Inhapuambuçu é uma antiga aldeia indígena que se situava na região que hoje corresponde ao triângulo histórico de São Paulo de Piratininga, no Brasil. Seu nome deriva do idioma tupi antigo e significa "morro que se vê ao longe". A aldeia era habitada pelos Tupi antes da chegada dos colonizadores europeus e desempenhava um papel importante na vida cultural e espiritual desses povos.

Desenho de Debret de 1827 com vista para p Vale do Anhangabaú, aquarela sobre papel, 12,2 x 22,8cm, com a pedra do Inhapuambuçu à popa da acrópolie do Triangulo Histórico de Piratininga, entre os rios Anhangabaú e Tamanduatei. Ao ver as fotos das obras de construção da Avenida 23 de Maio, sobre o Vale do rio Itororó, fica claro que Debret pintou a paisagem em algum lugar entre a atual rua Conde de São Joaquim e os Arcos do Jânio. Dessa forma colocando o morro careca onde é hoje o Jardim Oriental da Liberdade

História editar

A história de Inhapuambuçu remonta à pré-colonização do Brasil, quando a região era habitada pelos povos indígenas. A aldeia era conhecida por sua localização estratégica, ponto central de vários peabirus e seus recursos naturais abundantes, sendo um ponto de encontro e intercâmbio entre diferentes etnias da região.

Com a chegada dos colonizadores europeus no século XVI, a aldeia de Inhapuambuçu passou por mudanças significativas. A colonização portuguesa trouxe consigo conflitos e transformações culturais para a região, afetando profundamente a vida dos povos indígenas que lá habitavam.

Etmologia editar

"Inhapuambuçu" vem do Tupi-Antigo i(nh)apu'ãm-busú o grande cume ou y(nh)apu'ãm-busú o grande ponto do rio, ainda segundo Augusto Bicalho,[1] nome que faz referência a um morro alto que pode se avistar longas distâncias.

Importância Cultural e Espiritual editar

Inhapuambuçu desempenhou um papel central na vida cultural e espiritual dos povos indígenas Tupi que lá habitavam, o local era utilizado para rituais religiosos, celebrações festivas e atividades comunitárias, sendo considerado um espaço sagrado e reverenciado pelos habitantes locais.

O morro calvo, a pedra calva, ou morro Careca do Inhapuambuçu, também chamada pelos indígenas da época de Itaecerá[1] era um ponto de referência importante na paisagem da aldeia e possuía significado espiritual para os povos indígenas, acredita-se que o local se extendia desde o Morro da Forca até o viaduto da cidade de Osaka, onde hoje fica o Jardim Oriental da Liberdade.

Em agosto de 1553 o Padre Manuel da Nóbrega visitou a recém-criada aldeia Inhapuambuçu,[2] onde os índigenas estavam em processo de conversão ao cristianismo e escolheu a acróple entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí para esatabelecer-se, com base em sua topografia e hidrografia favoráveis, ideal para a criação de um núcleo de catequese e fudação da Vila de São Paulo de Piratininga.

Naquela época, a principal atividade econômica era o fornecimento de gado que percorria algumas estradas, onde ficavam fazendas e alguns casas foram construídas.

Transformações ao longo dos tempos editar

O relevo elevado da região da Liberdade dividia a região central da zona periférica até meados do século XIX, quando a região passou a ser conhecida como Bairro da Pólvora, graças à Casa de Pólvora, construída em 1754 no atual Largo com o mesmo nome.

Em 1779, próximo ao antigo Largo da Forca (hoje praça da Liberdade) , foi estabelecido o primeiro cemitério público em São Paulo, localizado entre as ruas Galvão Bueno, Glória e Estudantes, destinado ao sepultamento de indigentes, escravos e condenados à forca até 1858, quando foi inaugurado o Cemitério da Consolação.

A partir de 1810, no então Bairro da Pólvora, houve um aumento na concessão de terras, vendas e divisões de sítios na área, devido ao crescimento populacional em São Paulo, até que em 1850, as autoridades pressionaram os proprietários de diversos terrenos na cidade para que melhor aproveitassem suas terras, isso levou muitos latifundiários a abrir ruas, alamedas e largos em suas propriedades, fazendo arruamentos e loteamentos, o que teve um impacto decisivo na transformação da região.

Com o avanço da colonização e urbanização de São Paulo, a região onde se situava Inhapuambuçu passou por mudanças significativas.[3] A expansão da cidade, o crescimento populacional e o desenvolvimento urbano transformaram a paisagem e a dinâmica social da área, levando ao desaparecimento gradual da aldeia indígena, para dar lugar às necessidades dinâmicas da moderna cidade que surge.

O primeiro Jogo de futebol do Brasil editar

Um exemplo dessas mudanças foi a primeira partida oficial de futebol no Brasil, realizada na recêm aterrada Várzea do Carmo com o material retirado do morro careca do Inhapuambuçu. Os funcionários da São Paulo Gás Company e da Estrada de Ferro São Paulo Railway se reuniram em 14 de abril de 1895.

Charles Miller conta em entrevista a revista Cruzeiro de 1952 que foi “numa tarde fria de outono em 1895” na Várzea do Carmo, em São Paulo, que aconteceu a partida entre os funcionários da São Paulo Gás Company e da Estrada de Ferro São Paulo Railway (na sua maioria ingleses).

O amistoso terminou em 4 a 2, com vitória do São Paulo Railway.[4] Ainda em 1895 Charles Miller foi o responsável pela formação dos times de futebol do São Paulo Athletic Club (SPAC) e da Liga Paulista de Futebol e Rugby

Área Geomântica editar

A área onde se encontrava o morro careca do Inhapuambuçu, ponto de partida para vários peabiru da América Latina,[5] que deu lugar ao solo sagrado do Cemitério dos Afitos, passa a partir dos anos 1970 a ser um local de grande importância histórica também para os imigrantes japoneses que lá se estabeleceram.

Em 1968, com a construção da Radial Leste, o viaduto Osaka foi aberto, resultando na alteração da configuração da região. Parte do solo sagrado pertencente ao antigo cemitério dos Aflitos, bem como do solo sagrado dos Tupis do Inhapuambuçu, foram aterrados, removidos e redistribuídos.

Em maio de 1967, o prefeito Faria Lima determinou a demolição do antigo teatro para a abertura da Radial Leste-Oeste e a construção do viaduto Mie Ken na Rua da Glória. Essas mudanças alteraram a paisagem urbana e a configuração original da Praça Almeida Júnior, reduzindo-a às proporções atuais.

Na inauguração do viaduto, o então prefeito Paulo Maluf expressou o desejo de transformar o bairro da Liberdade em uma referência oriental, semelhante ao Chinatown de Nova York e ao Little Tokyo da Califórnia.[6] Essa visão inspirou uma série de iniciativas para atrair os japoneses de volta ao bairro, especialmente à rua Galvão Bueno, anteriormente conhecida como rua dos Estudantes, que se tornou emblemática devido à concentração de repúblicas de estudantes.

Duas orientalizações marcaram a revitalização do bairro. A primeira, conhecida como o "Programa de Orientalização", foi idealizada por Randolfo Marques de Lobato em 1969. Seu objetivo era aplicar simbologias das culturas orientais para atrair turistas e impulsionar o crescimento econômico da região e a segunda pelo prefeito Paulo Salim Maluf.

Um dos marcos mais significativos da Liberdade é o Torii, uma estrutura espiritual de alta importância xintoísta erguido em um local possivelmente escolhido por sua significância.

Embora não se saiba ao certo se a localização do Torii foi intencional ou uma mera coincidência, sua presença destaca a importância da Liberdade como um local de encontro e convergência das várias culturas e tradições espirituais que formam a identidade do povo brasileiro que habita São Paulo.

Referências

  1. a b Kehl, Luis Augusto Bicalho (27 de junho de 2005). Simbolismo E Profecia Na Fundação De são Paulo. [S.l.]: Editora Terceiro Nome 
  2. Diffie, Bailey W.; Leite, Serafin; Leite, Serafim (maio de 1958). «Cartas dos primeiros jesuitas do Brasil. Vol. I, 1538-1553.». The Hispanic American Historical Review (2). 279 páginas. ISSN 0018-2168. doi:10.2307/2510159. Consultado em 13 de março de 2024 
  3. Gouvêa, José Paulo Neves. «A presença e a ausência dos rios de São Paulo: acumulação primitiva e valorização da água». Consultado em 13 de março de 2024 
  4. Moacyr Scliar: contos e crônicas para ler na escola. [S.l.]: Objetiva. 22 de setembro de 2021 
  5. Bueno, Eduardo (30 de março de 2016). Náufragos, traficantes e degredados. [S.l.]: Estação Brasil 
  6. saito, cecilia. «Os Japoneses na Liberdade» (PDF). Consultado em 13 de março de 2024