Mealha é uma moeda que diverge da função desta na medida em que representa um valor que pela divisão de uma moeda em diferentes partes facilita os trocos, ou para colocar de parte para poupar ou amealhar. É o termo mais correto para indicar instrumentos pecuniários que têm por finalidade fomentar as relações ou trocas entre indivíduos numa comunidade ou empresa ao amealhar um desconto ou um crédito. Mealha é moeda metálica utilizada num sistema monetário paralelo ou alternativo relativo à moeda com curso legal ou de um sistema de bonificação de redes de empresas.

História editar

Entre a criação de Portugal e a alta Idade Média a moeda metálica era rara e pouco difundida. As moedas em circulação continham um valor intrínseco (moeda-mercadoria) muito elevado por serem todas de ouro ou prata, isso provocava grande dificuldade nos trocos, por essa razão muitas moedas eram divididas em partes mais pequenas que eram chamadas de mealhas.

No final da Idade Média intensifica-se o comércio marítimo entre o mediterrâneo e o mar do norte que juntamente com a pacificação de grande parte da península ibérica permitiram o desenvolvimento das feiras e mercados de grande alcance regional. Muitas vilas são fundadas com o intento de fomentar o comércio e obtém o estatuto de vilas francas, i.e. isentas de impostos. A expansão e diversificação das atividades mercantis aumentaram a utilização da moeda pois o comércio a longa distância não podia ser mantido com base escambo tradicional. A grande variedade de moedas de diferentes tamanhos, origens, pesos e pureza metálica criavam grande confusão. Por essa razão os reis peninsulares viram-se obrigados a cunhar grandes quantidades de moeda e começam a padronizar entre si os seus valores. A grande inovação será o aparecimento de moedas de baixo valor, nos finais do sec. XIV, feitas de metais mais baratos como o cobre e bronze ou então de ligas de prata e ouro de baixa qualidade. Por esta altura a palavra mealha foi significando „parte que se põe de lado“, esse mesmo significado é atestado pelo atual mealheiro.

Moeda alternativa editar

Durante a Grande Guerra até finais da Segunda Guerra Mundial houve grande falta de divisas. Muitos municípios e empresas por toda a Europa viram-se obrigados a cunhar moedas e imprimir notas com carácter local para permitir o funcionamento da economia local. Esse dinheiro temporário tinha a designação de jeton em França, Wertmarke nos países de língua alemã e Token na Inglaterra, e pode ser traduzido por mealha em português.

A Primeira República Portuguesa adotou o padrão-ouro e o padrão-prata do real de 1851. A maioria das moedas em circulação no pequeno retalho seguiam o padrão-prata, assim como todas as moedas em circulação nas colónias portuguesas. Durante a Grande Guerra as moedas de prata desapareceram, os bancos continuaram a emitir papel-moeda baseado no ouro, mas estas tinham um valor demasiado elevado para as trocas diárias no retalho. O Governo procurará cunhar moedas com o mesmo valor mas em cobre, bronze e latão, mas as quantidades cunhadas são insuficientes e o medo e receio políticos e económicos levarão as pessoas a entesoura-las. Muitas câmaras municipais e empresas serão por isso obrigadas a emitir cédulas de pagamento para facilitar os trocos, pagarem aos funcionários e manterem o abastecimento de viveres às populações citadinas. Estas foram contudo emitidas à margem da lei e a 15 de Agosto de 1917 com o Decreto 3296 o estado autoriza a Santa Casa da Misericórida de Lisboa a emitir cédulas de 0$05 e a Casa da Moeda cédulas de 0$10 e 0$02. As emissões só foram descontinuadas com o Decreto 9718 de 23 de Maio de 1924. Estas cédulas valiam como melhas das moedas de prata ainda do tempo da monarquia, que eram guardadas pelas instituições emissoras. [1]


Moeda para uso de empresas e organizações editar

Nos anos 50 até ao fim dos anos 80 muitas lojas especialmente cadeias de mercearias e supermercados ou farmácias na Alemanha, Áustria, Suíça e França cunham moedas com o valor de cupões de desconto para amealhar e serem usadas futuramente como desconto. Esse sistema entrará em declínio nos anos 90 e ressurgiu nas últimas décadas na forma de sistemas de bonificação de pontos que são acumulados num cartão eletrónico. Essas moedas de desconto são mealhas, pois é método de amealhar um valor parcial das compras para desconto futuro.

Moedas regionais editar

Nos Estados Unidos, Alemanha, Áustria, Suíça e Espanha e por quase todos os países da América Latina tem aparecido moedas regionais, baseadas ou numa fração da moeda oficial vigente ou na sua possibilidade.

Uma comunidade ou um grupo de pessoas estabelece que cada membro coloca por mês um certo valor em dinheiro de parte e troca-o por uma moeda regional que terá de ser utilizada apenas na região ou comunidade. A base dessas moedas regionais pode ser uma reserva física de M1 da divisa vigente sobe as quais são emitidas cédulas que geralmente é desvalorizadas periodicamentes, obrigando o mealho a circular rapidamente e desta maneira a gerar mais-valia (em oposição ao entesouramento) mas limitada ao comércio local, ou entre membros do mesmo grupo, criando benefícios para a comunidade.

A referência deste tipo de dinheiro pode ser a divisa com curso legal mas sem ter obrigação de reserva. Uma teia de participantes trocam entre si serviços e produtos. A base de troca é contabilizada geralmente pelo número de horas implicado nas transacções. Neste caso a parte colocada de parte para troca é um excedente do trabalho dos indivíduos participantes. Estes geram uma mais valia baseada na cooperação. Estes elos de troca monetarizam com a sua moeda a relação tempo/trabalho, isto permite a comunidades muito desfavorecidas suplantar a falta de poder aquisitivo por falta de dinheiro.

Em ambos estes casos estamos a falar de amealho, e por essa razão podemos considerar os chamados dinheiros regionais ou de elos de troca não moeda mas de mealha, pois são subsidiários de um valor monetário ou já obtido ou por obter.

Referências editar

  1. VALÉRIO, Nuno (2001), "O Escudo A Unidade Monetária Portuguesa 1911-2001 The Escudo The Portuguese Currency unit 1911-2011", Lisboa: Banco de Portugal, pp 66-63