Michael Kohlhaas é uma novela do escritor prussiano Heinrich von Kleist baseada na busca por justiça do comerciante de cavalos da vida real Hans Kohlhase. Kleist publicou fragmentos da obra no volume 6 de sua revista literária Phöbus em junho de 1808. A obra completa foi publicada no primeiro volume das Erzählungen (novelas) de Kleist em 1810. Existem duas adaptações da novela para o cinema, o filme Michael Kohlhaas – der Rebell de 1969 de Volker Schlöndorff e o filme de 2013 Michael Kohlhaas com Mads Mikkelsen.

Coletânea de Kleist Erzählungen, 1810

Enredo editar

 
Hans Kohlhase, em imagem de ca. 1840

Michael Kohlhaas sofre uma tremenda injustiça (seus cavalos são ilegalmente apreendidos e, quando enfim devolvidos, estão magérrimos e imprestáveis), procura reparação da justiça, depara com o nepotismo e arbitrariedade dos poderosos, de modo que resolve fazer justiça pelas próprias mãos, tornando-se um temível chefe bandoleiro e espalhando terror e destruição. Resolve dissolver seu bando quando obtém um salvo-conduto e promessa de justiça de ninguém menos que Martinho Lutero, mas acaba vítima de novas intrigas e traições, e quando menos espera vê-se em prisão domiciliar, impedido de circular livremente, e segue seu destino absurdo que envolve até guerra entre potências (Saxônia versus Polônia), intrigas palacianas, uma profecia de uma vidente sobre o destino da dinastia reinante na Saxônia e a interferência do imperador do Sacro Império Romano reinante em Viena.

Acaba (num desfecho contraditório) conseguindo a justiça tanto almejada, para si e seus filhos, ao mesmo tempo em que é condenado à morte e executado. Uma história kafkiana, mais de setenta anos antes do nascimento de Kafka. Aliás Kafka admirou e sofreu clara influência de Kleist. O autor de uma história tão vertiginosa acabou morrendo prematuramente num pacto de morte com uma doente de câncer, e seu túmulo à margem do lago Wannsee até hoje é local de peregrinação em Berlim.

O estilo de Kleist de parágrafos e frases enormes, jogos de subordinações de orações e rico vocabulário, incluindo termos não encontrados nos dicionários, exigem do leitor do original alemão (ou de seu tradutor) conhecimentos profundos da sintaxe e semântica da língua alemã.

Segundo Marcelo Backes, um dos tradutores de Michael Kohlhaas para o português, "A novela é fundamentada em alguns binômios centrais, que sedimentam grandes embates filosóficos. De um lado, o ideal subjetivo, do outro a realidade mundana; de um lado a liberdade individual, do outro a opressão governamental; de um lado o povo, de outro a nobreza; de um lado a missão social de um Estado nascituro, do outro o abuso de poder perpetrado por seus representantes. Direito e justiça se digladiam na arena da impotência."[1].

Ligações externas editar

Referências

  1. Marcelo Backes, Posfácio à edição de Michael Kohlhaas publicada pela Civilização Brasileira