Mesquita Ese Kapi (em turco: Ese Kapı Mescidi, onde Mescidi é turco para uma pequena mesquita), também chamada Mesquita Isa Kapi, significando em português "Mesquita da Porta de Jesus", foi uma mesquita otomana de Istambul, Turquia. O edifício foi originalmente uma igreja bizantina de dedicação desconhecida.[1] Os restos da igreja estão localizados no distrito Fatih, no bairro de Davutpaşa,[2] cerca de 500 metros a noroeste da Mesquita Sancaktar Hayrettin, outro edifício bizantino. As ruínas do edifício estão inclusas no complexo da Universidade Hospitalar de Cerrahpaşa.

História editar

Período bizantino editar

 
Constantinopla bizantina. A Mesquita Ese Kapi está situada no canto entre os Muros de Constantino e o ramo sul do Mese, na porção sudoeste da cidade.
 
A mesquita em um desenho de 1877 dos "Estudos topográficos bizantinos de A.G. Paspates

A origem deste edifício bizantino, que se situa na encosta sul da Sétima Colina de Constantinopla, no antigo bairro de Dálmato, é incerta. Foi erigida ao longo do ramo sul da via Mese, logo em seguida do agora desaparecido Muro de Constantino (que data da fundação de Constantinopla por Constantino, o Grande) em correspondência de uma antiga porta, possivelmente a Porta de Exaciônio (em grego: Πύλη τοῦ Ἐξακιονίου) ou a Porta de Saturnino (em grego: Πύλη τοῦ Σατουρνίνου, a original Porta Dourada da cidade). A comparação do aparelho com aquele das igrejas de Pamacaristo e Chora sugere que o edifício foi erigido entre o fim do século XIII e começo do século XIV, durante o período Paleólogo.[1] A identificação proposta com o Mosteiro de Iasites (em grego: Μονῆ τοῦ Ἰασίτου), que situava-se no bairro, permanece incerta.[3]

Período otomano editar

Em 1509, 56 após a Queda de Constantinopla para os otomanos, a porta que dava o nome turco ao edifício ("Isa Kapi", Porta de Jesus), foi destruída por um terremoto. Entre 1551 e 1566, o vizir Hadim Ibraim Paxá (d. 1562/63) - que também dotou o bairro vizinho da Porta de Silivri (em turco: Silivrikapi) com uma mesquita congregacional que portou seu nome - converteu o edifício em uma pequena mesquita (em turco: Mescit). Ao mesmo tempo, ele permitiu que o arquiteto cortesão Mimar Sinan (que também designou a mesquita congregacional) aumentasse o complexo existente. Sinan construiu um Madraçal (escola corânica) e um Dershane (escola primária), conectando-os à antiga igreja.[4] A localização destes estabelecimentos religiosos em bairros esparsamente povoado ao longo dos muros teodosianos da cidade, onde a população é predominantemente cristã, mostra o desejo do vizir de prosseguir uma política de islamização da cidade.[5]

Durante o século XVII, o complexo foi danificado várias vezes por terremotos, e restaurado em 1648. Em 1741, Ahmet Agá - outro eunuco chefe (Ibraim Paxá na inscrição de seu waqf designou o atual chefe o eunuco branco do harém imperial como administrador (em turco: Mütevelli)[6] da doação)[5] - custeou a construção de uma pequena fonte (em turco: Sebil).[4] O sismo de Istambul de 1894 arruinou o edifício (apenas dois muros resistiram o tremor), que foi então abandonado.[7] As ruínas são agora incluídas no jardim o Hospital Cerrahpaşa, sede da Faculdade de Medicina da Universidade de Istambul.

Descrição editar

O edifício tinha um plano retangular com lados de 17 m e 6,80 m, e tinha uma nave que terminada na direção leste com um bema e três absides.[8] A abside central foi demolida durante o período otomano e substituída por um muro. O aparelho do edifício consistiu de cursos de linhas de pedras brancas alternadas com linhas de tijolos vermelhos, obtendo um efeito cromático típico do período bizantino tardio. O lado externo de um muro sobrevivente é dividido com duas lesenas encimados por arcos.[7] Muito provavelmente a igreja foi originalmente encimada por uma abóbada, mas no século XIX já havia sido substituída por um teto de madeira. A igreja interior foi adornada com afrescos do período paleólogo. Dois deles - pintados ao sul da abside - descrevendo respectivamente São Miguel Arcanjo (sobre a semi-abóbada) e São Hipácio (sobre o muro lateral), ainda eram visíveis em 1930, mas agora desapareceram.[1][3] Nos dois muros ainda de pé, ainda são visíveis decorações em estuque.[4]

Dois lados da quadra então ocupados por um madraçal com nove celas para alojar os estudantes e um dershane.[1] As limitações do espaço apertado (o complexo foi invadido por várias vias) forçou Sinan a adotar um plano fortemente divergente do padrão para um complexo deste tipo. O aparelho do madraçal adota um padrão bicromático similar ao usado na igreja. O dershane é decorado com um friso feito com arabescos de estuque em relevo. A entrada da quadra é adornada com uma pequena sebil.[4]

Referências

  1. a b c d Müller-Wiener 1977, p. 118.
  2. «Archaeological Destruction in Turkey, preliminary report (PDF), Marmara Region – Byzantine (TAY Project): 29» (PDF) (em inglês). Consultado em 9 de novembro de 2014 
  3. a b Janin 1953, p. 264.
  4. a b c d Eyice 1955, p. 90.
  5. a b Necipoĝlu 2005, p. 392.
  6. Boyran 2010, p. 146.
  7. a b Müller-Wiener 1977, p. 119.
  8. Mamboury 1953, p. 302.

Bibliografia editar

  • Boyran, Ebru; Fleet, Kate (2010). A social History of Ottoman Istanbul. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-19955-1 
  • Eyice, Semavi (1955). Istanbul. Petite Guide a travers les Monuments Byzantins et Turcs. Istambul: Istanbul Matbaası 
  • Janin, Raymond (1953). La Géographie Ecclésiastique de l'Empire Byzantin. 1. Part: Le Siège de Constantinople et le Patriarcat Oecuménique. 3rd Vol.: Les Églises et les Monastères. Paris: Institut Français d'Etudes Byzantines 
  • Mamboury, Ernest (1953). The Tourists' Istanbul. Istambul: Çituri Biraderler Basımevi 
  • Müller-Wiener, Wolfgang (1977). Bildlexikon zur Topographie Istanbuls: Byzantion, Konstantinupolis, Istanbul bis zum Beginn d. 17 Jh. Tubinga: Wasmuth. ISBN 9783803010223 
  • Necipoĝlu, Gulru (2005). The Age of Sinan: Architectural Culture in the Ottoman Empire. Londres: Reaktion Books. ISBN 978-1-86189-244-7