Ignorância vencível e invencível (teologia)

A ignorância vencível é, na teologia moral católica, a ignorância que uma pessoa poderia remover aplicando diligência razoável num determinado conjunto de circunstâncias. Contrasta com a ignorância invencível, que uma pessoa é totalmente incapaz de remover ou só poderia fazê-lo por meio de esforços supererrogatórios (ou seja, esforços acima e além do dever normal). [1]

Doutrina da ignorância vencível

editar

É culpável permanecer deliberadamente ignorante sobre assuntos que somos obrigados a saber. [2] Embora a ignorância invencível elimine a culpabilidade, a ignorância vencível, no máximo, a atenua e pode até agravar a culpa. A culpa de uma ação praticada em ignorância invencível deve ser medida pelo grau de diligência ou negligência demonstrada na prática do ato. [3] Um indivíduo é moralmente responsável por sua ignorância e pelos atos dela resultantes. [2] Se alguma diligência insuficiente foi demonstrada em dissipar a ignorância, ela é considerada meramente vencível; pode diminuir a culpabilidade a ponto de tornar venial o pecado. Quando pouco ou nenhum esforço é feito para remover a ignorância, a ignorância é chamada de grosseira ou supina; remove pouca ou nenhuma culpa. A ignorância deliberadamente fomentada é afetada ou estudada; pode aumentar a culpa. [1]

A ignorância pode ser: [3]

  • Do direito, quando se desconhece a existência da própria lei, ou pelo menos que determinado caso se enquadra nas suas disposições.
  • De fato, quando não se conhece a relação de algo com a lei, mas a própria coisa ou alguma circunstância.
  • De pena, quando uma pessoa não tem conhecimento de que uma sanção foi associada a um determinado crime. Isto deve ser especialmente considerado quando se trata de punições mais graves.

Doutrina da ignorância invencível

editar

“A ignorância invencível desculpa toda culpa. Uma ação cometida na ignorância da lei que a proíbe, ou dos fatos do caso, não é um ato voluntário”. Por outro lado, é culpável permanecer deliberadamente ignorante sobre assuntos que se é obrigado a saber (ignorância vencível). Neste caso o indivíduo é moralmente responsável pela sua ignorância e pelos atos dela decorrentes. A culpa associada a um delito cometido por ignorância é menor do que seria se o ato fosse cometido com pleno conhecimento, porque nesse caso o delito é menos voluntário. [2]

Visão protestante

editar

Os protestantes divergiram da doutrina católica nesta área durante a Reforma. Martinho Lutero acreditava que a ignorância invencível era apenas uma desculpa válida para ofensas contra a lei humana. Na sua opinião, os humanos ignoram a lei divina por causa do pecado original, pelo qual todos são culpados. [2] João Calvino concordou que a ignorância da lei de Deus é sempre vencível. [2]

Ver também

editar

Referências

editar
  1. a b «Ignorance - Invincible and Vincible (This Rock: July/August 1999)». Arquivado do original em 28 de junho de 2011 
  2. a b c d e George Hayward Joyce, "INVINCIBLE IGNORANCE", in James Hastings, John A. Selbie, and Louis H. Gray (eds.), Encyclopædia of Religion and Ethics (Edinburgh; New York: T. & T. Clark; Charles Scribner’s Sons, 1908–1926), p. 403.
  3. a b «Ignorance». Catholic Encyclopedia