Martim Conrado

pintor de nacionalidade desconhecida, da época do Maneirismo, activo entre 1640 e 1660 na Madeira

Martim Conrado foi um pintor cuja nacionalidade permanece desconhecida, provavelmente portuguesa ou espanhola, da época do Maneirismo, activo entre 1640 e 1660, especialmente no arquipélago da Madeira onde existem cinco pinturas assinadas e uma documentada apesar de desaparecida.[1]

Martim Conrado
Martim Conrado
Noli me tangere (Na Igreja Matriz de Porto Santo)
Ocupação pintor
Movimento estético Maneirismo

Apenas se conhece uma referência manuscrita contemporânea a Martim Conrado, em 1647, quando executava uma empreitada na Sé de Lisboa, juntamente com o pintor régio José de Avelar Rebelo (1600-1657), possivelmente seu mestre, tendo recebido a módica quantia de 52.000 réis por oito painéis e dois quadros mais pequenos, sendo deles sobrevivente a tela oval Adoração do Santíssimo Sacramento Pelos Anjos.[1]

As pinturas de Martim Conrado para a região madeirense são do tempo em que José do Avelar Rebelo executava as telas para o Colégio dos Jesuítas do Funchal, entre 1646 e 1653.[1]

Estilo editar

Segundo Rita Rodrigues, Conrado assimilou do protobarroco espanhol e português os cromatismos cálidos, suaves, manchados e desmaiados, as plasticidades pictóricas a nível dos jogos lumínicos, tenebrismo e claro-escurismo, o gosto pelo naturalismo, a valorização do decoro, a contenção do espetáculo cenográfico. Estas influências ou referências são consequência de uma formação estética e técnica muito próxima e até junto dos mestres e oficinas (Sevilha, Madrid e Lisboa).[1]

Ainda segundo Rita Rodrigues, nas pinturas para a região da Madeira, Martim Conrado aplicou "uma pintura ao natural que valorizava a observação direta sobre a matéria – o visível, o tátil, o palpável (figuras, objetos, tecidos, paisagens), tão patente nos retratos dos doadores (Caniço e Câmara de Lobos), em muitas figuras sagradas (Cristo, Maria, Madalena), nos objetos (instrumentos da paixão, taças dos perfumes), nos tecidos e jóias (cor, transparências, aveludados) e nas paisagens de fundo. Martim Conrado esboça os passos para a construção pictórica dos objetos no sentido da cópia e apreensão da aparência sensível, contra a idealização classicizante."[1]

Considerando as obras assinadas por Martim Conrado na Madeira (1646-1653) e em Lisboa, neste caso o pequeno painel sobrevivente do Santíssimo Sacramento (1647), bem como as obras anteriores que lhe são atribuídas em Coimbra (c. 1636) e no Funchal (1640/1650), a sua obra revela um amadurecimento fruto da experiência oficinal contínua, do contacto com as obras nacionais, especialmente de outras oficinas lisboetas, e de alguma vivência livresca.[1]

Obras editar

 
Martírio de Santa Úrsula e das Onze Mil Virgens (1653), no Museu de Arte Sacra do Funchal
  • Visão de Santo António (c. 1636/1637), na Sé Velha de Coimbra.[1]
  • Martírio de Santa Úrsula e das Onze Mil Virgens, na Sé Velha de Coimbra
  • Santa Isabel de Aragão – Rainha de Portugal, na Sé Velha de Coimbra
  • Martírio de S. Sebastião, na Sé Velha de Coimbra
  • Imaculada Conceição, S.ta Ana e S. Joaquim, Com Doadores (1646) – no altar-mor da matriz do Caniço, tendo sofrido várias remodelações;
  • Arcanjo S. Miguel e as Almas do Purgatório (1649) – na matriz da Ribeira Brava,
  • Martírio de Santa Úrsula e das Onze Mil Virgens (1653) – no Museu de Arte Sacra do Funchal;
  • Noli me tangere (1653) – na matriz do Porto Santo;
  • Nossa Senhora da Piedade (1653) – Capela de S. José (Camacha), sendo desconhecida a sua proveniência;
  • Nossa Senhora das Mercês (c. 1655-1663) – tela desaparecida do demolido convento das Capuchas, classificada por Henrique Henriques de Noronha, em 1722, de vistoso retábulo, obra de Martim Conrado insigne pintor estrangeiro.[1]

Outras obras atribuídas com reservas:

  • Martírio de Santa Úrsula e das Onze Mil Virgens, no Museu Nacional de Arte Antiga, proveniente do Convento da Esperança, mas atribuída por Moura Sobral, em 2004, a oficina nacional de autor desconhecido;[1]
  • Martírio de Santa Úrsula e das Onze Mil Virgens no Palácio dos Marqueses de Fronteira, em Lisboa.[1]

Bibliografia editar

Bibliografia citada por Rita Rodrigues, por ordem cronológica:[1]

  • Nunes, Filipe, Arte da Pintura, Symetria e Perspectiva Composta por Philippe Nunes Natural de Villa Real. Em Lisboa. Anno 1615., Porto, Paisagem, 1982;
  • Teixeira, Francisco Augusto Garcez, A Irmandade de São Lucas: Estudo do Seu Arquivo, Lisboa, Imprensa Beleza, 1931.
  • Carita, Rui,, O Colégio dos Jesuítas do Funchal: Descrição e Inventário, vol. II, Funchal, SRE, 1987;
  • Serrão, Vitor, “Conrado, Martim”, in Dicionário da Arte Barroca em Portugal, Fernandes, José Manuel (dir.) e Pereira, Paulo (coord.), Lisboa, Presença, 1989, p. 131;
  • Carita, Rui, História da Madeira (1600-1700), vol. III, Funchal, SREJE, 1992;
  • Noronha, Henrique Henriques de, Memórias Seculares e Eclesiásticas para a Composição da História da Diocese do Funchal na Ilha da Madeira, Funchal, CEHA, 1996;
  • Santa Clara, Isabel, Notas para o Estudo de Duas Pinturas de Nossa Senhora da Piedade, ensaio apresentado no Mestrado em História na Universidade da Madeira, Funchal, texto policopiado, 1997;
  • Santa Clara, Isabel, “Árvores de Jessé na Ilha da Madeira”, Islenha, n.º 23, jul.-dez. 1998, pp. 136–146;
  • Serrão, Vitor, Pintura Proto-Barroca em Portugal, 1612-1657: O Triunfo do Naturalismo e do Tenebrismo, Lisboa, Colibri, 2000;
  • Rodrigues, Rita, Martim Conrado, “Insigne Pintor Estrangeiro”: Um pintor do Século XVII na Ilha da Madeira, 2 vols., Dissertação de Mestrado em História da Arte apresentada à Universidade da Madeira, Funchal, texto policopiado, 2000;
  • Rodrigues, Rita et al., "Algumas Pinturas Religiosas dos Séculos XVI e XVII Pertencentes à Fundação Berardo", Islenha, n.º 38, jan.-jun. 2006, pp. 55–69;
  • Santa Clara, Isabel et al., “Algumas Pinturas Religiosas dos Séculos XVI e XVII Pertencentes à Fundação Berardo”, Islenha, n.º 38, jan.-jun. 2006, pp. 55–69;
  • Rodrigues, Rita, “Capela de Nossa Senhora da Boa Hora”, Girão, vol. II, n.º 3, jun. 2007, pp. 21–52;
  • Rodrigues, Rita, “A Propósito do Retábulo Imaculada Conceição, Santa Ana e São Joaquim, Com Doadores, assinado por Martim Conrado – 1646, hoje na Igreja Matriz do Caniço”, Origens, n.º 16, jun. 2007, pp. 10–49; Id., “Retábulo de Nossa Senhora da Piedade, de Martim Conrado, hoje na capela de São José (Camacha)”, Origens, n.º 17, jan. 2008, pp. 32–49;
  • Rodrigues, Rita, “Martírio de Santa Úrsula e das onze mil virgens”, in Obras de Referência dos Museus da Madeira, 500 de História de um Arquipélago, catálogo de exposição comissariada por Francisco Clode de Sousa e patente na Galeria de Pintura do Rei D. Luís, Palácio Nacional da Ajuda, 21 nov. 2009-28 fev. 2010, Funchal, DRAC, 2009, pp. 272–275;
  • Rodrigues, Rita, A Pintura Proto-Barroca e Barroca no Arquipélago da Madeira entre 1646-1750: A Eficácia da Imagem, 2 vols., Dissertação de Doutoramento em Estudos Interculturais apresentada à Universidade da Madeira, Funchal, texto policopiado, 2012;

Referências

  1. a b c d e f g h i j k Rodrigues, Rita (8 de Agosto de 2016). Aprender Madeira, ed. «conrado, martim». Consultado em 18 de outubro de 2018