Nascido em 1877 na cidade de Niigata, Junji Kikawa cursou com brilho a Academia Militar. Poderia ser descrito como energético, metódico e seguidor das mais rígidas tradições japonesas. No exército, Kikawa encontrou seus dois melhores amigos: o coronel Jinsaku Wakiyama e o capitão Kiyo Yamauchi. Em 1922, aos 45 anos, se aposentou do exército devido a uma recém-descoberta miopia. Desempregado e vivendo um momento de crise econômica no Japão, Kikawa não conseguia sustentar seus sete filhos. Durante os próximos dez anos tentou de tudo, foi confeiteiro, professor de esgrima, tintureiro e até declamador profissional em peças teatrais e , mas de nada adiantava, a pobreza era inevitavel. Em 1933, então, decide imigrar para o Brasil, assim como muitos outros japoneses o estavam fazendo na época, a procura das melhores condições de vida que as agencias de imigração lhes prometiam. Até mesmo em Rancharia no Brasil, o velho Kikawa manteve sua rotina tradicional japonesa e suas crenças patriotas perto de si, levando a adoção de seu apelido pelos demais japoneses que ali residiam de "admirável coronel Kikawa". Mudou-se para a capital do Estado de São Paulo sete anos após sua chegada, graças a seu grande sucesso na lavoura. No andar térreo do prédio onde alugara um sobradinho para sua família, Kikawa instalou sua tinturaria, onde confeccionava panfletos ameaçando aqueles que agissem contra as vontades do Império do Japão e disseminando o dever japones de seguir o Yamatodamashii, o espírito nipônico.[1]

  1. MORAIS, Fernando (2000). Corações Sujos. São Paulo: Companhia das Letras. pp. 71–74