) terão sido uma outra possível categoria de galdiador, sendo certo que há poucas menções literárias, que os retratem. Apesar da semelhança nomenclatural com os Hoplómacos, crê-se que teriam sido categorias distintas de gladiadores[2]. De acordo com os relatos de Justo Lípsio, "oplomaco" seria a designação dada a uma de duas variedade de samnitas. Especulava que os samnitas que se defrontavam com trácios ou os secutores que defrontavam reciários poderiam ser designados de samnitas oplomacos.[15] Em todo o caso, há registos históricos que identificam os oplomacus como os adversários principais dos trácios, figurando numa lista pompeia de combates, como tendo digladiado não só trácios, mas também mirmilões e dimaqueros.[16]

Referências

  1. S.A, Priberam Informática. «Consulte o significado / definição de hoplómaco no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o dicionário online de português contemporâneo.». dicionario.priberam.org. Consultado em 21 de novembro de 2020 
  2. a b Junkelmann, Markus (2000). Das Spiel mit dem Tod. So kämpften Roms Gladiatoren. Mainz am Rhein. Mainz am Rhein: Antike Welt, Sonderheft; Zaberns Bildbände zur Archäologie 
  3. «DAGR - Article HOPLOMACHIA». dagr.univ-tlse2.fr. Consultado em 21 de novembro de 2020 
  4. «Homer, Iliad, Book 21, line 571». www.perseus.tufts.edu. Consultado em 21 de novembro de 2020 
  5. a b Friedlaender, Ludwig (1968). Roman life and manners under the early empire, 4. [S.l.]: Routledge and Kegan Paul. p. 176 
  6. a b c «Hoplomachus». penelope.uchicago.edu. Consultado em 21 de novembro de 2020 
  7. Kyle, Donald G (2015). Sport and spectacle in the ancient world. Chichester, West Sussex, UK: John Wiley and Sons, Inc. 359 páginas 
  8. a b Gilbert, François (2014). Les gladiateurs, des origines à la fin du Haut-Empire. Paris: Éditions Errance 
  9. a b c Gilbert, François (2013). Devenir gladiateur, la vie quotidienne à l'école de la mort. Paris: Édition Archéologie Vivante 
  10. Aurrecoechea, Joaquin (2010). Las armaduras romanas en Hispania: protectores corporales para la infantería y la caballería. Málaga: Universidad de Málaga. pp. 78–98 
  11. a b Meijer, Fik (2004). Gladiatoren – Das Spiel um Leben und Tod. Artemis & Winkler. Düsseldorf: Artemis & Winkler 
  12. «Polybius, Histories, book 6, Arms of the Other Soldiers». www.perseus.tufts.edu. Consultado em 21 de novembro de 2020 
  13. Christopher, Epplett. Gladiators : deadly arena sports of ancient Rome First Skyhorse Publishing ed. New York: [s.n.] ISBN 9781632205100. OCLC 890181260 
  14. "Gladiators and Caesars: The Power of Spectacle in Ancient Rome" E. Köhne et al. (2000) pp. 51-56
  15. Roman life and manners under the early empire, 4 Ludwig Friedlaender (1913) p 176
  16. Meier, Paul Jonas (1881). De gladiatura Romana: Quaestiones Selectae. [S.l.]: Nabu Press. p. 22 - 25